"O 'pobrema' é a corrente, chefia''

Por Edson Terto da Silva | 22/12/2011 | Crônicas

Ultimamente não anda mais assim, devido aos índices de violência e também não sei se é só o povo brasileiro que é tão solidário, mas parece todo mundo no Brasil é um pouco de mecânico e não pode ver um carro parado e pimba, vai lá e lasca um palpite, um diagnóstico. Este caso ocorreu nos anos 90 e teve como vítima e personagem principal um carismático e muito esforçado delegado, que atuou em importantes delegacias e setores de Campinas(SP), como a Delegacia de Investigações Gerais(DIG) e o extinto Grupo Anti-Tóxico (GAT), hoje a cidade tem a Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes(Dise).

 E o caso com o delegado ocorreu justamente no bairro de classe média alta onde fica a Dise, o Cambuí, importante point de lazer da cidade. Acredito que tenha sido num sábado ou domingo de muito sol e calor, o carro do delegado resolve quebrar nas proximidades do Centro de Convivência Cultural(CCC). Expressão de decepção e aquela clássica batida de mão no volante e o policial desce para verificar o que aconteceu.

 Ele abre o capô do carro e é observado com indiferença por dezenas de jovens mais ocupados em degustar tulipas de chopp, mais do que gelado. Olha daqui, olha dali, puxa um fio daqui, outro dali, uma coçada na cabeça, uma ajeitada nos óculos e no bigode e nada... Por certo, o delegado acharia mais fácil, naquela hora, estar diante da mais intrigante das investigações, o que era sua praia.

 Já a mecânica de automóveis, era para ele a mesma coisa de traduzir do japonês para o aramaico, um tratado, em braille, sobre a mecatrônica aeroespacial e suas aplicações na vida dos povos remanescentes da Patagônia. Nem o delegado percebe quando um homem se aproxima pelo lado aposto ao da galera do chopp e dos petiscos.

 "A corrente, a corrente,chefia!", diz o homem ao delegado, que está tão distraído que nem entende prontamente. O policial ainda diz: "Não, não é a corrente elétrica, não".  Então o suposto mecânico mostra sua verdadeira ferramenta, uma PT (Pistola Automática) e diz: "Tá me tirando chefia ? Eu num tô falando que o 'pobrema' é a corrente do carango... Tô falando que você perdeu, passa a corrente que está no teu pescoço e a do braço também".

 Era um assalto, o ladrão desapareceu sem que ninguém notasse. O delegado acionou um mecânico, que por ironia do destino chegou dizendo: "Deve ser problema na corrente elétrica". O delegado também acionou os tiras para tentar achar o assaltante, que escapou, pelo menos naquele dia. 

 Como dissemos, o policial era persistente e algum tempo depois o ladrão foi identificado e preso... Bom, as correntes provavelmente foram derretidas em alguma boca de ouro ou trocadas, a preço de banana, por porções de maconha ou cocaína.