O pinguim na geladeira
Por Osorio de Vasconcellos | 09/12/2013 | CrônicasResumo: Sai em busca de uma definição de brega a partir de uma definição de cult, e acaba encontrando uma definição de brega digital.
O pinguim na geladeira
Por acaso percebi que a partir da definição de cult abre-se a possibilidade de encaminhar uma definição de brega.
Isso naturalmente depois de perceber o parentesco genérico das duas definições. Tanto uma quanto outra apontam para “tipos de conduta humana regulares e regulados”, que se podem envelopar sob o rótulo de cultura. Paralelamente, sempre alimentei a vontade de conhecer um pouco mais de perto esse modo de ser chamado brega, isto é, de torná-lo um pouco mais inteligível.
Sob o verbete brega o nosso Aurélio limita-se a apresentar dois possíveis sinônimos – deselegante e cafona – e na maior cara de pau dá a entender tautologicamente que brega é uma pessoa brega.
A definição de cult o nosso Aurélio não disponibiliza. Por isso foi preciso apanhá-la no exterior, mais precisamente no Oxford Dctionary, que traduzido com a ajuda do Google reza o seguinte:
Cult - [geralmente como adjetivo] diz-se de uma pessoa ou coisa que é popular ou da moda, especialmente no âmbito de uma seção específica da sociedade.
Para testar o parentesco genérico das duas formas culturais saquei o termo cult da definição oxfordiana e preenchi a vaga colocando ali o termo brega. Ficou assim:
Brega - [geralmente como adjetivo] diz-se de uma pessoa ou coisa que é popular ou da moda, especialmente no âmbito de uma seção específica da sociedade.
Então eu vi que se tratava de uma definição genérica a qual, por isso mesmo, cobria duas realidades distintas, sem efetivamente chegar à origem cultural de nenhuma delas.
Para atingir as origens será indispensável abrir a definição, decompor o que nela há de genérico.
De genérico decomponível só vejo na definição oxfordiana o conceito de sociedade.
Decomposta a sociedade, aí sim, chega-se ao indivíduo, chega-se à origem dos tipos de conduta humana regulares e regulados, chega-se à raiz do fenômeno cultural.
Se o fenômeno cultural que se procura entender chama-se brega, nada mais apropriado do que visitar a pessoa que pela primeira vez tomou a atitude de colocar sobre a geladeira um pinguim de porcelana. Da auscultação metódica dessa atitude – considerada clássica - poderá surdir a essência cognoscitiva da cultura brega.
Não farei isso agora. O texto já vai crescendo muito. Contudo, posso adiantar o meu voto de simpatia pela tentativa de simbolizar na figura do pinguim a relação de frialdade entre a geladeira e o polo sul. O brega é isso, é descobrir no banal a dignidade que a banalidade tem. É, enfim, a cultura que se expande exponencialmente entre os derivados da tecnologia moderna, à qual eu daria o nome de brega digital.
Sem embargo, não serei eu quem lhe atirará a primeira pedra.