O pessimismo da modernidade na perspectiva de "Ole Andreson" no conto "The Killers" de Ernest Hemingway

Por Raul Carneiro | 18/06/2011 | Literatura

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
ACADÊMICO: JOSÉ RAUL CARNEIRO NETO
DISCIPLINA: LITERATURA INGLESA IV
PROFESSOR: MARTON GEMES



O pessimismo da modernidade na perspectiva de "Ole Andreson" no conto "The Killers" de Ernest Hemingway



Escrito em 1926, no auge das atividades criminosas nos Estados Unidos, comandadas por gângster como Al Capone, "The Killer" emerge como uma das mais influentes obras de Ernest Hemingway.
O conto aponta para uma visão do cotidiano urbano, onde além de narrar a história de dois assassinos, os quais buscam matar um homem por um favor a um amigo, retrata as hostilidades da vida urbana, bem como um conjunto de reflexões sobre os efeitos da modernidade.
Utilizando uma linguagem direta, austera e minimalista, com certo sarcasmo, Hemingway apresenta sistematicamente, o pessimismo de um personagem marcado para morrer. O escritor expõe através da figura de um ex-lutador de boxe, os problemas da modernidade, decorrentes da insegurança no mundo, causada pelo período de guerra mundial.
A visão pessimista a se argumentar, está no posicionamento do ex-lutador, Ole Andreson, diante da circunstância de ser assassinado. Contudo após tomar conhecimento de que iria morrer não esboça reação alguma:

... Disseram que iam matar você.
Contado parecia absurdo. Ole Anderson não disse nada.
- Eles nos puseram na cozinha ?Nick continuou. Eles iam atirar em você quando entrasse para jantar.
Ole Anderson olhava para a parede e não dizia nada.
George achou melhor eu vir contar a você.
- Não posso fazer nada para evitar isso - disse Ole Andreson (HEMINGWAY. s.d. p.61)

Marcado para morrer, o homem se encontra com uma realidade contundente e sem solução. Sua morte é algo irremediável. Dentro desse contexto, "Ole Andreson shows similar cowardice" (The Ernest Hemingway Primer. 2009.p.8), e expõe vazio moral e indiferença à vida. Não mostra qualquer surpresa ao ser informado sobre os assassinos. Não toma medidas para se defender. Parece estar disposto a aceitar seu destino. Mostra que a realidade, os medos e as tensões são irreversíveis.
Diante da possibilidade da sua morte, o ex-lutador parecia saber tudo, e acaba por quebrar a sua rotina, não indo jantar no restaurante como habitualmente fazia. Tal atitude envolve a narrativa em um clima de suspense, frustrando as expectativas dos "gangsters". Contudo mesmo evitando os fatos, o homem parece não se importar com o fim de sua vida.
Andreson se recusa a sair do quarto e tomar qual quer atitude contra a situação ameaçadora. Ele expressa uma idéia de melancolia e pessimismo em relação ao mundo. Um homem que se encontra em um estado negativo perante o meio social. Uma imagem da Individualidade, na qual expõe ao leitor "um mundo a partir de uma consciência individual" (ROSENFELD. s.d. p.76) representando aspectos degradantes e sem solução da realidade. Seria precisamente um efeito decorrente da "supremacia do ambiente sobre indivíduo" (VOLOBUEF. s.d. p.140).
O homem marcado para morrer, constrói uma óptica de uma crise não passageira. Seria para Rosenfeld (1989; 86), conseqüência dos fatores externos que o homem absorve do mundo e que tendem a colocar o ser humano em frente a um cotidiano marcado por angústia, dor, inadequação à realidade.
O personagem traz uma idéia de que o ser humano se encontra apático perante os problemas já determinados pela sociedade, criando uma percepção de que "Toda raça vive num determinado meio natural e sociopolítico, este age sobre a raça deformando-a ou complementando-a" (SAMUEL. 1984.p.94) A partir desse conceito, é visível uma apatia frente o caos da vida e submissão ao mundo.
Ao analisar a estrutura emocional atribuída a Andreson, Rosenfeld (1989; 83) compreende que a consciência do personagem caminha para a radicalização do monólogo interior onde exprime uma visão antropocêntrica do mundo. Neste sentido, os aspectos não otimistas transmitem uma idéia, de que, o que se projeta no mundo são as angústias, o isolamento e a insensibilidade.
A situação de Andrenson e os assassinos apontam para um aspecto negativo da vida ocidental. Isso mostra que os crimes são cometidos por qualquer razão. Trata-se basicamente da violência urbana em sua expressão mais exacerbada e determinada por valores sociais, econômicos, políticos e morais de uma realidade uniformizada dos comportamentos do século XX.


Porque vão matar Olé Andreson?O que foi que ele fez a vocês na vida?
-Nunca teve a oportunidade de nos fazer nada. Nem mesmo chegou a nos ver
- e só vai ver uma vez disse Al
Então, para que vão matá-lo?-George perguntou.
- Vamos matá-lo para um amigo. Só para fazer um favor a um amigo (HEMINWAY. s.d. p.58)

O diálogo expressa uma ideia de normalidade em relação ao crime. Os assassinos apresentam uma indiferença sobre quem é ou o que necessariamente o homem fez para ser assassinado. Dentro desta perspectiva, nota-se que Heminway apresenta um mundo o qual a violência se tornou um aspecto do cotidiano fomentando pela descrença das pessoas no mundo. Porém, como já dito, Andreson parece estar ciente dos acontecimentos, e a banalidade também se faz presente nele.
Hemingway criou um personagem que exprime características de um vencedor: "Fora campeão de boxe e era grande para cama"(HEMINGWAY.s.d. p.61), porém como em várias estorias do autor, alguns personagens quase sempre acabam como um derrotado, muito embora o final de Andreson ficou subentendido na perpectiva de cada leitor.
Andrenson era avesso a qualquer idealização da vida, trata-se de uma pessoa sem perspectiva prestes a morrer. A derrota inevitável traduz-se de forma emblemática em desãnimo diante de um mundo fisicamente corroído pela violência meio ao caos.



Ernest Hemingway parece falar de uma subversão da coragem.do homem. Ole Andreson reflete uma decadência e uma sensação geral de tédio. Um recuo da luta frente à angústia existencial.
O conto tem, sobretudo, uma estrutura psicológica que induz ao medo, exprime a relação dramática do ser humano com o mal , e mostra um caminho da vida mundana que não pode e nem vai ser alterado.
A modernidade criou uma mudança na forma como os escritores viam a sua arte. Para Ifor Evans "The changes in beliefs and political Ideas were influenced strongly by the events of the First Word War and by the events across the Word" (EVANS. 1984.p.143)Hemingway foi afetado por essa nova percepção que se realizava do mundo e do homem. Nesta perspectiva o escritor empreende um mergulho no espírito do modernismo, se tornando um dos mais influentes literatos americanos do século XX.





















REFERÊNCIAS

HEMINGWAY. Ernest. "The Killers". In: Texto p. 54-63.
ROSENFELD, Anatol. 1973. "Reflexões sobre o romance moderno." In: Texto / Contexto. São Paulo, Brasília: Perspectiva, INL, (Debates, 7), p. 75-98.

SAMUEL, Rogel (org.). Manual de Teoria Literária. Petrópolis, Vozes, 1984.

The Ernest Hemingway Primer. Timeless Hemingway Publication (2009). [Versão electrónica] In: Texto p. 02-16. Acedido em: 03/06/2011: WWW.TimelessHemingway.Publications.com.


THORNLEY G. C. et ROBERT. Gwyneth. An Outline of English Literature: Longman Group. Edinburg: England. 1996.

VOLOBUEF, Karin. Clássico e Moderno. Cadernos de Letras da UFF ? Dossiê: Literatura, língua e identidade, nº 34, p. 139-148, 2008.