O Perigo Da Banalização
Por Carlos Hilsdorf | 11/08/2008 | CrescimentoToda época traz sempre, inevitavelmente, suas oportunidades
e ameaças. Se observarmos, com atenção a História da Humanidade, verificaremos
que o declínio de quase todas as civilizações se deu frente a pouca atenção
dedicada às ameaças mais evidentes!
Estranha observar que estas ameaças estão evidentes por um longo período de
tempo antes que suas conseqüências cruciais ocorram e, no entanto, ninguém faz
nada a respeito.
A atualidade também nos apresenta a sua lista de oportunidades e ameaças.
Chama-me a atenção a que considero mais perigosa: a banalização.
Banalizar é tornar algo "estupidamente" comum e sem importância,
vulgarizar. Fazer com que algo perca a importância é uma das estratégias mais
eficazes para destruir, em definitivo, o poder de um fato, uma idéia.
Observe que com a revolução sexual não obtivemos apenas as vantagens de
olharmos para o sexo de maneira mais humana e menos pecaminosa, mas também como
resíduo, obtivemos uma banalização do sexo. O sexo, nestas condições perde suas
dimensões mais humanas, onde o encontro dos corpos consuma o encontro das
almas, para manifestar apenas sua conotação mais primitiva e nitidamente
animal: a manifestação do instinto sem a participação da razão e do sentimento.
Esta banalização, para uma imensa maioria das pessoas, resultou num
distanciamento entre sexo e prazer, uma vez que tudo aquilo que se torna banal
perde intensidade.
E as banalizações seguem:
• A banalização da música trouxe à imensa maioria das rádios qualquer tipo de
ruído ritmado como se fosse música e qualquer amontoado de palavras sem sentido
como se fosse letra.
• A banalização da literatura faz com que os livros de auto-ajuda configurem a
maioria absoluta da produção e consumo de livros na nossa cultura.
• A banalização da corrupção faz com que o slogan "rouba, mas faz"
torne-se quase uma declaração de voto de uma imensa maioria de eleitores, como
se tivéssemos que escolher entre um corrupto que apresenta resultados e outro,
igualmente corrupto, mas apenas retórico.
• A banalização da amizade torna as pessoas cada vez mais "colegas" e
menos amigas.
• A banalização do envolvimento afetivo faz com que os jovens prefiram
"ficar", fazendo múltiplos "test-drive" a cada final de
semana para finalmente concluírem que não conhecem seus sentimentos.
• A banalização da utilização de ansiolíticos e anti-depressivos faz com que as
pessoas acreditem que a pílula da felicidade existe...
• A banalização dos relacionamentos eterniza o resultado de um excesso de
uísque de Vinícius de Moraes que postulou "...que não seja imortal posto
que é chama, mas que seja infinito enquanto dure..." compreendido pelas
pessoas como "seja lá o que Deus quiser..."
No mundo corporativo as coisas não são diferentes:
• A banalização da responsabilidade social faz hábeis marketeiros sociais
desprovidos de responsabilidade.
• A banalização do empowerment faz com que se delegue poder
independentemente se as pessoas estão ou não preparadas para lidar com ele.
• A banalização das vivências faz com que se acredite que se as pessoas riram
muito, ou choraram muito, então valeu a pena...
• A banalização das palestras dá espaço aos que não tem absolutamente nada a
dizer em detrimento de grandes seres humanos e profissionais que, muitas vezes,
trabalhando dentro da própria organização, não são ouvidos com a atenção e
consideração que lhes é devida.
• A banalização das pós-graduações e MBAs transformam uma importante etapa de
reciclagem profissional em uma máquina caça-níquel e uma compra escancarada de
"linhas a serem incluídas no currículo", isso sem falar na esmagadora
maioria das aulas que chegam, às vezes, a beirar o ridículo.
• A banalização das campanhas de incentivo, premia sempre as mesmas pessoas
pelo mesmo padrão de desempenho, medindo volume ao invés de medir a
contribuição efetiva que cada negócio proporcionou à organização, e a evolução
efetiva das competências de cada profissional.
E assim, estamos diante de uma época onde a banalização da religião propõe
benefícios materiais de curto prazo ao invés de evolução espiritual no longo
prazo.
Onde os alunos nos cursos de graduação fingem que estudam enquanto alguns
professores fingem que ensinam.
Onde individualmente não podemos fazer nada e quando nos reunimos nas
associações, reuniões, cooperativas, congressos, etc, acabamos por declarar que
nada pode ser feito...
Como citei no início do artigo, todas as civilizações são destruídas por suas
ameaças mais evidentes, porque de tão evidentes tornam-se banais, misturam-se à
paisagem, incorporam-se ao cotidiano e, a sociedade adia constantemente as
ações conjuntas necessárias para mudar o estado das coisas.
As Tsunamis, furacões, maremotos, degelos de calotas polares, poluição dos
mares, efeito estufa, desmatamentos, atos terroristas, surgimento de novas
ditaduras, e centenas de outros gravíssimos crimes contra a Humanidade estão
tão banalizados que é comum ouvirmos as pessoas falarem sobre eles como se
fossem as coisas mais normais e, é claro, terminando sempre com a frase:
"Ainda bem que isso ainda não chegou por aqui..."
Ah ignorância e ingenuidade, até quando pagaremos o teu preço?
Que tal começar não permitindo que menosprezem nossa inteligência, sentimentos
e valores?
Não precisamos mais de heróis, mas de pessoas comuns com a coragem necessária
para dizer não e a atitude necessária para dar o exemplo!
Considerado pelo mercado empresarial um dos 10 melhores palestrantes do Brasil. Economista, Pós-Graduado em Marketing pela FGV, consultor e pesquisador do comportamento humano. Palestrante do Congresso Mundial de Administração (Alemanha) e do Fórum Internacional de Administração (México). Autor do best seller Atitudes Vencedoras, apontado como uma das 5 melhores obras do gênero. Presença constante nos principais Congressos e Fóruns de Administração, RH, Liderança, Marketing e Vendas do país e da América Latina. Referência nacional em desenvolvimento humano.