O pequeno caderno verde - II
Por Raimundo Nonato RODRIGUES | 04/04/2016 | LiteraturaII A azafama do domingo começou com a chegada do casal pra a reunião do Salão do Reino dos Testemunhas de Jeová que será pela manhã. - Raimundo escreve só besteira - É a cisma de minha cunhada assim que pego esse caderno para fazer as minhas anotações cotidianas. A televisão sem áudio, vejo somente as imagens, sentindo na pele como os surdos vivem. Comecei a reler "A Cidade do SOl" do escritor afegão Khaled Hosseini. Os irmãozinho do Salão todos bem vestidos no terraço conectando o cabo da internet deles aqui. Sarinha reclama alguma coisa para o esposo Antenor. Sexta-feira pela manhã quando fomos entregar os livros e os materiais escolares dos filhos do meu amigo Jean no colégio deles no centro, ele estacionou o carro no estacionamento da Faculdade Estácio vizinho a escola, onde estuda a noite comunicação social e um rapaz moreno solicito, tirou os cones e o tratou afavelmente. Qual foi a minha surpresa, ao vim saber depois que aquele rapaz atarracado de óculos, fardado com uma prancheta na mão, locomovendo-se entre os veículos era o mesmo que esta escrevendo um livro sobre o celebre incêndio do navio Maria Celeste nos anos 50 no cais da sagração e que gostaria de entrevistar com seu Tomás, o estivador aposentado que safou-se da morte ao trocar de turno com um colega, ele mora aqui no Vila Embratel é muito meu amigo, viúvo recente. E cai a chuva, minha adorável cunhada em pé na soleira da porta, observando e pensando no que vai fazer para o almoço dominical. Larissa reclamando como sempre dos gatos que viver urinando em qualquer lugar. - Quando eu pegar eles, vão ver o que é bom para tosse - Ameaça minha cunhada para essas reclamações constante. Apanha uma sombrinha na sala - Vou dar um fiado no mercado, vê se eles vão me vender - disse meio triste ao sair debaixo do chuvisco. Eu vou rezar para dar tudo certo -penso. Depois de viver o drama da Família Joad pela Califórnia em busca de um emprego vou pra Ásia para o Afeganistão - A cidade de Cabul,o drama da orfã pequena Marian de 15 anos,obrigada a casar com um sapateiro com o triplo de sua idade.Li esse livro há alguns anos atrás, logo quando me separei de Dona Vani, quem emprestou-me foi a irmã dela Dona Ivonete e tive que lê-lo rapidamente assim como outro "O Caçador de Pipas" considerado a obra-prima desse grande mestre. Agora relendo-o mais devagar, compreendo-o melhor. No radinho de pilha, o melhor do choro - esse programa o ouço desde quando morava com a minha eterna branca Dona Vani, a minha Beatriz. Lembranças doces, lembranças que não voltam .O céu e as grossas nuvens ameaçando chover. Minha cunhada voltou com as compras. Professor depois de quebrar o jejum, saiu levando as garrafas de cervejas vazias e seus respectivos isopores.Mano Biné chegou trazendo o seu notbook e o coloca sobre o armário que minha cunhada ganhou de Daniele filha dele. A princesinha sereia Adrielle acordou toda serelepe,irradiando a sua alegria pueril.É a segunda chuva desse manhã.Não poderia desejar nada melhor, o meu humilde aposento.Os pingos batem nas telhas de barros e escorrem estatelando-se no cimento do terraço. Seu Pietro de folga no computador. Hora depois de assistir o Globo Rural, enchi os baldes e me banhei, sair para apanhar o exemplar do jornal Extra na casa do impressor Zé Carlos no Residencial América do Norte, comprei dois litros de vinhos para a minha cunhada e uma caixa de seleta de legumes para o tradicional macarrão. Mudo a minha roupa e me internei nos meus aposentos deitando-me na minha cama para ler a minha coluna em "Em Busca do tempo escrito: Tuberculose" que publico todos os domingos. Começo da tarde Sarinha prepara o prato do esposo Antenor, sentado sem camisa na mesa, uma coisa inaceitável nos tempos do mestre bamba, para ele a mesa era sagrada e não permitia que ninguém sentasse nelas sem camisa para comer. O quarto exala o cheiro forte de agua sanitária que minha cunhada laboriosa usou para higieniza-lo. Como sempre me deprimo ao ler capitulo do meu artigo,me sinto o menor de todos os escritores.Mas vou melhorar ou seja me aperfeiçoar ate chegar ao mesmo estagio de um Henry Miller, ou de um Kerouac ou quem sabe um Charles Bukowski. - muita pretensão,mas é a minha vontade ter uma prosa fluidica e espontânea sem muito preâmbulos, objetiva e telegráfica como os escritos do mestre Hemingway. Um caçamba de vinte e dois pneus estacionada no muro do jardim das hortaliças da mãe de Catavento do lado da Praça do Bacurizeiro. Fui para a praça encontrar a paz para ler e escrever. Nem bem estou sentado, anotando as primeiras linhas, chega Dona Catida, a ex-senhora Gato, filha de Dona Neneca, sentou-se ao meu lado e começou a me interrogar, depois Jorginho com sua cara de ébrio e por ultimo Dona Edna Pura. Pronto o circo estava armado, começaram aqueles papos de bêbados, Fiquei apenas meia-hora e bati em retirada. Aqui,minha cunhada continuava ouvindo as suas musicas bregas nas sala do computador. As minhas melhores inspirações vem quando estou deitado, tentando dormir a tarde.É phoda que não consigo reter esses pensamentos, para pô-los no papel, eles esvaem-se dissolvendo-se no ar da minha mente. Uma pena, bem que poderia ser aproveitado.Professor entra apressado. - Cagou na calça - Disse ironicamente minha cunhada ao vê-lo entrar rapidamente e dirigindo-se ao banheiro. Larissa sentada com os pés sobre o sofá e a costa apoiada no aborda. As meninas brincando inocentemente no terraço. Acredito que daqui há uns cinco anos estarei apto a escrever como desejo.Aos poucos estou encontrar uma maneira peculiar de expressar literariamente os meus sentimentos.O que falta é mais empenho, mergulhar seriamente nos meus projetos. Outra coisa sou muito desleixado,preguiçoso mesmo.Sim me lembro do que estava matutando antes de pegar no sono a tarde. A ideia baseava-se num ermitão urbano, que resolve isolar-se das pessoas, mas ao menos como fiz hoje a tarde. sai apenas o necessário, evitar ir ao seu Raposo onde sempre sou ironizado ou o Cabeludo a mesma coisa. Não ganho com isso, apenas aporrinhação, na verdade ninguém me respeita,isso me deprime.Qualquer dia vou passar um domingo diferente, no centro da cidade,levo uns sanduíches prontos, o radinho de pilha,uns livros e lógico esse companheiro eterno que é meu caderno ou apanharei um ônibus interligado para o terminal do Maracanã, depois para o São Cristovão, à Cohab, à Cohama e volta para o terminal da Praia Grande... todos finais de domingo é a mesma monotonia, minha cunhada alegre de vinho, carente, solitária, sem ninguém para desabafar as suas historias batidas, vai ouvir as as musicas bregas e as vezes chega até chorar. Os Talibãs chegaram a Cabul,impondo a Sharia, a lei muçulmana radical. As velhas recordações de mamãe por minha cunhada - Eu estava lá no quintal lavando roupa, quando cheguei aqui na sala ela estava deitada no chão com os pés para trás. Sob a sua ríspida ordem, desliguei a televisão, o áudio estava péssimo, chiando nem ouvia bem.Não questionei a sua ordem apenas cumpri a sua expressa ordem. E fui deitar e sonhar......