O PAPEL SOCIAL DO BIBLIOTECÁRIO FRENTE AO ANALFABETISMO FUNCIONAL

Por Sheila da Cunha Alves | 18/12/2010 | Arte

O presente trabalho procura mostrar a importância da leitura na vida social dos indivíduos, abordando a concepção do analfabetismo funcional juntamente com os seus níveis que são:nível 1, conhecido como alfabetização rudimentar; nível 2, conhecido como alfabetização básica e nível 3, conhecido como alfabetização plena. Mostra a leitura transformando as pessoas em cidadãos participativos e críticos perante a sociedade. Acrescenta ainda, a necessidade da presença do profissional de Biblioteconomia frente a projetos sociais, pois o bibliotecário possui tarefas como: mediador, gerenciador e disseminador de informações, incluindo também, o papel de educador capaz de atuar em varias áreas de conhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: Bibliotecário; Leitura; Projetos sociais; Analfabetismo funcional; Cidadão.

1 INTRODUÇÂO

Atualmente estamos vivendo momentos de grandes transformações que atingem os diversos campos do conhecimento, e dentre os fatores que auxiliam essas mudanças podemos destacar a Biblioteconomia ou Ciência da Informação.
A Biblioteconomia é uma ciência que tem como principal objeto de trabalho a informação e seu objetivo é tornar essa informação clara e eficiente a todos que direta a ou indiretamente a buscam em suas diversas fontes e formas. Discorrendo sobre informação, Ranganathan (1992, p.1890) em sua terceira lei diz que: "... informação criada/gerada deve ser dirigida para os usuários, ou a recapitulação da frase familiar: informação certa para usuário certo".
A partir do momento que o individuo começa a fazer parte e fazer uso da informação, ele passa a ser mais capaz, mais consciente dos seus direitos e obrigações, adquirindo, assim, instruções e conhecimentos que lhe permitam um melhor direcionamento e posicionamento em relação à sociedade.
Segundo Nilma Lacerda "... a biblioteca é um dos principais espaços onde usufruir da cultura escrita. Fazer acontecer a aula na biblioteca, freqüentar as bibliotecas próximas, cobrar do poder público a manutenção delas e, dentro da escola, empenhar-se para uma biblioteca escolar viva são algumas das estratégias que inserem professores e alunos numa dinâmica de letramento, de tempo de não-esquecer, tempo de fazer sentido ? como se pode verificar em inúmeros trabalhos que constatam a força da biblioteca na vida de jovens leitores.
Mas não esquecer que essa biblioteca tem início na sala de aula, com o professor que lê ? em voz alta ? para seus alunos o livro de literatura, o poema, a notícia de jornal, retornando a um tempo em que o leitor alfabetizado partilhava com o auditório não-alfabetizado os enigmas, as informações, a beleza de um texto escrito. Recriar esse tempo, instituir outros leitores ? a rede vai-se fazendo e escapa a seus criadores, estende-se no mundo, sustenta esse projeto e saber tão novos: a letra e o livro na vida de todos."





2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

- Mostrar a importância do papel social que o bibliotecário desempenha perante aos analfabetos funcionais.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICO

- Expor as dificuldades encontradas pelo profissional bibliotecário ao lidar com esse tipo de público (analfabetos funcionais).
- Analisar o aspecto da cidadania presente na sociedade, como forma de tornar ciente seus direitos e deveres.
- Apresentar sugestões de como trabalhar com um público (analfabetos funcionais) com dificuldades em abstrair informações.


3 JUSTIFICATIVA

O tema o papel social do bibliotecário no combate ao analfabetismo funcional, foi escolhido por apontar dois assuntos de extrema importância para a sociedade: a função social do bibliotecário, enquanto educador e o analfabetismo funcional como uma insuficiência do sistema educacional, cujas deficiências comprometem o próprio desenvolvimento humano, bem como o social e o emocional.
Tal trabalho justifica-se por conta das carências da população, pela urgência e necessidade que a sociedade tem de ser ajudada, para, então superar problemas relacionados a educação funcional que, por certo poderiam pertencer ao passado. O trabalho que o bibliotecário desenvolve para recuperar e disseminar a informação é imprescindível, porém tem capacidade para dar mais de si, abraçando outras causas, como o analfabetismo funcional que ao longo dos anos vem crescendo a cada ano.
A metodologia utilizada para elaboração deste artigo se deu através de pesquisas em material impresso e eletrônico ? tais como livros, revistas, tcc?s e sites ? no campo da Educação, na área de Biblioteconomia, no que tange seu aspecto social.


4 ANALFABETISMO


Analfabetismo é uma palavra utilizada no português corrente para designar a condição daqueles que não sabem ler e escrever. (RIBEIRO, 1997)

Assim, diante desta visão de Ribeiro, podemos analisar que o analfabetismo nada mais é do que uma concepção imposta para as pessoas que não desempenham nem a leitura tão quanto a escrita no seu dia-a-dia.
A palavra analfabetismo surgiu do termo iliteracy em inglês, que só apareceu no século XIX, quando descobriu-se o problema social das camadas menos favorecidas dos privilégios da educação básica.


4.1 ANALFABETISMO FUNCIONAL


O termo analfabetismo funcional surgiu nos Estados Unidos durante o período da segunda guerra mundial, onde era apenas empregada como forma de capacitar no sentido de instruções escritas que eram repassadas para realização de tarefas militares.
O analfabetismo funcional nada mais é do que indicar aquelas pessoas que possuem a incapacidade com a leitura e escrita, e esse termo só teve ampla divulgação, devido a UNESCO que ao perceber da dificuldade de coletar dados, viu-se a necessidade de se estabelecer distinções, pois existe aqueles que são analfabetos e aqueles que são apenas analfabetos funcionais, sendo nesse sentido mesmo de coletar dados mais precisos na diferenciação da população.
Assim Ribeiro (1997) descreve que



A ampla disseminação do termo analfabetismo funcional em âmbito mundial deveu-se basicamente à ação da Unesco, que adotou o termo na definição de alfabetização que propôs, em 1978, visando padronizar as estatísticas educacionais e influenciar as políticas educativas dos países-membros. A definição de alfabetização que a Unesco propusera em 1958 fazia referência à capacidade de ler compreensivamente ou escrever um enunciado curto e simples relacionado à sua vida diária. Vinte anos depois, a mesma Unesco proporia outra definição, qualificando a alfabetização de funcional quando suficiente para que os indivíduos possam inserir-se adequadamente em seu meio, sendo capazes de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são demandados para seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento de sua comunidade. O qualitativo funcional insere a definição do alfabetismo na perspectiva do relativismo sociocultural. Tal definição já não visa limitar a competência ao seu nível mais simples (ler e escrever enunciados simples referidos à vida diária), mas abrigar graus e tipos diversos de habilidades, de acordo com as necessidades impostas pelos contextos econômicos, políticos ou socioculturais.




Temos que ter em mente que o alfabetismo funcional esta dividido em três níveis de distinção, que são:
- Nível 1: é aquele considerado rudimentar, onde as pessoas consideradas desse nível apenas conseguem ler e compreender textos e frases curtas.
- Nível 2: são aquelas pessoas com alfabetização básica, conseguem ler apenas textos curtos, mas têm dificuldades de extrair informações sobre o texto.
- Nível 3: é aquela chamada de alfabetização plena, onde aborda as pessoas que possuem pleno domínio na leitura, escrita, dos números e outros.





5 CIDADANIA


Cidadania é substituir o eu pelo nós, despindo-se do egoísmo praticando a engenharia da esperança na construção de pontes que conduzam à justiça social. (Tadeu da Rocha)


Cidadania vem do latim "civitas", que significa cidade, foi usada na Roma antiga para designar a situação política de uma pessoa e seus direitos.
Para muitas pessoas a concepção sobre o que é ser cidadão varia, o pontapé inicial para se conceituar é primeiro saber o que é ser cidadão.
Para Manzini-Covre(2005): "ser cidadão significa ter direitos e deveres, ser súdito e ser soberano."
É na Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948, que tem suas primeiras matrizes marcantes nas cartas de Direito dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1798), que diz respeito aos direitos de cidadão, e que todos os homens são iguais perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. A todos cabe o domínio sobre seu corpo, e sua vida, o acesso a um salário justo para promover a própria vida, o direito à saúde, à educação, à habilitação e ao lazer. Enfim, ter o direito de uma vida digna de um ser humano. Entretanto, o cidadão possui deveres, de ter responsabilidade em conjunto pela coletividade, fazer parte do governo, direta ou indiretamente, ao votar, se manifestando, através de movimentos sociais, etc.
Para Dallari (1998):


A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.(Dallari,1998.p.14)


Os direitos e deveres são conteúdo do exercício de cidadania, só existirá cidadania se houver reivindicação, da apropriação de espaços, ou seja, fazer valer os direitos do cidadão. De acordo com Manzini-Covre: As pessoas tendem a pensar a cidadania apenas em termos dos direitos a receber, negligenciando o fato de que elas próprias podem ser o agente da existência desses direitos. Acabam por relevar os deveres que lhes cabem, omitindo-se no sentido de serem também de alguma forma, parte do governo, ou seja, é preciso trabalhar para conquistar esses direitos. Em vez de meros receptores, são acima de tudo sujeitos daquilo que podem conquistar."
A cidadania está dividida em termos de direitos civis, políticos e sociais, e estes três direitos estão interligados.
Os direitos civis é ter direito a vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, basicamente é ter direito de se dispor do próprio corpo.
Os direitos sociais dizem respeito ao trabalho, alimentação, saúde, educação, a um salário justo, a uma velhice tranqüila.
O direitos políticos estão relacionados ao exercício de votar ou ser votado, é participar do destino da sociedade, é ter livre expressão de pensamento, é participar de forma direta ou através de sindicatos, partido, movimentos sociais, escolas, etc, ou indireta através da eleição de governantes, parlamento, etc.
A cidadania variou no tempo e no espaço, é muito diferente ser cidadão nos Estados Unidos ou no Brasil, não apenas pelas regras que definem que é ou não titular da cidadania, mas também pelos direitos e deveres distintos que caracterizam o cidadão em cada um dos países.
A prática da cidadania vêm se alterando ao longo dos tempos, isso ocorre tanto em relação a uma abertura maior ou menos do estatuto do cidadão para sua população, ao grau de satisfação política de diferentes grupos, por exemplo, o voto da mulher, do analfabeto, quando aos direitos sociais, à proteção social oferecido pelos Estados.
Os principais direitos do cidadão são eles: direito de ir e vir, direito de igualdade perante a lei, direito de fazer ou deixar de fazer alguma coisa, direito de não ser torturado e receber tratamento desumano, direito a intimidade, vida particular, imagem, à inviolabilidade de seu domicílio, seus dados e correspondência e sua honra, direito de liberdade de expressão intelectual e comunicação, direito à reunião e liberdades políticas e religiosas, direito à informação, à propriedade e a petição. Já os principais deveres do cidadão são estes: Principais deveres do cidadão são estes: escolher os representantes nos poderes executivo e legislativo, cumprir as leis, fiscalizar e exigir que sejam cumpridas, respeitar os direitos sociais de outras pessoas, prover seu sustento com seu trabalho, alimentar parentes próximos que sejam incapazes de prover seus próprios sustentos, proteger a natureza e o patrimônio comunitário público do país, colaborar com as autoridades,garantir o sustento dos filhos menores de 21 anos e dos maiores incapazes; e pensionar o cônjuge, em caso de separação ou divórcio, caso necessite de sustento .
Portanto, os direitos do cidadão estão interligados pelos deveres.


6 O PAPEL SOCIAL DO BIBLIOTECÁRIO

O Brasil é um país com alto índice de analfabetismo, o último levantamento feito sobre a situação da educação no Brasil, a contagem da população realizada em 1996 pelo IBGE, mostra que o Brasil possui mais de 21 milhões de analfabetos, ou seja, mais de 13,5% da população e é de conhecimento que esse indicador reflete as formas de apropriação do conhecimento que a sociedade esta submetida.
Para Bambangue (1991, p.125) o ato de ler é um fato cultural e por isso mesmo imerso na necessidade de relações sociais. E não se pode negar que a historia social da leitura reflete um modelo de sociedade em que o acesso a esse bem cultural vem se dando num processo igualitário.
A aquisição de conhecimentos aprimorados, habilidade pratica no campo da leitura ficaram restritos a pouquíssimas pessoas, levando-se em consideração a lógica de uma sociedade de classes em que somente aqueles que detêm poder aquisitivo elevado é que tem maiores possibilidades de deter conhecimentos e melhores acessos a diversos tipos de informação.
Como consta na Constituição de 1988, capitulo I dos direitos e deveres individuais e coletivos. È assegurado a todos o acesso à informação. Na verdade isso é uma inverdade.
"As pessoas não são tão iguais como imaginamos. As oportunidades seja no campo da doação, seja no campo econômico, seja no campo da saúde, seja no campo da cultura, são certamente, distintas de pessoa para pessoa. A democratização da informação deve deixar de ser um slogan para converte-se em compromisso do bibliotecário para com a sociedade, para com a comunidade a quem deve atender" (ALMEIDA JUNIOR, p.100, 1997)

Durante séculos o conceito de biblioteca prendeu-se à imagem de um organismo estático, destinado à conservação documental, onde o bibliotecário atuava apenas como guardião do acervo existente, sem realmente ter uma participação ativa. Era comum representa-lo como um profissional silencioso, escondido entre pilhas de livros empoeirados, ranzinza quando perturbado por algum usuário.
Segundo Broom (1979, p.42) o papel social é padrão de comportamento associado ao status ou posição social, incluindo os seguintes elementos: o papel socialmente prescrito ou papel ideal dita os direitos e deveres que pertencem a uma posição social. Diz ao individuo o que dele se espera no seu papel. Papel percebido é o que o individuo acredita que ele deveria fazer numa determinada posição, talvez não coincidente com a imagem convencional ou ideal. E o papel desempenhado é aquele que o individuo faz, de fato.
O bibliotecário tem hoje mais do que a simples tarefa de prestar auxilio a seu usuário, e sim a missão de fazer com que a informação chegue a esse usuário da melhor maneira possível. O seu papel como profissional deve ultrapassar os muros da biblioteca ou unidade de informação, devendo assumir desde sua formação uma postura política, questionar-se de como ele pode contribuir com a comunidade, principalmente ao menos favorecidos. Sem dúvida, o bibliotecário é um profissional que tem muito a ofertar à sociedade, como pode ser observado através dos programas de extensão das bibliotecas: caixas-estante; mala do livro; ônibus-biblioteca; barco-biblioteca; leitura em voz alta; trabalhos esses que podem ser (e muitos até já são) desenvolvidos em creches, hospitais, penitenciarias, comunidades rurais e periferias, asilos.
Neste contexto, podemos ressaltar o trabalho que o bibliotecário pode desenvolver através do barco-biblioteca, combatendo o analfabetismo, tendo em vista que a nossa realidade nortista possui uma grande comunidade ribeirinha e que muitas dessas não possuem escolas e muito menos biblioteca. Assim sendo, o profissional terá um melhor conhecimento da comunidade que o cerca, com a s oportunidades de experiência direta que os serviços de extensão podem proporciona, e o confronto com a realidade, a qual difere, muitas vezes daquilo que é vivenciado na biblioteca.
Percebemos também com evidencia o apoio que p profissional bibliotecário dá a outros profissionais, disseminando informações, administrando-as, é ainda o profissional de biblioteconomia um educador, sendo esta, talvez sua maior contribuição para a sociedade. Realizando um trabalho de suporte á educação formal, cuja preocupação não é apenas fornecer informação propriamente dita, mas orientar no uso correto do acervo, na seleção, aquisição de conhecimento e prepará-las para que possam sozinhas, buscar informações sempre que precisarem.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e informação. São Paulo.Polis: APB, 1997. 129p. (Coleção Palavra ? chave, 7).
BLATTMANN, Ursula; VIAPIANA, Noeli. Leitura instrumento de cidadania. Disponível em: <http://www.geocities.com.ublattmann/papers/ao55.html> .Acesso em: 06 nov. 2008.
BOCCIA, Sandra. Critérios de gestão social pesam cada vez mais na competitividade dos pequenos negócios. Exame. Guia de boa cidadania corporativa. São Paulo. 2003.
DALLARI, Dalmo. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. São Paulo. Brasiliense, 2005.
PINSKY, Jaime. História da cidadania. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/023/23res_pinsky.htm>. Acesso em: 06 nov. 2008.
RIBEIRO, Vera Masagão. Analfabetismo funcional: referências conceituais e metodológicas para pesquisa. Educação&sociedade, Campinas, v. 18, n. 60, 1997.