O Papel do Sacerdote

Por george ferreira | 12/04/2017 | Bíblia

Pastor George Emanuel

1. A luz da Bíblia

A passagem que se refere ao papel sacerdotal como distinto do rei e de profeta (Dt 18:1-8) não define o papel nem prescreve os deveres dos sacerdotes. Isso pode ser prontamente compreendido; o papel, a seleção, a unção, os deveres e os privilégios dos sacerdotes tinham sido claramente apresentados antes. No coração do papel sacerdotal servem ao Senhor Deus no Tabernáculo, e mais tarde no templo de Yahweh e em outros lugares de adoração (Dt. 12,16). Eles pertencem ao Senhor Deus e o povo. Eles representam o povo diante de Deus, eles oferecem sacrifícios – e de animais, cereais e incenso – em favor do povo. Os sacerdotes são os intercessores perante Yahweh em favor de seus adoradores e servos. Moisés, quando descreveu os vários aspectos da vida civil de Israel, não somente reconheceu a presença do papel sacerdotal, como também estabeleceu que os detentores da posição sacerdotal tinham um papel legítimo na economia de Israel. Eles não possuíam terras (Dt 18:1) nem herança. Israel recebeu ordens de trazer sacrifícios para atender as justas necessidades dos levitas e sacerdotes, muitos deles mestres e expositores da Lei.

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O fato de o ofício sacerdotal como um papel distinto desde o início da vida religiosa do povo de Israel como noção e comunidade cúltica não quer dizer que nenhuma pessoa tenha funcionado em dupla qualidade. Moisés fez por um breve período a função profética e o papel sacerdotal (Êx. 24:5-8); Melquisedeque também (Gn 14:18-20); (Hb 7:1, 11,17); mas seu papel sacerdotal é único. O ponto de destaque é o sacerdócio em Israel não evoluiu a partir da suposta realiza sacra das nações vizinhas.

A significação messiânica do ofício sacerdotal não é realçada diretamente nessa referida passagem bíblica. Mas as pessoas que exerciam este papel tendo cumprido várias exigências rígidas para nele funcionar, tinham uma significação messiânica. Os deveres praticados tinham significação messiânica, especialmente à luz da revelação prévia sobre as promessas e a obra messiânica de restauração e salvação de Israel.

Os sacerdotes eram os instrumentos de Aliança, os líderes oficiais do culto, cabiam aos sacerdotes serem um "Cohen", palavra hebraica para sacerdote, que significa o intermediário do oráculo; alguém que dava instruções por inspiração divina, segundo dele se esperava. E isso continua a ser uma parcela importante do seu papel sacerdotal, mormente no caso do sumo-sacerdote. Os sacerdotes eram os guardiões e mestres dos documentos e das tradições sagradas.

"Não haveria necessidade de profetas se os sacerdotes tivessem cumprido bem suas funções". [Reverendo Carl Bosma].

A crítica profética ao culto e aos sacerdotes, segundo o fio do relato bíblico, começou, podemos dizer, nos meados do séc XI a.C. pouco depois de instaurar-se a monarquia em Israel. Um episódio concreto fará enfrentarem-se dois personagens chave da época; o primeiro rei, Saul, e o profeta-sacerdote-juiz mais célebre dos primeiros tempos, Samuel. O relato de I Sm 15 é conhecido por todos, e o principal interesse deste texto está em descobrir-nos dois detalhes importantes: o primeiro, que o homem tem a tentação de procurar o seu próprio caminho para contentar a Deus, e geralmente pensa que este caminho passa necessariamente pelo culto; segundo, que o profeta não considera o culto como um valor absoluto; existem coisas que podem valer muito mais, e diante delas as práticas cultuais quase são desprovidas de valor.

Para emitirmos um juízo sobre o pensamento dos profetas a respeito do culto e dos sacerdotes é preciso levar em conta todos os textos bíblicos que tratam do assunto. Do contrário cai-se em posições simplistas ou simplificadoras, que acabam sendo falsas por não levarem em consideração a complexidade do problema. Quando falta a visão de conjunto, deparamo-nos com duas posições extremas.

A primeira pretende que os profetas rejeitem o culto por princípio, como algo essencialmente mau. Essa é a teoria de Welhausem, e muitos outros autores, não só protestantes, mas também católicos.

A segunda teoria segue uma linha diametralmente oposta e afirma que todos os profetas estavam vinculados ao culto. Embora tenha tido certa aceitação dentro da escola escandinava, são poucos os autores, como por exemplo, Haldar, que seguem essa forma radical de entendimento.

Na maioria dos textos proféticos existe na verdade, a imensa demonstração de crítica dos profetas frente aos espaços sagrados, contagiados por práticas idólatras cananéias e uma corrupção do culto e dos sacrifícios.

Afinal, com que lado da moeda ficaremos? Em primeiro lugar, os escritores neotestamentários admitem, sem qualquer sobra de dúvida, que existe algo muito mais importante do que o culto sacrificial dos antigos israelitas, oferecidos pelos sacerdotes do Antigo Testamento: a soberana e perfeita vontade de Deus.

Devemos lembrar que o que desagradou os profetas não foi à instituição sacerdotal por si mesma, uma vez que ela foi autenticada pelo próprio Deus; mas a postura aética dos sacerdotes em não cumprirem o que se estava escrito na Lei: O que agrada a Deus a priori; não são os sacrifícios, mas o cumprimento de sua vontade. Só isso tem autêntico valor salvífico; (I Sm 15:22).

Dentro da mesma linha crítica, esta vez com relação ao templo, orienta-se o discurso de Estevão1, que chega a afirmar algo para os judeus que para eles era uma blasfêmia: "O Altíssimo não habita em edifícios construídos por homens" (At. 7:48). O Evangelho de João coloca esta mesma postura na boca do próprio Jesus durante o seu diálogo com a samaritana (Jo 4:21-24). Existe algo mais importante do que o espaço sagrado, a forma de adoração que se tributa a Deus.

1.Estevão; As facções polítco-religiosas de tendências farisaicas constituíam o principal elo de apoio ao legalismo frio e desumano dos sacerdotes do Templo de Jerusalém, que viviam de abocanhar os recursos do tesouro, destinados não somente ao sustento deles próprios, mas também ao da viúva, do órfão e do forasteiro desamparado (Dt 26:12)... No caso de Estevão, sua pregação denunciava não só a hipocrisia dos segmentos farisaicos e saduceístas que apoiavam os invasores romanos, como também o injusto assassinato do Príncipe da Paz... Os deuses falsos poderiam ter casas, mas o Altíssimo é onipresente... Em At 7, encontra-se o esboço do libelo contra os deicidas e de antemão os principais aspectos da pregação paulina. Estevão foi apedrejado por grupos de judeus apóstatas e heréticos que dando grandes gritos, taparam seus ouvidos e precipitou-se contra ele. E um jovem chamado Saulo, enquanto apedrejavam, consentia na sua morte... (pgs; 17, 19, 20, 21); Os Grandes Mártires de Cristianismo, de Estevão a Lutherking. Autor: Jeová Mendes.ed: Imprece/2006.

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