O PAPEL DO PSICOLOGO NA PRÁTICA DE CUIDADOS PALIATIVOS
Por ELIEMARY DE AGUIAR MESQUITA | 24/10/2016 | PsicologiaRESUMO
Este trabalho consiste em explanar o conceito de cuidados paliativos e como esses cuidados são aplicados no ambiente hospitalar a fim de ajudar os pacientes que se encontram em situação terminal a lidar da melhor maneira possível com a realidade de morte. Consistirá em uma pesquisa parcialmente bibliográfica, além disso, será realizada uma entrevista semiestruturada onde serão abordados temas referentes à atuação do profissional nesse contexto, com dois profissionais de psicologia atuantes no Hospital Regional Norte, com sede em Sobral-CE.
INTRODUÇÃO
O que é cuidado paliativo? A Organização Mundial de Saúde em 2002 define cuidado paliativo como uma abordagem ou um tipo de tratamento que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares que estão expostos a doenças que possam ameaçar a continuidade da vida. Esses cuidados visam o tratamento não somente da dor, mas sim dos sintomas físicos, sociais, emocionais e espirituais que também sofrem um impacto de acordo com o diagnóstico. O tratamento é feito por uma equipe multidisciplinar a fim de ajudar o paciente a conviver com sua nova rotina, com as mudanças que a doença lhe impõe. Essa equipe tem que ser composta por um médico, um enfermeiro, um psicólogo, uma assistente social e um profissional da área de reabilitação que geralmente varia de acordo com a demanda do paciente. Importante destacar que toda a equipe deve ter conhecimento da prática paliativa. O profissional de psicologia atua na equipe contribuindo para uma possível intervenção frente a um sofrimento psíquico advindo da doença acometida por alguma disfunção orgânica. Nessa área também o psicólogo precisa ter uma relação equilibrada e harmoniosa com os outros profissionais da equipe, buscando encontrar meios de comunicação que permitam a interação e troca dos conhecimentos visando os diferentes e específicos saberes. (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2008) O motivo pelo qual escolhi este tema para realizar minha pesquisa vem de um interesse pessoal pelo tema “morte” ou “terminalidade”, do ponto de vista de como o psicólogo pode minimizar os impactos que essa situação trás ao paciente. A partir desse interesse, em minhas pesquisas cheguei à abordagem de cuidados paliativos, onde basicamente trás a prática do cuidar a essas pessoas que se encontram vulneráveis. Além de que, vem desmistificar o pensamento de que temos que lutar pela vida, não importando o quê e pelo quê aquele paciente irá passar. Nessa teoria aprendemos a valorizar a situação que aquele paciente está passando, não importa que ele esteja com a vida pelo fim, e sim ajudá-lo a valorizar sua real situação e a minimizar o sofrimento causado pela doença. Este artigo foi escrito com uma metodologia de pesquisa bibliográfica, utilizando livros, artigos, revistas etc, bibliografia esta retirada da internet em sites de busca.
DESENVOLVIMENTO Matsumoto (2009), no Manual de Cuidados Paliativos/Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ACNP), traz a idéia de que existem muitos pacientes que estão nos leitos de hospitais sem possibilidade de cura, porem, utilizando tratamentos invasivos de alta tecnologia, desnecessariamente, pois passam a fazer com que aquele momento passe a ser ainda mais doloroso não levando em consideração o sofrimento que é causado e sem preparo para focar aquilo que é principal, que seria a dor. Como ela bem afirma, não estamos aqui para criticar a medicina tecnológica, porem, defendemos nosso posicionamento a respeito da mortalidade humana e a necessidade de se ter um conhecimento cientifico, mas também de assumir uma postura humanizada e proporcionar aquela pessoa a sua dignidade de vida e a possibilidade de se morrer em paz. Historicamente, os cuidados paliativos vêm se desenvolvendo das seguintes formas: O cuidado paliativo se confunde historicamente com o termo hospice, que definia abrigos(hospedarias) destinados a receber e cuidar de peregrinos e viajantes. O relato mais antigo remonta ao século V, quando Fabíola, discípula de São Jerônimo, cuidava de viajantes vindos da Ásia, da África, e dos países do leste no Hospício do Porto de Roma¹. Várias instituições de caridade surgiram na Europa no século XVII, abrigando pobres, órfãos e doentes. Essa prática se propagou com organizações religiosas católicas e protestantes que, no século XIX, passaram a ter características de hospitais. (MATSUMOTO, 2009, p.14) Esse movimento Hospice Moderno que foi criado pela inglesa Cicely Saunders, que era humanista e médica e também criou em 1967 o St. Christopher’s Hospice, onde oferecia não somente assistência aos pacientes, mas também o desenvolvimento o ensino e da pesquisa, onde recebia bolsistas de vários países. Em 1982, foi criado um grupo de trabalho que era responsável por definir as políticas para o alivio da dor e dos cuidados relacionados a hospice, criado pelo Comitê de Câncer da Organização Mundial de Saúde(OMS), onde passou-se a utilizar o termo cuidados paliativos que já era utilizado no Canadá. Com base nos princípios bioéticos, onde o paciente possui plena autonomia para tomar suas decisões, contanto que tenha um consentimento informado,
este assume uma postura onde pode optar por sua vontade em aceitar ou não que seu tratamento seja baseado na teoria dos cuidados paliativos que tem como principio a beneficência e a não-maleficência, onde é desenvolvido um cuidado que destaca a qualidade de vida do paciente no processo de desenvolvimento da doença, da terminalidade da vida, na morte e até mesmo no período de luto. (MATSUMOTO, 2009). A autonomia – o respeito a ela, na verdade- é um dos pilares do principialismo proposto por Beaucham e Childress. De fato, os autores, após sucessivas criticas, defendem que a autonomia não seria somente mais um principio bioético, mas também uma qualidade dos seres humanos, a qual lhes permitia o autogoverno para decidirem por si mesmos e segundo suas escolhas. Tal qualidade, historicamente delimitada pelo período que vai do pensamento helênico a Kant, é aspecto intrínseco a dignidade da pessoa humana deve ser respeitada. Assim, no plano da existência, o respeito a autonomia da pessoa se expressa pela manifestação da vontade direcionada diante de uma situação que seja bem compreendida por aquele que toma a decisão. Nos cuidados em saúde, o respeito a autonomia é formalizado mediante instrumentos como consentimento informado (CI) e pelas diretrizes antecipadas da vontade, ao passo que nas pesquisas torna-se essencial o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Quando se trata de menores ou incapazes, deve-se buscar seu assentimento, de acordo com sua capacidade de compreensão. (REV.BIOÉT (Impr.). 2015;23(1): 31-9 – PÁG:33-34) Segundo o Manual de Cuidados Paliativos-ACNP 2009, o conceito de cuidado paliativo não é baseado em nenhuma teoria. Se trata daquele cuidado, desde o diagnostico da doença, que vem a se expandir no nosso campo de atuação. Não falamos em impossibilidade de cura, mas nas possibilidades daquela cura existir, daquele tratamento surtir efeito, modificar aquela situação, aquela doença. De acordo com Matsumoto (2009, p.16) “Pela primeira vez, uma abordagem inclui a espiritualidade entre as dimensões do ser humano. A família é lembrada, portanto assistida, também após a morte do paciente, no período de luto.” O Manual também traz princípios dos cuidados paliativos que a OMS estabeleceu em 1986 e reafirmou em 2002, princípios estes que serão brevemente citados mas que surgiram para dimensionar a atuação da equipe multiprofissional de Cuidados Paliativos, sendo eles:
- Promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis; - Afirmar a vida e considerar a morte um processo normal da vida; - Não acelerar nem adiar a morte; - Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente; - Oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível até o momento da sua morte; - Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e o luto; - Oferecer abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto; - Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença; - Iniciar o mais precocemente possível o Cuidado Paliativo, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como quimioterapia e radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clinica estressante; Vamos agora tratar um pouco sobre cuidados paliativos no Brasil, de como ele chegou e se instalou e de como está atualmente. Os cuidados paliativos tiveram inicio no Brasil na década de 1980, porem, houve um grande crescimento na área em 2000. Em 2009, seriam mais de 40 iniciativas em todo o Brasil. Pode-se considerar pouco levando em consideração a extensão do país, mas é necessário encarar isso como um grande avanço nessa área, onde se pretende trabalhar com responsabilidade para assim ser criado um compromisso a cerca de um único propósito e construirmos um futuro promissor para os cuidados paliativos com o objetivo de chegar um dia em que toda a população brasileira tenha acesso e seja beneficiado com essa boa prática. Após esse resgate histórico sobre os cuidados paliativos, agora vamos tratar da prática do psicólogo na equipe de cuidados paliativos. Segundo Ferreira et. al (2011) quando o profissional passa a integrar uma equipe que trata desses cuidados ele precisa estar com uma formação na área, e buscar estratégias que possam ajudar o paciente a enfrentar e elaborar suas experiências vivenciadas nesse momento delicado de sua vida. É importante destacar que o psicólogo tem um papel de facilitar o tratamento para que o paciente se integre ao mesmo, assim como a família e a equipe multidisciplinar, onde se mantêm o foco o doente e não a sua patologia, e a melhora na qualidade de vida do paciente nesse estado, e não o prolongamento do seu sofrimento. Esse processo é feito basicamente com a escuta do profissional, onde o paciente que estabeleceu um vinculo passa a contar-lhe suas principais angustias a cerca do que esta vivendo, assim como a família e a equipe interdisciplinar.
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