O papel do coordenador pedagógico frente às novas tecnologias

Por Carina de Oliveira Dionysio | 02/03/2012 | Educação

INTRODUÇÃO

 

O papel do coordenador pedagógico demanda competências relevantes nos ambientes educativos, sendo que a “mediação” precisa ser sua maior habilidade.

A sociedade apresenta-se com grandes inovações, tecnologias e uma informação cada vez mais veloz. E a escola necessita estar vinculada a este mundo de crescimento acelerado.

Hoje a velocidade da informação nos propicia viajarmos e nos atualizarmos sem sair de nossas casas: uma pesquisa demorada em enciclopédias tornou-se algo do passado, a internet nos proporciona respaldo para pesquisas amplas e rápidas, originadas de diferentes fontes; o mundo da tecnologia nos permite fotografarmos cada minuto da nossa vida, com um custo acessível a todas as classes, usufruindo de edições de fotos para montagens e correções de imperfeições, por meio da qualidade e rapidez, e de acordo com os “megapixels” de que nossas câmeras digitais dispõem. Computadores são substituídos por notebooks e netbooks, internets discadas perderam para a banda larga, modem 3G e wireless. As pessoas trabalham sem sair de casa, e os serviços de trabalhos digitais, antes realizados somente por profissionais especializados, hoje, com um pouco de conhecimento, uma criança é capaz de executar (gravação de filmes, CDs, digitação de trabalhos, montagens de fotos, criação de convites personalizados, etc). A população busca conforto, praticidade e informação, e a cada minuto a engenharia eletrônica sofre um novo desafio.

Nas relações interpessoais, ainda podemos citar pontos favoráveis ao mundo virtual: temos acesso diário aos amigos que moram longe, trocamos arquivos em tempo real, interagimos com facilidade. E, por diferentes meios de comunicação, podemos conhecer pessoas do mundo inteiro: trocamos cultura, costumes, discutimos sobre futebol, religião e relacionamento com internautas que nunca vimos pessoalmente. Fazemos, diariamente, parte de um mundo paralelo: o mundo virtual.

Neste contexto de novas tecnologias, a escola sofre grandes desafios, pois muitas instituições continuam com suas metodologias desatualizadas, seus conceitos, avaliações e currículos carecendo de uma grande inovação, e os alunos, gradativamente, estão mais desinteressados pela sala de aula.

A escola de hoje precisa propiciar fontes de conhecimento diversificadas, e os integrantes de sua equipe pedagógica são os principais autores e colaboradores para essa mudança, ou seja, antes do trabalho com as novas tecnologias entrar nas salas de aula, é necessário um conhecimento e conscientização de sua importância por parte do coordenador pedagógico. Estar articulado com a globalização, as novas tecnologias, a interdisciplinaridade, e assim construir projetos educativos voltados para estes aspectos, é uma tarefa que vem se tornando, diariamente, impreterível para a equipe pedagógica escolar. E educar para as tecnologias, segundo Perrenoud, é

 

Formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação das redes de procedimentos e estratégias de comunicação. (PERRENOUD, 2000, p. 128)

 

 

Hoje percebemos que todas as matérias do currículo escolar podem ser trabalhadas por meio das novas tecnologias. A Geografia, a História, as Ciências ganham um significativo respaldo com a pesquisa de mapas, planetários, fatos históricos, interação intercultural, vídeos, áudios, serviços e sites de localização online, etc. O Excel pode ser um grande amigo da matemática, o PowerPoint torna-se um forte aliado nas apresentações de trabalhos escolares de todas as disciplinas, e cabe aos educadores explorar ao máximo este recurso. As famosas redes sociais, os comunicadores instantâneos e os blogs, que provocam reações variadas aos professores, podem ser apresentados aos alunos como ferramentas de ensino à Língua Portuguesa e Língua Estrangeira, contrariando inferências pejorativas quanto ao possível mal dessas ferramentas à linguagem culta dos jovens. E, neste ponto, de informação e constante mediação, o papel do coordenador pedagógico faz diferença, pois, no momento quando este profissional apresenta à sua equipe pedagógica escolar pesquisas sobre o avanço da informação e os instiga a refletirem suas práticas educacionais, esta mesma equipe poderá ver com outros olhos as ferramentas de informação atuais dos educandos. Não necessitando apoiarem a famosa linguagem “Internetês”, porém apresentando novas formas de pesquisa e interações tecnológicas.

Portanto, ao pensarmos no papel do Coordenador Pedagógico frente às novas tecnologias, é possível nos respaldarmos em Mendelsohn (1997) apud Perrenoud (2000, p.125):

 

Se não se ligar, a escola se desqualificará. A escola não pode ignorar o que se passa no mundo. Ora, as novas tecnologias da informação e da comunicação transformam espetacularmente não só nossas maneiras de comunicar, mas também de trabalhar, de decidir, de pensar.

 

 

No desenvolvimento deste trabalho será apresentado o capítulo 1, que discorrerá sobre o papel do coordenador pedagógico, bem como a importância da formação continuada dos profissionais da educação e do trabalho interdisciplinar no ambiente escolar.

No segundo capítulo, apresentaremos o tema: As novas tecnologias na educação. Hoje ouvimos e lemos muito sobre o uso da informática em sala de aula, portanto, não se pretende explanar nenhuma nova metodologia de ensino, as ferramentas que nós, professores, possuímos são suficientes para se realizar um bom trabalho escolar, o que nos falta é preparação e motivação para sairmos da sala de aula e utilizarmos o laboratório de informática das nossas escolas. O objetivo deste capítulo é o de apresentar a legislação vigente sobre o uso das novas tecnologias na educação, os equipamentos que as escolas possuem, e os questionamentos referentes a sua real utilização no ambiente escolar.

As práticas e sugestões de utilização dos computadores como ferramentas de trabalho escolar e interdisciplinar serão abordadas no terceiro capítulo desta dissertação. E finalizaremos este trabalho com uma conclusão, que desenvolverá uma análise sobre o papel do coordenador pedagógico frente às novas tecnologias, a importância da formação continuada e do trabalho interdisciplinar. É provável que muitas dúvidas e indagações referentes à realidade da educação surjam no decorrer da leitura deste estudo, o que será positivo para refletirmos nosso papel de educadores, gestores e líderes propícios e abertos às mudanças que ocorrerão continuamente na educação.

 

1 O COORDENADOR PEDAGÓGICO

 

O papel do coordenador pedagógico ainda é motivo de questionamentos quanto à sua função, mas suas atribuições na gestão escolar, além de extrema relevância na organização pedagógica, influenciam diretamente na aprendizagem dos alunos.  Quando uma equipe pedagógica mantêm-se atualizada, pronta para mudanças e em busca de contínuo aperfeiçoamento e formação, a educação obtém sucesso continuamente, e para que este sucesso ocorra é necessário uma liderança eficaz e comprometida.

Segundo Clementi apud Almeida (2003), cabe ao coordenador acompanhar o projeto pedagógico, formar professores e partilhar suas ações. E ainda, de acordo com Almeida (2003), na formação docente, é muito importante prestar atenção no outro, em seus saberes e dificuldades. Por isso, o coordenador é visto na amplitude do contexto educacional, como um mediador, e para tanto, necessita trabalhar respaldado em algumas estratégias de gerenciamento, como: autonomia, motivação, organização e comunicação eficiente.

Ao falarmos de autonomia, podemos destacar os pensamentos de Morin:

 

Precisamos de um método que respeite o caráter multidimensional da realidade antropossocial, isto é, que não escamoteie nem sua dimensão biológica, nem a dimensão do social, nem a do individual, isto é, que possa enfrentar as questões do sujeito e da autonomia. (MORIN, 2005, p. 150)

 

 

Segundo Candau (1994), “a educação é um processo multidimensional”. E o termo multidimensional (grifo nosso), engloba a dimensão humana, técnica e político-social. A autora ainda salienta que “estas dimensões não podem ser visualizadas como partes que se justapõem ou que são acrescidas umas às outras sem guardarem entre si uma articulação dinâmica e coerente”.  É necessário construirmos uma visão articulada, “partindo-se de uma perspectiva de educação como prática social inserida num contexto político-social determinado”. (CANDAU, 1994, p. 48).

O ambiente escolar e o campo da educação são assuntos bastante complexos, já que englobam diversos fatores. E nessa diversidade e multidimensão que envolvem as questões educacionais, somos instigados a buscar o trabalho em equipe continuamente, daí, retomamos às estratégias de gerenciamento: organização e comunicação eficiente. Percebemos que todas as estratégias estão interligadas, e uma depende da outra, pois não há autonomia sem motivação, e não há organização sem comunicação. Para tanto, além de analisarmos o papel do coordenador pedagógico, podemos pensar na importância do seu comprometimento com um trabalho em equipe.

Perrenoud (2000) quando fala em trabalho em equipe, diz que a evolução da escola caminha para a cooperação profissional. Nessa perspectiva (às vezes ideológica, vista pela ótica da nossa realidade escolar), podemos retomar aos pensamentos do autor quando este discorre que trabalhar em conjunto é uma questão de competências e pressupõe igualmente a convicção de que a cooperação é um valor profissional.

No que se concerne a competências, Thurler (1996) apud Perrenoud (2000, p. 82) distingui três grandes competências:

 

 

  1. Saber trabalhar eficazmente em equipe e passar de uma “pseudo-equipe” a uma verdadeira equipe.
  2. Saber discernir os problemas que requerem uma cooperação intensiva. Ser profissional não é trabalhar em equipe ‘por princípio’, é saber fazê-lo conscientemente, quando for mais eficaz. É, portanto, participar de uma cultura de cooperação, estar aberto para ela, saber encontrar e negociar as modalidades ótimas de trabalho em função dos problemas a serem resolvidos.
  3. Saber perceber, analisar e combater resistências, obstáculos, paradoxos e impasses ligados à cooperação, saber se auto-avaliar, lançar um olhar compreensivo sobre um aspecto da profissão que jamais será evidente, haja vista sua complexidade.

 

 

Neste contexto, vemos o coordenador pedagógico como um líder e mediador, alguém que estuda e se aperfeiçoa em busca de projetos educacionais, sendo um elo entre a direção escolar e o corpo docente. Para tanto, faremos uma análise sobre a formação continuada dos profissionais da educação, já que nossa legislação prevê incentivo ao estudo continuado, porém na legitimidade, percebemos um grande vazio neste aspecto. Sem dúvida, uma parte desse fracasso na formação vem dos profissionais, sem interesse de atualização; e a outra parte, oriunda de uma dita “formação continuada” precária ou mesmo inexistente.

 

1.1 A FORMAÇÃO CONTINUADA

 

 Quando falamos em “Formação continuada”, relacionada às possíveis novas metodologias do Ensino, podemos observar, segundo Nóvoa (1995a) e Perrenoud (2000) apud Silva:

 

A Formação Continuada tem entre outros objetivos, propor novas metodologias e colocar os profissionais a par das discussões teóricas atuais, com a intenção de contribuir para as mudanças que se fazem necessárias para a melhoria da ação pedagógica na escola e consequentemente da educação. É certo que conhecer novas teorias, faz parte do processo de construção profissional, mas não bastam, se estas não possibilitam ao professor relacioná-las com seu conhecimento prático construído no seu dia-a-dia. (Nóvoa,1995a;Perrenoud,2000).

 

Ao destacarmos as carências dos profissionais da educação básica, quanto à formação continuada, ao piso salarial, comprometimento mínimo - devido ao número de escolas a serem atendidas-, vemos um grande problema na Educação Brasileira. Os profissionais sabem dos compromissos que deveriam realizar inteiramente, têm consciência da importância de uma formação contínua, além desta constituir um direito expresso em Lei, porém, nada se concretiza na prática pedagógica, não há reflexão, planejamento, orientação, ou um caminho a seguir.

Se hoje falamos em formação continuada, é porque precisamos estar atentos a todo o avanço tecnológico que a sociedade nos apresenta. Pois o quadro-negro e o giz, sozinhos, não podem mais serem titulados ferramentas de aprendizagem. O professor, enquanto pesquisador, mestre e aprendiz necessita alfabetizar-se na era digital.

A realidade da educação não prepara os educadores e gestores para as novas tecnologias. Todo o sistema de educação atual e os princípios e diretrizes das legislações vigentes, dão respaldo à formação continuada dos profissionais da educação, a LDB (BRASIL, 1996), no § 1º  do seu Art. 62º prevê que “a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, deverão promover a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de magistério”. Entendendo-se por formação continuada toda a formação que engloba a educação e que busca preparar e aprimorar a atuação do educador no ambiente escolar, e acrescentando que a tecnologia está relacionada à educação, fica a pergunta: Atualmente os educadores além de desfrutarem de formação continuada, têm preparo para trabalhar com as novas tecnologias?

Reforçando o que nos respalda a legislação, entramos agora no Plano Nacional de Educação (PNE), que expressa:

 

A melhoria da qualidade do ensino, que é um dos objetivos centrais do Plano Nacional de Educação, somente poderá ser alcançada se for promovida, ao mesmo tempo, a valorização do magistério. Sem esta, ficam baldados quaisquer esforços para alcançar as metas estabelecidas em cada um dos níveis e modalidades do ensino. Essa valorização só pode ser obtida por meio de uma política global de magistério, a qual implica, simultaneamente,

-a formação profissional inicial;

-as condições de trabalho, salário e carreira;

-a formação continuada. (BRASIL,2001)

 

 

Estamos continuamente atrelados numa lei que não sai do papel, já que diariamente assistimos greves nas escolas por conta do baixo salário pago à classe de professores; presenciamos no nosso ambiente de trabalho, educadores desiludidos com a profissão; e se adentrássemos no tema “salário”, poderíamos preencher dezenas de folhas com os últimos editais de concursos para professores nos municípios e estados de todo país, e tabelar quais prefeituras ofertam um piso salarial descente para a classe. Sabemos que este piso já é um valor irrisório, porém se pesquisarmos, veremos que há muitos professores recebendo um salário ainda inferior a ele.

E partindo do pressuposto de que a formação continuada deve ser buscada e reivindicada para validarmos a legislação que nos ampara (e desampara), percebemos que o coordenador pedagógico é quem tem o poder de mudar a realidade escolar, oferecendo espaço para transformações, oportunizando a troca de conhecimento, a interdisciplinaridade e instigando nos professores à reflexão contínua de suas práticas. Vasconcellos (2008) define a reflexão pedagógica, como uma mediação no processo de transformação, podendo ela, agir através do sujeito e ser um caminho de mudança e possibilidade de interação, de forma que estes sujeitos possam ter uma ação pautada numa nova concepção.

Zeichner (1990) apud Sacristán e Gómez (1998, p.374) explica os objetivos dos programas de formação docente:

 

Preparar professores/as que tenham perspectivas críticas sobre as relações entre a escola e as desigualdades sociais e um compromisso moral para contribuir para a correção de tais desigualdades mediante as atividades cotidianas na aula e na escola. (ZEICHNER, 1990a, p.32 apud SACRISTÁN E GÓMEZ, 1998, p. 374)

 

Quando esperamos mais do nosso profissionalismo e dedicação, automaticamente, estamos propícios a sermos alicerces de uma nova educação, amparada numa prática profissional docente que, segundo Sacristán e Gómez, é algo intelectual e autônomo, sendo um processo de ação e reflexão cooperativa, de indagação e experimentação, onde o professor aprende ao ensinar e ensina porque aprende. Group (1990) apud Sacristán e Gómez diz que as escolas se transformam assim em centros de desenvolvimento profissional docente. E Sacristán e Gómez ressaltam que:

 

A prática se transforma no eixo de contraste de princípios, hipóteses e teorias, no cenário adequado para a elaboração e experimentação do currículo, para o progresso da teoria relevante e para a transformação de prática e das condições saciais que a limitam. (SACRISTÁN E GÓMEZ, 1998, p. 379)

 

O coordenador pedagógico, inserido no contexto educacional de tecnologias em propagação contínua, é o principal elo de informação e transformação entre a escola e a sociedade do conhecimento. E, contudo, a formação continuada que a nossa educação almeja seria bem definida, segundo Pereira como:

 

um espaço coletivo para que os docentes possam refletir sobre suas práticas e conhecimentos profissionais, levando em conta os condicionantes reais de seu trabalho e as estratégias para a superação daqueles que reforçam a ação reprodutiva, sustentada pela lógica técnico-burocrática de certas inovações e da quase totalidade das reformas educativas. (PEREIRA, 2009)

 

 

 Portanto, o papel do coordenador pedagógico, como um articulador e instigador de formação continuada em sua equipe docente deve contribuir para uma reflexão, que, de acordo com as palavras de Pereira (2009) se possa perceber que as atuais condições da escola não dependem apenas dos professores, mas também deles (grifo nosso). Assim, percebemos que para uma mudança de currículo e metodologias que se encontram enraizados nas instituições, é necessário que os projetos de formação continuada que sejam instaurados pela gestão escolar, tenham respaldo numa visão propícia à criação, invenção ( e reinvenção), dedicação, ética, e cooperação.

 

1.2 O TRABALHO INTERDISCIPLINAR

 

O trabalho interdisciplinar colabora para o desenvolvimento da criticidade, criação, pesquisa, reflexão, criatividade, além de diversos outros aspectos de construção do sujeito. E a escola precisa estar amparada em projetos que visem em objetivos integradores com a sociedade, para assim, o ensino à pesquisa, ao mundo globalizado e a prática de novas tecnologias integrarem às salas de aula.

Analisando os Parâmetros Curriculares Nacionais e a LDB (BRASIL, 1996) que no § 2° do Art. 1° declara que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e prática social”, podemos destacar pontos-chaves que objetivam uma educação voltada para a interdisciplinaridade e contextualização. Pereira (2000), apud Lopes (2002, p.3) “acredita que a escola precisa ser mais do que uma simples transmissão e acúmulo de informações, exigindo experiências concretas e diversificadas, transpostas da vida cotidiana para as situações de aprendizagem”.

Trabalhar a interdisciplinaridade continua um tema intrincado no campo educacional, pois muitos profissionais não possuem certeza de sua real epistemologia, ou seja, não há conhecimento, tampouco pesquisa e, consequentemente, a inexistência de uma prática interdisciplinar.

É necessária uma reformulação do currículo, paralela à busca de uma maior qualidade no ensino e, juntamente com o compromisso sólido de formação continuada dos profissionais da educação, legitimando nossa legislação de forma integradora, ética e respaldando um “projeto de vida” em nossos alunos. Em Touraine (1997, p.350) apud Zucchetti (2003, p. 187) podemos observar um ideal de educação crítica, e, acima de tudo, ética:

 

Que a palavra e a vida de cada um esteja no centro da vida coletiva; que o indivíduo, antes de ser um cidadão participante na vida do Estado ou um trabalhador que preencha um papel econômico, seja um sujeito pessoal que constrói a sua vida individuada, é este o método a seguir para que a sociedade reencontre a integração que perdeu e que não retornará sob o efeito dos apelos à disciplina ou ao interesse geral.

 

 

Podemos nos indagar: Que interdisciplinaridade vamos obter com as novas tecnologias? Todas! (grifo nosso) Se soubermos trabalhar de maneira integrada e prontos para pesquisas minuciosas e abrangentes. Trabalhar a interdisciplinaridade não é uma tarefa fácil, mas ser educador também não é uma profissão simples, requer dedicação, pesquisa e constante aperfeiçoamento. A era digital está inserida na sociedade e nossos alunos precisam de um conhecimento vinculado continuamente com a realidade, para assim, nossa legislação obter êxito. De acordo com Pereira:

 

há nesse caminho um ônus político, pedagógico e financeiro a ser enfrentado, que será alto, e as condições que temos nas universidades, escolas e comunidades brasileiras são desalentadoras, em termos de recursos, estudo, pesquisa e produção do conhecimento. Quem pagará esse ônus? (PEREIRA, 2008)

 

 

Quando Pereira fala em ônus referente ao trabalho interdisciplinar, percebemos como a questão financeira interfere de modo negativo em todos os âmbitos educacionais. E vale ressaltar aqui uma questão não só brasileira, mas também mundial e antiga, pois em 1977 o diretor geral da UNESCO, Amadou Mathar M’ Bow, ao falar sobre o alto índice de analfabetismo mundial, adverte os estados a destinar aos programas de alfabetização, uma parte dos gastos dedicados a armamentos, salientando que “o custo total de um só bombardeio com seu equipamento equivale ao salário de 250.00 professores por ano!”. Ferreiro e Teberosky (1999), concluem, portanto, que o diretor geral da UNESCO, ao comparar o custo de um avião de guerra com o custo de uma equipe de alfabetizadores, deixa claro que o alto número de analfabetos no mundo não é um problema financeiro.

Agora transpondo essas afirmações para a realidade brasileira e atual, podemos nos questionar: Se o analfabetismo ainda não foi contornado, de 1977 até os dias de hoje, o que diremos do trabalho interdisciplinar? E mais, talvez nosso país não gaste tanto com bombardeios quanto outros, mas, para onde vai nosso dinheiro? Está sendo investido em saúde, segurança? Claro que não, o Brasil investe milhões em outros tipos de bombardeios, tão contundentes quanto a uma bomba explosiva, porém silenciosos.

Mesmo sabendo de toda a corrupção que nos rodeia, precisamos pensar na educação como uma ferramenta de transformação social, e, portanto, é necessário nos conscientizarmos que a mudança e transformação começam intrínsecas, mas ganham força quando se obtêm um maior número de pessoas preocupadas em uma prática respaldada em conceitos éticos na sua total dimensão.

Trabalhar a interdisciplinaridade é saber dos problemas sociais que enfrentamos, é nos conscientizarmos do nosso papel de cidadãos procurando o conhecimento por meio de diversas fontes, óticas, e teorias.

É também instigar os alunos diariamente, propor metodologias, técnicas e dinâmicas que despertem a curiosidade e o prazer em aprender.

Nestas perspectivas, vemos o coordenador como um constante estudioso na prática educativa: reflexivo em suas ações, coerente na sua gestão, articulador e transmissor da informação e sincronizado com a interdisciplinaridade e as novas tecnologias. Tarefa emaranhada de situações inconstantes e desafiadoras, entretanto quem almeja uma educação sem surpresas não tem espírito de educador.

2 AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO

Ao discorrer sobre o tema: As novas tecnologias na educação, podemos refletir sobre um texto de Nilson Souza, publicado dia 23 de fevereiro de 2001 no 2º caderno da Zero Hora. Este autor comenta sobre uma intrigante argumentação de um professor contrariado com a lentidão dos avanços tecnológicos no ambiente escolar. O professor propõe em sua indagação, que imaginássemos três pessoas congeladas há cem anos em três lugares diferentes. Uma, ressuscitaria agora, numa esquina movimentada de uma grande cidade, a segunda na cozinha de sua casa e a terceira numa sala de aula. Qual dessas pessoas notaria mais diferença?

O texto declara que assim como as esquinas do século passado, com prosaicos lampiões a querosene, deram lugar a postes de luz e fios, entre diversas mudanças consideráveis, a nossa cozinha foi toda invadida pela tecnologia, que assustaria e surpreenderia qualquer pessoa congelada no começo dos anos mil e novecentos. Porém a escola, a sala de aula, o professor e suas metodologias. Que surpresa iria ocorrer nesta pessoa, agora descongelada?

Sem mais utilizarmos as ideias e indagações do cronista da Zero Hora, podemos, sem dúvidas, dizer que as salas de aula continuam iguais aos ambientes escolares em que nossos avós e bisavós estudaram, lá está os professores, o quadro-negro e o giz. Estão também os alunos dispostos em classes, enfileirados e, claro, alguns instrumentos da modernidade: um MP4, um notebook, um celular, etc, todos pertencentes aos educandos, e infelizmente os professores ainda não têm preparo e interesse em trabalhar com estes instrumentos.

Perrenoud (2000), ao falar sobre o quadro-negro e o computador, observa que os professores utilizam o quadro, ou mesmo instigam seus alunos a usarem-no, porém sem a intenção de que os educandos o utilizem futuramente. Já o computador não é um instrumento específico da escola, se os alunos trabalharem com ele neste âmbito, poderão fazê-lo em outros contextos.

Trabalhar com novas tecnologias é, sem dúvida, um desafio constante. Envolve preparação, pesquisa, persistência e muito conhecimento. E infelizmente na educação atual, estamos desprovidos e carentes de muitos recursos, principalmente recursos humanos. E quando falamos em recursos humanos, nos referimos aos profissionais da educação, pois os instrumentos e as tecnologias estão nas escolas, invadiram nossas casas e o governo já disponibilizou laboratórios de informática em milhares de escolas do país. Mas, onde estão os alunos? Estão nos laboratórios? Fazem pesquisas constantemente? Estão instigados a aprender por meio das novas tecnologias?

A resposta para essas perguntas é não. A realidade mostra que a maioria dos educandos utiliza as novas tecnologias, porém, em casa, copiando e colando textos da internet, sem pesquisa, sem dedicação, e sem busca de conhecimento. E se o fazem, e se copiam e reproduzem abertamente, é porque não são cobrados do contrário.

O avanço das novas tecnologias nos deu muitas ferramentas para a nossa vida social e continua um grande respaldo para uma educação com situações de aprendizagem ricas, complexas, diversificadas, por meio de uma divisão de trabalho que não faz mais com que todo o investimento repouse sobre o professor (Perrenoud, 2000).

O filósofo Pierre Lévy (1999) defende a idéia de que “o saber-fluxo, o trabalho-transição de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva mudam profundamente os dados do problema da educação e da formação.” O autor ainda defende que o que se deve aprender não pode mais ser planejado e nem definido com exatidão e antecedência.

A evolução da comunicação nos mostra que toda a sociedade foi transformada e que a internet é a grande revolução, já que há 20 anos não imaginávamos que grande parte da população fosse possuir computador e notebooks em suas casas. E essa realidade podemos assistir hoje no nosso meio social. Possuímos meios de informação extremamente velozes, e a distância física já não nos impossibilita de mantermos comunicação contínua e em tempo real. É a sociedade do conhecimento em propagação acelerada.

Nas palavras de Lévy:

 

Estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço no plano econômico, político, cultural e humano. Que tentemos compreendê-lo, pois a verdadeira questão não é ser contra ou a favor, mas sim reconhecer as mudanças qualitativas na ecologia dos signos, o ambiente inédito que resulta da extensão das novas redes de comunicação para a vida social e cultural. Apenas desta forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista. (LÉVY, 1999, s/p).

 

 

Edgar Morin (2010), em seu livro: “Para onde vai o mundo?” descreve inúmeras concepções sobre o passado, presente e futuro, e sobre o conhecimento e seus princípios. E quando fala sobre a evolução no seu modo geral descreve que esta não obedece às leis e não é mecânica e nem linear. E analisando as palavras de Candau sobre a educação como um processo multidimensional, podemos novamente citar Morin, quando ele exprime que “a realidade social é multidimensional; ela comporta os fatores geográficos, econômicos, técnicos, políticos, ideológicos...”

E corroborando com estas palavras, Lévy alega que:

Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva. (LÉVY, 1999, p.158)

 

É impossível não conectarmos todos os fatores aqui discorridos: O papel do coordenador pedagógico, as novas tecnologias, a importância da formação continuada, com a interdisciplinaridade respaldando todos os temas.

O trabalho com as novas tecnologias é um método interdisciplinar, podendo ser transdisciplinar, multidisciplinar ou disciplinar, ocorrendo de acordo com a vontade e preparação do professor em explorá-lo.

No sistema tecnológico podemos expor o tema “interatividade”, que segundo Ferreira (2008), esta palavra começou a ser utilizada pelos estudiosos em computação na década de 1950, e referia-se a forma de relação entre o homem e a máquina. Pierre Lévy (1999) destaca a interatividade como um problema, já que envolve a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos modos de comunicação.

O conceito de interatividade engloba diversos meios de comunicação e concepção. É difícil definir que tipo de interatividade o homem tem com uma televisão, ou mesmo com um videogame. Pierre Lévy defende a idéia de que um videogame clássico é mais interativo que uma televisão, ainda que não ofereça comunicação com outra pessoa (porém atualmente os jogos já possuem comunicação instantânea), “o videogame reage às ações do jogador, que por sua vez reage às imagens presentes: interação” (Lévy, 1999).

No campo educacional podemos apresentar um quadro de Roderick Sims que trata sobre o emprego do computador na educação, uma taxonomia (esquema) da interatividade, apresentada a seguir:

 

Quadro 1- Taxonomia da Interatividade. Fonte: (SIMS, 1995, p 4-12).

 

Tipo de interatividade

Definição

Do objeto

Refere-se aos programas em que objetos (como botões) podem ser ativados pelo mouse.

linear

O aluno pode se movimentar num folheador de páginas eletrônico, para frente ou para trás, numa sequência linear predeterminada.

hierárquica

Oferece ao aluno um conjunto definido de opções (menu) de onde uma opção pode ser selecionada.

de suporte

Capacidade do sistema de dar suporte do aluno desde um simples módulo de ajuda (help) até um tutorial de maior complexidade.

de atualização

Refere-se às circunstâncias de diálogo entre o aluno e o conteúdo gerado pelo computador. O aplicativo gera problemas (a partir de um banco de dados ou em função da performance do aluno) que o estudante deve responder. Sua resposta será avaliada pelo programa que gerará uma atualização ou feedback. Esse tipo de interatividade pode variar desde o formato simples de pergunta/resposta até respostas condicionais (se/então) que envolvem inteligência artificial.

de construção

Extensão da classe anterior, onde o ambiente instrucional requer que o aluno manipule certos objetos para que alcance certos objetivos.

refletida

Em muitas situações de teste (do tipo pergunta/resposta) por mais que se compute respostas possíveis, ainda é comum aparecerem alguns alunos com outras respostas corretas. MS como o sistema desconhece aquele input, o considera errado. Para prevenir isso, este tipo de interatividade grava cada resposta do “usuário” e permite ao aluno comparar sua resposta com as dos demais colegas bem como as respostas de experts no assunto.

de simulação

O aluno torna-se o operador do conteúdo, já que as escolhas individuais tomadas determinam a sequência do treinamento. Por exemplo, ligando uma série específica de interruptores para fazer uma linha de produção funcionar, determinam à próxima sequência.

Hiperlinks

O aluno tem a sua disposição uma grande quantidade de informações, podendo navegar como quiser nesse “banco de conhecimento”. Ele pode resolver certos problemas a partir da correta navegação pelo “labirinto” de informações. Cabendo a equipe de produção definir, manter e integrar apropriadamente os links de todas as relações possíveis.

contextual não-imersiva

Esta classe combina e estende os outros níveis num ambiente virtual de treinamento. O aluno pode agir ao ambiente similar ao contexto real de trabalho.

virtual imersiva

O aluno é projetado em um mundo virtual gerado por computador, o qual responde ao movimento e às ações individuais. É a chamada realidade virtual imersiva.

 

A taxonomia criada por Sims, por mais que seja baseada em métodos um pouco mais antigos, visto que foi elaborada em 1995, nos evidencia que há mais de quinze anos os pesquisadores da área da educação já pensavam e se preocupavam com as tecnologias e com seu uso no ambiente escolar. E a discussão sobre interatividade e sua definição, era tema de muitos autores.

Lévy também cria um quadro sobre interatividade, propondo análises sobre os diferentes tipos interativos:

 

Quadro 2 – Os diferentes tipos de interatividade. Fonte: (LÉVY, 1995, p 83).

 

RELAÇÃO COM A MENSAGEM

 

DISPOSITIVO

DE COMUNICAÇÃO

Mensagem linear não-alterável em tempo real

Interrupção e reorientação do fluxo informacional em tempo real

Implicação do participante na mensagem

Difusão unilateral

Imprensa

Rádio

Televisão

Cinema

¾   Banco de dados multimodais

¾   Hiperdocumentos fixos

¾   Simulação sem imersão nem possibilidade de modificar o modelo

¾   Videogames com um só participante

¾   Simulações com imersão (simulador de vôo) sem modificação possível do modelo

Diálogo, reciprocidade

Correspondência postal entre duas pessoas

¾   Telefone

¾   Videogame

Diálogos através de mundo virtuais, cibersexo

Diálogo entre vários participantes

¾   Rede de correspondência

¾   Sistema das publicações em uma comunidade de pesquisa

¾   Correio eletrônico

¾   Conferências eletrônicas

¾   Teleconferência ou videoconferência com vários participantes

¾   Hiperdocumentos abertos acessíveis on-line, frutos da escrita/leitura de uma comunidade

¾   Simulação (com possibilidade de atuar sobre o modelo) como de suportes de debates de uma comunidade

¾  RPG multiusuário no ciberespaço

¾  Videogame em “realidade virtual” com vários participantes

¾  Comunicação em mundos virtuais, negociação contínua dos participantes sobre suas imagens e a imagem de sua situação comum

 

Portanto reconhecemos que a evolução, realmente, não obedece às leis, ela acontece se nós a permitirmos. E por isso é tão difícil trabalhar com as novas tecnologias no campo educacional, mesmo essa fazendo parte de nossas vidas atualmente. É necessário que ela faça parte não só da educação, como também das metodologias educacionais, do currículo e da prática dos professores.

Neste contexto de práticas, vale destacar aqui as preocupações de autores quanto ao trabalho com novas tecnologias. Pois Moraes alerta que:

 

o fato de integrar imagens, textos, sons, animação, e mesmo de interligar informação em sequências não-lineares como as atualmente utilizadas em multimídia e hipermídia, não é a garantia de boa qualidade pedagógica. (MORAES, 1996, p. 58)

 

 

E Perrenoud (2000) nos deixa uma reflexão persistente, falando que a verdadeira incógnita é saber se os professores irão trabalhar com as tecnologias como auxílio ao ensino para dar aulas mais bem ilustradas, ou, salienta o autor, “para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem” (Pereira 2000). Sem dúvidas, desejamos que a segunda opção prevaleça na prática pedagógica dos educadores.                                           

 

2.1  PROPOSIÇÃO DE ALGUMAS PRÁTICAS

 

Adentrando nas salas de aula e no currículo escolar, podemos explanar algumas possibilidades que se concernem ao uso das novas tecnologias:

 

2.1.1 Matemática: Os conteúdos de geometria, as quatro operações, porcentagens, tabelas e gráficos, história e construção dos números, podem ser explorados e trabalhados no Word, Excel, Calculadora, Softwares Específicos, Jogos Eletrônicos, Internet, etc.

 

2.1.2 Língua Portuguesa e Língua Estrangeira: Todos os conteúdos da Língua Portuguesa e de uma Língua Estrangeira poderão ser explorados em pesquisas na internet e serem trabalhados no Word, Paint, Excel, PowerPoint, editores de vídeos e editores de fotografias. O estudo de línguas nos permite muitas descobertas e fontes inumeráveis de conhecimento. Os alunos podem ser instigados a produzir e publicar vídeos com regras ortográficas, dicionários em outras línguas, criar blogs, realizar e editar textos no computador, etc.

 

2.1.3 História: Todos os conteúdos também poderão ser explorados na internet, e as ferramentas de produção utilizadas vão de acordo com a criatividade do professor. Aqui vale destacar que o uso dos editores de fotografia ganham um grande espaço na matéria de História: os alunos podem aprender a envelhecer fotos, restaurar fotos antigas, criar jornais de épocas passadas, enfim, o campo histórico pode ser explorado com riquíssimos recursos.

 

2.1.4 Ciências: Todos os conteúdos, inclusive os de biologia, física e química poderão obter bastante respaldo com navegações na internet, telescópios e microscópios eletrônicos, oportunizando a simulação de experimentos complexos e a exploração da Terra e do Sistema Solar.

 

2.1.5 Geografia: Os professores de geografia podem contar com um famoso programa gratuito conhecido como Google Earth, que nos permite visualizar todo o mundo sem sair de casa.  E ainda podemos utilizar sites de visualização de mapas, pesquisas em internets e a cartografia.

 

2.1.6 Educação Física: Os conteúdos de jogos, esportes, lutas, ginásticas e olimpíadas, etc, podem ser pesquisados na internet e em vídeos, oportunizando o entendimento de regras de jogos, o conhecimentos de práticas corporais, e a reflexão sobre as práticas de esportes.

Ao realizarmos este estudo de proposição de algumas práticas educativas por meio das novas tecnologias, muitas ideias surgiram e muitas outras irão surgir em cada profissional da educação que refletir sobre este novo contexto de educação. Lévy (1993) nos diz que as relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. E ainda salienta um relevante aspecto: “Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada” (Lévy, 1993).

Em seu livro “Cibercultura”, Lévy defende que o ciberespaço, ou rede (grifo nosso), que são interpretados como os novos meios de comunicação que surgem da interconexão mundial dos computadores abrigando um universo oceânico de informações:

 

suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória (banco de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos), imaginação (simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos). Essas tecnologias intelectuais favorecem:

¾        novas formas de acesso à informação (...)

¾        novos estilos de raciocínio e de conhecimento, tais como a simulação, verdadeira industrialização da experiência do pensamento, que não advém nem da dedução lógica nem da indução a partir da experiência. (LÉVY, 1999, p. 157)

 

Mais uma vez podemos salientar a importância do papel do coordenador pedagógico e mesmo do professor coordenador. É necessário muita perseverança, habilidade e competência para rompermos com as metodologias obsoletas que continuam infiltradas no ambiente escolar. De nada adianta propormos ideais sem uma conscientização que parta do âmago de cada educador. Para isso precisamos, antes de uma formação continuada, um coordenador com uma visão continuada (grifo nosso), instigador, mediador e pesquisador.

 

3     PRÁTICAS EM SALA DE AULA

 

Após analisarmos o contexto das novas tecnologias, vamos aqui expor as práticas que deram certo em algumas escolas do Brasil. Por isso, depois de propormos e propagarmos que as novas tecnologias na educação são propícias a êxito e capazes de nos auxiliar não apenas na nossa prática em sala de aula, como nas relações, interações e na aprendizagem e obtenção de conhecimento, iremos agora apresentar a prática referente ao que tanto discursamos.

No portal do Professor, do Ministério da Educação podemos encontrar notícias bastante gratificantes para os profissionais da educação que apreciam a mudança no ambiente escolar:

“Professora de Rondônia estimula aprendizado por meio de blogs”. Esta notícia, publicada na Edição 58, do Blog da Educação, nos conta a trajetória da Pedagoga especializada em Alfabetização Juliana Seabra Laudares, de Rolim de Moura, Rondônia. A professora, que leciona na rede pública há 14 anos, criou seu primeiro blog em 2007 para aprender a lidar com essa ferramenta no contexto escolar. Em 2010, Juliana começou a fazer Especialização em Mídias da Educação e criou o blog “Jornal Super Legal”, já que uma das atividades do curso era o desenvolvimento de um projeto para aplicação em sala de aula, que utilizasse pelo menos duas mídias. Então ela utilizou o blog e o jornal, com a intenção de conhecer o registro histórico e cultural de seu município por meio de fotografias, jornais, entrevistas, relatos e as produções das crianças.

Juliana integrou a família e a escola, ministrando aulas de informática para os pais, que ficaram entusiasmados em seguir o blog da turma. A professora enfatiza como foi importante para a aprendizagem dos alunos a criação desta ferramenta. Ela pode perceber uma maior preocupação dos estudantes ao produzir textos, fazer comentários nos blogs e articular suas ideias. Também comenta que a possibilidade de que os conteúdos postados possam ser vistos por muitas pessoas ajuda a melhorar a autoestima dos alunos. “Utilizando o blog como ferramenta pedagógica, os alunos demonstram mais cuidado com a própria escrita, o que favorece a aprendizagem”, acredita. E o contato com as tecnologias estimula os alunos a buscarem outros conhecimentos: fazer planilhas, visualizar mapas, capturar e postar imagens. Outro ponto apresentado pela pedagoga é a apresentação estética do blog, que envolve questões como imagens, legendas e sons e faz com que o estudante busque outros tipos de conhecimento para tornar sua produção cada vez melhor. “Ao lidarem com as mídias e tecnologias disponíveis, os alunos despertam para as mais variadas possibilidades do uso da leitura e da escrita”, comenta Juliana.

Em um grupo de discussão virtual, Juliana conheceu a professora Sintian Schimidt, da Escola Municipal Villa Lobos, de Caxias de Sul (RS). Juntas elas desenvolveram o projeto “Cartas que ensinam a Ler” (março a dezembro de 2008), que envolveu 60 alunos do Ensino Fundamental.

Cada professora postava no blog de sua turma as atividades desenvolvidas por seus alunos, permitindo acompanhar o desenvolvimento do projeto nos dois estados. Ao final do projeto, mais de 90% dos alunos estavam alfabetizados. “Apesar de regiões e realidades diferentes foi possível fazermos um planejamento comum a partir das informações que trocávamos por meio dos nossos blogs, por e-mail e também pelo MSN”, finaliza Juliana.

 

Fonte: Fátima Schenini/ www.portaldoprofessor.mec.gov.br

 

Continuando a explanar o uso das novas tecnologias no ensino fundamental, mais outra notícia é apresentada:

“Estudantes criam blogs para desenvolver a aprendizagem”. O texto, também de Fátima Schenini, publicado no dia 15 de agosto de 2011, destaca a atuação da professora Elayne Stelmastchuk que mantém dois blogs e estimula a criação de outros pelos alunos. Quando as novas tecnologias chegaram à Escola Estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes, em Nova Fátima, no norte do Paraná, a professora buscou atualizar-se para usá-las em sala de aula. Uma prática que deu certo!

Elayne é professora há mais de 20 anos e dá aulas de Ciências e de Matemática para turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Formada em Ciências, com habilitação em Matemática e Pós-Graduação em Instrumentalização para o Ensino de Ciências, ela acredita que a ferramenta contribui para melhorar o ensino-aprendizagem, de forma colaborativa e dinâmica.

O primeiro blog foi criado em janeiro de 2010 e aborda o tema Ciências; o segundo, Matemática. Os blogs foram criados com o intuito de proporcionar a inclusão digital aos alunos, melhorando o ensino-aprendizagem e expandindo o espaço presencial de aprendizagem para o virtual. “Como incentivo, sugeri que cada equipe construísse o próprio blog, dentro de uma temática de Ciências. Assim, surgiram vários”, diz Elayne.

A professora usa os blogs durante as aulas no laboratório digital da escola e procura estimular os alunos a fazer pesquisas fora do espaço escolar. Elayne conta que o projeto contribuiu para a aprendizagem e que houve uma melhora significativa, sendo possível aos alunos terem outra visão sobre o uso da ferramenta, pois para muitos era usada apenas para jogos.

O interessante é que Elayne também abordou temas como os cuidados necessários e as regras de comportamento recomendadas para o uso na internet.

Aqui estão os endereços dos blogs:

http://www.blogandocomciencia.com.br/

http://blogandocommatematica.blogspot.com/

 

Fonte: Fátima Schenini/ www.portal.mec.gov.br

 

A próxima notícia, também postada no Jornal do Professor, comenta sobre uma gaúcha, que usou blogs como ferramentas de estudo e obteve êxito com seus alunos:

Docente gaúcha se apaixona pela tecnologia e atrai seguidores”. O texto publicado nos apresenta Suely Aymone, professora de Literatura e Língua Portuguesa do Instituto Estadual de Educação Elisa Ferrari Valls, em Uruguaiana (RS), que sempre buscou alternativas que tornassem menos artificiais as práticas de escrita dos alunos.

Suely começou a utilizar a ferramenta tecnológica, ou blog, como um espaço de reflexão pessoal sobre o mundo e a vida e também como suporte de aprendizagem para seus alunos do Curso Normal (formação de professores).

Criou os blogs: Curso Normal – Aproveitamento de Estudos 2009/2010 e o @prender_fazendo, onde os alunos são autores. “Descobri que blogar é uma forma de chegar mais perto da minha utopia: espalhar que todos podemos (e devemos) ser autores, não só de textos escritos orais, mas da nossa história, nossa vida”, enfatiza.

Segundo a professora, os alunos sentem-se muito alegres e valorizados com os textos publicados e passam a manifestar uma maior preocupação com o uso da língua escrita, com a clareza das ideias, o entrelaçamento do texto com imagens, entre outros pontos.

 

Fonte: Fátima Schenini/ www.portal.mec.gov.br

 

Sem mais práticas a apresentar, podemos observar o quanto a dedicação com a profissão, e ainda a formação continuada auxiliaram essas professoras a desenvolverem projetos educativos, tecnológicos e interdisciplinares por meio da criação de um blog.

Pode-se perceber que houve uma significativa troca cultural, integração com os pais, valorização do uso correto da Língua Portuguesa, elevação da autoestima dos educandos, e descobertas de ferramentas da informática.

Esperamos que essas sementes germinem, pois a educação brasileira necessita de professores pesquisadores e de gestores e coordenadores instigadores de transformações e realizações educativas voltadas para a educação de qualidade que nossos alunos merecem.

 

CONCLUSÃO

Este estudo foi propício para muitas indagações, pesquisas e reflexões sobre a prática pedagógica na sua total dimensão ou mesmo, multidimensão.

Ao pensarmos a importância de uma coordenação e gestão pedagógica frente aos contextos multiculturais que presenciamos, obteve-se a intenção de discorrer sobre as novas tecnologias vinculadas ao papel do coordenador pedagógico, por questões relevantes e inerentes ao fato de que a educação precisa evoluir sincronizada com a sociedade.

Ser coordenador pedagógico é uma tarefa bastante complexa frente aos novos contextos sociais, e este coordenador é quem deve possuir conhecimento, habilidade e atitude, as três competências básicas para uma gestão democrática.

No capítulo 1 deste trabalho relatamos o papel do coordenador pedagógico e sua articulação com a formação continuada e o trabalho interdisciplinar. A legislação vigente poderia ser mais explanada, porém os poucos parágrafos em que transcrevemos artigos da LDB, nos mostraram quanta defasagem há na legitimação da educação brasileira.  Por isso podemos concluir que os profissionais da educação precisam ter consciência do quanto uma mudança intrínseca em cada um de nós, é crucial para uma transformação social.

Ao realizarmos o estudo sobre as novas tecnologias, boas notícias foram exaltadas no capítulo 2 e 3 do presente trabalho. O capítulo 2 nos propiciou conhecermos mais as tecnologias, a interatividade e o que grandes filósofos e pesquisadores pensam sobre o uso da informática na educação, enquanto o capítulo 3 nos apresentou práticas que irão fazer história no meio educacional, nos provando como é possível trabalhar novas tecnologias com interdisciplinaridade continuamente. Já que pudemos perceber que uma se liga à outra, quando ampliamos nossas fontes de conhecimento, interação cultural, regional e social.

Esperamos que a educação avance juntamente com a sociedade. E que os professores busquem formação, aperfeiçoamento e troquem conhecimento para assim, obterem ideias e perspectivas amparadas em histórias de sucesso. E não desistam de instigar nos alunos a criação, a pesquisa e a elaboração de projetos que façam diferença nos ambientes educacionais.

O papel do coordenador pedagógico é o grande elo entre a teoria e prática de uma educação de qualidade. Esperamos que nossas escolas sejam contempladas com gestores e coordenadores competentes, que busquem fontes de conhecimento diferenciadas e que usem as novas tecnologias a favor da educação, o que exigirá muito cuidado e ética por parte da equipe gestora. Pois, corroborando com os autores referenciados no texto, não podemos utilizar o computador para enfeitar nossas aulas e apenas melhorar a estética dos nossos trabalhos. É necessário instruirmos nossos alunos a utilizarem as novas tecnologias para a vida!

 

REFERÊNCIAS

 

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