O Papel Da Mídia Na Formação Do Cidadão Brasileiro
Por Jean Tanzerino | 06/03/2008 | SociedadeO título de uma matéria jornalística é extremamente importante, seja para a empresa que veicula seu produto ou para o leitor brasileiro que normalmente só lê o título por pressa ou indisposição à leitura. Considere que (sobre)vivemos em uma nação na qual cerca de 26% de sua população é considerada analfabeta funcional, de acordo com o IBGE (2002), sem contar o péssimo e decadente estado do sistema educacional público oferecido, fatores que potencializam o papel da mídia na assimilação de determinada notícia pela população.
Torna-se indispensável citar Rajagopalan (2003:84), sobre o instituto da designação, para um bom entendimento da importância da construção do texto jornalístico:
"Sabemos que toda notícia, toda reportagem jornalística, começa com um ato de designação, de nomeação. Aliás, a própria gramática tradicional nos ensina que é preciso primeiro identificar o sujeito da frase para então dizer algo a respeito ou, equivalentemente, predicar alguma coisa sobre o sujeito já identificado. (...) É inegável o importante papel desempenhado pelos termos cuidadosamente escolhidos a fim de designar indivíduos, acontecimentos, lugares etc. na formação de opinião pública a respeito daqueles entes".
Diante do exposto até o momento, não poderia ser outra a reação da maioria da população diante da leitura do título das matérias veiculadas: o menosprezo e hostilização dos pobres e indefesos animais. O leitor, por astúcia ou ignorância (não cabe-nos analisar no presente feito), inicia sua leitura do texto totalmente influenciado, de modo negativo, prejulgando as informações a serem lidas.
Os textos, exceto o último mencionado no primeiro parágrafo, limitam-se apenas a veicular o fato de que a queima dos fogos não aconteceu por causa do ninho das corujas, mostrando a surpresa e indignação do Prefeito da cidade, ou seja, a culpa não é da empresa contratada ou do desinformado e insensível Prefeito, mas sim das corujas. Já no último, a Globo informa, sem nenhuma preocupação ou consciência, que a queima de fogos irá acontecer com a participação ilustre dos animais, de modo a exercer certa pressão no sentido de que nada poderia atrapalhar a festividade.
Os veículos de comunicação são responsáveis, também, pela formação ampla do cidadão, constituem um pilar importante da sociedade que não pode privar-se da responsabilidade social e ambiental perante a veiculação de seus textos. Muitas pessoas, ao ler esses textos, passam a internalizar uma ideologia de desprezo ao meio ambiente, fato inadmissível em qualquer esfera profissional.
Este esquema antiético não pode ser o paradigma jornalístico da sociedade brasileira (nem de qualquer outra nação). O interesse de poucos não pode sobrepujar o bem estar e a preservação de nosso planeta.
Que a coragem e preparo de poucos possam resistir á ambição e ignorância da grande maioria em prol da vida e da justiça.
Referências bibliográficas:
ACKER, Ana e FARINA, Jocimar. Fogos de artifício são cancelados em Capão da Canoa - patrulha ambiental não autorizou a queima dos materiais devido a um ninho de corujas. Disponível em http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/%20jsp/ default.jsp?uf=1&local=1&newsID=a1723170.xml. Acesso em 01 jan 2008.
GAZETA DA SERRA. Corujas cancelam queima de fogos da virada no litoral gaúcho. Disponível em http://www.gazetadaserra.com.br/noticias.php?intIdUltimaNoticia=53779. Acesso em 01 jan 2008.
GLOBO. Corujas cancelam queima de fogos da virada no litoral gaúcho. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL243847-5598,00-CORUJAS+CANCELAM+ QUEIMA+DE+FOGOS+DA+VIRADA+NO+LITORAL+GAUCHO.html. Acesso em 01 jan 2008.
GLOBO. Casal de corujas vai participar do réveillon no RS. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL243152-5598,00.html. Acesso em 31 dez 2007.
IBGE. Educação no Brasil. Disponível em http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/%20pesquisas/educacao.html. Acesso em 03 jan 2008.
RAJAGOPALAN, K. Por uma lingüística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola, 2003.