O papel da escola no desenvolvimento da leitura e na formação de leitor
Por Valdir Cunha | 14/11/2009 | Educação
Introdução
A leitura de modo geral amplia e diversifica nossas visões e interpretações sobre o mundo e da vida como um todo, portanto é necessário estar atento a esta questão, pois a ausência da leitura acaba sendo uma forma de exclusão.
Dessa forma, este trabalho objetiva-se discutir qual é o papel da escola no desenvolvimento da leitura e na formação do leitor, propondo estratégias metodológicas que visam ampliar essa prática em sala de aula.
O trabalho foi realizado com base nas teorias de Martins (2002), Marisa Lajolo (2004), Yunes (1985) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais de língua portuguesa (1997), todos tem por finalidade conceituar a leitura não só como uma das ferramentas mais importantes para o estudo e o trabalho, mas um dos grandes prazeres da vida.
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1. Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso, aluno do curso de pós-graduação Lato sensu
Desenvolvimento
A leitura é expressão estética da vida e contribui significativamente para a formação do individuo, influenciando-o nas diversas formas de se encarar a vida.
A leitura permite entrar em contato com um mundo desconhecido, viajar e conhecer lugares e épocas diferentes, ampliando a capacidade cognitiva de cada ser.
A leitura deve ser vista como uma habilidade indispensável à vida sócio-cultural. Essa habilidade pode ser construída com base em práticas específicas estruturadas à grade curricular do cotidiano da escola e presente nas práticas docentes em todos os seguimentos de ensino.
A leitura não é só um das ferramentas mais importantes para o estudo e o trabalho, é um instrumento muito prazeroso à vida. Segundo Charmeux, 1994, apud Martins, 2002, p.67:
A leitura tornou-se hoje, portanto, uma ferramenta indispensável à vida em sociedade, mesmo que não levemos em conta qualquer preocupação cultural [...] mesmo havendo outras formas de acesso ao patrimônio cultural, graças às técnicas audiovisuais, ler continua sendo a ferramenta privilegiada de enriquecimento pessoal [...].
Dessa forma, é bom refletir sobre o papel da escola na formação do leitor. Será que a escola enquanto instituição de ensino aprendizagem está atendendo de modo satisfatório a esse pressuposto?
Cabe à escola uma reflexão sobre suas práticas no ensino da leitura, revisando seu projeto político pedagógico e, acima tudo, as práticas docentes.
Marisa Lajolo afirma que:
Se algumas metodologias e estratégias propostas para o desenvolvimento da leitura parecem enganosas por trilharem caminhos equivocados, o engano instaurou-se no começo do caminho, a partir do diagnóstico do declínio ou da inexistência do hábito de leitura entre os jovens (2004, p. 107).
De acordo com a autora, o professor será, sem dúvida, o grande responsável pela busca de estratégias de leitura que melhor atendam aos alunos, e a sua ação alicerçará o processo de formação de leitores.
Para que o gosto e o compromisso com a leitura aconteçam, a escola precisa mobilizar seus alunos internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço e, para isso deve fazê-los compreender que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que conquistado plenamente, dará autonomia e independência.
Ainda, nessa perspectiva, a formação de um indivíduo letrado só acontecerá se ambientes favoráveis à aquisição de leituras estiverem a seu alcance. Se a escola não estiver atendendo a essa proposta, caberá a mesma a criação e ampliação de seu espaço físico e dos subsídios que auxiliam tais práticas.
Sendo assim, se faz necessário que a escola dispõe de bons livros literários de diversos gêneros capazes de atender a todos os seguimentos de ensino da instituição; organizar momentos de leituras em que o professor também leia; planejar atividades diárias garantindo que as de leitura tenham a mesma importância que as outras; possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras e o empréstimo de livros na escola; criar nas dependências da escola um espaço destinado somente à leitura.
Durante as práticas diárias de leitura em sala de aula o professor deve usar estratégias como a leitura de forma silenciosa, individual, coletiva e em grupo, deixando claras as diferentes modalidades de leitura e os procedimentos que elas requerem do leitor.
São coisas muito diferentes ler para se divertir, ler para escrever, ler para estudar, ler para descobrir o que deve ser feito, ler buscando identificar a intenção do escritor, ler para revisar. É completamente diferente ler em busca de significado – a leitura, de um modo geral – e ler em busca de inadequações e erros - a leitura para revisar. Esse é um procedimento especializado que precisa ser ensinado em todas as séries, variando apenas o grau de aprofundamento em função da capacidade dos alunos. (Parâmetros Curriculares Nacionais, Língua Portuguesa, 1987, p.61).
A concorrer para essa meta, é fundamental que se estabeleça objetivos às práticas de leitura em todos os níveis escolares. O professor, como mediador deve propiciar atividades práticas que se fundamentem nessa lógica, criando diferentes momentos de leituras, alicerçadas em estratégias capazes de promover diferentes graus de letramento. Além disso, a todo momento, o professor deve deixar claro que ler é um exercício muito amplo e pode tornar os indivíduos mais justos e solidários.
Na escola, além das técnicas didáticas dos professores com práticas de leitura, é importante ressaltar que um aspecto muito relevante na formação de um bom leitor é a importância da família nesse processo. Segundo Yunes (1985, p. 21):
O hábito de leitura se inicia antes que a criança aprenda ler. Neste paradoxo se registra a decisiva influência de contar/ouvir história, para uma relação satisfatória com universo da ficção como complemento da redução da realidade que as práticas sociais impõem.
De acordo com a autora, compreende-se que o hábito de leitura pode se iniciar a partir da mais tenra idade, com atividades lúdicas adequadas à idade de cada criança e estimuladas pela família que é sem dúvida a base para a inserção da criança no mundo letrado.
Quando a criança é inserida na escola, o professor no exercício de suas práticas deve propor atividades em que a participação da família seja indispensável. Para isso, atividades como ler, cantar e contar histórias para as crianças devem ser ações do cotidiano familiar e escolar.
A leitura é de extrema importância para gerenciar informações nos dias de hoje. Garcez acrescenta a essa idéia que “a leitura é a forma primordial de enriquecimento da memória, do senso crítico e do conhecimento sobre diversos assuntos acerca dos quais se pode escrever” (Garcez, 2001, p. 23). Sabe-se que hoje o mundo está repleto de mecanismos audiovisuais e estes estão ao alcance de quase toda a população, portanto a escola como instituição de ensino aprendizagem deve pregar em suas práticas que nada, equipamento algum substitui a leitura.
Dessa forma, a leitura deve ser concebida como procedimento básico indispensável ao ensino aprendizagem, de maneira integrada a todas as disciplinas, sem restrições aos diferentes níveis de escolaridade.
Conclusão
Com base nesse estudo, conclui-se que a principal função da escola é desenvolver no educando a capacidade de aprender a aprender, e uma das principais ferramentas que condiciona a esse aprender é o domínio da linguagem, que é adquirido através da leitura e da escrita com repercussão em todas as áreas do conhecimento.
Portanto, a escola deve estruturar seu projeto pedagógico com vistas à formação do leitor, incluindo a estruturação de um sistema de trocas contínuo, sustentado por uma biblioteca com bom acervo e, por outros ambientes de leitura e circulação de livros.
Diante disso, compreende-se que o professor, em sala de aula é sem dúvida o responsável pela aquisição de práticas de leituras, elaborando estratégias significativas na formação do leitor.
Para que isso seja uma prática concreta, o professor deve ser um leitor efetivo e ter claro que somente aquele que lê e ama os livros é capaz de formar outros leitores. Um professor sem preparação, que pouco conhece os textos em circulação, que não possui recursos para conduzir seus alunos no caminho da leitura, que não possui técnicas e metodologias não se efetivará nesse processo.
Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa, v.2, Brasília, DF: MEC/ SEF, 1987.
CHARMEUX, Eveline. Aprender a Ler: Vencendo o Fracasso. SP: Cortez, 1994.
GARCEZ, L.H.C. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ed. São Paulo: Ática, 2004.
MARTINS, Leoneide Maria Brito. Prática de leitura na universidade: uma reflexão teórico-crítica. In: Educação e Emancipação: revista do curso de mestrado em educação de UFMA, São Luís, v.1, n. 1 jan./fev. 2002.
YUNES, Eliana. A leitura e a formação do leitor: questões culturais e pedagógicas. Rio de Janeiro: Edições Antares, 1985.