O nó da gravata
Por Reginaldo Rodrigues | 10/04/2010 | CrônicasHavia vinte minutos que estava naquela luta com a gravata. Como é que eu não conseguia dar um nó, ato que repetia quase todos os dias? Era a pressão do tempo. Quando comecei minhas tentativas já estava quase quinze minutos atrasado para iniciar a aula. Como deixara isso acontecer? Logo eu que sempre me preocupo em ser pontual, falo rotineiramente sobre isso em todas as oportunidades que tenho. Semana passada mesmo, fui contundente ao palestrar sobre Marketing Pessoal na Faculdade Pitágoras. “É inadmissível se atrasar para um compromisso profissional”, afirmei. No entanto estava ali, naquela luta desesperada com uma simples gravata. Minha secretária, desesperada tentava justificar o injustificável para o público dizendo que eu já estava quase pronto para iniciar. Fazia isso e vinha ao meu auxílio com a “maldita gravata”. Eu rejeitava a ajuda, haveria de conseguir. Estranhamente minha esposa estava como minha secretária naquele dia e já manifestava seu descontentamento comigo, à beira de um ataque de nervos. Inaceitável. Eu atrasado. Minha habitual calma se transformou em terror diante da minha incapacidade de resolver o problema. Sim, estava aterrorizado, pois experimentava uma gravata não conseguia dar o nó, tentava outra e nada. Por quê? E havia muitas gravatas lá, pelo menos seis e o nó não funcionava. Quando pensava ter conseguido ele desmanchava e o sofrimento aumentava. Quarenta minutos depois do horário, e nada. Intolerável, eu não aceitaria tal atraso se tivesse esperando. Os alunos que já estavam impacientes chegavam próximos da porta do banheiro para saber o que estava acontecendo. Praguejando, fechei com o pé a porta, que estava aberta. Acontecer isso justamente no primeiro dia de curso em uma cidade onde nunca havia ido. Peguei a gravata preta, embora só a usasse em reuniões da maçonaria resolvi fazer a tentativa. Também não deu. Nisso ouço lá fora: “Onde estão o púlpito, equipamento de som, microfone, câmera, telão... que o cara da rádio falou que tinha?” Não acredito! Mais essa, não havia nada montado ainda. Sempre chego pelo menos meia hora antes para testar o equipamento, que geralmente o pessoal deixa preparado, mas justamente o dia que chego atrasado deixaram tudo pra eu montar. As pernas tremiam, o estômago doía, o coração disparava. O que fazer? De repente olhei no espelho e... a barba crescida. Que descuido, esqueci de me barbear. Peguei a gravata laranja, a mais feia que tenho, até hoje me pergunto como pude comprar aquilo. Nada. Mas tinha certeza que estava fazendo tudo certo e os nós desmanchavam. Nossa! Faltando dez para as oito. Deveria ter começado às sete. “Quero meu dinheiro de volta”, ouvi. Naquele momento seria capaz de fazer qualquer coisa por uma gravata de zíper, as mesmas que usei há uns vinte anos em ocasiões especiais, quando não tinha o hábito nem a necessidade de usá-las profissionalmente. Era simples e rápido, e daí se eram feias? Não estaria passando por aquele vexame. “As pessoas estão indo embora, não precisa sair mais.” Disse minha esposa e secretária. Molhado de suor, lívido, desesperado, totalmente transtornado, acordei. Ufa!