O Natal de Seu Antônio

Por Pedro Paulo Galindo Morales | 19/12/2010 | Crônicas


Era um bairro pobre onde Antônio Silva vivia quando criança, uma vida difícil sem muitas perspectivas. Seu pai José, era servente de pedreiro e sua mãe Maria, fazia salgadinhos e bolo para fora e também lavava roupa.
José era um pai cuidadoso e tratava bem dos filhos, brincava com de bola com Antônio e de casinha com sua irmã Maria do Céu, toda noite abençoava os filhos dizendo: Deus lhes abençoe pequeninhos.

A vida era difícil porem digna tornou-se mais difícil quando José começou a beber, tornou-se um homem violento e começou a perder trabalho, sua mãe já estava cansada de assumir as responsabilidades da casa e dos dois filhos sozinha.

Antônio lembra que participava de festas de natais animadas, apesar das dificuldades na casa de seus avos porem desde que José começou a beber as noites de natal não eram as mesmas. Numa delas o seu pai estava muito bêbado e de repente começou a discutir com sua mãe e depois de bater na sua mãe e em seu irmão e tentar bater nele também saiu de casa e nunca mais voltou Antônio vendo aquela cena prometeu a si mesmo que nunca mais teria natal na sua vida.

Antônio teve que ajudar a sua mãe, tinha 10 anos e para isso começou a vender os salgadinhos que Dona Maria fazia e logo de inicio consegui uma grande freguesia.

Antônio progrediu na vida conseguiu estudar aos trancos e barrancos, se formou em Técnico em Contabilidade em um colégio publico, mas não perdeu o tino para os negócios, a venda de salgadinhos já não era mais feita em isopor, mas sim em uma lanchonete que anos mais tarde se tornou uma rede de supermercados com cinco lojas.

Desde aquele natal há mais de 25 anos Seu Antônio como era chamado agora não participava de festa de natal nem quando estava casado com Ana Paula participa de festas natalinas, ficava em casa dormindo.

A loja matriz ainda estava aberta eram 8 horas da noite e o movimento continuava, mas Seu Antônio sabia que tinha que liberar os funcionários, não podia segura-los ali, afinal todos tinham família e queriam ir para casa, sendo assim liberou todos as oito e meia.

Quando sai da loja reparou que Anita uma das caixas ainda estava na parada do ônibus já eram 9 e meia e a moça estava sozinha na parada de ônibus, não sabia porque mas achava Anita muito parecida com sua irmã Maria do Céu, a pequenininha como era chamada por seu pai. Maria do Céu infelizmente faleceu a cerca de 15 anos vitimada pela de AIDS contraída de seu namorado, foi um dos momentos mais chocantes de sua vida, lembra-se de sua mãe chorando aos prantos porque não entendia como o mundo era tão cruel com ela.

-Anita você esta ainda ai? Não vai para casa?

- Vou sim Seu Antônio, o ônibus chega já.

Antônio foi para o carro e percebeu que o ônibus passou e a moça não embarcou e resolveu voltar, nunca fizera isso com ninguém de sua empresa pensou, mas mesmo assim foi saber o porquê Anita não embarcou.

Aproximou-se e viu que a moça chorava e teve pena.

- O que foi você esta chorando? Anita assustou-se, afinal o que o dono dos Supermercados Preço Legal estava fazendo ali naquela noite de natal em uma parada de ônibus?

-Não é nada não

-Você não gosta da época de natal?

- Não gosto, todo natal é igual, meu pai sempre briga comigo e minha mãe por conta da bebida e já não aguentamos mais, ele é um bom homem, mas tem esse problema todo natal ele sai de casa, mas sempre volta porque sempre vamos procura-lo.

Antônio logo se lembrou de seu passado de como seu pai também bebia, às vezes sentia saudade de José, ouviu falar que ele tinha casado de novo e continuava a beber, mas ele nunca teve coragem de procurá-lo.

Antônio ofereceu uma carona e interessado pela historia perguntou.
Porque vocês vão procurá-lo, ele não traz só problemas?

È mas ele é meu pai e não posso abandona-lo ainda mais na época de Natal, tenho que cuidar dele tenho fé que um dia ele vai ser curado e tudo vai melhorar.

Antônio naquele instante ficou mudo, lembrou que nunca quisera procurar o Pai e o quanto era infeliz por isso, era um homem bem sucedido nos negócios, mas estava só, sua mãe morrera de enfarte há dois anos, e além do mais não tivera filhos com sua mulher e sentia falta de seu pai era um homem só na vida será que seu pai estava vivo? Queria tanto abraça-lo, ter uma família de volta.

-Seu Antônio é aqui depois desta esquina.

Anita não sabe por que convidou o patrão para entrar. O Senhor não quer entrar?

Era uma casa simples, mas aconchegante e Antônio meio constrangido aceitou o convite da moça.

- Pai, mãe, temos visitas!

Naquela noite seu pai não bebeu e passou o dia em paz com se pressentisse que precisaria estar em paz naquele momento.

- Deus lhe abençoe pequeninha. Falou o pai de Anita.

Antônio ouviu aquela frase e a emoção tomou conta dele era à voz de José, seu pai.