O muro está lá

Por Ricardo Ernesto Rose | 03/12/2016 | Filosofia

 

O muro cinza, com partes mal-acabadas, coberto somente de massa grossa. Aspecto de abandono. Obra acabada. Mal acabada, na qual não foi feito mais nada. Uma cor cinza. Talvez me lembre de muros velhos, de casas velhas que vi na infância. O cimento áspero, lavado pela chuva durante muitos anos. Pedaços diminutos de quartzo e mica refletindo a luz do sol.

Quem terá construído este muro, esta parede? Quem foram eles? Quando? Há dez anos, há 20 anos, talvez? Difícil saber pela aparência do muro. O que pensavam, viviam e falavam, enquanto era feita a construção?

E agora o muro está lá. Desde que foi erguido permanece firme, em pé, cumprindo a função para a qual foi feito. Quantos dias de sol, chuva e frio já teriam passado desde que foi construído? Acontecimentos, vivências, e o muro esteve lá.

Não tem nenhum significado especial. É uma parede com cerca de quatro metros de altura e uns vinte de comprimento. Algumas partes não foram bem rebocadas e provavelmente desde que foi construído não foi reformado. Parece ter sido feito às pressas, sem muito cuidado.

Por que temos que colocar ordem em tudo? Essa obsessão por tentar ordenar teórica e praticamente todo o universo não seria a nossa perdição? Não é melhor deixar a natureza (nome que damos a complexas inter-relações que atuam sobre tudo e acabam transformando o ente) tomar o seu rumo e atuar livremente com suas forças, como acontece neste muro?

Ordenar, organizar, intervir, adaptar; essa ação de antropomorfização do ente. Uma tentativa de arrumar um universo que não tem a ordem que os homens pensam lhe impor, ou que pensam ter que lhe impor.

Aparentemente caótico, o universo parece não tem uma lógica de funcionamento, mesmo que imperceptível, que fuja à nossa compreensão.

A teoria da indeterminação e a física quântica especificamente. Não sabemos e não podemos prever o que acontecerá com as partículas (e o ente).

Nossas construções teóricas, visões de mundo, teorias, doutrinas, ordens sociais, engenhos, estruturas; tudo simples tentativas (talvez vãs) de procurar entender aquele muro, o universo.