O Multiculturalismo e a Ciência: Os Discursos e as Tendências no Contexto Entre a Filosofia e as Ciências Sociais

Por Luciano Agra | 08/05/2009 | Sociedade

O que é multiculturalismo? O que ideologia? e o que política pública? Muitas perguntas, muitas respostas. O “multiculturalismo” é definido por regras que se estruturam nas lutas sociais através dos atores que experimentam a discriminação e o preconceito no bem estar da sociedade. Para entendê-lo, é necessário compreender, analisar, contextualizar os contextos históricos associados a uma tomada de consciência coletiva opositora a toda forma de “etnocentrismo”, como diz “Stuart Hall”, pois o seu ponto de partida é o interculturalismo das vivências culturais que moldam as interações sociais. Seus principais divulgadores são os meios de comunicação. Estes produzem um grande impacto, levando os receptores a repensar valores, a construir relações interétnicas, com sérias repercussões em seus propósitos. Entretanto, esses movimentos solidários permeiam-se por situações de tensão e conflito. O fato deste fenômeno se abrir os diferentes protestos, não significa dizer que, haja todo tipo de aliança, mas depende muito do contexto e da situação. Palavras chave: multiculturalismo – sociedade - historiografia

Este estudo possibilitou-me que as relações entre a cultura moderna e a pós-modernismo são equivocadas. Penso que, os homens individuais, racionais, egoísta atual, por exemplo, nasceu com o modernismo, mas o seu exagero homem muito vaidoso é um acréscimo pós-moderno. O "multiculturalismo" é definido por regras que se estruturam nas lutas sociais através dos atores que experimentam a discriminação e o preconceito nas sociedades. Para entendê-lo, é necessário compreender os contextos históricos associados a uma tomada de consciência coletiva opositora a toda forma de etnocentrismo, pois seu ponto de partida é a pluralidade das vivências culturais que moldam as interações sociais. Seus principais divulgadores são os meios de comunicação.Estes produzem um grande impacto, levando os receptores a repensar valores, a construir relações interétnicas, com sérias repercussões em seus propósitos.

É importante perceber que o homem de antigamente era o produto da civilização industrial, que mobilizava as culturas de massas para as amplas lutas políticas, ou seja, o homem de agora, está presente na sociedade pós-industrial, dedica-se que às minorias sexuais, raciais, culturais e é, por isso mesmo, que atua apenas no micro-cosmos do cotidiano. Vale lembrar que o multiculturalismo é um termo que descreve a existência de muitas culturas no contexto social, ético, econômico, político numa localidade, cidade e país, mas são partilhadas tanto no ramo historiográfico como geograficamente e até mesmo convivialmente no que se convencionou chamar de "mosaico cultural". Partindo dessa interpretação da sociedade capitalista cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável "garantir" uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. Contudo, entende-se que as políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz, mas afinal como incluir os excluídos dos "excluídos"?

É importante considerar que o multiculturalismo constituem a resposta política à realidade da diversidade cultural. Não se pode separar de um contexto democrático, mas o multiculturalismo é favorável aos intercâmbios culturais e ao próprio desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública. É nesse ponto que as políticas culturais, enquanto assegurem a livre circulação das idéias e das obras, devem criar também as condições favoráveis para a produção e a difusão de bens culturais da sociedade e serviços culturais bastante abrangentes, por meio das indústrias culturais que disponham de meios de comunicações para desenvolver-se nos planos local e mundial. Cada Estado deve, respeitar as suas obrigações internacionais, definir sua política cultural e aplicá-la, utilizando-se dos meios de ação que julgue mais adequados, seja na forma de apoios de marcos reguladores apropriados. Outro ponto importante que destaco é justamente os discursos e as suas tendências nas ciências sociais. Dando ênfase a isto, Jeni Vaitsman e Sábado Girardi aponta o seguinte:

[...] uma pequena parte de um debate que, embora antigo, sempre se desdobra em novas formulações sobre o estatuto, o método e a natureza da ciência, aí incluídas as ciências sociais; e por outro lado, de apresentar também alguns modos possíveis de fazer ciência, em se tratando as relações humanas e sociais.[...] é difícil evitar a tentação de classificar as coisas de forma disciplinar – textos que mesclam filosofia, história, antropologia, lingüística, epistemologia, sociologia, literatura: são filósofos, historiadores, médicos, lingüísticas, sociólogos, antropólogos, cada autor traz um pouco de cada um e dos habitus constitutivos de suas comunidades disciplinares e profissionais. [...] a heterogeneidade de discursos possíveis existentes nas ciências. Afinal, de certa forma, essa era nossa intenção inicial, ainda que – talvez não muito conscientemente – esperássemos maior convergência entre os pontos de vista característicos de uma certa contemporaneidade discursiva. [...] (VAITSMAN, 1999, p. 9 – 10)

É nesta pequena citação acima que o autor aborda as diversas possibilidades sobre o que constitui o fazer ciência e sobre a linguagem que diferentes cientistas usam para falar sobre o mundo e as práticas humanas. Este debate é travado, de um lado, por autores que se reivindicam herdeiros do projeto iluminista reformado e que, mesmo admitindo o caráter provisório da ciência, tratam-na como um tipo superior de conhecimento e de outro, pelos que se vinculam a uma abordagem pragmatista do conhecimento e enxergam a ciência como mais uma forma de vida, uma linguagem possível entre outras linguagens, incomensuráveis em sua lógica interna. As tendências apresentadas retomam a questão da representação pela linguagem, agora não mais como discussão sobre os fundamentos da ciência, mas sim como produtos de pesquisas empírica ou atividade reflexiva sobre suas práticas. Além da contemporaneidade dessas questões que sempre marcaram o campo da ciência, a intenção dos organizadores é que os textos possam servir como mais uma referência para tantos que se aventuram pelo campo do conhecimento em filosofia, ciências sociais e saúde.

As ciências sociais não são uma área de ação social delimitada, autônoma, mas um segmento de uma realidade maior, as estruturas de conhecimento do mundo moderno. Além disso, elas têm sido larga, mas não perfeitamente localizadas dentro do grande enquadramento institucional do mundo moderno. É difícil discutir a construção histórica das ciências sociais, os desafios atuais ou alternativas plausíveis existentes, sem colocar as ciências sociais na evolução das estruturas de conhecimento como um todo. A construção histórica das ciências sociais ocorreu no quadro tenso que se criou da existência de "duas culturas". Mas, primeiro, as próprias duas culturas tiveram de ser criadas. A ausência de fronteiras foi dupla. Não havia muito sentido no fato de os acadêmicos confinarem suas atividades a um campo do conhecimento. E, certamente, quase não havia sentido algum em que a filosofia e a ciência fossem áreas distintas do conhecimento. As ciências sociais também foram afetadas pelo ataque à divisão trimodal do conhecimento entre ciências naturais, humanidades e ciências sociais. Havia duas correntes de conhecimento principais envolvidos, e nenhum deles havia se originado de dentro das ciências sociais. Uma é o que se chamou de "estudos da complexidade" (originada nas ciências naturais) e a outra, "estudos culturais" (originada nas humanidades). Na realidade, surgindo de diferentes pontos de partida, as duas correntes tomaram como alvo de ataque o mesmo objeto, o aspecto dominador das ciências naturais desde o século XVII, isto é, a forma da ciência que tem como base a mecânica Newtoniana.

Em síntese, o que se observa na filosofia da ciência contemporânea é um leque de posturas frente à atividade científica. Não creio que os cientistas, no dia a dia de seu trabalho, principalmente aqueles dedicados às ciências naturais, desempenhem suas práticas de uma ou de todas as maneiras que esses discursos sobre a ciência sugerem. Mas, sem dúvida, no terreno da filosofia da ciência, a perda da referência a uma lógica intrínseca como base do conhecimento científico faz com que as diferentes posições assumam o caráter retórico, de discursos argumentativos, como já apontava Kuhn. Mas não considero legítimo afirmar a redução desse debate à mera luta de força dos argumentos, a não ser considerando por trás de cada posição a opção ideológica representante de interesses divergentes na sociedade. Somente assim a filosofia da ciência põe o pé na terra e não se esvai em discursos que se substituam uns aos outros na medida de sua divulgação e de seu valor argumentativo. Ainda discorrendo sobre isto, Maria Isabel Mendes de Almeida diz o seguinte:

A preocupação[...] é refletir sobre novas possibilidades metodológicas no âmbito das ciências sociais para a abordagem de certos objetos que, cada vez mais, vêm exigindo um tipo de olhar e investigação alternativos ao conceito clássico de representação. De certa maneira, esta preocupação está inscrita no campo de questões relativas à crucial interação(relação) sujeito/objeto no interior das ciências sociais. (ALMEIDA, 1999, p. 137)

É Nesse sentido, que a sociologia pode utilizar o conceito como importante instrumento na análise da realidade social, uma vez que ele permite vislumbrar as concepções que os grupos constroem a respeito do mundo. É possível perceber que num momento marcado por incertezas e perplexidade, as representações sociais podem atuar de forma significativa na compreensão de questões contemporâneas, tais como, violência, juventude, movimentos sociais, minorias, entre outros. Dentro deste processo, as Ciências Sociais imprimiram o caráter de cientificidade ao estudo das representações sociais e dos saberes produzidos através do processo comunicativo. É necessário ressalvar que a ciência do homem tornou-se possível pelas representações sociais em que os indivíduos ou sociedades têm de suas relações de produção, dos modos como tal produção se processa, bem como dos mecanismos que a implementam. É preciso esclarecer que estas mudanças implicam em uma outra, significativa. Acredito, que o objeto das Ciências Humanas passou a ser aquilo que é simbolizado pelo homem, e não o próprio homem. É possível dizer que os espaços sociais deixam de ser analisados pelo viés restritivo do modelo newtoniano para ganharem o status de palcos abertos de realização da criatividade humana. Estes espaços multifacetados, frutos de uma ampla gama de ações, interações, ritmos e pulsações que lançam um novo olhar sobre as práticas sociais dos grupos através do simbólico.

Segundo Adorno vem compreendendo que a Indústria Cultural, tornam-se negócios e os seus fins comerciais, que são realizados por meio de sistemática e é programada para a exploração dos bens considerados culturais. Isto significa dizer que ele dirá que é o cinema, mas antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação. Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema cultural. É importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo. A Indústria Cultural tem como guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria cultural, que aparece para os seus usuários como um "conselho de quem entende". De toda forma o consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar é só escolher. Ainda discorrendo sobre isto, Horkheimer coloca que:

"sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear. Os dirigentes não estão mais sequer muito interessados em encobri-lo, seu poder se fortalece quanto mais brutalmente ele se confessa de público. O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositadamente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos". (HORKHEIMER, 1985, p. 114).

É possível perceber que neste fragmento Horkheimer e Adorno utilizam o termo "indústria cultural" para se referirem a mercantilização das formas culturais ocasionadas pela emergência das indústrias de entretenimento na Europa e nos Estados Unidos na segunda metade do século XIX e início do século XX. De forma geral podemos afirmar que esses teóricos discutiram, refletiram sobre os filmes, o rádio, a televisão, a música popular, as revistas e os jornais, ou seja, argumentando, contextualizando, intertextualizando o surgimento das indústrias de entretenimento como empresas capitalistas resultaram na padronização e na racionalização das formas culturais, e é neste processo, que a capacidade do indivíduo de pensar e agir de uma maneira crítica, irônica, reflexiva e autônoma. Em outras palavras, a indústria cultural através dos meios de comunicação como no caso do cinema, faz com que os indivíduos observem de forma "ilusória" a reprodução técnica dos filmes refletidas na vida cotidiana. De outra forma, a situação do espaço cultural também mostra a vida dentro da "tela" é como se tornasse um prolongamento da vida real. Esta constatação, por outro lado, segundo Adorno, o consumidor de filme tem a sua imaginação e a espontaneidade paralisadas pelos efeitos dessa máquina, que produz velozmente os fatos diante dos seus olhos. Configura-se, portanto, que as pessoas são modeladas de acordo com o estabelecido pela indústria cultural.

Diante disto, Adorno faz referência ao liberalismo político-ideológico e ao liberalismo econômico, que através de suas idéias inseridas de que o homem basta a si mesmo como indivíduo, acentua a pessoa como algo absoluto, e ao mesmo tempo é marcado por um forte individualismo e que jamais caracterizou por ser democrático e igualitário. A partir daí podemos entender que a produção capitalista controla os ideais da liberdade e ainda conduzem ideologicamente a massa, fazendo-a acreditar no "mito" do sucesso que é oferecido a todos igualmente, e que ao mesmo tempo escraviza através do poder da "ilusão" dos homens. Adorno inclui ainda que a questão ideológica é a arte séria e a arte leve, sendo esta a má consciência daquela que sofreu no "sistema capitalista" a perda da verdade, exprimindo a negatividade da cultura. Faz-se necessário afirmar, que a indústria cultural tenta da pior maneira reconciliar a contradição entre as duas, através da absorção da arte leve pela arte séria. Assim, convém ter em conta que o mesmo equivoco deste conceito se prende, por um lado, com a polissemia do conceito de cultura e, por outro, com os contextos político-sociais de emergência do fenômeno do multiculturalismo e das reivindicações políticas que o acompanham. Quando falamos, neste quadro, da polissemia do conceito de cultura, referimo-nos ao fato, por exemplo, múltiplas dimensões da natureza cultural identitária de grupos, povos, etnias, minorias, etc.

Ressalte-se, ainda, que o fenômeno do multiculturalismo surgiu na segunda metade do século XX como projeto pedagógico, sobretudo para a escola e a universidade, mas também para o emprego público e a vida associativa. Esse surgimento se deu aos países de um Estado social desenvolvido e uma escola pública que funciona em condição de um monopólio, como forma de se lidar com a diversidade cultural trazida, sobretudo, pelos filhos de imigrantes na escola, nos bairros e no mercado de trabalho. Assim, acredita-se que a atuação nos países desenvolvidos e com grande experiência nesse sentido são Suécia, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Holanda, Inglaterra e a grande parte dos Estados Unidos. Nesta época mais recente, a idéia que a diferença cultural pode ser um enriquecimento de um lugar de enfraquecimento no convívio social de uma escola, universidade, experimentos multiculturais, que estão feitos nos países de imigração mais recente, tomando, por exemplo, na Europa meridional e na América Latina. Neste último caso, trata-se de experimentos no sentido de ampliar e rever os currículos escolares, incorporando os saberes deixados de fora, como aqueles relacionados com o ser indígena. A Etno-educação têm sido os termos que caracterizam essa nova fase, mais plural, no mundo da educação. Dentro desta perspectiva, Segundo Stuart Hall aponta que:

O multiculturalismo refere-se a estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiculturalidade gerados pelas sociedades multiculturais. É normalmente utilizado no singular significando a filosofia específica ou a doutrina que sustenta estratégias multiculturais. (HALL, 2003, p. 52)

Com isto, Stuart Hall define inúmeros tipos de multiculturalismo como o conservador, liberal, pluralista, comercial, corporativo e crítico. Pode-se afirmar que o multiculturalismo conservador pressupõe a assimilação da diferença às tradições, costumes e experiência da maioria, aceitando-as e respeitando-as. O liberal por sua vez, insere na minoria nos padrões da maioria, com as diferenças toleradas no campo particular, sem reconhecê-lo na esfera pública. Enquanto que o pluralista pondera que cada grupo deve viver dividido, ou seja, cada um com a sua identidade, mas não está inserido com os demais. De forma similar o multiculturalismo industrial argumenta que as diferenças surgem em "nichos" de mercado, dada a importância de fornecer os desejos destes nichos. É interessante notar que os anseios das minorias para estancá-las é a missão do multiculturalismo corporativo.

Primeiramente é necessário diferenciar o multiculturalismo como fenômeno do multiculturalismo como projeto ideológico, ou seja, o multiculturalismo na sua significação descritiva e o multiculturalismo na sua significação projetiva e prescritiva. Ainda o multiculturalismo como fenômeno evita confusões e talvez fosse preferível chamar simplesmente multiculturalidade, para colocá-nos diante da realidade e da multiplicidade cultural que caracteriza no contexto da sociedade em que vivemos. Isto significa que é um fato, relativamente ao qual não há que ser pró ou contra, mas aceitá-lo na sua inevitabilidade. O que acontece é que diante deste fato são ensaiadas múltiplas respostas, cobertas também pelo termo "multiculturalismo", as quais paralisam projetos diferentes de relação com os outros, na sua alteridade e na sua singularidade, que designaram como "cidadania multicultural", "cidadania diferenciada", "políticas de reconhecimento", "colonização", "assimilação", "integração" ou "pluralismo multiétnico", isto acabam por caracterizar a seu modo, mas que mobilizam também estes conceitos como multiculturalismo emancipatório que se concretizam em estratégias de resistência à assimilação e a todo e qualquer tipo de etnocentrismo.

Enquanto que no segundo momento o multiculturalismo é indispensável ter em conta toda esta discussão da problemática do multiculturalismo, que acabamos de resumir, se situa claramente num plano jurídico-político e tem fundamentalmente como objetivo de treinas as respostas às questões pertinentes pela existência dessas minorias no seio das sociedades mais vastas e englobantes, tendo em conta com as disparidades nas formas de ver e olhar o mundo, de agir com sentido e de exprimir em crenças, valores, gestos, linguagens, costumes, experiências, memórias e objetos essa relação com o mundo, com os outros e com o próprio grupo ou os próprios grupos em que se definem as pertenças identitárias. É nesta discussão que permite equacionar a questão dos direitos e dos deveres dos grupos e os respectivos membros aos quais é possível aplicar o conceito de cultura moderna e pós-moderna pressuposto, como também permite não "iludir" as relações de "poder" e "saber" que se jogam no choque cultural de culturas, freqüentemente caracterizadas por processos de domínio, exploração a violação, não apenas na esfera dos pensamentos, das idéias e dos bens culturais, e sim também sob o ponto de vista físico, econômico, militar, político e etc.

E por fim reconhecendo alguns dos méritos já referidos que todo este equacionamento proporcionou, sobretudo nos anos 1980 até 1990, ao debate sobre as implicações da vivência numa sociedade marcada pela pluralidade de culturas, mas não podemos deixar de denunciar algumas insuficiências inerentes a estes tipos de posicionamentos e ao conceito de cultura neles pressuposto, mais evidentes nos projetos multiculturalistas formulados a partir de uma matriz liberal, mas de que mesmo outros projetos de natureza mais libertadora e emancipatória não deixam também de acusar alguns vestígios. Fazemo-lo por razões antropológico-filosóficas, por outro lado, por motivos que se prendem com o contexto histórico que, na atualidade, caracteriza a complexidade das relações culturais e das marcas identitárias com que indivíduos, grupos, povos e etnias assumem as relações de pertencimento e os seus gestos de inscrição no mundo.

Estes termos antropológico-filosóficos surpreendemos em todos estes debates e questionamentos sobre o multiculturalismo nas concepções estáticas, fixas, essencialista e substancialista de cultura. Vale ressaltar ainda que Stuart Hall considera que existem várias sociedades multiculturais e diversos multiculturalismos. De acordo com Stuart Hall, o multiculturalismo, não é algo novo, e como o sincretismo, que já estava presente no mundo helênico, em termos de interação entre o "centro" e a "periferia". É preciso destacar ainda que os "impérios" e os "sistemas coloniais" são multiculturais, mas o fenômeno tem se intensificado após a Segunda Guerra Mundial e, sobretudo nas últimas décadas. Ainda segundo Hall, o termo multicultural é qualificativo, relacionado às características sociais e problemas de governabilidade em qualquer sociedade na qual convivem diferentes comunidades culturais, enquanto o termo multiculturalismo é substantivo, referindo-se a estratégias e políticas adotadas para administrar os problemas da diversidade gerados pelas sociedades multiculturais. Existem ainda inúmeros tipos de sociedades multiculturais como os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a África do Sul, a Nigéria e outras, que são sociedades heterogêneas. Há sociedades multiculturais distintas e diversos multiculturalismos, ou seja, ainda, o multiculturalismo é uma idéia contestada pela direita, pela esquerda, pelos liberais, pelos modernizadores, pelos anti-racistas, e assim sucessivamente.

Diante de uma cultura determinada, aprendemos aspectos acerca de costumes locais, ações realizadas para um determinado fim e assim até mesmo nós estabelecermos uma árvore genealógica para a criação da própria identidade de certo grupo. Com a relação a este grupo ou comunidades existentes, há a incidência de um multiculturalismo, ou seja, várias culturas presentes em campo determinado momento. Mas adiante, iremos tratar sobre os aspectos do multiculturalismo como o "eurocentrismo" em que a cultura é tratada como homogeneizante, penetrando pelo conhecimento interdisciplinar, a necessidade dos estudos culturais, os significados deste multiculturalismo e o conceito de pós-colonialismo. Estes estudos mencionados sobre a cultura tomam grande importância para Giroux. Considerar algo melhor, comparado com outro, por exemplo, é perigosa, vez que toda cultura possui sua importância e deveria ser exposta de modo relacional, não competitivo. Em conseqüência disto, qualquer projeto de hierarquizar culturas deve ser instinto, sendo alguma cultura melhor, ou determinada pela política, ética, cessando que os estudos culturais ofereçam o importante de cada área. Por conseguinte, estes estudos produzem nos pesquisadores "uma análise continuada de suas próprias existências" (GIROUX, 1997, p. 185).

Este papel intelectual, ainda para Giroux, deveria ser o do "intelectual transformador", no sentido de proporcionar a "liderança moral, política e pedagógica", ou seja, ao invés da condição de líder intelectual, repolitizar o conhecimento e ampliá-lo não apenas para os membros de uma mesma área de atuação, mas também para os demais "pesquisadores" interessados em compreender e entender os diversos tipos de teorias dos próprios conhecimentos. Assim, este "intelectual transformador" luta contra o "status quo" e as normas estabelecidas, aumentando os horizontes das pesquisas e o espaço de ação cultural. Stuart Hall questionar que:

Na verdade, o "multiculturalismo" não é uma única doutrina, não caracteriza uma estratégia política e não representa um estado de coisas já alcançado. Não é uma força disfarçada de endossar algum estado ideal ou utópico. Descreve uma série de processos e estratégias políticas sempre inacabados. (HALL, 2003, p. 52-53).

Em resumo constatamos que "multiculturalismo" e o "sincretismo" são conceitos complexos, abrangentes, incompletos, imperfeitos e que sempre a algo para inovar estes elementos comuns. Ambos são "discutíveis", "contestados" e "negados", tem a ver com misturas e se opõem as "reivindicações de pureza". Ainda relacionam-se com o "hibridismo", com a diversidade étnica, cultural e religiosa e com a mestiçagem, que foram negados na época passada, mas que estão muito presentes no Brasil. Em nossa sociedade o "etnocentrismo" e os "preconceitos religiosos" são freqüentes e são sendo enfrentados em várias maneiras. Esperamos ainda que a perspectiva multiculturalista se impõe hoje, o "sincretismo religioso" seja aceito com maior naturalidade.

Como se vê, é certo que esta relação ao tipo de conteúdo do nosso multiculturalismo, isto é, teremos que ensinar, em tratando de ícones carregados de valores e emoções como África, africanos, "raças", negritude, racismo, ser índio e pensamento indígena. Enfatizar esta pluralidade, mais do que insistir em falar de cultura e identidade no singular, mas ainda na reconstrução dos currículos deve ser no sentido de mostrar a variedade de formas culturais e processos identitários, fazendo que, exatamente nessa variedade, seja visto um fator de força e criatividade.

De acordo com as noções mais modernas as ciências humanas, a "cultura" e "identidade", mais do que como entidades, devem ser vistas e analisadas e contextualizadas como projetos e processos. E é por isso que é importante no lugar de insistir em definir o que seria, por exemplo, a cultura afro-brasileira, por meio de infinitas listas de ítens e traços que nunca conseguem incorporar a imensa variedade de orientações da grande população afro-brasileira, tornando estático algo que está sempre em movimento, se desenvolvam estes métodos que ilustrem como diferentes atores que têm produzido cultura, resistência e identidade em seus contextos diversos. O verdadeiro desafio é aplicar essas noções mais modernas daquilo que é "cultura" e "identidade" em todos os níveis do ensino, fugindo da práxis que tem deixado a sofisticação intelectual para a universidade, e feito da escola "primária" e "secundária" um ambiente onde a "cultura" e "identidade", quando abordadas, são tratadas de forma demasiada tradicional e rígida, contribuindo ainda para uma perda de interesses por essas temáticas entre muitos alunos que, com um método de ensino mais dinâmico.

De fato, ensinar, por exemplo, histórias e culturas africanas pode ser algo muito divertido e estimulante, mas pode também ser algo bastante "chato", como dizem os alunos, se feito sem a devida sofisticação. Por mais que algumas práticas e teorias desenvolvam argumentos em contrário, não se pode mais negar o fato do multiculturalismo. E é nesse contexto multicultural que surgem as minorias étnicas, ou simplesmente minorias. Dentre as várias categorias minoritárias que se pode abordar, a nós desperta particular interesse a composta pelos povos indígenas brasileiros. Interessa-nos a resposta que se deve dar o seguinte questionamento. Quais são os direitos que possuem os povos indígenas brasileiros? Outro ponto importante é que a diversidade cultural brasileira é repleta de significações e representações possíveis de serem percebidas, desde que os movimentos sociais ganharam as ruas, aqueles, representantes desta pluralidade, tais como as feministas, os negros, os homossexuais, a arte das favelas, a luta dos portadores de necessidades especiais, as comunidades "indígenas" e os "quilombolas".

Este pluralismo de idéias, comportamentos e sentimentos que estão nas ruas, distorcidamente se fazem presentes na mídia, naquela representante do pensamento liberal,quepassa a idéia de que a riqueza do multiculturalismo brasileiro é plenamente absorvida por toda a sociedade, principalmente quanto as "etnias", o que não é verdade. Reconhecer ainda o multiculturalismo é também entender e ver o "indivíduo" fora de seu "aprisionamento social", reconhecer a democracia, discutir seus direitos coletivos e individuais, uma vez que o cotidiano cultural está permeado de lutas, conflitos, justamente em razão das diferenças nas relações de poder refletidas na pluralidade cultural, e assim, repensar o papel da escola torna-se uma primeira condição de suporte para estas questões. Ao longo do século XX, o samba se firmou como elemento definidor da identidade cultural brasileira, somou o novo e velho para constituir dialeticamente uma nova síntese. Socialmente, não pode ser considerado simplificadamente como produto apenas da mestiçagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

  • ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de. Subjetividade e ciências sociais: reflexões em torno do conceito de representação e seus impasses. In:. VAITSMAN, Jeni(Org). A ciência e seus impasses: debates e tendências em filosofia, ciências sociais e saúde./ Organização por Jeni Vaitsman e Sábado Girard – Rio de Janeiro: Editora, 1999.
  • HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Ed. 2000. (Original 1992).
  • HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
  • HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
  • GIROUX, Henry A. Os professores como intelectuais: Rumo a uma aprendizagem crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
  • VAITSMAN, Jeni., GIRARD, Sábado. Introdução: Debates e tendências na ciência. In:. VAITSMAN, Jeni(Org). A ciência e seus impasses: debates e tendências em filosofia, ciências sociais e saúde./ Organização por Jeni Vaitsman e Sábado Girard – Rio de Janeiro: Editora, 1999.