O momento certo de construir.
Por Avelino José Pereira Neto | 16/02/2016 | PolíticaNesse momento de instabilidade política e estagação econômica eis que surge uma pergunta: “Este é o momento de se construir?” Eu gosto de dizer que todo momento é um bom momento pra construir. Porém o que construir e como construir é o que realmente deve ser discutido. Num momento de incertezas político-econômicas, decidir o que construir é algo que deve ser amplamente analisado e pesado sob todos ângulos. Assim como, de que forma o processo de construir deve ocorrer.
Se alguém me perguntasse se seria um bom momento para se construir um grande complexo de entertrenimento, eu diria que depende! Entertrenimento certamente não está no topo da lista de prioridades para grande parte da população brasileira neste dado momento. Porém, se o empreendimento é para ser implantado em uma zona turística de grande retorno, se o empreendimento visa a atração de turistas estrangeiros também, se o empreedimento tem um cronograma de construção bem elaborado e uma capatação de recursos que assegurarão a execução do projeto dentro dos prazos, então esse projeto tem ótimas chances de ter sucesso. Porém, mais uma peça do quebra-cabeça deve ser analisada: a pesquisa - análise de mercado. Um empreendimento que não passou por uma pesquisa e nem analise de mercado, certamente não teve um planejamento sério ou responsável. Isso será determinante para o sucesso do mesmo. São inúmeros o casos que por falta de uma análise de mercado, o investimento acaba indo por água abaixo.
Nesse período de estagação econômica, vale dizer, que existem inúmeras vantagens próprias desse momento. Poderíamos inumerar a abudância de mão-de-obra da construção civil; as promoções de todo tipo para materiais da construção, grande facilidade de negociação de preço e de pagamento. Entrega imediata para a grande parte dos materiais de construção e uma grande disposição das firmas em servir bem o consumidor.
Claro que qualquer obra sem o devido planejamento enfrentará grandes dificuldades seja em tempos de vacas gordas ou em tempos recessivos. Eu acredito que o segredo seja o planejamento juntamente com o estudo aprofundado das condições de mercado e a demanda para o empreendimento. Vale dizer que quanto maior o investimento do empreendimento, maior será a necessidade de um planejamento e estudo bem feito. Pois, assim como o sucesso, o risco também está diretamente proporcional ao volume de investimento.
Se basearmos nossa análise nas estatísticas apresentadas pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) iremos verificar uma queda de 641,109 ton. no consumo de concreto entre o mês de Maio de 2014 e 2015. O mesmo acontece para o consumo de aço laminado, enquanto em Maio de 2014, o consumo em toneladas, foi de 962.200, em maio de 2015 o consumo cai para 840.900 ton. Veremos que essa queda de 0,90% reflete hoje no preço de mercado e nas condições de compra dos materiais da construção. Mesmo com uma retração do consumo, observadores de mercado argumentam que os preços ainda estão elevados para a realidade econômica nacional. E eu sou inclinado a concordar. Porém, a culpa maior é do governo com as elevadas taxas e inúmeros impostos (IPI, ICMS, ISS, Confins, etc.) que inevitavelmente impedem que o custo dos insumos e serviços sejam reduzidos de forma mais tangível. A míope argumentação do governo para essa bateria de impostos e taxas, é que há uma urgente necessidade de controle da inflação e assegurar que não haja uma queda de arrecadação para equilibrar as contas da União. Obviamente o que existe é fartura na falta de criatividade! Ora, se o país enfrenta uma onda de estagnação do crescimento econômico, as medidas deveriam ser para evitar uma retração ainda maior da economia. O que precisamos na verdade são medidas de incentivo para a produção industrial e programas nacionais para a retomada do crescimento. E para isso existem inúmeras opções. Poderíamos começar pela redução da absurda burocracia comercial e administrativa que prevalece em nosso país. O incentivo a criação de mais cooperativas e agências de desenvolvimento econômico já provaram que produzem excelentes resultados pela organização desburocratizada e a participação ativa de seus membros. A criação de mais programas que facilitam o crédito e gerem mais empregos seriam também muito bem-vindos. Incentivo a criação de novos negócios com recursos do capital público e privado. E a reciclagem da mão-de-obra com cursos profissionalizantes através de programas federais e estaduais. Como podemos ver, existem inúmeras opções palpáveis que podem ser executadas para a transformação dessa realidade. O grande entrave é existe de um lado um vazio de criatividade e de vontade da classe política brasileira. E de outro, uma corrupção que devassa a nossa realidade em todos os aspectos!
De volta ao centro da questão, reforço a argumentação de que na verdade não existe período ruim para se construir na presente conjuntura nacional ou mundial. O que é preciso ter é criatividade e planejamento sério. Claro que se o mundo estivesse atravessando uma recessão do tipo de 1930 teríamos que empreender medidas diferentes, mas felizmente para nós esse não é o caso. Acho que podemos dizer com segurança que a crise na construção civil é uma crise muito mais política do que econômica! Por ser política, talvez o medo de se investir ainda seja maior. Porém não podemos esquecer que nesse universo, as coisas sempre estão mudando e a tendência é uma mudança para melhor. Eu não comungo da visão de alguns economistas ou especuladores de mercado que o horizonte será ainda mais negro nos próximos anos. Não concordo, porque quem irá determinar isso seremos nós mesmos. Cabe a cada cidadão participar desse momento de transição e contribuir de forma real para a transformação dessa realidade político-econômica do nosso país. A iniciativa privada já começa ensaiar algumas alternativas para crise com criação de entidades e programas de crescimento em diversas áreas, incluindo o da construção civil. O grande desafio é no entanto a imensa burocracia governamental e a falta de credibilidade da classe política para resolver ou tomar simples decisões para impulsionar o crescimento. Na verdade, a classe política do Brasil não possui credibilidade ou competência nem para moralizar seus próprios partidos, quanto mais o país! Assim, cabe a iniciativa privada séria e a criatividade de nossas entidades de classe empurrar o país para frente. Cabe a essas mesmas entidades e a população em geral pressionar o governo para que se produza algo de mais positivo e mais estável para a nação. Eu gosto de dizer que sempre devemos tomar vantagem das situações, mesmo que essas situações possam parecer adversas ao crescimento. Foi usando desse raciocínio que vários países superaram as crises.
Vale lembrar os exemplos de países que em momento de crise ou desafio utilizaram da criatividade e do esforço de união para superar seus problemas. Um clássico exemplo está na reconstrução da dignidade de comunidades utilizando da construção civil solidária como plataforma. Isso acontece quando a comunidade se mobiliza para reunir recursos materiais e humanos para construir e transformar a sua realidade. Imaginem se em todo território nacional a população e suas associações se mobilizassem para construir suas próprias escolas, casas para pessoas carentes, centros comunitários que servissem a todos? Isso certamente seria uma revolução! Imaginem o que isso iria gerar no setor da construção civil, da educação, transporte e de todas as outras atividades que de alguma forma interagem com esses setores? Seria algo revolucionário mesmo! Pois iríamos descobrir que as pessoas juntas trabalhando para o mesmo fim iriam produzir muito mais por um preço bem mais barato! Não está na hora de medidas como essa acontecerem?