O "mobile work" e as suas conseqüências nas organizações modernas

Por Geraldo Gianisello | 12/01/2009 | Crescimento

O trabalho móvel, ou a distância, pode parecer estranho para muitos, mas segundo uma pesquisa realizada, este ano, pela ONG Market Analysis, o “mobile work” já é adotado por 23% dos funcionários do setor privado. As microempresas são as que mais utilizam o trabalho virtual. Hoje, já são 10,6 milhões de teletrabalhadores no país, em 2001 esse número era de apenas 500 mil. Entre os motivos para esse crescimento estão a disseminação da banda larga, o trânsito nas grandes cidades, a chegada da tecnologia 3G aos celulares e os novos formatos de trabalho à distancia.

 

Com esses números expressivos, a pergunta que fica na cabeça das pessoas é sobre as vantagens e desvantagens do trabalho à distância. Entre as vantagens destacam-se a economia de tempo no deslocamento trabalho-casa, economia de custos, aumento da qualidade de vida e uma maior participação do profissional na rotina de sua família. Esses motivos, principalmente, em momentos de crise, como o que vivemos no momento, podem fazer com o teletrabalho seja a opção escolhida.

 

Mas, antes de optar por mandar todos os seus funcionários para casa, deve-se pensar no lado negativo, como o aumento da dificuldade de gestão, falta de controle das horas trabalhadas e também o pouco convívio com os colegas de trabalho. Além disso, o “home office” não é para qualquer pessoa. Se for alguém que prefira o barulho, de parar para tomar um café, que gosta e necessita do trabalho em equipe, trabalhar em casa irá diminuir o rendimento e se tornará uma péssima opção.

 

Entram aí os novos desafios encontrados pelo departamento de recursos humanos das empresas. Como gerenciar o trabalhador móvel? Como permitir o “home office” para alguns funcionários e para outros não? Como colocar uma regra em algo que é tão particular e que pode ser extremamente positiva para uns, e completamente negativa para outros?

 

É responsabilidade do RH, por exemplo, avaliar o tipo de atividade, a maturidade, o grau de comprometimento do profissional e o quanto ele está engajado com a organização. Em muitos casos a melhor escolha não é o “home office”, e sim um misto, um pouco na empresa, um pouco em casa. O importante é encontrar a medida em que o funcionário produz melhor, seja em casa, no escritório, ou em qualquer outro lugar.

 

O trabalho móvel é comum em cargos como o de representantes e vendedores, onde o funcionário é remunerado por aquilo que ele vende – ou seja, por resultados objetivos. A questão é como estender isso a outros tipos de função em uma organização, sem perder as referências de produtividade. Como saber se o funcionário não está em sua casa de pijama, jogando paciência e vendo TV? Ou ainda, como controlar as horas extras? Sem dúvida a administração fica facilitada quando o tipo de função exercida pode ser fracionada a projetos definidos e que permitam métricas específicas – nesse caso, o que interessa é o cumprimento das metas pré-estabelecidas, e não em que momentos ou com que produtividade as tarefas foram realizadas.

 

Toda uma reflexão precisa ser feita antes de incentivar os funcionários a trabalharem em suas casas. Além disso, as empresas devem fazer um estudo do empreendimento e verificar os custos, arcando com a estrutura de tecnologia, equipamentos, banda larga, energia e telefone.

 

Para o funcionário responsável e disciplinado, o “mobile work” pode ser muito vantajoso. Pode significar uma maior flexibilidade de horários, uma maior comodidade e conforto, além de possibilitar que ele concilie mais facilmente a sua agenda profissional e pessoal.

 

Trabalhar fora do escritório pode ser também a hora da verdade para o funcionário, pois trata-se de uma situação onde não há para quem “jogar a culpa”, implica na ausência de exemplos de outros profissionais – no que se refere à aprendizado em equipe - e também na ausência de colaboradores para executar tarefas simples, mas que gastam tempo, como tirar xerox ou passar um fax, por exemplo.

 

No entanto, pelo o que foi observados nos últimos anos e segundo pesquisadores da Penn State, com base em 46 estudos sobre “telecommuting ou teletrabalho” conduzidos por duas décadas com 13 mil funcionários, o trabalho móvel tem efeitos favoráveis sobre o trabalhador, com uma maior autonomia percebida, redução no conflito trabalho-família, satisfação com o trabalho, melhor desempenho, intenção maior de manter-se no emprego e um menor estresse. O único impacto desfavorável demonstrado foi a piora no relacionamento com os colegas de escritório.

 

Portanto, o trabalho móvel é uma modalidade que não pode ser desprezada pelas empresas, que devem avaliar os prós e contras em cada nível hierárquico e em cada modalidade exercida. Além de avaliarem as conseqüências para empresa e funcionários, as organizações devem pensar nos benefícios que o “home office” traz também para a sociedade, uma vez, que até o trânsito da cidade é afetado.