O mistério da morte

Por MARIA DO LIVRAMENTO SAMPAIO RIPARDO RODRIGUES | 06/01/2016 | Literatura

O MISTÉRIO DA MORTE

RESUMO: Nesse breve ensaio será abordado a temática morte sob vários olhares. Será tomada como base a Bíblia Sagrada, além de alguns poemas que falem sobre esse assunto. Buscou-se outras fontes para representar algo tão misterioso e tão impactante para o ser humano.

PALAVRA-CHAVE: Morte. Mistério. Bíblia.

O ciclo natural da vida do ser humano é nascer, reproduzir e morrer. Sendo esta última etapa um mistério e algo muito temido pelo o homem. As pessoas têm muito medo da morte e só de ouvirem essa palavra já se arrepiam. Mas ela não deve ser tratada de tal maneira, já que é algo inevitável e não temos como fugir desse destino, que não se sabe em qual momento chegará. Mas não existe somente este tipo de morte, uma pessoa pode está viva, mas ao mesmo tempo morta por dentro, não procuram deixar sua marca no mundo, vivem somente por viver.

A morte é para ser aceita e tratada com naturalidade como pensa Santo Agostinho que diz que a morte é apenas uma passagem para outro caminho, pois a pessoa que parte só está fora das vistas de quem ama. Se tal existência foi tão importante e deixou marcas, não há a necessidade de esquecer tal presença, a pessoa continuará sempre nos pensamentos e nas lembranças de seus entes queridos. Morrer é nosso estágio final, estamos sujeitos a ele, só não sabemos a hora e nem o momento.

A meta de nossa existência é a morte; é este o nosso objetivo fatal. Se nos apavora, como poderemos dar um passo à frente sem tremer? O remédio do homem vulgar consiste em não pensar na morte. Mas quanta estupidez será precisa para uma tal cegueira? (MONTAIGNE, 2010)

No filme “Tróia” em uma passagem em que Aquiles fala para os gregos sobre os deuses nos invejarem, porque somos mortais e qualquer momento pode ser o último, e tudo é mais intenso e mais bonito, enquanto para os deuses nada tem tanta importância e tanto valor, já que estarão fadados a eternidade. Devemos  aproveitar  a vida o máximo pudermos, porque qualquer momento pode ser o último. Viver com prazer, e não apenas está no mundo como morto vivo, que não faz a diferença, que vive em seu “mundinho” fechado, esquecendo-se de apreciar as belezas da vida.

O maior medo do homem talvez não seja a morte em si, mas o esquecimento que virá após ela, no qual nós não existiremos mais e com tempo nossa presença seja esquecida. Cecília Meireles em um de seus poemas fala que nosso medo é acabar, deixar de existir. O que não percebemos é que acabamos todos os dias, através de nossas frustações, das tristezas, de deixar para fazer amanhã o que se pode fazer hoje. Sendo que o amanhã talvez  não exista mais. Procure sempre viver o hoje, deixando receios e medos de lado.

Em “Auto da compadecida” quando João grilo morre, seu amigo chicó fala que ele cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre. Não temos como fugir da morte, em algum momento que menos esperamos ela vai nos alcançar, e quando esse momento chegar não saberemos, porque estaremos mortos.

E o que dizer das expressões que procuram amenizar a notícia de uma morte. Não seria muito mais fácil apenas dizer que a pessoa morreu? Algumas que são muito utilizadas: “partiu dessa para melhor”, “foi morar com Deus”. Outras expressões são até engraçadas e talvez de muito mau gosto para se falar em um momento desses. Como “bateu as botas”, “esticou as canelas”, “abotoou o paletó”, ”foi comer mato pela raiz”. A morte virou um tabu, em que as pessoas não conseguem nem pronunciar tal palavra, dizer que uma pessoa morreu não deveria ser tão difícil assim, afinal isso não é algo sobrenatural, aliás, é muito natural, já que vai acontecer com todos nós. Se todos aceitassem esse estágio final da vida, não haveria a menor necessidade de utilizar esses tipos de eufemismos.

A Bíblia diz que não morremos, apenas dormimos um sono tranquilo a espera de Jesus para o julgamento final, em que todos, até os mortos serão julgados pelos seus atos. E os que forem puros de coração e se arrependerem de seus pecados receberão a vida eterna. Quando Lázaro morreu Jesus disse a seus discípulos que ele estava dormindo:

E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom. Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; (João 11:11-14)

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Jesus nessa passagem nos mostra esse estado de sono quando morremos, e que não temos nenhuma consciência, ou seja, o corpo se separa da alma, e os nossos pensamentos já não existem mais, é o que diz o Salmo 146:4 “Sai-lhe o espírito, e ele volta para a terra; naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos”. Não devemos temer a morte, de acordo com a Bíblia ela não é o fim, em Isaías 26:19 “Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair.”

Para o espiritismo, religião que acredita em vida após a morte e em reencarnação, e que vai totalmente contra os ensinamentos da Bíblia, o espírito da pessoa que morre volta em outra vida em um novo corpo. Para a Bíblia a pessoa morre uma única vez e espera pela ressureição de Jesus para enfim seu espírito voltar para o mesmo corpo, E, como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo.” (Hebreus 9:27). Há uma grande diferença entre reencarnação e ressureição.

A morte é mesmo um grande mistério que nos apavora, ela não escolhe raça, idade e nem condição social, nesse momento todos somos iguais.  E o que nos resta é tentar ser indiferente a ela, e achar que nunca vamos ser alcançados e para os mais religiosos só resta à fé, acreditar que é apenas uma passagem para algo muito melhor, e que todos nossos sofrimentos irão acabar através dela.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada- Harpa Cristã. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro: Casa publicadora das Assembleias de Deus, 2003.

MONTAIGNE. Que filosofar é aprender a morrer. In idem, Os Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

 

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