O Mistério da "doce" vaquinha Mimosa
Por Diego Reis Cardoso | 31/01/2011 | ContosO Mistério da "doce" vaquinha Mimosa
Na vida do interior goiano, em pequenas cidades e povoados as coisas da natureza e os costumes antigos são muito valorizados, mas para a garotada que passa o ano inteiro estudando na cidade, não tem preço passar as férias de fim de ano na fazenda, ainda mais se tem uma avó cozinheira de mão cheia como minha vó Ritinha.
Juntávamos eu e uma turmada de outros primos para passar as férias na casa da vovó para tomar banho de riacho, subir em todas as árvores, brincar de pique-esconde e o melhor de todos, sentar debaixo da sombra da jabuticabeira comendo bolo e ouvindo atentamente as estórias do Tio Onofre, mentiroso que só ele, mas ninguém se importava de ficar horas e horas a ouvir sobre suas aventuras e confusões que se metia quando era menino.
Certo dia disse que ia nos contar um acontecido de quando era moleque e que se passara ali mesmo na fazenda da vó Ritinha, sua mãe. Dizia ele que era o mais esperto de todos os irmãos e que vivia a aprontar, mas tinha um parceiro a altura, tio Astolfo. Traquina como ele só, mas que não conhecia as artimanhas da vida como o irmão mais velho, e que ficava sempre à sombra do mesmo.
Dizia ele que brincavam o dia todo, mas na hora de comer bolo de chocolate, a especialidade de vó Ritinha, todos paravam qualquer coisa que estivessem fazendo para saborear aquela que era uma das sete maravilhas do mundo da culinária. Todos os dias vó Ritinha seguia o mesmo ritual, na boquinha da tarde ia coletar ovos fresquinhos no galinheiro, leite da hora das vacas da sua criação, para fazer sua obra-prima, bolo de chocolate. Fazia a massa com o maior carinho e pra completar a maravilha era assada em fogão à lenha, que só deixava o bolo ainda mais delicioso com aquele cheirinho de fazenda. Após sair do forno o bolo ia para uma tábua que ficava encostadinha no curral que servia como jirau, e lá repousava por alguns instantes até esfriar um pouco. Segundo Tio Onofre, Astolfo era muito levado e sempre queria chegar primeiro para pegar o maior e melhor pedaço do bolo, e sempre conseguia. O que sucedeu foi que um dia, quando vó Ritinha chegou para cortar o bolo e servir à meninada o bolo havia sido comido por inteiro, sem cerimônia ou qualquer capricho, parecia que algum moleque muito levado havia dilacerado todo o bolo com as próprias mãos, se servido à vontade e depois fugido, para não ter que dividir o bolo com mais ninguém.
Não deu outra, Astolfo foi logo taxado de culpado por todos devido à sua fama de travesso e por ser um apaixonado declarado pelo famoso bolo de chocolate, só podia ser ele. Vovó ficou muito chateada e colocou Astolfo de castigo para aprender a dividir com todos, valores como a generosidade e o companheirismo eram levados muito a sério naqueles tempos.
Passado o curioso episódio, no dia seguinte vó Ritinha seguiu religiosamente seu ritual e outra vez fez um delicioso e maior bolo de chocolate, seu aroma rescendia por toda a sede da fazenda avisando que acabara de sair do forno, e de igual forma colocado novamente no lugar de costume para esfriar. Quando vovó foi chamar a garotada para lanchar e apreciar o tão aclamado bolo, surpresa! Mais uma vez o bolo havia sido violentamente devorado, mas desta vez vovó Ritinha não conseguia se esquecer do acontecido e ficou realmente intrigada. Ao mesmo tempo do que se passara, avistava-se que o bezerrinho da vaca Mimosa não desgrudava mais de seu peito, como se estivesse a passar fome. Aquilo despertou o interesse e a curiosidade de vó Ritinha. Paralelo ao caso do amor repentino do bezerro de Mimosa, vovó estava disposta a descobrir quem era o violento devorador de seu bolo de chocolate. Dia desses vó Ritinha não agüentou a curiosidade e ao espreitar Mimosa enquanto seu filhote carinhosamente ordenhava suas tetas em busca de seu alimento - e quão grande era seu apetite ao mamar em sua mãe - foi então que teve a idéia de ordenhá-la pra ver o que o leite da vaquinha Mimosa tinha de tão especial, ela que só era ordenhada em ocasiões especiais para usar o leite pra fazer queijo ou doce, Mimosa já estava um pouco velha e já havia feito sua parte alimentando aquela família por muitos anos.
A esta altura tio Onofre, o interlocutor da estória, deu um salto do tamborete de madeira e fez uma tremenda cara de espanto ao nos perguntar sobre o que saía das tetas de Mimosa! Disse ele com a maior cara de pau ? "Acreditem se quiser meus filhos era leite com toddy que jorrava das tetas da Mimosa!", prosseguindo ele nos disse que o caso foi solucionado e Astolfo que foi rotulado de espertalhão rolava de dar risadas, porque a mais bela confusão que já vira em sua vida, foi arte de uma vaca, a meiga e doce vaquinha Mimosa.