O Milagre do Menino
Por Elmo Zampieri Neto | 07/03/2011 | ContosO Milagre do Menino
João era um garoto de família humilde, respeitara as ordens do pai, o qual perdera o humilde emprego de cortador de cana, um dia antes de tal tragédia, ele vira em um sonho, considerado bobo, um corpo morto, se aproximou, e o corpo de menino, antes de qualquer identificação, João olhou para o lado, numa manifestação de reflexo, viu moedas, que formavam um caminho, que o trouxe até um bilhete, feito de papel de pão "Isso é a ignorância, ganância e o finito, juntos, levam o homem a terra, a sabedoria, esperança e o infinito juntos, levam da terra para o homem". Sumiu a imagem, só via Júlio, seu irmão de três anos os chamando, para dar tal notícia sobre o pai. Alguns dias depois, da família humilde, a qual contava com cinco crianças, só sobrara tostões, que foram dados à ele, filho mais velho, com a tarefa de comprar pães para seus irmãos, enquanto os pais explicavam a situação para os irmãos menores.
O caminho até a cidade, foi um pouco intrigante para João, que sustentava a idéia de que se comprasse feijões e outras sementes, poderia garantir o sustento da família do sertão brasileiro, plantando e colhendo, como via nos filmes da TV local, mas seria mesmo um milagre, nascer coisa alguma na terra a qual viviam, ele olhava para a terra durante o caminho, até que ouviu um grito, foi checar. Só via um menino morto, em decomposição com mato em volta dele, e uma mensagem em papel de pão "Isso é a ignorância, ganância e o finito, juntos, levam o homem a terra, a sabedoria, esperança e o infinito juntos, levam da terra para o homem". Ele tinha medo de desobedecer ao pai, mas sabia que morreria de fome, e que tal mensagem tinha relação com sua família, uma vez vira isso em algum filme, tinha certeza, porém não sabia qual. Decidiu comprar os feijões, num momento de insanidade.
João, na primeira rua da cidade, se depara com a padaria, e o supermercado, que dilema, ele, decidiu não fazer como fazia antes, pensar prós e contras, mudou de idéia, de comprar os feijões, ele simplesmente entrou na padaria como um robô. No chão da padaria, viu um gato preto. Por mais que a família fosse supersticiosa, considerou o gato como apenas um gato, e não um sinal de azar, ele pediu os pães, se debruçara no balcão, de fraqueza, olhava a padaria toda, o teto, o chão, as paredes, e viu uma porta, "Coveiro" se assustou, e rapidamente ligou isso com as mensagens que recebera, como flashes em sua mente, olhou para o lado, havia uma espécie de janela, a qual João não conhecia bem o que era, mas imaginava que os pães passavam por ali até chegarem à vitrina, olhou dentro daquele "buraco" e viu um homem negro, alvo de preconceito naquela época, até mesmo por João, que o olhou com raiva, se segurando para não xingar, aquele homem não devia trabalhar, deveria ser escravo, assim pensava João, de família Holandesa, e mais todos os imigrantes europeus. Mas João também era só criança, não era provido de tanta raiva, então não fez nada, o homem sorriu como um "amigo-da-onça" faz, e João se assustou mais ainda, olhou novamente para a porta, e leu com calma, "pa-dei-ro" pensou "hum... vou sair daqui" deixou o pão lá em cima, sem pagar ainda, e correu para o supermercado, lá viu os preços, e podia comprar três sacos de feijão, comprou, e deixou o troco no bolso, apesar da vontade de comprar umas balas, menino voltou para casa soando frio, o pai era bravo, e ele, inconseqüente, fazia uma "cara-de-bunda" quando tinha medo, e mesmo tendo motivos, sua língua travava, e só sabia fazer essa cara.
Chegou em casa, sua mãe fora recebe-lo correndo, seu irmão havia morrido de fome. O pai, como nunca soube dosar qualquer coisa, distinguir coisa alguma, dar o braço a torcer por nada, assumir erro algum, nem decidir exatamente que quer ou dar ordens dentro de qualquer racionalidade, ou ao menos, aceitar explicações, e ser um cabeça dura, e inseguro ao extremo, resumindo, um troglodita emocional, viu que o menino não carregava pães, e sim feijões, partiu pra cima do menino, enquanto ele tentava explicar, dava socos, e quando João gritou:
- Para! Por favor, eu tenho aqui o que salvará nossa família.
O pai do menino pegou o porrete que guardava atrás do sofá, e bateu na cabeça dele, enquanto a família toda chorava, os vizinhos, punham as crianças em casa, e ficavam olhando a surra com uma mão na cintura e outra com o dedo na boca, tipicamente do povo sem nada o que fazer, como daquela região. Até que o menino tomou a ultima pancada, que acabara com a vida naquele corpo, ele caiu, o pai ficou olhando, e xingando ele, o mandando levantar, para apanhar, e outras coisas rudes, sua mãe saiu correndo, abraçou o corpo do filho, chorava a ponto de ter um ataque de asma enquanto gritava, os sacos de feijão se abriram, durante a surra, todos entraram em casa, chorando, o pai foi ao quarto, e começou a chorar descontroladamente, apenas em sua solidão, quando, se encontrou com o resto da família, aterrorizada, na sala, se mostrou firme, composto, e mandou todos para a cama, por vários dias, sem João, já morto, na família.
Quando todos quase mortos de fome, como Júlio, que o pai nem prestou atenção, por ser um "imprestável", como outros dos filhos, que tinha conceitos baseados em intuição e raiva. Até que foram ver o corpo de João, se assustaram com uma grande horta de feijão o rodeando, as moedas que sobraram formavam um caminho, que chegava num bilhete feito de papel de pão, há poucos metros dali "Isso é a ignorância, ganância, e o finito, juntos, levam o homem a terra, a sabedoria, esperança e o infinito juntos, levam da terra para o homem".
Por mais uma vez, ordem do pai, que não soubera interpretar o sentido o bilhete, nem ao menos entender as palavras usadas, quem da família entendesse o bilhete, deveria enterrar o menino, e "sumir pra bem longe" com o bilhete, mostrando sua postura firme, e composta como sempre, porém, olhou para onde a mãe foi levando João, para poder pegar o bilhete futuramente.
No dia seguinte, já com o bilhete em mãos, o pai finalmente, com muitas horas, e um dicionário usado por João, enquanto vivo, em mãos, descobriu o sentido. Chamou a família toda, mandou os quatro colherem o necessário de consumo, plantarem cada vez mais feijão, e venderem o necessário para comprar arroz, que não nascia em tal terra.
- Vou com João, acho que isso é o mínimo que posso fazer. Desculpem-me, deveria entender meu filho. Desculpem-me, deveria entender Júlio, Desculpem-me deveria entender vocês todos.
Roberto se matou com o porrete que tinha em casa, foi um show de horrores na vizinhança, um homem batendo cada vez mais na própria cabeça, incansavelmente.
E por muitos anos, a família se alimentou do feijão e do arroz, mas é realmente uma lástima, sermos como esta família, que precisa levar um homem a terra, para perceber o erro, porém, ao menos, à família, nunca faltou nada, já que a terra levava ao homem.