Um "Messias do Mal"

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 16/01/2025 | Política

Os movimentos dos agentes políticos, ainda que resultem num aguardado e aparente desfecho, dizem muito sobre suas intenções.

Falo a respeito do Primeiro-Ministro Israelense, Benjamin Netanyahu. Como Chefe de Governo do Estado de Israel, é sua obrigação defender o país, independentemente das posições políticas de quaisquer de nós: afinal, o território sob administração judaica foi criado pela própria ONU após a Segunda Guerra Mundial. Mas o Direito Internacional não lhe permite, bem como a eventual outro dirigente, em nome do que seria uma legítima autodefesa cometer crimes de guerra. E foi isso o que ele perpetrou na Faixa de Gaza desde o sequestro e assassinato de cidadãos israelenses pelo Hamas, há mais de um ano (tanto que lhe pesa um mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional).

Netanyahu pertence ao Partido de Extrema Direita Likud, contrário a todos os direitos dos palestinos, mesmo que tal custe a paz. A lamentável agressão do Hamas, assim, serviu como uma luva para, a pretexto de combater os terroristas, dar materialidade às suas vontades expansionistas e de reeleição à maioria de seus partidários do Likud, com a sua conseguinte e eventual recondução ao cargo superior, num futuro próximo. É isso apenas o que almeja, eis que, quando do início do que deveria ser uma contraofensiva proporcional, disse que iria “exterminar o Hamas”.

Digo isso porque restou óbvio sua ciência, desde o início, da impossibilidade de tanto enquanto não resoluta a causa palestina, eis que por gerações houve a doutrinação, de crianças e jovens, com o único objetivo de auxiliar a destruição do Estado de Israel. Terroristas como os do Hamas (bem como os da Jihad Islâmica, do Hezzbollah e outros grupos, mas que nunca representam a maior parte do povo palestino) são como traficantes: matando-se um, cerca de cinco aparecem a tomar seus postos.  Assim, Netanyahu (outro terrorista, diga-se), em nome do Likud e da suposta ausência de certeza a respeito da localização física dos terroristas e reféns, generalizou os bombardeios e erradicou quase que a totalidade da Faixa de Gaza, reduzida a cinzas sobre (e sob) cerca de cinquenta mil cadáveres de inocentes.

Quando um governante abusa do direito à autodefesa, também deve ser punido, como os Procuradores do Tribunal Penal Internacional corretamente entenderam (cabe afirmar que, também, foram expedidos mandados de prisão em face de líderes do Hamas), e, no caso em tela, uma negativa de emissão da ordem coercitiva contra Netanyahu o faria, certamente, se sentir o Messias tanto aguardado pelo nobre povo judeu. Só que, no caso de Netanyahu, seria ele um “Messias do Mal”.