O MENDIGO
Por Paulo de Aragão Lins | 03/06/2009 | PoesiasO MENDIGO
... depois o vento parou.
O velho parou também
E deitou-se á sombra das palmeiras,
Pensando que a sombra
Não pertencia a ninguém.
A sombra era o único pertence
De mendigos como ele
A sombra do meio dia
Lançada por qualquer árvore.
Depois dormiu
E seu silêncio viveu dentro dos sonhos
Sua bacia
Era um grande sol vermelho
Clareando a amplidão
Seu bastão
Era o marco do caminho
Que ninguém pode trilhar
Se não tiver sentido
O não dos homens
O medo das mulheres
E as pedras dos meninos.
As grandes mansões tem fronteiras
Para lutar contra ele
E persistir intocáveis.
Seus olhos dentro dos sonhos
Não viam terras de ouro
Nem brilhavam de ambição.
Ele via...
Uma casa
Uma esperança...
Uma vida...
Uma esposa...
Um estado...
Uma nação...
Vibrante de energia
Palpitante de trabalho
Sem mendigos nas estradas
Construindo dimensões.
E quando o sol declinou
Levando a sombra das palmeiras
Povoando esse vazio
Que o silêncio despertou
O velho fitou o mundo
Com seu olhar-trajetória
E viveu
Um breve momento de meditação
Antes de sair andando,
Para mendigar ainda
A última refeição.