O LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEMNO INFANTIL V EM UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL EM SOBRAL - CE
Por valdiren | 06/07/2013 | EducaçãoO LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEMNO INFANTIL V EM UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL EM SOBRAL - CE
Valdirene Rodrigues dos Santos¹
Rejane Maria Gomes da Silva²
Resumo:
Tendo como tema central “O lúdico” como processo de ensino e aprendizagem na educação infantil de Sobral-CE, fazendo deste assunto um fator primordial a ser trabalhado por todos os pedagogos, professores, comunidade, escola e familiares que tenham a intenção de educar, sabendo que isto não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas sim ajudar a criança a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. Também será abordada a importância do lúdico na perspectiva dos teóricos na construção dos conceitos e para isto, precisamos considerar a opinião de diversos autores, como Vygotsky (1991), Almeida (1992), Oliveira (2000), Ferreiro (1998), dentre outros. Através deste trabalho realizamos uma pesquisa pautada pela abordagem de caráter qualitativo, utilizando como instrumento de coleta de dados a observação e entrevista de seis salas do Infantil V, onde buscamos refletir sobre a importância do lúdico no processo ensino e aprendizagem, através dos jogos, dosbrinquedos, das brincadeiras. Como resultado vale destacar a importância de uma maior conscientização no sentido de desmistificar o papel do “brincar”, que não é apenas um mero passatempo, mas sim um objeto de grande valia na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças.
Palavras-chave: Lúdico; Ensino; Aprendizagem; Educação.
Introdução
O ser humano em todas as fases de sua vida está sempre descobrindo e aprendendo coisas novas pelo contato com seus semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive. Ele nasceu para aprender, para descobrir e apropriar-se dos conhecimentos, desde os mais simples até os mais complexos, e é isso que lhe garante a sobrevivência e a interação na sociedade como ser participativo, crítico e criativo.
A esse ato de busca, de troca, de interação, de apropriação é que damos o nome de educação. Esta não existe por si só; é uma ação conjunta entre as pessoas
______________
¹ Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acarau – UVA
² Mestre em Gestão Educacional, Professora da Universidade Estadual Vale do Acarau – UVA, orientadora
que cooperam, comunicam-se e comunga do mesmo saber.
A infância é a idade das brincadeiras. Por meio delas a criança satisfaz, em grande parte, seus interesses, necessidades e desejos particulares, sendo um meio privilegiado de inserção na realidade, pois expressa a maneira como a criança reflete, ordenam, desordena, destrói e reconstrói o mundo.
Destacamos o lúdico como uma das maneiras mais eficazes de envolver o aluno nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente na criança, é sua forma de trabalhar, refletir e descobrir o mundo que a cerca.
O lúdico é o assunto que tem conquistado seu espaço, principalmente na “educação inicial”, por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso permitem um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento.
A utilização de brincadeiras e jogos no processo pedagógico faz despertar o gosto pela aquisição do conhecimento e leva as crianças a enfrentarem os desafios que lhe surgirem. O lúdico pode ser um instrumento indispensável na aprendizagem, no desenvolvimento e na vida das crianças. Os professores e os futuros educadores precisam tomar consciência dessa forma de educar, devem saber da importância do lúdico para aprendizagem e desenvolvimento da criança.
O interesse pela temática surgiu no ano de 2011 através de conversas com acadêmicos que estavam pesquisando e escrevendo sobre essa temática, eram acadêmicos de outros cursos dentre eles o de Educação Física, motivo pelo qual me chamou atenção. Outro motivo tem sido vivências em escolas de educação infantil na cidade de Sobral. Contudo, temos percebido que essa temática é de grande relevância para o processo educativo da educação infantil.
A pesquisa aqui apresentada tem por objetivos investigar o lúdico no processo de ensino e aprendizagem na educação infantil, conhecer o emprego do lúdico no cotidiano escolar e observar como os educadores selecionam as atividades e de que forma são trabalhadas, visando à aprendizagem do aluno.
Para compreendermos este tema de tamanha importância, realizamos uma pesquisa pautada pela abordagem qualitativa, utilizando como instrumento de coleta de dados a observação e entrevista realizada emseis salas do Infantil V de uma Escola de Ensino Público da cidade de Sobral/CE e entrevista estruturada com seis professores desta instituição.
Os dados coletados revelam que é necessário uma maior conscientização no sentido de desmistificar o papel do “brincar”, que não é apenas um mero passatempo, mas sim um objeto de grande valia na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças.
O artigo encontra-se organizado em quatro partes: na primeira e segunda parte destacamos o referencial teórico onde destacamos o lúdico na perspectiva dos teóricos eo contexto do ensino aprendizagem na Escola de Educação Infantil, na terceira apresentamos a análise dos dados da pesquisa seguido das considerações finais.
1. O lúdico na perspectiva dos teóricos
Para a realização deste trabalho constatei que expressivos teóricos: Zacarias, Froebel, Rousseau, Dewey, Vygotsky, Macedo, Petty, Passos, Ferreiro, Almeida e Kishimoto, destacam à importância de se trabalhar com o lúdico. Afirmam que o lúdico pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento do ser humano não só na aprendizagem, mas também no desenvolvimento social, pessoal e cultural, facilitando no processo de socialização, comunicação, expressão e construção do pensamento.
Os autores não afirmam que o lúdico é a fórmula mágica que irá acabar com todos os problemas de aprendizagem, nem muito menos que se deve substituir a educação tradicional pelo lúdico, mas veem no lúdico uma alternativa de grande importância para a melhoria no intercambio ensino-aprendizagem e uma ponte que certamente auxiliará na melhoria dos resultados por partes dos educadores interessados em promover mudanças.
De acordo com Zacharias (2007), Froebel foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica, a apreender o significado da família nas relações humanas.Idealizou recursossistematizados para as crianças se expressarem: blocos de construção que eram utilizados pelas crianças em suas atividades criadoras, papel, papelão, argila e serragem. O desenho e as atividades que envolvem o movimento e os ritmos eram muito importantes. Para a criança se conhecer, o primeiro passo seria chamar a atenção para os membros de seu próprio corpo, para depois chegar aos movimentos das partes do corpo. Valorizava também a utilização de histórias, mitos, lendas, contos de fadas e fábulas, assim como as excursões e o contato com a natureza.
Para Froebel apud Zacarias (2007,p.5) "o jogo é o espelho da vida e o suporte da aprendizagem", tendo sido um dos primeiros educadores a utilizá-lo na educação de crianças, criou materiais diversos, que conferiram ao jogo uma dimensão educativa. Para ele é pelo meio do brinquedo que a criança adquire a primeira representação do mundo. Sendo que a educação mais eficiente é aquela que proporciona atividades, auto expressão e participação social às crianças. Ele afirma que a escola deve considerar a criança como atividade criadora e despertar, mediante estímulos, as suas faculdades próprias para a criação produtiva. Sendo assim, o educador deve fazer do lúdico uma arte, um instrumento para promover a facilitar a educação da criança. A melhor forma de conduzir a criança à atividade, à auto expressão e à socialização seria através do método lúdico.
Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde, representar determinado papel na brincadeira, faz com que ela desenvolva a sua imaginação. Para Lopes
Nas brincadeiras, as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como, a atenção, a imitação, a memória e a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização por meio da interação, da utilização e da experimentação de regras e papéis sociais (2006, p. 110).
Segundo Rousseau (1968), as crianças têm maneira de ver, sentir e pensar que lhe são próprias e só aprendem através da conquista ativa, ou seja, quando elas participam de um processo que corresponde à sua alegria natural.
Já Dewey (1967), pensador norte-americano, afirma que o jogo faz o ambiente natural da criança, ao passo que as referências abstratas e remotas não correspondem ao interesse da criança e quesomente no ambiente natural da criança é que ela poderá ter um desenvolvimento seguro.
Vygotsky (1998) atribui importante papel do ato de brincar na constituição do pensamento infantil. Segundo ele, através da brincadeira o educando reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu pensamento. Para Vygostsky apud Queiros, “A brincadeira e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos distintos”.(2002, p.6). O jogo e a brincadeira são por si só, uma situação de aprendizagem. As regras e a imaginação favorecem a criança comportamento alem dos habituais. Nos jogos e brincadeiras a criança age como se fosse maior que a realidade, é isto inegavelmente contribui de forma intensa e especial para o seu desenvolvimento.
Conforme Macedo, Petty e Passos (2005, p. 13):
O brincar é fundamental para o nosso desenvolvimento. É a principal atividade das crianças quando não estão dedicadas às suas necessidades de sobrevivência (repouso, alimentação, etc.). Todas as crianças brincam se não estão cansadas, doentes ou impedidas. Brincar é envolvente, interessante e informativo. Envolvente porque coloca a criança em um contexto de interação em que suas atividades físicas e fantasiosas, bem como os objetos que servem de projeção ou suporte delas, fazem parte de um mesmo contínuo topológico. Interessante porque canaliza, orienta, organiza as energias da criança, dando-lhes forma de atividade ou ocupação. Informativo porque, nesse contexto, ela pode aprender sobre as características dos objetos, os conteúdos pensados ou imaginados.
Estes e outros autores destacados relatam à importância do lúdico associado à aprendizagem. Desta forma, entendemos que a verdadeira aprendizagem não se faz apenas copiando do quadro ou prestando atenção ao professor, mas sim no brincar, muitas vezes, acrescenta ao currículo escolar uma maior vivacidade de situações que ampliam as possibilidades de a criança aprender e construir o conhecimento. O brincar permite que o aluno tenha mais liberdade de pensar e de criar para desenvolver-se plenamente.
Na concepção de Barreto (2007), o brincar favorece transformações internas e é uma forma de expressar seus desejos. Nesta mesma perspectiva Maurício (2008) menciona que a ludicidade reflete a expressão mais genuína do ser; é o espaço de todo ser para o exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e objetos.
Através das atividades lúdicas, o indivíduo forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções e se socializa. A ligação das atividades lúdicas com a aprendizagem dispõe o estabelecimento de relações cognitivas, simbólicas e produções culturais.
As tarefas lúdicas demandam um interesse intrínseco do indivíduo, pois este guarda sua energia para cumprir com os objetivos propostos, produzindo um sentimento eufórico e de entusiasmo.
A criança aprende através da atividade lúdica ao encontrar na própria vida, nas pessoas reais, a complementação para as suas necessidades.
Conceber o lúdico como atividade apenas de prazer e diversão, negando seu caráter educativo é uma concepção ingênua e sem fundamento. A educação lúdica é uma ação inerente na criança e no adulto aparece sempre, como uma forma transacional em direção a algum conhecimento.
Ferreiro (1998), já apontava para a importância de se oferecer a crianças ambientes agradáveis onde se sinta bem e a vontade, pois a criança deverá se sentir como integrante do meio em que esta inserida.
Para Vygotsky (1991), o ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar os horizontes da zona de desenvolvimento proximal. Ele considera o brinquedo, importante fonte de promoção do desenvolvimento, pela qual podemos reconhecer o valor do brincar nas atividades educativas da criança, pois o brinquedo, apesar de não ser o aspecto predominante da infância, exerce enorme influência no desenvolvimento infantil.
Vygotsky (1991), ao empregar o termo “brinquedo”, num sentido amplo, refere-se principalmente à atividade, ao ato de brincar. No entanto, é necessário ressaltar também que, embora ele analise o desenvolvimento do brinquedo e mencione outras modalidades (como os jogos esportivos), procura evidenciar o jogo de papéis ou a brincadeira do “faz-de-conta” (por exemplo, brincar de polícia e ladrão, de médico, de vendinha, etc.). Tal fato se explica pela importância dessas brincadeiras nas crianças que aprendem a falar e que, portanto, já são capazes de representar simbolicamente, envolvendo-se numa situação imaginária.
A criança passa a criar uma situação ilusória imaginária, como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. Esta é, aliás, a característica que define o brinquedo de modo geral. Segundo Almeida: “a criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos, e não apenas no universo dos objetos a que ela tem acesso”. (1995, p.82).
No pensamento de Vygotsky (1991), o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados, desde o nascimento da criança. Ainda muito pequena, através das interações com o meio físico e social, a criança realiza uma série de aprendizados. Então, as experiências, realizadas por meio das brincadeiras, contribuem de forma elementar para a aquisição de conhecimentos que alicerçam os saberes sistemáticos, ao entrar na escola.
No seu cotidiano, observando, experimentando, imitando e recebendo instruções das pessoas mais experientes de sua cultura, aprende a fazer perguntas e também obter respostas para uma série de questões. “Como membro de um grupo sociocultural determinado, ela vivencia um conjunto de experiências e opera sobre todo o material cultural (conceitos, valores, ideias, objetos concretos, concepção de mundo, etc.) a que tem acesso”. (Vygotsky, 1991, p.76). Deste modo, muito antes de entrar na escola, já construiu uma série de conhecimentos do mundo que a cerca. (1
Vygotsky (1991), ao explicar o papel da escola no processo de desenvolvimento do indivíduo, faz uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana da criança. Chama esse processo de conceitos cotidianos ou espontâneos, cuja vivência social, afetiva e cultural desenvolve estruturas na personalidade da criança, alargando seus saberes na condição de Ser humano. Na escola, a criança elabora saberes na sala de aula, adquire meios de aprender, sistematicamente, os conceitos científicos.
Para aprender um conceito, é necessário que, além das informações recebidas do exterior, ocorra uma intensa atividade mental por parte da criança. Portanto, um conceito não é aprendido por meio de treinamento mecânico, nem tampouco pode ser meramente transmitido pelo professor ao aluno. Necessitaconsiderar signos e palavras na constituição da linguagem da criança, quando essa internaliza a fala socializada.
Para Kishimoto (1999), as práticas lúdicas proporcionam subsídios para a compreensão da brincadeira como ação livre da criança e o uso dos dons, objetos. São valiosos suportes da ação docente, que enriquecem o trabalho pedagógico, permitindo a aquisição de habilidades e conhecimentos, justificando, assim, os jogos educativos. Afirma ainda Kishimoto,
Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que mantidas as condições para expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar o jogo na Educação Infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. (1999, p.36)
No entanto, a preocupação com a escolarização da criança desvia o brincar da infância levando a seriedade precoce ao cotidiano infantil, desconsiderando e dissociando o lúdico das atividades escolares. No mundo contemporâneo, as propostas de Educação Infantil se dividem entre as que reproduzem a escola elementar, com ênfase na escolarização (alfabetização e números) e as que buscam introduzir a brincadeira, valorizando a socialização e a recriação de experiências. Permitem que as concepções em sociedade envolvam a liberdade do ser humano de se autodeterminar.
2. O contexto do ensino aprendizagem nas salas do Infantil V em uma escola do município de Sobral -CE
Não se pode falar de educação de crianças sem se falar do brincar, este é um “processo” que atua de forma significativa no desenvolvimento da criança. No entanto, o brincar não pode dissociar-se da escola, principalmente dos centros de educação infantil, do contrário estaríamos negando a criança o seu direito de ser quem é um individuo em desenvolvimento pleno que se constrói em meio à ludicidade.
Sendo assim o professor em consonância com a instituição de ensino deve buscar respaldo nas leis que regem a educação infantil, para que consiga traçar metas de ensino adequadas às crianças, procurando pautar o trabalho educacional em um currículo coerente e que atenda as necessidades das mesmas.
Em se tratando da relação entre escola e brincar o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (BRASIL, 1998, p.6) aponta “metas de qualidade para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos”. Visa também contribuir para que possa realizar, nas instituições, o objetivo socializador, dessa etapa educacional, em ambientes que propiciem o acesso e a ampliação pelas crianças, dos conhecimentos da realidade social e cultural.
Nesta perspectiva é necessário que o professor esteja sempre disposto a elaborar propostas lúdicas, que incluam o brincar em todo processo do trabalho na educação infantil, onde por meio deste, seja possível mediar à aprendizagem e o desenvolvimento da criança, ajudando-a progredir na definição de sua identidade, em meio ao ambiente social que a cerca e nas formas de comunicação e linguagem a serem elaboradas por ela.
Brincar é algo muito sério quando nos referimos à educação infantil, no entanto no que se trata de educação nas séries iniciais, o brincar muitas vezes é caracterizado como algo “não sério”, ou atividade de momentos livres, se referindo às práticas educativas. E, assim, Kishimoto (2001, p.37) nos chama a atenção para o preocupante fator de que “na pré-escola o brincar, provém de uma natureza livre, deste modo parece incompatibilizar-se com a busca de resultados dos processos educativos”.
Porém o professor precisa atentar-se para o desenvolvimento do brincar também enquanto instrumento mediador de conhecimento e não só como “atividade de horas livres.”. Torna-se necessário desse modo, fazer uma quebra com o paradigma de que o brincar é algo que não exprime seriedade e organização, mas torna-se relevante considerar que as atividades lúdicas podem acontecer em meio, ou não ao planejamento do professor.
O professor de educação infantil precisa desenvolver certa sensibilidade, frente à criança e seu processo de desenvolvimento, de modo que este consiga romper com o comodismo e sua alienação frente ao processo educacional, pois tais posturas prejudicam a ludicidade e acabam reduzindo a educação pré-escolar a práticas maçantes de ensino, proporcionando às crianças, atividades que limitam e reduzem sua capacidade de experimentação e exploração do mundo, sem que estas possam estabelecer relações e desenvolver experiências. Tendo isso em vista, é preciso que o professor assuma um papel de mediador e que consiga auxiliar a criança valorizando o caráter lúdico da educação de modo que este possa levar à criança a construção de um conhecimento significativo. Para Oliveira,
Ao jogar e brincar, a criança relaciona-se com a realidade, constroem conhecimentos, expressa suas necessidades e resolve conflitos. É por meio de ações físicas e mentais que o pensamento se desenvolve. Dessa forma, o brincar, juntamente com outras formas de representação, deve ser objeto de interesse de todos os envolvidos no processo educacional. (2008, p.89).
A criança pré-escolar se encontra em um momento marcado por um estado altamente simbólico, sendo assim vê-se a necessidade do lúdico nos métodos de ensino para as crianças. Porém é claro que não se pode considerar o brincar como único recurso metodológico de ensino, mas é possível sim constatar que o brincar possui sua importância no que se refere à imaginação, fantasia, divertimento, alegria e prazer durante o aprendizado das crianças. Diante de tais considerações torna-se relevante abordar então a questão quanto às necessidades e direitos de nossas crianças em relação ao brincar.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) trata o brincar como atividade primordial na configuração da identidade e construção da autonomia na criança. Deste modo o documento afirma que:
É o brincar agente significante no fato de a criança desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde poder representar determinado papel na brincadeira de faz- de conta, com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como atenção, a imitação, memória e a imaginação. (BRASIL, 1998, p.22)
Amadurecem também algumas capacidades de socialização por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais.
Reconhecendo o brincar como um direito das crianças torna-se interessante abordar o que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente no Art. 58 em relação ao processo educacional, onde segundo o documento, respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura (BRASIL, 2010).
Tal liberdade de criação e acesso a cultura, concretiza-se na ação da atividade lúdica em meio à ação educativa, pois o brincar possibilita que as habilidades infantis sejam praticadas através das ações lúdicas. Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca.
Por exemplo, para assumir um determinado papel numa brincadeira, a criança deve conhecer alguma de suas características. Seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros, etc.
A fonte de seus conhecimentos é múltipla, mas estes se encontram, ainda, fragmentados. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis, tomando consciência disto e generalizando para outras situações.
Portanto, brincando a criança atravessa os limites do que é possível e supera suas habilidades emocionais, físicas e psíquicas. Cabe então ao professor infantil estar a par de todas as leis que regem e norteiam o processo educacional da criança. Além de dominar as políticas publicas sobre educação infantil que consequentemente vão enfatizar o brincar como atividade primordial no desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos.
A escola que pretende estabelecer uma inter-relação entre o conhecimento e o brincar, precisa também propor um currículo que estabeleça princípios lúdicos e destaque a atividade do brincar nas propostas a serem desenvolvidas. Sendo assim cabe a escola repensar a estrutura do currículo que direciona as atividades, de modo que este seja construído e reconstruído sempre a partir daquilo que os alunos apresentam como necessidade de saber, para que o currículo não caia em uma prática de construção paralela a aquisição do saber na criança.
Construir um currículo a partir de pistas do cotidiano e de uma visão articulada de conhecimento e sociedade é fundamental. “O currículo não pode ser definido previamente, precisando emergir e ser elaborado em ação, na relação entre novo e a tradição”. (BARBOSA; HORN, 2008, p.37). É necessário que se encontrem interrogações nos percursos que as crianças fazem. Para tanto é fundamental “emergi-las” em experiências e vivências complexas que justamente instiguem sua curiosidade.
Nesta perspectiva Craidy e Kaercher (2001, p.68) afirmam que:
Todos os momentos, sejam eles desenvolvidos nos espaços abertos ou fechados, deverão permitir experiências múltiplas, que estimulem à criatividade, a experimentação, a imaginação, que desenvolvam as distintas linguagens expressivas e possibilitem a interação com outras pessoas.
Portanto, a escola dentro desta perspectiva, deve cuidar para que a preparação do currículo escolar apresente estratégias que complementem a importância do brincar e das atividades lúdicas, no processo educacional das crianças.
3. Atividades Lúdicas no Processo Ensino Aprendizagem no Infantil V em uma escola do município de Sobral
Com o proposito de analisar a presença do lúdico no processo de ensino-aprendizagem no infantil V e se estes desempenham um papel importante, foram realizadas entrevistas com seis professoras do infantil V de uma escola da rede pública municipal de ensino em Sobral-CE.
Os dados coletados durante a pesquisa de campo junto às seis professoras que lecionam na educação infantis agora denominadas de P1, P2, P3, P4, P5 E P6 serão apresentados a seguir.
Sobre a formação,quatro professoras são formadas em Pedagogia e duas estão cursando também Pedagogia, estando P3 no 4º período e a P6 no 5º período.
Os questionários continham seis questões a respeito do uso das atividades lúdicas no processo ensino aprendizagem no infantil V. Em virtude do objetivo da pesquisa optou-se por uma pesquisa qualitativa, tendo com foco a análise da importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem. Os professores foram receptivos à realização da pesquisa.
As idades das professoras variaram entre 22 e 45 anos. O tempo de atuação na educação infantil encontra-se entre no mínimo dois anos e no máximo 25 anos. No tocante a sua concepção sobre atividades lúdicas, as professoras foram unânimes em afirmar que além de saberem o que significava também consideravam importante a presença do lúdico durante o processo de ensino-aprendizagem na educação infantil, onde destacaram:
É muito importante, pois nada melhor do que aprender brincando e brincando aprendendo. (P3),
as atividades lúdicas são importantes para o desenvolvimento do ser humano, na aquisição de novos conhecimentos, para que as crianças possam se apropriar mais facilmente dos conhecimentos”. (P4).
que é uma maneira do aluno aprender brincando e que ele memoriza com mais facilidade (P5).
È trabalhar com jogos educativos para atrair mais a atenção das crianças ( P1).
É trabalhar com jogos e gravuras (P2).
É usar a imaginação, criar, despertar a atenção das crianças ser dinâmica (P6).
Deste modo, é possível perceber que todas as professoras tem um bom entendimento do significado de lúdico e de sua importância. No entanto a partir das outras questões descobrimos alguns dados interessantes, que nos levam a algumas reflexões, como por exemplo: apesar dos professores considerarem significativa a importância do lúdico no processo de ensino aprendizagem das crianças, a utilização do lúdico e da brincadeira não tem sido uma prática constante no infantil V. A professora (P2) em sua fala diz que atividades lúdicas são trabalhadas com jogos, gravuras. Já a professora (P6) entende que atividades lúdicas são usadas para despertar a atenção das crianças é ser dinâmica.
Sabemos que para que as aulas possam ser mais participativas, e despertar melhor o interesse dos alunos elas precisam ser mais dinâmicas e atrativas.
Aos serem questionadas sobre como elas veem a interferência do lúdico no processo ensino aprendizagem das crianças, as professoras manifestaram a afirmação de que o lúdico pode interferir de maneira positiva por ser considerado um meio de aprendizagem. Os comentários foram os seguintes:
confesso que, de maneira positiva, pois através do lúdico elas interagem e tem uma melhor participação.(P3).
Através das atividades lúdicas exploramos muito mais a criatividade das crianças e também sua autoestima. (P4)
se é trabalhada da maneira que eles compreendem. (P2).
Quando lúdico não é trabalhado a serio, e usado apenas por brincadeira, sem objetivo (P5 e P1).
ajuda na oralidade da criança, ficam mais ativas, expressivas e o retorno é excelente. (P6).
Portanto, pode-se afirmar que de um modo geral os professores acreditam que o lúdico interfere sim me maneira positiva no processo ensino aprendizagem.
Indagamos como elas utilizam o lúdico em suas aulas e obtivemos as seguintes respostas:
Através de jogos e dinâmicas (P1 e P3).
Através de jogos de dominó, alfabeto móvel e jogo da memória. (professora P2).
Através de jogos e fantoches. (professora P4).
Através de músicas, brincadeiras, teatro e exploração de histórias. (professora P5).
Com contação de historias caracterizada, fantoches e objetivos.(P6).
Pelas respostas obtidas pudemos observar que todas as professoras utilizam de alguma maneira o lúdico em suas aulas. Deste modo, é possível perceber que todos as professoras consideram a presença da brincadeira e do lúdico importantes no infantil V.
No entanto a partir das outras questões descobrimos alguns dados interessantes, que nos levam a algumas reflexões, como por exemplo: apesar dos professores considerarem significativo o lúdico no processo de aprendizagem dos alunos, a utilização do lúdico e da brincadeira não tem sido uma prática constante no infantil V.
Em relação à perguntaquais as dificuldades da implantação de atividade lúdica na sala de aula, os relatos foram significativos, e as respostas foram as seguintes:
O lúdico incentiva na aprendizagem do aluno (P1).
Mesmo utilizando jogos alguns alunos sentem dificuldades de aprender (P2).
Através de jogos e brincadeiras (P3)
Através de jogos e fantoches (P4).
Não encontro nenhuma, pois o lúdico tem boa aceitação (P5).
A própria coordenação quer que seja pouco trabalhado o lúdico, visando os resultados da avaliação externa. (P6).
O que se constatou através das entrevistas é que poucas professoras sentem dificuldades de implantarem o lúdico em sala de aula somente, e que também na verdade em poucos momentos isso acontece. Uma professora foi categórica em afirmar que: “o que acontece na maior parte do tempo, é que acabamos cedendo à pressão de um sistema viciado e focado em uma prática “conteudista” (P6).
Outro questionamento realizado na pesquisa foi se o lúdicotráz algum benefício para os professores.Diante desta pergunta, os entrevistados também foram unânimes ao dizerem que os alunos demonstram maior interesse em relação aos conteúdos ministrados através de jogos, brincadeiras ou atividades lúdicas do que aqueles ministrados sem caráter lúdico. Os comentários foram os seguintes:
O lúdico incentiva na aprendizagem do aluno (P1 e P5)
Facilita a alfabetização do aluno (P2).
É que o lúdico auxilia o professor em suas atividades. (P3)
Você se expressa melhor, corporalmente, aumenta a criatividade da criança (P6).
O que percebemos através das entrevistas é que somente em poucos momentos isso acontece. Os professores de modo geral reclamam da falta de apoio da própria coordenação. Portanto, pode-se afirmar que é função do professor proporcionar aos seus alunos um aprendizado de forma interessante, de maneira que o aluno tenha prazer em aprender, Lisboa (2009, p.1) corrobora esta afirmação e alega que “é dever do professor mudar os padrões de conduta em relação aos alunos, deixando de lado os métodos e técnicas tradicionais acreditando que o lúdico é eficaz como estratégia do desenvolvimento na sala de aula”.
Sobre este assunto ainda conseguiu-se através da realização das entrevistas averiguar em que sentido a presença da brincadeira e do lúdico no infantil V contribui para a melhora na qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Através das respostas obtidas podem-se elencar as seguintes contribuições: aperfeiçoa a memória, a atenção, o raciocínio lógico;consciência;os conteúdos são melhor fixados; as crianças olham de uma forma diferenciada para os conteúdos ministrados com caráter lúdico; auxiliam no processo de aprendizagem; auxiliam no desenvolvimento de habilidades de pensamentos, criatividades, imaginação.
Como se percebe nos relatos dos entrevistados quando os conteúdos são ministrados de forma lúdica e através de brincadeiras, as crianças aprendem mais facilmente, pois elas associam o prazer da brincadeira com a atividade e os conteúdos que o professor propõe o que vem ao encontro dos estudos de Vygotsky (1991) quando ele afirma que as brincadeiras influenciam muito no desenvolvimento da criança.
Cabe salientar que é através do lúdico que a criança aprende a agir, pois a curiosidade é estimulada, adquire-se maior autoconfiança e autoestima, melhora significativamente o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.
Observa-se nas falas dos entrevistados uma percepção do lúdico. Reconhecem seus benefícios na aprendizagem das crianças, mas não apresentam uma aplicabilidade concreta.
Em nenhum momento, é citado pelos professores, que em seus planos de trabalho há tempo para pesquisa, excursões, porém admitem, no discurso, sua importância. Em nenhuma das respostas houve uma opinião negativa em relação ao Lúdico. No entanto não apresentam uma aplicabilidade concreta. O papel do professor é de fundamental importância para a difusão e aplicação de recursos lúdicos. Cury (2003) coloca a afetividade como fator primeiro a ser conquistado. Se as escolas estão vivendo um verdadeiro caos, atribua-se a isso a falta de amor, sensibilidade e empatia. Não basta deter-se, somente, em métodos de ensino respeitáveis, é preciso ir muito, além disso.
Segundo Santos, “A educação pela via da ludicidade propõe-se a uma nova postura existencial, cujo paradigma é um novo sistema de aprender brincando inspirado numa concepção de educação para além da instrução". (2001, p.)
O professor ao se conscientizar das vantagens do lúdico, adequará a determinadas situações de ensino, utilizando-as de acordo com suas necessidades.
Considerações Finais
A Pesquisa realizada sobre “Lúdico como processo de Ensino Aprendizagem na Educação Infantil” foi de grande importância, pois mostrou que a prática abordada enriquece a vida acadêmica e o futuro profissional.
De acordo com os dados obtidos a partir da visão dos entrevistados, constatamos que os educadores têm conhecimentos da importância do lúdico para a aprendizagem e para o desenvolvimento das crianças. Os professores responderam que é possível reunir dentro da mesma situação o brincar e o educar.
Diante disso surge o questionamento de como tornar a aprendizagem significativa frente a tantos desafios. Atualmente as escolas brasileiras são palco de situações que muitas vezes dificultam o trabalho docente. Deparamos com salas heterogêneas, superlotadas, estudantes portadores de necessidades especiais e com dificuldades de aprendizagem.
Por fim, identificamos que todos os professores entrevistados possuem uma percepção adequada em relação ao lúdico de acordo com os autores pesquisados. A partir do exposto pode-se concluir que a maioria dos professores “obtém” certo conhecimento sobre o tema. Porém observa-se que é necessária uma maior conscientização no sentido de desmistificar o papel do “brincar”, que não é apenas um mero passatempo, mas sim um objeto de grande valia na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças.
Mesmo com todo o conhecimento que os professores possuem, há situações em que estes não podem utilizar essa prática na escola. Um exemplo a ser citado é de uma escola cujo objetivo principal é alfabetizar os alunos com o intuito de ganhar benefícios ofertados pelo governo, pressionando as crianças a lerem para que a escola possa ser beneficiada.
Sendo assim a escola e, principalmente, a educação infantil deveria considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento e na aprendizagem da criança.
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