O Lúdico na Apropriação da Linguagem Oral e Escrita

Por LEDRA SANTOS DO NASCIMENTO DUARTE | 25/01/2017 | Educação

RESUMO:

Pretende-se por meio do seguinte artigo destacar a relevância da ação lúdica na prática docente, tornando o processo de apropriação da linguagem oral e escrita prazerosa para a criança. Sabemos quão desafiador é conduzir a criança a ser usuário da leitura e escrita de modo competente, restaurando o verdadeiro sentido de ler e escrever, tendo em vista que são condições necessárias a sobrevivência na sociedade letrada em que estamos imersos.

 Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo e de caráter bibliográfico. Objetivamos compreender as questões apontadas, a partir das contribuições teóricas de Vygotsky em diálogo com Kishimoto (1998), Frade (2005), Lima (2016) e dos estudos de Barbosa e Fortuna (2015).

PALAVRAS – CHAVES: Prática Pedagógica. Ludicidade. Alfabetização.

INTRODUÇÃO

 

O brincar é um elemento fundamental no processo de desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Alfabetização e ludicidade devem caminhar juntas para obtenção de uma ação pedagógica que atenda uma aprendizagem significativa. O objetivo deste estudo centra-se em conhecer os fundamentos da ludicidade e sua influência no processo de alfabetização.  

Integrar o lúdico no processo de alfabetização parece para muitos uma tarefa fácil, todavia pode ser também para alguns uma tarefa desafiadora. A ludicidade é um componente muito importante para o desenvolvimento da criança nos aspectos social, cognitivo, cultural, etc.

Para aprofundamento de conhecimento, relacionado à temática estudada realizamos um estudo na linha histórico cultural de Vygotsky (1984), tomando com base as contribuições de autores que também tem se debruçado sobre essa temática, dentro os quais destacamos :Kishimoto (1998), Frade (2005), Lima (2016) e dos estudos de Barbosa e Fortuna (2015). 

A LUDICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA 

O brincar é um componente essencial para o desenvolvimento infantil, ao brincar a criança experimenta, conhece e explora o meio social em que esta inserida. A escola é o espaço que marca o desenvolvimento infantil, muitas crianças passam grande parte do tempo nele. As vivências e interações que ocorrerem em tal espaço irão marcar a vida das crianças para sempre. Para Lima (2016, p.51): “[...] o desenvolvimento da imaginação depende do meio em que a criança se encontra e das possibilidades para experimentar, conhecer e explorar os elementos do meio”. Assim, os ambientes escolares e a ação docente precisa estar marcada pela intencionalidade, e o lúdico surge como elemento indispensável nesse processo.

A apropriação da linguagem oral e escrita é um marco no processo de desenvolvimento, a escrita ocupa bastante estreito na prática escolar, se a relacionarmos com o papel fundamental que ela representa no desenvolvimento cultura da criança, assim esta para além da apropriação de grafemas e fonemas ou codificação e decodificação. Segundo Vygotsky (1984) a forma mecânica de ensino da leitura e dos desenhos das primeiras letras acaba obscurecendo a linguagem, apesar da existência de muitos métodos para ensinar a criança a ler e escrever, ainda há necessidade de desenvolver um procedimento cientifico mais eficiente paraensino efetivo da linguagem escrita às crianças.

MÉTODOS UTILIZADOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO 

 

Na tentativa de obter sucesso no processo de alfabetização muitos professores recorrem a utilização de métodos, em seus estudos Frade (2003) destaca os Métodos Sintéticos, que compreende o sistema de apropriação da escrita a partir da abordagem fonológica, conduzindo a criança a decodificação ou decifração. A pretensão do professor alfabetizador ao utilizar tal método é ir das partes para o todo, não se preocupando com a atribuição de significado as palavras trabalhadas. Afiliados ao método sintético nos temos os métodos: Alfabético, Fônico e Silábico. Quanto aos Métodos Analíticos, a abordagem prioriza o significado em detrimento a correspondência gráfica do fonema. Assim, a linguagem funciona como um todo. Observa-se primeiramente o todo e posteriormente as partes, as palavras não são fragmentadas a prioridade é, portanto a compreensão. Os métodos afiliados são: De palavração/Sentenciação e Global de Contos.

A ação de alfabetizar, tornar o indivíduo capaz de ler e escrever é um processo marcado pela complexidade, tendo em vista que o contexto da sala de aula é marcado pela heterogeneidade, tendo em vista que, aprender a ler é uma apropriação do código linguístico para que o sujeito seja capaz de fazer o uso apropriado dele.

O educador precisa buscar estratégias que conduzam de modo competente sua prática pedagógica e restaurem o conceito de ler e escrever como propôs Vygostky (1984). Saber ler e escrever em nossa sociedade atual é a condição mínima para vivência na sociedade letrada, da qual fazemos parte, tornou-se uma exigência para exercício da cidadania.

O desafio da ludicidade no contexto escolar e mais precisamente no processo de alfabetização é adequar à proposta pedagógica a realidade da criança. Ao analisar a relação do brincar, a aquisição de regras e o desenvolvimento da linguagem Bruner (apud Kishimoto,1995) considera as brincadeiras relevantes para o desenvolvimento cognitivo das crianças,pois estimulam a aprendizagem da linguagem e a resolução de problemas. Segundo Kishimoto(1995) Quando Bruner propõe o lúdico ao ensinar com crianças de diferentes idades, a partir de situações estruturadas com a mediação dos adultos  ele o faz como forma de exploração.  

O brincar torna o processo de aprendizagem mais interessante, tem muito a contribuir no processo de alfabetização. O brincar auxilia no processo de internalização, pois segundo a abordagem Vygotskyana possibilita o funcionamento da zona de desenvolvimento proximal. Para Vygotsky (1998), o desenvolvimento mental da criança é marcado pelo desenvolvimento real, através das funções que a criança já obteve, enquanto o nível de desenvolvimento potencial é marcado pelas funções que serão consolidadas, a partir da colaboração de outros indivíduos. Nesta perspectiva a zona de desenvolvimento proximal, é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial.

As atividades lúdicas são muito importantes para que as crianças, a partir do domínio dos símbolos da comunicação humana possam se inserir ativamente na civilização moderna, sendo capaz de compreender as correspondência entre os grafemas e fonemas , utilizando-os em seu contexto social.

 

 

O LÚDICO NA PRÁTICA DOCENTE 

 

A ação docente vai se consolidando a partir das vivências e experiências diárias. Boff afirmou: “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é à vista de um ponto”. Sendo assim o cotidiano escolar dá materialidade a prática pedagógica.  A prática pedagógica vai sendo tecida a partir das imprevisibilidades do cotidiano escolar. Dialogando com Esteban e Zaccur (2002) percebemos que A escola ainda continua excludente, produzindo analfabetos, analfabetos funcionais e iletrados. Educação ainda esta amarrada a princípios capitalistas, invadida por planejadores tecnicistas.

Para Barbosa e Fortuna (2015) o saber lúdico é essencialmente vivencial e a formação universitária é essencialmente teórica. Está praticamente ausente na formação obtida no ensino superior, aparecendo apenas nas modalidades de ensino aprendizagem que prestigiam a interação e a vivência, entrelaçando-se organicamente ao restante da formação.  Para as autoras o próprio desejo de ser educador, tem origem na própria infância, partir da influência de outros educadores, com os quais esse educador conviveu, e que contagiaram o seu próprio desejo de ser professor. Desejo também pode ter sido gestado nas brincadeiras infantis de escola, ao brincar experiências como educador, já eram adquiridas, as brincadeiras foram dando início a formação docente.

 A formação lúdica docente, ela pode ter início e ser reforçada através das vivências de episódios de aprendizagem lúdica, quer na escola, quer na universidade, quer, ainda, em situações informais de formação,a dimensão lúdica está presente desde os primórdios da formação do educador, e atua de maneira decisiva para tornar o educador capaz de brincar e de valorizar o brincar, segundo Barbosa e Fortuna (2015).  Assim, faz-se necessário despertar a criança que há dentro de cada educador para integrar a ludicidade em sua prática pedagógica, a criança é um ser propriamente lúdico.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao considerar as questões que circundam o tema: O lúdico na apropriação da linguagem escrita a proposta também incluiu conduzir a reflexão a partir das questões abordadas pela temática proposta. A alfabetização é um processo sociocultural, cabe ao educador lúdico desenvolver e explorar práticas potentes que o auxiliem nesse processo. Dentre as inúmeras possibilidades, podemos destacar a utilização dos jogos pedagógicos, brincadeiras, cantinhos de leitura, teatro e muitos outros.

É evidente a necessidade de novos métodos e práticas que potencializem a relação da criança com a linguagem oral e escrita, na busca de solucionar o fracasso escolar na alfabetização. Não podemos desconsiderar que a criança é um ser ativo, capaz de construir conhecimento a partir da interação com o outro e com o meio na qual esta inserida.  

Brincar é um movimento que cria significados. A neurociência mostra que a atividade de brincar envolve várias áreas do cérebro e promove redes neuronais complexas, conduzindo a criança a cumprir com a herança genética da espécie, que servirão como base para aprendizagens futuras de acordo com os estudos de Lima (2016). Assim, o brincar não é perca de tempo. Que possamos trazer a ludicidade para o contexto educacional em uma prática pedagógica intencional e articulada com as contribuições teóricas existentes.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, C. FORTUNA. T.R. O brincar livre na sala de aula de Educação Infantil: concepções de alunas formandas da Licenciatura em Pedagogia.   Disponível em:< http://periodicos.uesb.br/index.php/aprender/article/viewFile/5487/pdf_40. >.

ESTEBAN, M. T; ZACCUR.E. (orgs). Professora Pesquisadora – uma prática em construção. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

FRADE, I. C. A. da S. Alfabetização hoje: onde estão os métodos? Presença Pedagógica. Belo Horizonte: V. 9, n. 50. Mar/abr2003.

KISHIMOTO, TizucoMorchida. (Org.). et.al. O brincar e suas teorias. 1.ed. São Paulo: Cencage Learning, 1998.

LIMA, Elvira Souza. Fundamentos da Educação Infantil. São Paulo: Inter Alia Cominucação e Cultura, 2016.

VYGOTSKY,L. S.AFormaçãosocialdamente.7. ed.SãoPaulo:Martins Fontes,2007.

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