O LÚDICO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Por Angele Conceição dos Anjos Pena | 29/07/2023 | Educação

O lúdico como ferramenta pedagógica para o ensino da matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Ângela Conceição dos Anjos Pena

Gleyce Dayane de Oliveira Duarte

José Augusto Lima Duarte

RESUMO

Objetivou-se com esta pesquisa relativizar as causas que interferem no processo de aquisição do lúdico como ferramenta no ensino da matemática aos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental, proporcionando uma reflexão sobre as dificuldades detectadas. Utilizou-se como método de pesquisa uma busca bibliográfica resgatando informações que fundamentassem as discussões sobre a temática. Verificou-se que uma das causas mais comuns para o insucesso no processo é que tanto corpo técnico e professores ainda resistem em adotar os métodos que dinamizem e proporcionam um melhor aprendizado. Conclui-se que a partir de uma qualificação adequada, de compromisso profissional de vontade de modificar as estruturas tradicionais do ensino mais significativo aos alunos, o lúdico é indispensável para uma mudança no setor educacional.

Palavras-Chaves: lúdico, ensino-aprendizagem, Ensino Fundamental.

 

INTRODUÇÃO

 

A finalidade desta pesquisa é verificar as dificuldades da aprendizagem da matemática nas primeiras séries do ensino fundamental e por meio da mesma centralizar as questões que venham contribuir para o nosso estudo. Atualmente a educação exige que educadores sejam multifuncionais, não apenas filósofos, sociólogos, psicopedagogos, recreacionistas e muito mais, para que se possa desenvolver as habilidades e a confiança necessária em nossos educandos, para que tenham sucesso no processo ensino-aprendizagem e na vida. Sabe-se que o espaço escolar pode e deve transformar-se em um ambiente agradável, prazeroso, de forma que as brincadeiras e jogos permitam ao educador alcançar sucesso em sala de aula. Percebe-se que a dificuldade no ensino de matemática nas séries iniciais do ensino fundamental é um problema que interfere na aprendizagem do educando, o desinteresse pelos cálculos matemáticos e a indisciplina fazem parte do cotidiano escolar e muitos educadores sentem-se desmotivados por não conseguirem resultados satisfatórios.

Diante desta problemática questiona-se o lúdico como ferramenta pedagógica fundamental para o ensino da matemática no 2º ano do ensino fundamental. Por que envolver o lúdico no ensino da matemática? Por que os alunos não gostam de matemática? Quais as dificuldades encontradas pelos alunos para aprender matemática? De que forma o professor está utilizando o lúdico como ferramenta metodológica? Os alunos demonstram interesse nas aulas em que o professor utiliza o lúdico? Como a família avalia as aulas de matemática em que o professor utiliza o lúdico?

Para a construção de uma sociedade melhor, mais justa e menos violenta, o papel dos educadores é fundamental, uma vez que é latente a possibilidade de resgatar no dia a dia escolar, valores essenciais adormecidos. Para isso, os jogos e brincadeiras atrelados aos conteúdos conceituais e aos temas transversais são indicativos seguros e confiáveis. Dessa forma concorda-se com Vygotsky e acredita-se que jogos e brincadeiras são vitais para uma infância sadia e para um aprendizado significativo, pois é através do lúdico que ela abandona o seu mundo de necessidade e constrangimento e desenvolve-se criando e adaptando uma nova realidade à sua personalidade aumentando sua autoestima e o ato de aprender. Acredita-se que por meio de ideias novas o encaminhamento de atitudes lúdicas à prática educativa, torna-se relevante para o desenvolvimento intelectual da criança e formação de hábitos e atitudes.

 

O lúdico como ferramenta pedagógica para o ensino da matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental

 

Segundo a visão dos autores embasamos a presente pesquisa ao tema proposto prevalecendo o pensamento dos autores. Tais autores são: Vigostky, Piaget, Santa Marli Pires dos Santos e Celso Antunes. Ressaltamos a contribuição dos PCNs, legislação e outros que de certa forma contribuíram para nossa pesquisa. Assim para Kishimoto (2009 p. 28)“(...) ao atender necessidades infantis o jogo torna-se forma adequada para aprendizagem dos conteúdos escolares (...)”, desta forma percebe-se que é pelo jogo que as crianças se revelam. Pode-se perceber que o papel do educador é proporcionar ao educando uma forma de aprendizagem que possa incentivá-los e ao mesmo tempo dar significado para sua vida escolar. Utilizando-se assim o lúdico como metodologia que favoreça o processo ensino-aprendizagem para a criança podendo assim formar futuros cidadãos críticos e conscientes. Sobre isso Piaget adota o uso metafórico vigente na época da brincadeira como conduta livre, espontânea que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá.

O autor afirma que se deve deixar a criança de livre vontade para brincar em hipótese alguma o professor obrigue o mesmo a participar dos jogos e brincadeiras que o educando sinta-se a vontade para expressar seu conhecimento. O jogo proporciona à criança a satisfação de aprender correspondendo à necessidade e interesse pelo ato de brincar desenvolvendo principalmente o físico efetivo cognitivo moral e social.

 

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como divertimento, pois no aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental prepara para um estado interior fértil, facilita o processo de socialização, comunicação e expressão e construção de conhecimento. SANTA MARI (1997, p. 12)

 

A autora acima afirma que a escola tem que se preocupar com a aprendizagem, mas o prazer tem que ser maior cabendo ao professor à responsabilidade de aliar as duas coisas. [...] A maneira como a criança encara o jogo é para um bom observador a medida de seu valor. Jogos valiosos são os que despertam interesse, envolve progresso expressivo no desempenho dos participantes (ANTUNES, 1997, p. 15).

 

De acordo com o autor a educação através do lúdico proporciona a realização de atividades de auto expressão e socialização entre os educandos que o discente possa compreender sua estrutura mental e possa encaminhá-lo de maneira correta. Para Santa Marli (1997) a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora com uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, expressão e construção do conhecimento.

O jogo na educação matemática parece justificar-se ao introduzir uma linguagem matemática que pouco a pouco será incorporada aos conceitos matemáticos formais, ao desenvolver a capacidade de lidar com informações ao criar significados culturais para os conceitos matemáticos e estudo de novos conteúdos.

A matemática, dessa forma, deve buscar no jogo (com sentido amplo) a ludicidade das soluções construídas para as situações-problema seriamente vividas pelo homem. Para Piaget (1967), o jogo é a construção do conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as crianças desde pequenas estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. As crianças ficam mais motivadas a usar a inteligência, pois querem jogar bem, sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente. É importante citarmos que segundo Piaget a aprendizagem só acontecerá se a escola for um ambiente rico e prazeroso para a criança e que todos os conhecimentos a serem adquiridos sejam significativos e estejam de acordo com a realidade dos alunos.

Quando o professor não leva em consideração a realidade que envolve o aluno e seu próprio desenvolvimento físico, afetivo, social, intelectual ao ensinar, certamente não terá êxito no processo ensino-aprendizagem, logo os alunos irão sentir-se desestimulados e incapazes de aprender determinada tarefa, quando na verdade a incapacidade é do professor de não saber adequar esta às fases do desenvolvimento que a criança passa.

A educação dentro do pedagógico vem se renovando a cada dia através de novos métodos e técnicas que as escolas de ensino fundamental vêm trabalhando ao longo dos anos buscando uma verdadeira transformação no ensino e uma significativa interação entre professor, aluno, conteúdo, meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o processo ensino aprendizagem.

Conscientes da necessidade de alcançar resultados satisfatórios, educadores buscam cada vez mais instrumentos que sirvam de recursos pedagógicos para melhorar o processo de ensino aprendizagem, pois utilizar a ludicidade no ensino da matemática é uma maneira para superação de tais obstáculos.

Sabe-se que o lúdico surgiu desde os tempos remotos como instrumento de auxílio do ensino nas escolas, contribuindo na formação da criança no seu desenvolvimento físico, social, emocional e intelectual, sendo de competência do educador compreender estas fases do desenvolvimento e encaminhá-lo dentro do processo educativo, adequando o lúdico com sua faixa etária proporcionando o ambiente rico e prazeroso, despertando assim o interesse e a satisfação de aprender ludicamente.

 

Em estágio mais avançado, as crianças aprendem a lidar com situações mais complexas (jogos com regras) e passam a aprender que as regras podem ser combinações arbitrais que os jogadores diferem; percebem também que só podem jogar em função da jogada de outro (ou da jogada anterior se o jogo for solitário). Os jogos com regras têm um aspecto importante, pois o fazer e o compreender constituem faces de uma mesma moeda PCNs, (1997, p. 49).

 

De acordo com os PCNs, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e aspectos curriculares que se deseja desenvolver. Ilude-se quem acha que o jogo serve apenas para brincar, pois dentro dos diversos sempre há aprendizagem, na educação torna-se um desafio interessante. Os alunos trazem para a escola conhecimentos, ideias, construções feitas através das experiências que vivenciam situações que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por analogia (jogos e símbolos). Além disso, possam compreender e a utilizar convenções e regras que serão empregadas no processo ensino aprendizagem.

A brincadeira é de extrema importância principalmente nos primeiros anos de vida, pois é nesse estágio que a criança vai crescendo como ser humano descobrindo seu corpo e seus movimentos, mas ela não sabe o que significa porque são estímulos da própria natureza humana, e que contribuem para o seu desenvolvimento intelectual, moral e social.

Verifica-se que o jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio estimulador das inteligências. Quando entretido em um jogo, a criança é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem medo, graças a ele pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio de ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das regras, mas sem que fique alienado a elas.

Segundo Celso Antunes (1998 p. 17), brincando com sua espacialidade, a criança se envolve na fantasia e constrói um atalho entre o mundo inconsciente onde desejaria viver, e o mundo real, onde precisa conviver. A educação lúdica é inerente na criança, no adolescente e no adulto, o que nos deixa transparecer claramente o prazer e entusiasmos por atividades que lhes propiciem satisfação perante suas necessidades e anseios na busca de conhecimentos. Como afirma os PCNs (1997 p. 48), além de ser um objetivo sociocultural em que a matemática está presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos. Nota-se que para as crianças pequenas, os jogos são as ações que elas repetem sistematicamente, mas que possuem um sentido funcional, isto é são fonte de significados e, enfim possibilitam compreensão, geram satisfação, formam hábitos que se estruturam num sistema.

Assim afirma a LDB: Ensinar requer dispor e mobilizar conhecimentos para improvisar, isto é agir em situações não previstas, instruir, atribuir valores e fazer julgamentos que fundamentem a ação da forma mais pertinente eficaz possível (LDB 1996).

Segundo a LDB, é importante que os professores saibam como são produzidos os conhecimentos que ensina, isto é, que tenham noções básicas do contexto e dos métodos de investigação usados para que não se tornem meros repassadores e que os mesmos devem manter-se atualizados e fazer opções em relação aos conteúdos que ensinam. Portanto não se pode esquecer ainda que é papel do professor selecionar, planejar organizar, articular experiências para que os alunos avancem em sua aprendizagem.

 

CONCLUSÃO

 

Ao longo de nossa pesquisa procurou-se analisar a importância do papel da escola, quando se considera o lúdico (jogo) quer como instrumento ou objeto da educação; as atividades de jogos ou brincadeiras era um esforço de reflexão que no início foi marcado por uma série de preconceitos, onde utilizar o jogo na educação era transformar a escola em “centro de diversão” onde o aluno não adquiria nenhum conhecimento. Porém os jogos eram considerados como passatempos, sem valor educativo. Com o passar do tempo, a educação foi adquirindo autonomia e conquistando espaço e o que era considerado como brincadeira sem valor, tornou-se um brincar educativo e significativo, onde a criança começa a adquirir espaço para expressar-se livremente através de sua imaginação, a educação realizada com jogos didáticos foi considerada como “pedagogia da imaginação” havendo relação entre o lazer, a escola e o processo educativo.

Através de jogos a criança aprende com mais facilidade, exercitando sua mente de forma livre e espontânea, adquirindo autonomia dentro da sociedade através de troca de experiência. O estudo realizado nesta pesquisa pretende oferecer uma contribuição aos futuros educadores para que possam efetivar uma educação de qualidade através do lúdico, tornando suas aulas dinâmicas e prazerosas transformando em uma aprendizagem significativa tanto para o aluno como para o professor, desenvolvendo seus aspectos sociais, culturais e intelectuais. Portanto a escola precisa resgatar um ensino de qualidade, sabendo explorar o potencial educativo da criança considerando a educação lúdica (jogo), uma necessidade para trabalhar para a mudança do futuro, através da ação e a necessidade de vivenciar esse processo de mudança.

 

REFERÊNCIAS 

ANTUNES, Celso, 1937. Os Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências / Celso Antunes. Petrópolis-RJ: Vozes, 1998.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org.). O jogar e suas teorias. São Paulo: Pioneiro, 1998.

___________, Tizuko Morchida (Org.). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação (Org). São Paulo: Cortez, 1996.

LDB, 1996. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Referencial Curricular Nacional para a Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEC, 1997.

PCNs, Brasil, Brasília secretaria de educação fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Primeiro ao quarto ciclos do Ensino Fundamental: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.

PIAGETJean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar,1978.

SANTOS, Santa Marli Pires (Org). O Lúdico na Formação do Educador. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

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