O Líder No Processo De Gestão
Por Aldo Marinho Dias de Souza | 01/05/2008 | CrescimentoQuem nunca enfrentou uma situação difícil na vida? Quem não se sentiu
desanimado diante de um problema que parecia não ter saída? Essa fase na
vida, em que tudo parece dar errado, é uma espécie de processo de
aprendizado obrigatório para todos os seres humanos. Há quem diga que os
privilegiados financeiramente, aqueles que nunca tiveram problemas de
falta de dinheiro, não sabem realmente o que é ter problemas na vida.
Contudo, esse é um terrível engano.
É alto o índice de separações conjugais entre o seleto grupo dos
abastados, por exemplo. Logo, é medíocre pensar que a situação financeira
é o fiel da balança, é a divisão entre alegria e tristeza, entre sucesso e
fracasso profissional. A natureza, sábia em suas ações, consegue escolher
caprichosamente, somente aqueles problemas que realmente afetarão a
pessoa.
Ao contrário dos homens, ela não erra em suas ações. É justamente desse
efeito que decorre a mania que muitos profissionais têm de efetuar
comparações negativas entre si. Trata-se de uma espécie de disputa para
ver quem tem mais desgraça na vida.
A competição, sentimento nato do ser humano, acaba por prevalecer mesmo
nos momentos que em deveria ser substituída pela união. Ao invés de
disputar, o correto seria o auxílio mútuo. Em vez de criticar, melhor
seria perguntar como você pode ajudar. Entretanto, em qualquer tipo de
crise, é a capacidade que a própria pessoa tem de aceitar a ajuda
oferecida que faz a diferença. É a capacidade de reversão de uma situação
negativa em positiva, de transformação de um problema em uma fonte de
motivação para o desenvolvimento que determina o resultado final.
Resumindo: diante de um problema, todas as ajudas oferecidas pelos amigos
não produzirão qualquer efeito sem que a própria pessoa queira promover
uma mudança real de comportamento.
Por que alguns problemas só aparecem durante uma crise?
Muitos empresários relutam em tomar atitudes mais drásticas quando se vêem
diante de uma crise iminente. Nestes casos, costuma-se utilizar o
princípio da represa, na tentativa de estimular a pessoa a partir para a
ação.
Visualize uma represa que está completamente cheia. O que você vê é um
lindo espelho de água, uma espécie de planície aquática onde se pode
navegar com tranqüilidade e sem qualquer tipo de obstáculo. Entretanto,
imagine o que acontece quando uma seca atinge aquela região e o nível da
represa se reduz drasticamente. Agora, o que se vê são inúmeros galhos e
troncos de árvores que foram submersas durante a inundação daquele lago.
A navegação agora passa a ser perigosa por causa de um tronco submerso que
pode colocar em risco a sua embarcação. Nesta hora, existem dois caminhos
distintos. O primeiro é fazer de tudo para que o lago recupere seu nível
máximo. Se isso acontecer, todos os galhos e troncos sumirão e a situação
volta ao que era antes. Porém, uma outra alternativa é aproveitar o acesso
àquelas árvores e promover alterações radicais na maneira de navegar. Isso
requer uma adequação dos barcos ao novo perfil do lago.
Outra alternativa é a retirada dos galhos e troncos que traz como vantagem
principal a adequação do lago às necessidades dos seus usuários. Por esta
segunda opção, o esforço da retirada dos galhos é compensado pela volta da
capacidade de navegar, ainda que em níveis mais baixos de água no
reservatório.
Com as empresas também é assim. Quando uma crise chega, muitos gestores
preferem apostar na retomada do crescimento como uma tentativa de esconder
os problemas que existem na empresa ao invés de aproveitar a situação,
justamente para tomar atitudes que embora nem sempre sejam perceptíveis,
podem colocar em risco todo o negócio da organização.
Como conviver com pessoas que estão passando por uma crise?
Trabalhar com pessoas que enfrentam problemas na vida é uma tarefa
complicada, mas não impossível. Isto por que, na maioria dos casos, as
soluções estão disponíveis para a própria pessoa. Basta apenas serenidade
para enxergá-las de forma clara e precisa.
Entretanto, por que isso acontece? Simples. Porque a pessoa que está em
envolvida no problema não consegue realizar uma análise fria e coerente da
situação. Tudo que era simples há alguns segundos, agora parece ter se
transformado no mais complexo dos problemas.
A auto-estima cai em patamares mínimos e a visão se torna confusa e
segmentada. Confusa porque pequenos problemas passam a ser tratados com o
mesmo critério e dedicação das grandes situações. A pessoa perde a noção
de equilíbrio e grandeza entre os problemas que enfrenta. Já a visão
segmentada limita a pessoa a somente perceber os pontos negativos.
Por conseqüência, nada de bom que aconteça tem força suficiente para
servir como elemento de motivação. Para os amigos, essa é uma situação
terrível. Em muitos casos o sofrimento por solidariedade acaba sendo maior
do que a própria pessoa está passando.
A recomendação para as pessoas que tem amigos passando por situações
difíceis que, primeiramente, não falseiem a realidade na tentativa de
animar o colega. O melhor é justamente auxilia-lo a compreender a
gravidade da situação. O segundo passo é demonstrar que encarando a
realidade é que a pessoa poderá conseguir perceber o caminho da reversão.
Resumindo: amigos não ajudam quando deturpam a realidade, mas quando
conseguem utilizá-la para fazer o colega enxergar as oportunidades que
ainda restam.
A crise pode ser uma boa escola para fortalecer o espírito empreendedor?
Basta perguntar a quem já superou uma forte crise na vida para aprender
duas grandes lições. A primeira é que não há um problema sequer que possa
ser resolvido quando se age movido pelos sentimentos e não pela
racionalidade. Segundo: que toda crise também é uma grande lição.
Por exemplo, foi o que aconteceu com o Manoel. Sua empresa era bem
sucedida e ele tinha orgulho da posição que havia conquistado em seu
mercado de atuação. Sua empresa crescera lentamente, mas de maneira
sólida, ao longo de vários anos.
Manoel tinha uma estrutura invejável e uma equipe muito bem equipada.
Entretanto, o vento da crise fez com que a empresa fosse à falência. No
início, sua postura era compreensível. A derrota provocou um baque
violento em seu espírito empreendedor. Acontece que, na medida em que o
tempo foi passando, ele também foi percebendo que cometera muitos erros, e
em uma nova oportunidade não iria repetir.
Ele também percebeu que tinha capacidade para muito mais do que apenas
para a área na qual atuava antes. Ao invés da sensação de incapacidade,
ele encarou o espelho e orgulhoso disse "agora você está preparado para
vencer. Você já aprendeu o quanto é ruim perder".
Infelizmente, no meio empresarial, nem sempre as pessoas se deixam
envolver pela lição de crise e otimismo do recomeço. Embora ainda tenham
muito potencial a ser explorado, preferem resignar-se a eterna lamentação
sobre como a vida dá voltas ou, sobre como poderiam ter sobrevivido se
tivessem agido de forma diferente no passado.
Resumindo: a saída não é perguntar a qualquer pessoa que já enfrentou uma
crise para saber que após a tempestade vem a bonança, mas sim, perguntar a
si mesmo se você está disposto a realmente aprender esta lição.
Qual o primeiro passo a ser dado para superar uma crise?
Não se pode afirmar que enfrentar uma crise faz parte do processo de
aprendizado de um bom empreendedor. Não basta reunir pessoas que já
passaram por dificuldades financeiras para ter certeza que um
empreendimento será bem sucedido.
Acontece que esse grupo de profissionais é constituído por pessoas que
trazem na alma marcas de insucessos e problemas que mudaram de uma hora
para outra toda sua vida. Para alguns, foi um revés na cotação do cambio
que mudou o rumo de seus negócios. Para outros, foi uma mudança radical no
mercado. Tanto faz. Independente do motivo, essas pessoas sabem o quanto é
amargo o caminho da reversão de uma situação negativa.
Entretanto, ao mesmo tempo elas também olham para trás com certo ar de
gratidão. Isso mesmo! Nem sempre uma situação difícil gera apenas
conseqüências negativas. Em meio ao caos, sempre há um importante
aprendizado a ser aproveitado. O problema é que alguns indivíduos preferem
assumir o papel de eterna vítima e chegam ao final dos seus dias
reclamando que "se tivesse acontecido isso..." ou "se algo não acontecesse
eu estaria em uma situação bem diferente hoje...".
De forma prática, um processo de crise exige decisões firmes de um
profissional. Lembre-se: quem reluta em mudar uma realidade pode estar, na
verdade, parcialmente satisfeito com aquela situação. Isso significa que
lamentações, desculpas e justificativas não constroem solução, é por isso
que quando a crise chega, somente uma decisão é necessária para mudar o
rumo das coisas: ou você está do lado do problema ou do lado da solução.