O lamentável costume de ser.
Por Edjar Dias de Vasconcelos | 11/06/2012 | PoesiasO lamentável costume de ser.
Esse lamentável costume.
De viver.
Habituei-me.
Foi à única forma.
Vivendo acostumei-me.
Tive que acostumar.
Não se tinha outra perspectiva.
Faltou-me perspicácia.
Se tiver outro Big Bang.
Quero Nascer na Dinamarca.
Cansei desse lado de cá.
Tornei-me.
Naturalmente.
O jeito de ser.
A forma de viver.
E sem saber.
De alguma forma.
Fui indo.
Eu tive que ir.
Não me restou outro caminho.
Sem consciência fluindo.
Tornei-me.
Vários outros.
E sem saber.
Solitariamente.
Todos eles.
Foram mortos.
E aquele que sobrou.
Perdeu-se por trilhos.
Sobre pedras.
Às vezes areias.
Feriam os pés.
Perdido na selva.
Na busca do cosmo.
Fui fluindo.
Desastrosamente.
Esgotando-me.
Perdendo.
Apenas a fluência.
Terminando.
O recomeço.
Esgotou-se.
Era terrível.
O vício de ser.
De deixar de ser.
De serem outros.
E de ser a si próprio.
Fui me conduzindo.
Até a morte chegar.
O escuro escondeu.
O brilho das estrelas.
Senti medo.
Pavor.
Às vezes chorava.
O sorriso misturou.
Com lágrimas.
Sem entender a dor.
A finalidade da alegria.
Sem chegar.
Em algum lugar.
A vida finalizou.
Vive-se bastante.
Como se fosse necessário.
Sente-se a ondulação.
Com a natureza.
Vai-se desaparecendo.
E todos os outros.
Por último o próprio.
Finalizou-se.
Acabou o costume de ser.
O jeito de ganhar.
De também perder.
Apagou-se.
A não dialética.
Fulminou-se.
A consciência noturna.
É a finalização.
Restaram.
Para os que ficaram.
Sombras.
A ficção do ser.
Que teve que ir.
É o lamentável costume.
O habito de perder
A forma de sentir.
O jeito de enganar.
Vai partindo sem saber.
Sem sentir e sem ver.
Sendo, deixando de ser.
Sem ser.
Vendo.
Sem ver.
Entendendo.
Sem entender.
Apenas.
O não saber.
Saudade.
De tudo.
Que fomos sem.
Sermos.
É o lamentável.
Costume.
De deixarmos.
De sermos.
É o habito de partir.
O costume de deixarmos.
A forma de passar.
Entre todas as coisas.
Não sobrou sequer uma coisa.
A não ser o tempo.
Que passou.
Que deixou de existir.
O costume.
Já não é mais costume.
O ser deixou de fluir.
Perdeu-se o habito.
Não se pode mais.
Viver.
Foi se o tempo.
Sobrou-se apenas.
Nuvens negras.
E o escuro.
O congelamento final.
A grande bola movimentando solitariamente no espaço.
Dançando sem canção.
Sem rumo, presa pela sua gravidade, sem luz.
Concentrando novas energias e esperando o novo Big Bang acontecer.
Quanto a mim, apenas uma partícula dessa eternidade, perdida na poeira química desse imenso universo.
Edjar Dias de Vasconcelos.