O Interesse Popular Sempre à Esquerda

Por Jean Tanzerino | 04/03/2008 | Política

Os bastidores da política, no Continente Americano, estão consideravelmente mais agitados do que normalmente, e tudo parecia bem previsível para qualquer pessimista de plantão.

O início das animosidades

A estatização da Petrobrás, por Evo Morales, sem qualquer indenização à empresa brasileira; a estranha e tendenciosa manipulação das tratativas de libertações de reféns com as FARC, pelo militar Hugo Chavez, entre debates calorosos com o Presidente colombiano Álvaro Uribe; o controverso (para não dizer ridículo) pedido aos Estados Unidos para deixarem de considerar as FARC uma instituição terrorista, também realizada pelo Presidente e Militar venezuelano. Todos estes fatos já demonstravam uma grande instabilidade política na América do Sul e uma conseqüente crise política com frutos ainda não mensuráveis.

O estopim foi aceso

Em 1º de março de 2008, tropas colombianas realizaram um ataque militar contra um grupo das FARC em território equatoriano, ou seja, do outro lado das margens do Rio Putumayo, que divide os dois países.

Tal fato feriu seriamente o princípio da soberania territorial, adotado entre a maioria dos países mundiais, causando grande descontentamento do Equador e, por conseqüentes interesses políticos e, supostamente, econômicos, da Venezuela. Hugo Chaves e Rafael Correa já procederam com o fechamento dos consulados colombianos e expulsão dos respectivos diplomatas de seus países, bem como reforço militar em suas fronteiras.

O governo brasileiro emitiu declarações no sentido de que vai realizar os esforços necessários para impedir confrontos militares entre os países envolvidos, fato não muito encorajador tendo em vista a posição brasileira um tanto passiva perante a expulsão da Petrobrás por Evo.

A revolução pelo povo?

Já foi-se o tempo dos revolucionários populares, dos socialistas oriundos do seio do povo. Tempos românticos, para não dizer utópicos.

O tempo nos mostrou os devidos exemplos: Lula, o popular eleito para promover as grandes mudanças é o mesmo que luta pela preservação da absurda carga tributária e pela absolvição de políticos corruptos; Evo, o indígena eleito para lutar em prol dos nativos e menos favorecidos foi o primeiro a correr para ficar com o ouro negro em suas mãos, sem contar que, igualmente a Chavez, tenta impor uma Constituição absurdamente ditatorial e brutalmente dilacerante dos direitos e liberdades democráticas; Chavez, o grande democrata, ainda deixa escapar alguns soluços de origem militar, não renovando concessões de telecomunicações dos que não se curvam ao seu poder absolutista, defendendo grupos terroristas perante a comunidade internacional, grupos estes que é acusado de financiar.

Portanto, não se deve crer mais nos primeiros que tomam as dores do povo prometendo a revolução que nunca se concretiza.

Uribe tem a chance de consolidar-se perante a comunidade internacional se conseguir desmantelar as FARC; Bush está "de olho" nas reservas petrolíferas venezuelanas e resolve apoiar Uribe; Chavez não quer perder seus investimentos nas FARC e sonha em tornar-se o grande líder político latino; Correa, ora acusado de ignorar e abrigar as FARC em seu território, tem a chance de desfazer essa identidade política negativa em prol da soberania territorial de seu país.

Alguém consegue vislumbrar a lutar pelo povo diante deste turbilhão de interesses pessoais, políticos e econômicos? Creio que não. Se alguém conseguir, me avise.