O impeachment e a monarquia

Por Laércio Becker | 14/11/2016 | Política

15 de novembro: só uma republiqueta de bananas tem o desplante de criar um feriado para comemorar um golpe, eufemisticamente chamado de "proclamação". Deodoro: só uma republiqueta de bananas dá nome de golpista a avenidas. Querem feriado? Adotem então o 16 de dezembro, aniversário da elevação do Brasil à categoria de Reino. Querem nome de avenida? Dêem então o nome da Princesa Isabel ou do Conde d'Eu.

15 de novembro é dia de reflexão. Num regime parlamentarista, uma crise política como a de 2015-2016 se resolveria de forma mais rápida e menos traumática. Em vez de passarmos um ano sangrando em debates jurídicos sobre a ocorrência ou não de crime de responsabilidade, tudo se resolveria em voto de confiança ou de desconfiança, com mudança do primeiro-ministro e seu gabinete. Não um parlamentarismo qualquer, mas monárquico, cujas vantagens já resumi aqui.

Na condição de monarquista, confesso publicamente que um de meus maiores dilemas foi: apoiar ou não o impeachment? É que, por um lado, havia necessidade de desinfecção. Por outro, o impeachment pode levar as pessoas a se conformarem com o fato de que a doença tinha tratamento - ainda que traumático - no presidencialismo. 

Na realidade, o impeachment resolve a crise assim como amputar o dedo cura a unha encravada. Ainda assim, há quem possa entender que seu uso recorrente (duas vezes em 23 anos) acaba por legitimar o tratamento, sem levar em conta que em breve não haverá mais dedos. Na realidade, o impeachment acaba por legitimar o próprio presidencialismo e, por conseqüência, a república.

Por isso, na teoria, o ideal de um monarquista até poderia ser torcer contra o impeachment, para que a incapacidade do presidencialismo escancarasse de vez a ilegitimidade da república. No entanto, nesta última crise, havia prioridades a observar. Se a república é um cadáver insepulto, o partido que estava no poder é um urubu que se alimentava de suas entranhas. Cumpre ao monarquista defender o sepultamento do cadáver, mas antes disso foi necessário espantar o urubu.

Acabei de supor que a república é um cadáver, mas na realidade ela é uma assassina, pois há 127 anos matou o futuro do Brasil, por asfixia. 15 de novembro é dia de luto.