O Ideal E O Real Na Formação Do Administrador
Por Orlando Rodrigues | 06/09/2006 | AdmO presente artigo teve como propósito apresentar o resultado da pesquisa realizada em IES particulares que ministram o curso de administração, culminando em dissertação de mestrado apresentada no curso de mestrado em ciências da educação da Universidade Católica de Goiás, que teve como finalidade conhecer melhor, aspectos do processo de formação do administrador, identificando elementos do contexto social, especialmente do mercado e da legislação educacional que delineiam o perfil de profissional egresso desse curso, verificando a correspondência entre esse perfil desejado e as práticas curriculares e pedagógicas desenvolvidas naquelas instituições.
O ensino da administração por muito tempo proporcionou a formação de profissionais prontos e acabados para o atendimento das demandas de mão de obra qualificada, que pudesse fazer frente ao desenvolvimento industrial do país. Ao longo dos anos, o modelo de ensino tecnicista, estritamente voltado para a formação de profissionais, com profundo conhecimento técnico, prevaleceu nos projetos pedagógicos das instituições formadoras, garantindo assim, a ocupação, pelos profissionais recém formados, dos postos de trabalho então oferecidos.
O fenômeno da globalização, a reestruturação produtiva, a reordenação econômica mundial e as mudanças em torno das concepções de trabalho e emprego, entretanto, passou a exigir das instituições de ensino superior, constante readequação de seus projetos pedagógicos, visando formar profissionais para as novas demandas e necessidades requeridas pela sociedade e pelo mercado de trabalho, implicando em novas competências e habilidades.
Os novos modelos de formação baseados em habilidades e competências, deixam de lado a capacitação centrada na superespecialização, e passam a privilegiar a formação generalista, de múltiplas habilidades e constante adaptabilidade às mudanças. Em se tratando de ensino superior, há que se considerar que uma formação meramente tecnicista, de certa forma aniquila os ideais acadêmicos de produção do conhecimento e reduz a graduação à condição de terceira etapa da educação básica. Por outro lado, não há como fugir da nova realidade, caracterizada por mudanças permanentes a exigir dos profissionais constante aperfeiçoamento e desenvolvimento.
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais abandonam a idéia de adoção de um currículo mínimo para a formação do administrador, que até então proporcionava a formação para um trabalho especializado e flexibiliza, às instituições de ensino superior, os critérios para elaboração de seus projetos pedagógicos, visando viabilizar a implantação de novos cursos que privilegiem a formação baseada em competências intelectuais e múltiplos perfis profissionais para o atendimento das demandas sociais e a dinamicidade do mundo do trabalho. As novas orientações curriculares e a flexibilização, no entanto, encontraram boa parte das instituições de ensino de administração em condições organizacionais e pedagógicas insuficientes para atender às propostas de inovação oferecidas. É essa situação que esse trabalho pretendeu desvendar.
Decorrente da pesquisa documental, da pesquisa de campo, dos questionários e das observações realizadas foi possível constatar que as instituições investigadas, de maneira geral, têm procurado adaptar seus projetos pedagógicos, à orientação geral e à flexibilização curricular prevista nas Diretrizes Curriculares Nacionais, principalmente no que se refere à organização dos cursos. Entretanto, os planos de ensino destas instituições ainda privilegiam o estabelecimento de objetivos quantificáveis, valorizando a formação conteudista e mecanicista. Numa apreensão de conjunto, observou-se que a adequação dos cursos às Diretrizes é um procedimento meramente formal, não tendo ocorrido mudanças de fundo nos currículos e nas metodologias de fundo, sem, alterar, portanto, o perfil formativo antigo.
Com efeito, as práticas pedagógicas ainda são em sua maioria baseadas em modelos tradicionais de ensino, com aulas expositivas, cujos conteúdos, na maioria das vezes são repassados aos alunos, pelos professores, de maneira positivista, abrindo-se pouco espaço para discussões e reflexões. Há que se considerar que esforços isolados existem e são colocados em prática com o intuito de mudar a aula, tornando-a mais participativa, interessante e motivadora. No entanto, podem ser considerados como exceções à regra e em linhas gerais, não são vistos como práticas inovadoras. Os professores destas instituições, em sua maioria, especialistas, demonstram-se satisfeitos com a profissão e esperam que seus alunos internalizem os conhecimentos por eles repassados.
A pesquisa indicou que a formação do administrador nas instituições investigadas ainda não atende os ideais previstos nas diretrizes curriculares, em face de fatores relacionados à metodologia de ensino e comprometimento com o processo de aprendizagem por parte dos acadêmicos. Repensar ações organizacionais e pedagógicas nos parece ser um grande desafio para as instituições objeto da pesquisa e provavelmente um bom número e instituições do país. Professores e alunos devem estreitar seu relacionamento no sentido de conduzir o processo de ensino e aprendizagem em uma via de mão dupla, privilegiando a troca de informações, o desenvolvimento do pensar crítico e reflexivo em torno dos conteúdos que são abordados no contexto da sala de aula.
Os métodos tradicionais de ensino, com aulas expositivas, embora bastante eficazes em termos de transmissão de conteúdo se o professor for bem preparado, deixam pouco espaço ao estudo ativo e à produção do conhecimento pelo aluno. É necessária a introdução de métodos mais inovadores baseados em atividades de ensino que levem ao desenvolvimento do pensamento teórico e à participação dos alunos, integrando-os num processo em que os alunos fazem parceria na busca do conhecimento. Professores e alunos precisam ser encorajados a desenvolver um trabalho de equipe, onde o professor, seja o mediador do conhecimento para auxiliar o aluno a estabelecer uma relação cognitiva ativa com esse conhecimento, que é o próprio processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, torna-se possível articular os esforços de alunos e professores no sentido de auxiliar a instituição na revisão de seus projetos pedagógicos e adequá-los aos perfis preconizados. Em meio a essas considerações, cumpre ressaltar a importância da pesquisa, enquanto componente da administração.