O ícone da juventude
Por Reinaldo Müller (Reizinho) | 24/08/2011 | CrônicasDesde os anos oitenta, o jovem começou a ser mitificado. A obsessão pela juventude em nossa sociedade cria uma dupla preocupação. Por um lado, no mundo adulto se espalha a necessidade de exteriorizar uma estética como uma garantia de reconhecimento social e revitalização do frenético consumo capitalista.
De um outro lado, demagogicamente, muitas organizações e instituições colocam os jovens como uma preocupação central, passando a ser um ponto de referência inesgotável do discurso público na política e nos meios institucionais de comunicação. Perante esta situação, a juventude está passando por uma noite escura. Ela foi usada em sua estética e imagem.
Apesar do mito cultuado, os jovens são deixados de fora de determinados espaços sociais e do imperativo cultural crucial para o seu crescimento pessoal-profissional e das necessidades fundamentais para o desenvolvimento de sua personalidade. A cidade dorme à noite e a luz do dia começa a esconder coisas...
O jovem é lançado nos elementos restritivos do dia laboral. A noite é o seu espaço, seus pais estão ausentes. Não há tempo ou censura. A noite tudo é divertido porque ela descobriu coisas de autonomia... É também porque há duas personalidades:de um lado, autônoma e fantástica, e de outro lado, a imaturidade e a insegurança ...
A noite vira para os jovens em motes de rebelião. Ergue-se um espaço de identidade onde os meninos podem protestar contra um mundo adulto que os impede de inclusão neste mesmo mundo com a colocação de obstáculos difíceis e alguns até intransponíveis....
A possibilidade perversa de contratos de trabalho temporários, a exploração dos estagiários, as condições precárias de mão-de-hora, a baixa remuneração, a baixa qualificação de muitos jovens sem qualquer formação de ensino profissionalizante, culminou em profissionais descartáveis,motivos suficientes para impedir a inserção do jovens no mercado de trabalho e, portanto, de se inserir no mundo adulto.
O jovem é condenado desde a conclusão do ensino primário a um trabalho indigno em troca de um salário infame e miserável em empresas onde o empresariado aproveita a enorme oferta de mão de obra. Basta citar como exemplo, como expandiu o trabalho temporário. São muitos os jovens de hoje que vagueiam de emprego em emprego, com contratos precários e salários aviltantes... A legalização da escravidão.
Outros jovens, que tiveram a oportunidade de completar uma universidade são obrigados, a se venderem como operadores de trabalho trainee pelo treinamento, supostamente, garantido pelas corporações, e lutando ferozmente para permanecer no ambiente da competitividade e do individualismo atroz. Trabalhar mais de 12 horas na dinâmica de operações de negócios completamente desumanizada.
A noite é uma expressão da moda. Sobre a mitologia jovem construíram inúmeros produtos, serviços e formas de vida. É indescritível o sentimento de vergonha, ansiedade ou frustração naqueles que não se encaixam neste estereótipo em que cada momento é vivido cada vez mais como mais tipicamente jovem....
Esta agressão estética flagrante, hoje, cometida contra qualquer criatura torna-se uma das lutas da rua... A moda é uma das respostas prontas que o jovem quer como compensação pela não-construção de sua identidade, pela apatia e a sensação de vazio e infelicidade pela não-realização de suas potencialidades individuais... A novidade é moda, e se torna instantaneamente, consumo...
O culto da imagem externa, da beleza exterior como uma introdução social e de trabalho são estilos de vida impostos pela nossa sociedade de consumo capitalista, cuja expressão mais dramática são os corpos e as mentes doentes da anorexia e bulimia.
A vida noturna também é o espaço da violência invisível dos adultos... Passa despercebida porque ocorre nesses espaços durante a noite, os chamados negócios do prazer... O jovem sofre à sua revelia uma violência gratuita motivada por elementos desconfiguradores de sua identidade... Este sinal é colocado sobre as ideologias estéticas através de slogans subliminares... Punks, roqueiros, rappers, todos eles mal diferem entre si... apenas no vestiário.
Não menos expressivo é o sinal presente nos pés. Assim, a marca do "tênis" é um determinante social no status quo. Até no pátio de uma prisão é marcado para simbolizar um status...
A identidade é feita em muitos casos, pelo que se usa nos pés. Os jovens são a noite olhando para o seu espaço, entorpecida por drogas e formas compulsivas de diversão (o "ecstasy" é uma necessidade compulsiva de se divertir). Na década de sessenta, as drogas que foram consumidas estendeu o campo de consciência. Foram "libertárias".
Nos anos setenta e oitenta a s drogas foram a expressão do individualismo quebrando as ligações do establishment. A drogas dos anos noventa são a síntese da falta. Da negação. O seu consumo é procurado apenas para a diversão compulsiva. Quebrar o mundo interior, e a ausência delas significa a incapacidade de ser você com você mesmo... Estar consigo próprio...
Quem está interessado em perpetuar o negócio da noite? A noite é a máscara que esconde o medo do futuro como algo descolorido, enferrujado. Há jovens que não vêem a luz do dia. Para eles tudo é escuridão. Crianças exploradas, abusadas por seus pais ou até por sua ausência. Criadas pelos avós, cobrindo materialmente a ausência do pai.
Temos muitos jovens que sofreram um fracasso escolar, movidos por uma alienação cultural, auto-excluídos da escola por uma didática, por uma pedagogia e por um material escolar que não se encaixam no seu dia a dia... Eles o vêem como alienantes, e então preferem optar por tomar a rua pela escola, adquirindo um comportamento rebelde e criminoso como um modelo a seguir. Jovens que vivem principalmente em bairros da classe trabalhadora, onde a falta de alternativas e oportunidades e a ausência de equipamentos sociais é uma dura realidade. Áreas urbanas, onde a exclusão social e as drogas tornaram-se um emparedamento letal.
Mortes de adolescentes causadas por overdose de drogas ou adulteração de seus compostos químicos é muito comum. Esta situação social injusta foi causada pela negação prática do direito de acesso à cultura, ao lazer, à educação, à formação profissional, à habitação, ao trabalho, de negação de sua identidade de jovem, em última instância, de igualdade de oportunidades...
Reinaldo Müller > "Reizinho