O homem que falava sozinho

Por Antonio Ribeiro | 07/03/2011 | Crônicas

O homem que falava sozinho.

Clemente ouvia atentamente o homem que falava sozinho.
Ele dizia de alguns que vivem em mansões e castelos a beira de lagos, que refletem o sol e a lua, só deles, como também o eram, seus, as montanhas, o mar e praia.
Daqueles criados como seres diferenciados, que tem todo o universo girando ao seu redor e se aquecem ao calor que, eles mais que humanos, emanam como deuses onipotentes detentores do poder, capazes de tudo, até se for o caso fazer a terra parar de girar, quanto mais de um coração parar de bater.
Que podem amar a quem quiserem ou odiar ao seu bel prazer, laurear, desprezar, abençoar ou maldizer.
Fácil são para estes imortais poderosos, seres superiores aos seus semelhantes, ou parecidos, por andarem sobre duas pernas, quiçá quisessem que os outros andassem de quatro patas.
Mais fácil ainda é falar das misérias humanas, quando se está confortavelmente instalado em magníficos apartamentos, castelos, palácios de frente para o mar, aquele mar todinho seu, criado só para enfeitar suas paisagens, o qual pode tornar-se calmo ou furioso dependendo unicamente de seu estado de espírito e vontade.
Ele falava e mexia com a cabeça sinalizando reprovação.
Em determinado momento olhou para o céu e pediu a Deus, que perdoasse a ele e a todos dizendo ser a humanidade muito jovem e ainda incapaz de ter entendimento das coisas.
Pediu perdão por ser intrometido e querer entender as pessoas e mais que isto, julgá-las a luz de sua imensa ignorância e pequenez.
Pediu perdão também por aqueles que se impõem pelo medo, que implanta o caos econômico, a agitação social e a depravação moral.
Estes que não pescam, não plantam, mas fabricam ou compram artefatos de destruição em massa, amedrontam, matam conquistam, por ganância, arrogância, pretensão.
Estes que, como todos baterão a porta do verdadeiro, Senhor, sem suas máscaras, capuzes, disfarces, hora em que estarão completamente nus, por dentro e por fora e que o medo os farão cair de quatro, mostrando que perante Deus não há esta valentia, imposta pelo terror de quem tem poder e armas.
O homem que embora fosse louco, mas não demonstrasse loucura questionava se estes não seriam os propalados anticristos mencionados em tantos escritos desde sua citação na Bíblia.
Seria tão mais fácil e menos dispendioso crer e seguir os preceitos bíblicos que tentar provar a não existência de Deus.
"O homem já gastou fortunas e mais fortunas, tempo e mais tempo, tentando provar que Deus não existe e não conseguiu".
O louco homem em seu falatório infrutífero argumentava que a humanidade poderia ser feliz se seguisse o manual de instruções, aquele inspirado e ditado por Deus e proclamado por outros tantos malucos.
O homem calou-se, seguiu seu caminho e perdeu-se na multidão.
Clemente voltou para o colégio pensando:
"Aquele que segue a justiça e a bondade achará a vida, a justiça e a honra". Bíblia