O HOMEM AUTENTICADO PELA MORTE E NADIFICADO COM MORTE: Um Ensaio Filosófico sobre Angústia da Liberdade

Por Ramos António Amine | 27/11/2019 | Filosofia

Resumo

Este ensaio filosófico intitulado: O Homem Autenticado pela Morte e Nadificado com a Morte, carrega lágrimas de um Homem angustiado pelo peso da vida e atormentado pelo fumo da morte. Me alicerço na crença sartreana segundo a qual, estamos neste buraco sem nenhuma justificação. Este triste cenário, coloca o homem em demanda de fundamentos que justifiquem a sua existência. No entanto, nessa longa marca, o homem depara-se com vários coros de demónios como lamentado por Pondé. Na tentativa de superação desses coros de demónios, o Homem descobre-se como um autêntico falso e imperfeito. Assim, neste ensaio, procuro colocar dois filósofos apesar de nacionalidades diferentes a conversar sobre a angústia da liberdade. Trata-se, na verdade de Martin Heidegger, o alemão e, Jean Paul Sartre, o francês. Embora tenham vivido em contextos diferentes, Heidegger entre 1889 à 1976, Sartre entre 1905 à 1980, estes filósofos concordam que, a morte é o limite do Homem, mas enquanto ela não chaga, ao Homem resta-lhe somente se manifestar feito a serpente que zanzava no jardim do Éden, com vista a dar significado a sua existência. Portanto, como Heidegger e Sartre, pretendo defender a tese de que, o Homem fora da Linguagem, Liberdade, Responsabilidade, o Nascimento e a Morte, ele é uma autêntica angústia. Daí que, por um lado, o Homem torna-se "Autêntico" enquanto morto como defendido por Heidegger e, por outro lado, torna-se "Nada" enquanto morto como lamentado por Sartre. Eis o fundamento do tema colocado acima. 

Palavras-Chave: Homem, Linguagem, Liberdade, Responsabilidade, Morte e Angústia. 

1. Introdução

Esta reflexão se prende à questão que originou o nascimento do existencialismo ateu. A questão da liberdade. Assim, não está fora do desejo do autor desta reflexão, levar o leitor a um horizonte da metafísica da liberdade, pensando os seus problemas existencias com a sua propria cabeça. Eis a missão! 

1.1.  A LIBERDADE

Mas afinal, Liberdade o que ela é? Não faço a menor ideia. Talvez você tenha ideia do que realmente a liberdade é. Mas duvido muito, sabe porque? Porque não sei ao certo. Aliás sou céptico quanto a ela.

Entretanto, a minha ignorância sobre a liberdade não me isenta de conhecer os que ao longo do tempo perderam tempo pensando (claro, com suas próprias cabeças) sobre ela (liberdade).

Para começar, os gregos não se interessaram tanto pela liberdade. Sabe porque? Não sei! Sinto muito por lhe dizer.  Porque, o que pretendo nesta reflexão, é levar o leitor a pensar os grandes problemas da vida com a sua própria cabeça como Luíz Fílipe Pondé fez comigo.

E, os medievais? haviam se interessado pela liberdade? Talvez.  Mais uma vez vez, sinto muito. Apenas me lembro que a abordagem sobre a liberdade tanto na patrística como na escolástica reduzia-se na possibilidade de existência de um esforço de ligação do homem para com Deus. A liberdade aqui, reduzia-se a simples obediência aos dogmas da Igreja Católica asfixiante. Só isso. E isso é muito.

MANI (filósofo persa), entendia que o debate sobre a liberdade era farsante porque segundo ele, o homem fazia parte da criação de uma Mente Divina que o projectou desprovido de liberdade. Quando Santo Agostinho (discípulo disfarçado do maniqueísmo) movido pela sua ignorância e preocupado em dissolver os pecados cometidos por ele na juventude com a Mônica, abraçou o projecto filosófico dos Maniqueístas, percebeu que, algo estava não certo com o legado filosófico do maniqueísmo, porque segundo Agostinho,  responssabilizar Deus pelo acto cometido pelo homem era injusto de mais. Sabe o que Agostinho disse para sobressair no meio de tantos maniqueus? Ele disse: "homem tem o livre-arbritro. Ou seja, o homem tem a capacidade de poder escolher o que quer que seja. Ficou surpreso? Se ficou surpreso, isso é menor pois eu estou pior, porque, lendo a Bíblia, no livro de Jeremias, fica claro que, o mesmo Deus que dá vida, é o mesmo que a tira, então, como um teólogo comprometido como Agostinho pode defender  que o homem tem o livre arbítrio? E encontro incoerência nisso e acima de tudo, ingratidão por parte de Santo Agostinho, pois, percebo que, um Santo de renome como ele inferir que o homem tem liberdade de escolha seria nigligenciar que o homem foi criado por Deus.

Agostinho dizendo que o homem é dotado de livre arbítrio, já estava a limpar o sangue no rosto de Deus, visto que, defendeu Deus de todos os actos profanos do homem  e responsabilizou o homem os mesmos actos. Ou seja, Agostimho ao dizer que, o homem tem a capacidade de escolher, também estava a dizer que o homem é o responsável dos efeitos da sua escolha. Todo o mal moral vivido pelo homem é resultado do livre arbítrio a que o homem é dotado. Daí, a origem do pessimismo antropológico e optimismo teológico anunciado por Agostinho de Hipona.

A este nível, Agostinho fez um grande esforço a ponto de dissolver todos os pecados cometidos por ele na juventude.

O homem é livre de ser o que quiser, de fazer o que quer. Por isso, se o homem pratica o mal a culpa é dele e não do seu criador. Em contrapartida, se pratica o bem e dá-se bem nisso, é porque houve a intervenção divina. E, essa ideia quando acompanhada  às últimas consequências, chega-se ao existencialismo ateu. Quer dizer, Santo Agostinho não teria previsto que a defesa incansável do livre-arbritrio no homem, levaria o homem ao ateísmo. É disso disso que a esta altura me interessa.

SARTRE (um dos filósofos de renome no seio dos existencialistas), tentou dividir o existencialismo em duas grandes categorias, a saber: o existencialismo cristão (o qual eu chamo de religioso) que foi movido por Karl Jasper e levado a cabo por Gabriel Marcel e o existencialismo ateu que envolve Martin Heiddeger e o próprio Sartre. É ateu o existencialismo nessa categoria porque não afirma a existência de uma natureza humana preestabelecida por Deus como defendia Mani. (Para mais detalhes, confira: o existencialismo é humanismo de Sartre).

O que há em comum nessas categorias do existencialismo é o facto de ambas defenderem que existência precede a essência. E a respeito disso, Sartre escreve em Ser e o Nada onde afirma sem piedade que "o homem primeiramente existe só depois se torna isto ou aquilo".

O homem diferentemente dos demais animais ao nascer tem em suas mãos, aquilo que o definirá como pessoa. Esse instrumento que define o homem, por um lado é a linguagem como defendido por Heidegger, daí a tese Heideggeriana segundo a qual, a linguagem é a casa do ser. Visto que, a linguagem é o verbo que esteve por detrás da criação do Mundo, daí que, todo progresso da humanidade é feito por meio da linguagem, e por outro lado, esse instrumento é na visão de  Sartre é a iberdade. O homem está só neste buraco sem desculpas. Lamento dizer. Cabe a você se virar. Eis a sua missão! 

1.2. O HOMEM É ANGÚSTIA

Os existencialistas ateus como Heidegger e Sartre para citar alguns, defendem que o homem é angústia, e essa angústia manifesta-se de forma dupla: por um lado, por meio da liberdade que é absoluta e por outro lado, por meio da responsabilidade que é total.

E isso parece verdade, porque o que o homem faz neste mundo não é mais do que escolher. Não há como o homem não escolher. Visto que, ou escolhe escolher, ou escolhe não escolher. Mas nunca não escolher. Se você escolhe não escolher, você escolheu não escolher. Isso não é escolha, meu caro amigo?

Assim, em Sartre a Liberdade é absoluta e a Responsabilidade é total. O que significa que o homem é absolutamente livre de fazer o que quiser, mas as consequências devem pesam sobre ele na sua totalidade. E isso é angustiante. Não acha meu caro amigo?

Antes de existir o homem não há como saber o que ele será. Porque ele está em construção. Por isso, não há como elogiá-lo, pois hoje o homem é isto, amanhã será aquilo.

Muitos de nós reclamamos quando se elogia alguém enquanto morto e isso é faz sentido. Por exemplo: quando morre um homem de grande envergadura moral e de tamanha personalidade excepcional, surgem mensagens elogiando que ele foi isto ou aquilo. E outros clamam: porque elogiá-lo só agora?

Sartre nos responderia muito bem, claro com mais questões: Ó homem, como te elogiar agora se cada dia que vives és uma cópia? Como te elogiar quando ainda se mexes? Quando ainda não terminaste?

A luz de entendimento Sartreano, o homem está sempre em constante mutação e isso o impede que seja elogiado enquanto vivo.

O homem foi lançando e abandonado como um ser-aí como dizia Heidegger, acima de tudo, desprovido de qualquer sentido da sua existência pensava Sartre e que, deve se mover a fim de dar significado a sua existência. E o pior de tudo, é que, o homem foi criado com estômago vazio. Maldito é o dia que assim o foi criado. Só que, para ser alguma coisa, o homem vive se manifestando. Outra angústia.

Então, a questão de fundo é: quando o homem torna-se autêntico, isto é, verdadeiro? Ao nível do meu entendimento, quem responde de forma convincente esta questão é Martin Heidegger. Assim, Heidegger teria entendido que, o homem só torna-se autêntico quando morto.  Mas enquanto vive, ele é uma autêntica farsa, porque se mexe de um lado para outro. Assutous, meu caro amigo? É isso mesmo. quando morto o homem é um verdadeiro. Visto que, a morte faz o homem não se mexer e isso precipita  a sua autenticidade. Morto o homem não muda e acima de tudo cheira. Mas que triste cenário. Não é por acaso que Heiddeger é existencialista ateu.

O homem como dizia Platão, é uma farsa. O homem é cópia.  Tudo o que o homem faz neste mundo é falso e isso é verdadeiro, pois o homem vive toda a sua vida surpreendendo, assustando os outros, se mexendo e isso foi advertido por Heraclito que, tudo o que existe inclúsive o homem passa. Nada está em permanente imobilidade como pensava Parménides.

O homem, a cada minuto é outro. E isso compromete a sua autenticidade. A diferença notável que encontro entre Platão e Heidegger apesar de compartilhar as mesmas pegadas filosóficas, reside no facto de que, enquanto Platão acreditava que o homem é cópia e que a sua autenticidade vive no mundo das ideias, Heidegger pensava que o homem termina no túmulo e aí reside a sua autenticidade.

Eu sou falso e você também meu caríssimo amigo. Mesmo que meu caro amigo não concorde com isso. Mas acredite, somente seremos verdadeiros quando mortos. Mas que angustiante. Quer dizer, eu vivo 46 ano me projectando e quando morro aí me torno verdadeiro.

1.3. E QUANDO O HOMEM É NADIFICADO­?

Ainda na morte. Responde Sartre. Mas que ateu!

Argumenta Sartre que, o homem tem um instrumento que nenhum outro animal tem. E esse instrumento é a liberdade: "o poder que o homem tem de auto-projectar-se". O homem constrói muita coisa em vida e somente leva o seu corpo no túmulo. Mas que absurdo é esta vida.

O homem quando vive é um Ser. E quando morre? É nada. Eis o significado filosófico do título da obra o "Ser e o Nada". Mas que angústia.

É na morte onde o homem perde o poder de projectar-se, deixando o seu corpo na mão de pessoas alheias. Não é por acaso que Sartre, defende sem piedade em seu Romance intitulado: Náuseas, que o semelhante é inferno. O outro é nojo, é náusea. Tudo anula-se na morte. O corpo do homem tão respeitado em vida é tratado como "ecrã digital" (o tema reflectido por mim), quando morto.

Por isso, Sartre afirma que, a morte de um é o triunfo do outro. No dia que meu caro amigo morrer, saiba que aí você não existe mais. Você já era. E não existirá mais, mesmo que a teologia afirme o contrário. E, para piorar, quando você morrer a primeira coisa que os seus semelhantes farão, será provar a sua propriedade privada, isto é, sua esposa. Quê tristeza!

Eis a razão do tema: o homem Autenticado pela morte e Nadificado com a morte. Para dizer que o homem é verdadeiro na morte como defende Heidegger e é anulado pela morte como lamenta Sartre.

Portanto, almejar que o homem tenha o livre-arbritrio não é bem confortante como se pensa a primeira vista, porque isso, envolve o poder escolher sempre, o que acaba colocando o homem na condição de servo da sua liberdade.

Não é por acaso que a relação amorosa de Sartre com Simone de Boauvoir não deu frutos humanos, aliás, o próprio Sartre definia a sua relação com a madame de essencial e não contingente. Porque, Sartre convencido de que era livre, acabou não penhorando, hipotecando a sua liberdade em nome da afectividade. E porque a Simone de Bouvoir era o produto vivo da filosofia liberal de Sartre, acabou também não asfixiando a sua liberdade em nome da paixão. Por isso, eles se encontravam sempre um restaurante francês. Nunca num quarto com as portas fechadas.

2. ANGÚSTIA DA MINHA MORTE

O meu primeiro banho, fui dado por pessoas desconhecidas, enquanto a minha mãe, suportava as dores do parto, por perder tantos litros de sangue e, o meu pai, zanzava à volta da aldeia, gritando de alegria, por ter nascido vivo mais um filho, que resultou de noites escuras de pais pelados.
Assim, o meu último banho, também, serei dado por homens desconhecidos, acima de tudo, alegres pela minha morte, com uma água de 100% de ebulição, enquanto, a minha mãe, terá perdido o fôlego por ter pensado nos litros de sangue que terá perdido naquele dia em que me pariu, deambulando de um lado para outro, feito a serpente que terá enganado Adão e Eva no jardim de Éden, com soluços que não dará para desejar, enquanto o meu pai, dirá à minha mãe: calma mulher! O nosso filho se foi sim. Mas precisas de te concentrares! Aqueles senhores que estão dando banho ao nosso filho, não suportam gritos desse género! Mas que angustiante será a minha morte!

3. PORQUE O MORTO PESA?

Sartre, um grande filósofo existencialista francês do séc XX, que continuou a trilhar as pegadas fenomenológicas de Heidegger, o alemão, entendeu que a morte é angústia. Apesar de ambos encontrarem na Morte o profundo de suas reflexões, eles não conceberam a morte de mesma forma. Enquanto Heidegger, via na Morte a autenticidade do ser-aí, isto é, o Homem lançado no Mundo, Sartre via na morte a nadificação do homem. Ou seja, enquanto Heidegger, pensava que o homem quando vivo é falso, sujeito a manifestação (fenomenologia) e que torna-se verdadeiro quando morto, porque não se mexe, Sartre gritava nas praças de Paris, defendendo que o homem é anulado pela morte, visto que quando o homem vive é Ser mas quando morto é Nada. Logo, a morte uma angústia!

Como Sartre, eu defendi e ainda defendo que a minha morte é o triunfo do outro. Todos desejam a minha morte, menos eu. A minha morte reunirá pessoas, facto que não consigo ainda vivo. Aliado a esse pensar, surgem aquela questão que sempre asfixiou o meu fôlego:

Porque o morto pesa?
Como você, também já pensei que levanto questões sem sentido. Mas, também nunca deixei de pensar na possibilidade de não perder tempo não pensando nestas questões. Assim, por uma questão de empiria, chego a inferência de que, o morto pesa. Pesa, porque:

Por um lado, o morto assusta a família enlutada por meio de choros, e por outro lado, o morto traz paz aos outros por meio de risos. O morto, pesa à família e vai pesar ainda quando carregado a caminho da sepultura.

O morto pesa porque, quando não enterrado compromete a alegria da família defuntada. O mesmo homem que precisou det anta a matéria para a sua sobrevivência: uma casa com vários quartos, uma cama de tantos metros, mobiliários, comida e ecrãs digitais ao seu redor quando vivo, precisará somente de poucos metros para o banho quando morto. Mas que angústia!

Todo o morto anima, porque há sempre conflito para a sua gestão fúnebre. Ele pesa, por isso ninguém quer tê-lo de volta. 

O morto pesa porque cheira. É isso mesmo. O morto cheira. 

4. DA MINHA MORTE À ALEGRIA DO OUTRO

Como defende Cortella, há duas questões que nos levam a aceitar a morte, que são:

1. Se não for eu a morrer, então, quem será?

2. Se não for hoje, então, quando?

Claro, estás questões, somente são feitas por indivíduos que são gratos pelo dom da vida e que não são pessimistas ao prêmio do pecado que é a morte. 
Como tenho defendido nos textos escritos por mim, claro, se caro/a leitor/a acompanha, a minha morte é o nada de tudo. Nada de paraíso e nem do inferno. Estou sozinho neste buraco. Em matéria da MORTE, sou Sartreano, pelo rico facto de ele ter entendido que, o homem termina no túmulo. O homem é anulado pela e na morte, pois o homem quando vive é Ser mas quando morre é Nada.

O Homem, a Liberdade e a Morte, são angústia! Porque:
1. O Homem, como pensava Heidegger foi criado e lançado no mundo, como um Ser-ai, que por possuir a Linguagem deve se mover, se manifestar feito uma serpente no jardim, com vista a dar significado aos restantes entes. 
2. Como lamentava Sartre, o Homem possui a arma que nenhum outro animal possui na terra, a Liberdade que é absoluta e que se pressupõe a Responsabilidade que é Total no Homem. O que significa que, o Homem vive escolhendo: ou escolhe continuar a ler ou escolhe não continuar. Mas nunca não escolher. Aí reside a ANGÚSTIA da Liberdade. E quando escolhe um Homem, escolhe o mundo. Outra angústia mais!
3. O Homem, por meio da Linguagem, exterioriza a sua Liberdade-Responsabilidade.
O homem é um para morte. A minha morte é uma abertura de alegria do Outro. O outro encontra uma certa paz com a minha morte, porque:
* Eu incomodo. Sou nojo. Sou náusea. Acima de tudo, sou o inferno. 
* A minha morte, é o triunfo do outro. Portanto, a minha morte é a autêntica antecipação da morte do meu próximo. Por isso, o que me preocupa mais não é a minha morte, mas a do meu próximo. Porque, a minha morte não será vista por mim, então para que se preocupar por ela? Perguntava Epicuro.
Eu hei-de morrer um dia! Mas antes que isso aconteça, escrevo isso para si, meu lindo amigo que está lendo isso. 

5. EU E MEU FUNERAL: Há relação?

Há dois momentos cruciais na existência que o ser humano que não escolhe, que abaixo descrevo:

1. O momento do nascimento, que salvaguarda a ideia de que, o homem sem pedir se vê obrigado a sair do útero da mãe para o mundo dos vivos. Pela primeira vez, o homem, grita pelo facto de deparar com uma nova realidade diferente daquela acostumada no útero da mãe. De seguida, o homem sente frio, pois ao emigrar do útero para o mundo em mutação, vem sem nenhum cobertório. Por final, o homem neste êxodo rural, do útero ao mundo, vem com estômago vazio. Aí começa a kizomba! Pois, ele deve se mover feito aquela serpente no jardim do Éden, com vista a encher o maldito estômago por sinal vazio.

2. O segundo momento é sem dúvida o da morte. O qual traduz-se no entendimento de que, o homem é um ser para morte. Aliás, todos os seres existentes são para a Morte, somente o Homem Sabe que o é, isto é, o Homem é o único que não só sabe que morre como também que se preocupa com a Morte. O facto de não se conhecer as reais causas do nascer e do morrer, a vida e a morte tornam-se mistérios. Como os filósofos desvendam mistérios, é por isso que perco meu famoso tempo escrevendo isso, não só para si caro/a leitor/a, como também, para aqueles que não existem mas que um dia existirão e morrerão.
O homem nasce sem pedir, como também, morre sem querer. E quando pergunta sobre o porque da sua existência lhe dão a Bíblia e o Alcorão para ler. Mas que coisa!
Há uma relação funcional sim, entre Eu e o meu lindo e triste funeral. Lindo porque:
* No dia que eu deixar de existir, estarei sorrindo. E esse sorriso que irá recheiar o meu lindo rosto, será irreversível e, se não for, será pela intervenção daquela água quente que passará no meu corpo, aquele gesto de último banho do cadáver.

* Triste, visto que a minha família, claro um e outro membro da família sentirá uma subtracção de mais um membro da família.
Há relação entre o Eu e o meu funeral. Que haja a minha morte!