O gol de uma vida

Por Edson Terto da Silva | 06/02/2012 | Crônicas

Não importa qual religião a pessoa tenha, se gosta de futebol não pode considerar heresia quando se diz que este esporte tem seus deuses próprios. E o que dizer então quando essa força quase tão misteriosa quanto ao Criador do universo atua numa Copa do Mundo, onde em tese estão os melhores jogadores do planeta?

 A história de hoje envolve um jogador brasileiro que disputou 12 jogos em três Copas, fez 3 gols, dois foram em disputas de pênaltis, não contam para artilharia, e, portanto, computa um único gol marcado em mundiais. Não se trata de algum craque extraordinário ou lendário como Pelé, Garrincha, Rivellino, Didi, Zizinho, Tostão ou Jairzinho...

 Porque então um único gol consagrou tanto um atleta? Estamos falando de um lateral esquerdo, hoje treinador de futebol, nascido no Rio Grande do Sul, chamado Cláudio Ibraim Vaz Leal. Se alguém pensou ser o Dunga ou não lembrou de “bate pronto”, trata-se de Branco. Convocado por Telê para a Copa no México (86), Branco fez cinco partidas até a eliminação, nos pênaltis, contra a França, anotando, aliás, o seu gol na cobrança alternada das penalidades.

 Em 90, convocado por Sebastião Lazaronni, o zagueiro esteve na Copa na Itália. Apesar de três vitórias na primeira fase, foi uma campanha medíocre, o Brasil foi eliminado já nas oitavas de finais ao perder de 1x0 para a Argentina. Houve até história polêmica envolvendo Branco, a de que jogadores argentinos, entre os quais Maradona, teriam dado água ou laranja com substâncias tóxicas, que teriam desestabilizado o jogador naquela partida decisiva...

 Mesmo fora de suas melhores condições físicas, Branco voltou ser convocado para a Copa de 94, nos EUA, pelo técnico Carlos Alberto Parreira, e aqui entra em ação algum dos deuses do futebol. Branco não jogou as quatro primeiras partidas e houve a decisão, que a torcida brasileira recebeu desconfiada, de escalá-lo nas quartas de finais, justo  contra a sempre imprevisível Holanda. O jogo parecia fácil, com Romário e Bebeto fazendo 2x0.

 Mas a laranja mecânica vendeu cara a partida, chegou a 2x2 e tudo caminhava para a loteria dos pênaltis. Aos 81 minutos, lance decisivo para Branco. Na falta de longe, ele mandou  um chute forte, a trajetória foi improvável e contou com a “retirada” de bumbum do caminho da bola, ato feito pelo extraordinário atacante Romário, e a mesma passou bem rente a trave, parando dentro da rede, no canto esquerdo baixo, do bom goleiro De Goej.

 Recentemente, Branco disse que a altura e o tamanho da mão do goleiro o impressionaram, pouco antes de iniciar o jogo. Ele confessaria ainda ter feito falta e depois cavado falta no lance que a arbitragem apontou infração para o Brasil e acabou no gol decisivo. O gol levou o Brasil para semifinal contra a Suécia e posteriormente para a final com a Itália, com empate em 0x0 e o tetracampeonato conquistado nos pênaltis. Assim como Romário e Dunga, Branco deixou seu gol nos 3x2 das penalidades. Era a primeira Copa decidida desta forma... existem ou não deuses do futebol?  Na dúvida, perguntem ao Branco...