O GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS E A SITUAÇÃO LOGÍSTICA DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Por Mário da Silva Lopes Júnior | 01/09/2020 | Adm

 

O GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS E A SITUAÇÃO LOGÍSTICA DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

 

 

MÁRIO DA SILVA LOPES JÚNIOR*

      (Engenheiro de Produção)

logistica.eb.junior@gmail.com 

 

 

RESUMO

       Este artigo visa avaliar a utilização do gerenciamento da cadeia de suprimentos bem com toda logística da força expedicionária brasileira (FEB) na itália, em 1944 e 1945, durante a segunda guerra mundial é um assunto de extrema importância e interesse. Por isso, deve-se resgatar a atuação desse apoio aos pracinhas e às operações militares. Durante esta pesquisa foi verificado alguns aspectos históricos da logística, em si, está entre as mais velhas ciências estratégicas, tendo começado com os primeiros líderes militares dos tempos antigos. Entretanto, a noção de um sistema de apoio logístico (AP LOG) regular e organizado vem da suécia, onde, entre 1611 e 1632, o rei Gustavo Adolfo reestruturou suas forças, modernizando sua organização com a criação de comboios de elementos de suprimento e manutenção para o ap log - os chamados “trens” – que contavam com medidas especiais de proteção. A logística foi amplamente aplicada nas guerras napoleônicas, obtendo sistematização, como idéia de ciência de guerra, na obra do estrategista militar antoine henri jomini, em 1836. Segundo ele, “a logística é tudo ou quase tudo, no campo das atividades militares, exceto o combate”. Entretanto a alta sofisticação foi alcançada a partir da ii guerra mundial, quando usada pelas tropas aliadas.

 

Palavras chave: logística, gestão da cadeia de suprimentos e força expedicionária brasileira.

 

 

 

ABSTRACT

     This article aims to evaluate the use of supply chain management and logistics with all the brazilian expeditionary force (FEB) in italy in 1944 and 1945 , during the second world war is a matter of great importance and interest . Therefore , you must rescue operations that support gis and military operations . During this research it was found some historical aspects of logistics in itself is among the oldest sciences strategic , beginning with the first military leaders of ancient times . However , the notion of a logistical support system (AP LOG) regular and organized comes from sweden , where between 1611 and 1632, king gustavo adolfo restructured its forces , modernizing its organization with the creation of train elements supply and maintenance log into the rv - the so-called " trains " - that relied on special measures for protection . Logistics has been widely applied in the napoleonic wars , getting systematization , as the idea of science of war , the work of the military strategist antoine henri jomini in 1836 . According to him , " logistics is everything or almost everything in the field of military activities , except the combat." however the high sophistication was achieved from world war ii , when used by allied troops .

Keywords: logistics, supply chain management and brazilian expeditionary force.

INTRODUÇÃO

  1. APRESENTAÇÃO

         A Força Expedicionária Brasileira, conhecida pela sigla FEB, foi à força militar brasileira de 25.334 homens e mulheres que foi responsável pela participação brasileira ao lado dos Aliados na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial.

        Constituída inicialmente por uma divisão de infantaria, acabou por abranger todas as forças militares brasileiras que participaram do conflito. Adotou como lema "A cobra está fumando", em alusão ao que se dizia à época que era "mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra" O Brasil foi envolvido nessa Guerra Mundial, principalmente, em razão do possível torpedeamento, por submarinos nazistas, de embarcações civis em navegação de cabotagem. Por isso, o povo, nas ruas, exigiu do governo a tomada de atitude que resgatasse a honra nacional, maculada pelo afundamento de navios brasileiros. O alinhamento do Brasil com os Países Aliados supostamente foi para deter o expansionismo da Alemanha nazista, da Itália fascista e do Japão militarista, cristalizando-se com a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), em 1943. Apesar de que o País passava pela Ditadura de Getúlio Vargas. Contradizendo os descrentes, os quais afirmavam ser mais fácil “uma cobra fumar” do que a FEB embarcar e lutar, no dia 2 de julho de 1944, após mobilização, concentração e preparação, os “Pracinhas” empreenderam a travessia do Atlântico, rumo à Itália, deixando para trás a terra natal. O General João Baptista Mascarenhas de Moraes comandou a FEB, assessorado por outros militares. Várias foram as dificuldades, como: o frio intenso, o fogo inimigo e a saudade da terra. Na Itália, a FEB combateu tropas aguerridas, ao lado de soldados experientes com anos de campanha. As Batalhas em Monte Castello, Montese e Fornovo, e tantas outras ações, permitiram o adestramento da tropa em combate.

  1. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVOS GERAIS

  Analisar conceitos de gerenciamento da cadeia de suprimentos durante atuação da Força Expedicionária Brasileira na segunda Guerra mundial, além de pontuar os mais diversos seguimentos da logística militar aplicados no conflito.                                                                                                                      

 

             2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

    Ponderar e refletir pontos fortes e fracos do gerenciamento da cadeia de suprimentos da logística militar da FEB.

 

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

         Segundo Christopher (1998) é uma rede de organizações que estão envolvidas através das ligações a jusante (downstream) e a montante (upstream) nos diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e serviços liberados ao consumidor final.

        Segundo Lambert et al. (1998), no entanto define que cadeia de abastecimento não é apenas uma cadeia de negócios com relacionamento “um a um”, mas uma rede de múltiplos negócios e relações.

         Segundo Mentzer et al. (2001) define como sendo o conjunto de  três ou mais organizações diretamente envolvidas nos fluxos a montante ou a jusante de produtos, serviços,financeiros e de informação, desde a fonte primária até o cliente final.

         Segundo o Oxford English dicionário que define logística como sendo: “O ramo da ciência militar responsável por obter, dar manutenção e transportar material, pessoas e equipamentos”.

 

  1. A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA FEB       

      3.1. SITUAÇÃO LOGÍSTICA NO V EXÉRCITO 

       Quando o V Exército desembarcou nas praias de Salerno, para conquistar a Itália, em ligação com o VIII Exército, trouxe consigo os elementos de apoio logístico que, mais tarde, se transformariam na Seção Base Peninsular (“Peninsular Base Section”), órgão da Zona de Administração, com sede na África, que iria apoiá-lo em sua ofensiva para o Norte. Esta grande unidade administrativa instalou-se, inicialmente, na região de Nápoles

      Posteriormente, quando o V Exército atingiu as faldas dos Apeninos, lançou um escalão avançado para o porto de Livorno e outro para Florença a fim de abastecê-lo mais de perto, porquanto seus Depósitos e Pontos de Suprimento primitivos já não podiam atendê-lo convenientemente, dadas as grandes distâncias que os separavam de Nápoles e as péssimas condições das estradas, parcialmente destruídas pelo inimigo em retirada.Com a abertura das novas instalações, o Exército, por sua vez, criou novos Pontos de Suprimento, uns em torno de Livorno para suprir as unidades que operavam próximo ao litoral, outros em volta de Florença, para atender a esta parte do setor. O Destacamento FEB, quando em operações no vale do Rio Serchio, supriu-se nos pontos existentes em Livorno, Viareggio, Lucca, Tavolaia, etc. Agora, iria a Divisão abastecer-se nos existentes em Florença e Pistóia, em particular.

      Durante o inverno (1944/45), o Exército atravessou uma fase bastante difícil. Faltava-lhe quase tudo, desde os recompletamentos aos suprimentos em toda espécie, obrigando-o a seguir uma política de economia sem a qual dificilmente poderia manter-se nas suas posições, nem tão pouco, participar da ofensiva programada para a primavera vindoura.  As operações em desenvolvimento na França haviam-lhe criado esta situação de extrema penúria. O grosso dos equipamentos, que até então se destinava ao porto de Nápoles, estava sendo desviado para os de Cherburgo e Marselha, chegando ao Exército apenas o mínimo indispensável às sua necessidades. Em virtude destas perspectivas, foi realçada a necessidade de disciplinar o consumo excessivo dos materiais, em particular as munições, bem como zelar pela sua conservação e recuperação. Face a este imperativo, entregaram-se as unidades de apoio logístico a uma faina sem precedentes na história do Exército, no fim da qual pôde o comando afirmar que a retomada da ofensiva estava assegurada. Por volta do mês de fevereiro, quando os Pontos de Suprimento já haviam sido reestocados nos níveis desejados, foi possível retirar do tráfego, simultaneamente, o equivalente a dois batalhões de transporte para uma completa manutenção. A coleta e a recuperação dos salvados de toda espécie assumiram tal importância que, mesmo enfrentando os rigores da estação, grupos de soldados e civis vasculharam os caminhos e bivaques de tropas para recolher materiais abandonados. Esta coleta atingiu, às vezes, 30 viaturas de 2 ½ toneladas carregadas por dia.No que respeita ao aproveitamento de recursos locais, convém destacar o papel da Intendência, que empregou civis italianos para confeccionar peças de vestuário para o inverno, não padronizadas, e operou a sua própria fábrica de sabão, ampliando a monopolização da produção de uma fábrica de louças para os centros de recreação.

       Neste Exército, paradoxal e acidentalmente pobre, a FEB entrosou todos os seus órgãos de serviço, dando continuidade à cadeia de suprimentos, cujas raízes estavam mergulhadas no território metropolitano dos Estados Unidos, donde provinham todos os suprimentos destinados às unidades. Somente a FEB consumia, às vezes, 426 toneladas diárias de suprimentos de todos os tipos, corresponente ao consumo de 16,7 quilos por homem-dia. Em termos de transporte, esta tonelagem representava um trem diário de 450 toneladas (15 vagões de 30 ton) e um comboio de 107 viaturas de 2 ½ ton, números irrisórios para quem possuía milhões, mas bastante expressivos para aqueles que não possuíam tais recursos. O que, no entanto, mais nos fere a atenção é a política do V Exército de restrições. Embora pertencendo a uma grande nação, viu-se momentaneamente forçado a viver como se pobre fora, aproveitando todas as oportunidades para reaver os salvados e aproveitar, ao máximo, a mão-de-obra civil para melhorar as condições de vida das suas tropas, tendo, inclusive, utilizado nada menos que 15 Companhias de Cargueiros, totalizando cerca de 3.785 mulas no transporte de suprimento às unidades em contacto onde, por efeito da neve e da lama, não podiam ir as viaturas-auto.

 

  3.2 O APOIO LOGÍSTICO NA FEB 

Quando as primeiras unidades da FEB chegaram à Itália, passaram a ser diretamente supridas pelas instalações da “Peninsular Base Section” existentes em Nápoles.Porém, durante o deslocamento para o vale do rio Serchio, os suprimentos se processaram, sucessivamente, nos Depósitos do V Exército instalados em Civitavecchia, Cecina, Tavolaia e Viareggio e, no Depósito de Intendência da FEB, em Civitavecchia, Tarquinia, Vada e Livorno Uma vez no vale daquele rio, o Destacamento instalou ali alguns pontos de distribuição, que muito facilitaram a entrega dos gêneros às tropas, encurtando-lhes as viagens à retaguarda.Com a chegada das novas unidades e o emprego maciço de toda a FEB no vale do rio Reno, todo esse sistema se abastecimento foi sendo, progressivamente, abandonado, passando ela a suprir-se nos Depósitos e Pontos de Suprimento do V Exército em Pistóia e Florença e, ainda, no Depósito de Intendência da FEB em Livorno.

         Novos Pontos de Distribuição foram abertos à frente, sobre a estrada nº 64, com a mesma finalidade anterior. A princípio, a FEB viveu no vale do Reno como uma todo, porém, com o correr do tempo, sentiu-se a necessidade de desdobrá-la em dois escalões: o primeiro, compreendendo a Divisão propriamente dita; o segundo, os órgãos não divisionários. Aquele ficou entregue ao próprio comandante da Divisão, enquanto este foi atribuído a um comando específico, composto de um Cmt e um Estado-Maior a três seções, cujo QG se instalou em Montecatini. Comandou-o o Gen Olympio Falconière da Cunha. Subordinado ao seu comando havia os seguintes elementos:

APOIO LOGÍSTICO

 Este órgão era de suma importância, com gerência sobre uma série de problemas bastante complexos, envolvendo assuntos de naturezas diferentes e áreas que se estendiam de Nápoles a Porreta Terme. Apesar de suas múltiplas funções e do fato de estar escalonado acima do nível da Divisão, não representava novo elo na cadeia de suprimentos dos norte-americanos, embora o fosse com relação ao sistema brasileiro, pois lhe competia, em síntese, estabelecer ligações entre a Divisão, de um lado, e o Ministério da Guerra, no Brasil, e as altas autoridades norte-americanas, de outro. Já os serviços divisionários obedeciam, em tudo, aos padrões e às normas norte-americanas, cabendo-lhes, especificamente, manter o fluxo de suprimentos e das evacuações entre as instalações do Exército e as unidades em contacto. As requisições eram feitas diretamente pelas unidades aos respectivos Depósitos ou Pontos de Suprimento do Exército, onde se iam abastecer - quando não eram abertos Pontos de Distribuição - cabendo aos serviços correspondentes, apenas, o controle do fluxo dos suprimentos e dos estoques de reservas. Dentro deste mecanismo tão simples, cujo funcionamento se fazia sem atritos ou retardos, a FEB supriu-se com muita normalidade, como uma máquina bem ajustada e lubrificada, não obstante algumas pequenas irregularidades próprias de um organismo novo, que se vinha adaptando progressivamente à vida no Teatro de operações. Muito contribuiu para este entrosamento, a boa compreensão, por parte dos brasileiros, das normas de trabalho postas em prática pelos norte-americanos, caracterizadas por uma perfeita distribuição de encargos e uma exata noção de responsabilidades. O fundamental para eles era atender, prontamente, aos pedidos que lhes eram dirigidos, sem audiências ou interferências de terceiros, que só servem para tumultuar o trabalho.

  1. ATIVIDADES LOGÍSTICAS

      4.1 ATIVIDADE LOGÍSTICA DE MANUTENÇÃO 

 O Serviço de Material Bélico da FEB compunha-se de uma Chefia, tendo como unidade executiva a Companhia de Manutenção, a três pelotões: um de suprimentos, um de evacuação e reparação auto e um terceiro de reparação de armamento, além de uma seção de comando.

 Ao Pelotão Suprimentos cabia o provimento de todas as necessidades de material bélico às unidades, inclusive munições; ao Pelotão de Evacuação e Reparação-Auto, a tarefa de evacuar viaturas danificadas e repará-las, nos casos em que as unidades não pudessem fazê-lo; ao Pelotão de Reparação de Armamento, a manutenção do material bélico em geral.

 A Chefia do serviço de material bélico foi mantida num ponto situado a 3 km ao S de Porreta Terme, sobre a estrada nº 64, enquanto a companhia de manutenção ficou em Pistóia, a meio caminho entre as Cia e Bia Sv das unidades, onde se processava a manutenção orgânica, e as instalações do V Exército localizadas em Florença.

 Nas próprias dependências da Companhia encontravam-se as peças e os acessórios sobressalentes, tanto os destinados a atender aos pedidos das tropas, como as suas próprias necessidades, facilitando e simplificando as tarefas. A companhia de manutenção teve um papel destacado na chegada do 1º escalão da FEB à Itália, montando viaturas e recebendo armamento para serem entregues às diversas unidades e órgãos já em atividade. Quatrocentas viaturas, nessa fase, passaram pela Cia. A manutenção de material bélico, particularmente das viaturas, foi um dos pontos mais delicados da atuação da FEB na Itália, exatamente porque faltou às unidades não só a instrução especializada, a disciplina de tráfego, a própria mentalidade do motorista, com todos os seus reflexos, como a compreensão das possibilidades, limitações e cuidados a dispensar a uma viatura-auto. Sendo um prato novo, poucos souberam utilizá-las. Rodando dia e noite, sem cessar, sobrecarregadas, descuradas, sem especialistas capazes e em número suficiente para zelar pelo seu bom funcionamento, as viaturas cedo tornaram-se um estorvo nas mãos das unidades de manutenção, exigindo redobrados esforços dos homens. O 1º escalão de manutenção foi o ponto fraco deste sistema, pois os motoristas, a quem caberia realizá-la, na sua maioria não conheciam os mais comezinhos cuidados que deveriam dispensar às viaturas, sobrecarregando, por sua inépcia e desleixo, os escalões superiores. Já o 2º escalão, a cujos cuidados estava afeta a manutenção das unidades, desempenhou de maneira correta e bastante elogiável as suas funções, graças ao fato da Companhia e Bateria de Serviço disporem de oficiais e praças especializadas e compenetradas dos seus elevados papéis.  Mais eficiente, ainda, foi o 3º escalão, a cargo da própria companhia de manutenção, que deu verdadeira demonstração de alta capacidade técnico-profissional, procurando atender às necessidades sempre crescentes da Divisão, com elevado espírito de compreensão e sacrifício. O 4º escalão estava a cargo da 109ª companhia Média de Manutenção, orgânica do 4º Comando Exercito americano. Para que façamos melhor juízo de quanto produziu, transcrevemos, abaixo,  um resumo de suas atividades:   

A tal ponto chegaram seus esforços que nada menos de 100% das necessidades da Divisão foram por ela atendidas, quando sabemos que, em condições normais, só poderia satisfazê-las de 30% a 60%. Nesse mesmo período recebeu e despachou requisições no valor de 85.000 peças. O Pelotão Suprimento transportava seu estoque em cinco caminhões 2 ½ ton e cinco reboques de 1 ton.
 

 4.2 ATIVIDADE LOGÍSTICA DE SUPRIMENTO 

      A atividade de suprimento ficava a cargo do Serviço de Intendência (exceto peças de reposição e munições, que ficavam a cargo do Serviço de Material Bélico, material de construções e engenharia e água, a cargo do serviço de engenharia e material de saúde, a cargo do serviço de s Saúde). Este serviço compunha-se de uma Chefia e uma tropa de execução, a Companhia de Intendência, compreendendo uma Seção de Comando, um Pelotão de Serviços, três Pelotões de Transporte (45 Vtr 2 ½ t) e um Pelotão de Sepultamento. A fim de atender às suas múltiplas solicitações, a companhia de intendência desdobrou-se entre a retaguarda das unidades e a Área de Suprimentos e Manutenção do Exército situada em Pistoia, Florença e Livorno. Em La Pieve instalou um Ponto de Distribuição (Nº 1), que aí permaneceu até o final da guerra e, em Pistóia, um outro (Nº 2). O primeiro atendia às unidades da frente  em artigos das Classes I e III e o segundo, as da retaguarda. Os fardamentos eram supridos diretamente pelo Depósito de Intendência da FEB, equipado com uma pequena oficina de reparação das peças danificadas.

      A Companhia de intendência, de posse das requisições diárias, feitas pelas unidades, apanhava os artigos nos Depósitos e Pontos de Suprimento do Exército, bem como no Depósito de Intendência da FEB, levava-os até os Pontos de Distribuição, sendo aí recebidos pelas unidades, em horários preestabelecidos.

    A distribuição de suprimentos era tarefa simples, pois tudo , ou quase tudo, vinha perfeitamente empacotado ou enlatado em quantidades adequadas.

  1. Classe I 

 Três eram os tipos de ração distribuídas à tropa.

 

       Além dessas rações, havia a de emergência, para consumo em circunstâncias muito especiais, consistindo de uma barra de chocolate altamente concentrado, bem como a ração “10 por 1”contendo 10 refeições em um só recipiente para uso coletivo. Durante a estação fria, distribuiam-se, juntamente com as rações, complementos multi-vitamínicos, na razão de duas por dia para cada homem em posição, para consumo em cada refeição principal; no verão, tabletes de sal.

 As rações eram assim escalonadas:

 

 Com a chegada do inverno e, com ele, a queda de nevadas que poderiam impedir ou dificultar o tráfego pela Rv 64, impedindo o reabastecimento à retaguarda, aumentou-se os estoques de segurança de Classe I. 
 

4.2.2 Classe II 

 As peças dos uniformes criaram problemas sérios pela sua qualidade e confecção, pois a fabricação do pano em lugares diversos foi a responsável pela diferença de qualidade e cor. Para contornar a situação, foram tomadas medidas como a obtenção de capa de borracha e capote americanos para toda a tropa, porque o capote que fora fornecidos à FEB não protegia suficientemente da chuva e neve. O material de acampamento  foi deficiente para o clima hostil.

 4.2.3 Classe III 

 A gasolina era distribuída em camburões de 5 galões, podendo, ainda, ser apanhadas pelas viaturas, para uso próprio, quando de passagem pelos pontos de suprimento do Exército, mediante simples requisição feita, na hora, pelo mais antigo ou pelo próprio motorista.

 4.2.4 Classes IV e VI 

 Eram atribuições do Serviço de Engenharia, que empregava o 9º Batalhão de engenharia. A companhia de comando/9º batalhão de engenharia abriu um Ponto de Distribuição destas classes em Suviana, posteriormente deslocado para Porreta Terme. Os principais itens distribuídos eram:

 

    O suprimento de cartas era feito ao 9º Batalhão de engenharia por intermédio da Companhia Topográfica do 4º Comando de Exército, localizada próxima ao seu quartel general. O número de exemplares distribuídos chegou a 24.000 durante a Ofensiva da primavera.

4.2.5 Classe V (M) 

 Era de responsabilidade do Serviço de Material Bélico. O suprimento de munições foi bastante expressivo, tanto por sua variedade quanto por seu consumo fabuloso, conforme descrito no quadro abaixo, relativo ao consumo da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária.

 

       Competia aos depósitos norte-americanos a entrega de munições aos interessados, ficando reservado ao SMB o controle dos créditos e seu consumo. A tropa contava com uma dotação denominada “Carga Básica”, que só podia ser consumida mediante ordem. Para o consumo, contavam com os créditos distribuídos. Para facilidade de cálculo e distribuição, as munições  eram reunidas em unidades de fogo (UF), as quais consistiam em:

                                                                                                                                                                                                            

4.2.6 Água
    
O suprimento de água, tarefa do Serviço Engenharia divisionário, foi feito por meio de Pontos (“Fontes Artificiais”) abertos nas proximidades das áreas de maior concentração das tropas. O consumo foi inicialmente baixo, conforme pode ser observado no quadro a seguir,  em virtude das dificuldades de acesso aos Pontos por parte das unidades e ao acentuado gosto de cloro da água, o que fazia com que os soldados relutassem em aceitá-la. Quando estas dificuldades foram superadas, o consumo tornou-se normal, evitando-se o grave inconveniente da procura de fontes naturais pelo Serviço de Saúde.

4.3  ATIVIDADE LOGÍSTICA DE TRANSPORTE

 Os principais meios de transporte da FEB estavam concentrados nos Pelotões de Transporte da companhia de infantaria suas 45 viaturas 2 ½ ton tinham a capacidade de transportar cerca de 1/3 do efetivo da Divisão de Infantaria Expedicionária, se necessário. Sua principal missão era o transporte de suprimento entre os Pontos de Suprimento do V Exército e os Pontos de Distribuição, desdobrados pela companhia de infantaria, poupando as unidades de uma viagem longa por terreno montanhoso. A principal estrada a atender as atividades de transporte e evacuação foi a estrada (Rv 64). Ela era sujeita, em alguns trechos, aos fogos adversários, contra os quais a melhor defesa era o uso da velocidade. A Ponte de Sila teve de ser camuflada, para livrar-se das vistas de Monte Castelo. Uma companhia inglesa de fumaça cobriu a região da ponte e longos trechos da estrada (Rv 64).  com densas cortinas. Um problema que surgia toda vez que se tinha que transpotar um batalão era  o volume de “caixas baixas”de munição. Enquanto um batalhão americano necessitava, para seu transporte, de 35 Vtr 2 ½ ton, um batalhão brasileiro exigia 50 a 60 caminhões.  A FEB dispunha de um Serviço de Polícia, com a missão, entre outras, de exercer o controle de trânsito pela estrada (Rv 64).

4.4  ATIVIDADE LOGÍSTICA DE SAÚDE

       A atividade de saúde estava  cargo do Serviço de Saúde da FEB. Este compreendia três escalões bem distintos: o da FEB, o da Divisão e o das Unidades. O da FEB, como órgão de cúpula, tinha sob sua responsabilidade o funcionamento dos demais escalões, inclusive os encargos de hospitalização, bem como a atividade de suprimento Classe VIII. Sob sua assistência direta estavam o  Serviço Dentário, o Posto Avançado de Neuro-Psiquiatria e as Seções Hospitalares junto aos hospitais norte-americanos.

        O Posto Avançado de Neuro-Psiquiatria era destinado a receber, observar e tratar os doentes precoces de neuro-psiquiatria surgidos no âmbito da Divisão. É interessante observar que 85% dos pacientes deste Posto foram recuperados e devolvidos à tropa, sendo os demais recolhidos a hospitais da retaguarda (norte-americanos). É interessante observar que os prazos de recuperação, mesmo em ambiente de combate, giraram em torno de 5 dias.

     As Seções Hospitalares foram desdobradas juntos aos hospitais norte-americanos, visando a atender os baixados brasileiros naqueles hospitais, após a evacuação do âmbito divisionário. Tal medida destinava-se a proporcionar melhores condições de atendimento aos brasileiros, ante a dificuldade de relacionamento com médicos e enfermeiros norte-americanos, devido à barreira do idioma.

   Hospital de Convalescentes de Montecatini, misto de hospital e hotel, dispondo dos meios para recuperação física e mental do homem. Os feridos e doentes que não podiam ser tratados no prazo de 120 dias, fixado para o Teatro de Operações, eram imediatamente evacuados para a Zona do Interior. Os demais, uma vez restabelecidos,  transferiam-se para o Depósito de Pessoal, retornando à tropa como recompletamento. À frente da rede hospitalar, funcionava o Serviço de Saúde da 1ª DIE, destinado a estabelecer a ligação entre as unidades e a retaguarda, cabendo-lhe, especificamente, a evacuação no âmbito divisionário, dispondo para esta tarefa de um Batalhão de Saúde composto por uma Companhia de Tratamento (melhor seria de Triagem, já que não lhe competia, na realidade, o tratamento dos doentes, embora o fizesse esporadicamente) e de três Companhias de Evacuação.

     A Companhia de Tratamento equipava os Postos de Triagem divisionários. Foi desdobrado um Posto na região de Porreta Terme, posteriormente deslocado mais para o sul, devido aos constantes bombardeios sobre a região. Em 29 Nov 44, data da realização do segundo ataque a M. Castelo, este Posto recebeu e processou 124 feridos. As Companhias de Evacuação encarregavam-se da evacuação dos feridos dos Postos de Socorro para o P Trg, onde eram entregues às unidades de evacuação do V Exército, que os transportavam para os hospitais. Para isso, organizaram-se em Postos de Evacuação ao longo das estradas de evacuação, entre os PS das unidades e o P Trg. Estes postos acompanharam a movimentação das tropas combatentes. Cada Regimento ou Grupo ou unidade equivalente possuía um Destacamento de Saúde, chefiado por um oficial médico, destinado a prestar os primeiros socorros aos feridos e doentes, preparando-os para a evacuação ou os restituindo às posições. Nada menos que 10.776 homens baixaram aos hospitais durante  os 11 meses de permanência na Itália, que nos dá uma média diária de 32,7, ou seja, 1,3% do efetivo da FEB (25.500 homens, aproximadamente).  O número de mortos nos hospitais foi extremamante baixo, de 49 apenas, o que equivale a uma média de 0,15 casos por dia, correspondendo a 4,6% do número de baixados em igual período.

4.5  ATIVIDADE LOGÍSTICA DE PESSOAL

 4.5.1 Recompletamentos 

     A FEB foi dotada de um Depósito de Pessoal, estacionado em Stafole, com a missão de “adestrar a tropa e recompletar os quadros.” Este era organizado em Batalhões de Recompletamento e Companhias de Recompletamento. Seu efetivo, na Itália, chegou a 10.000 homens de diversas qualificações que recompletaram eficientemente os claros surgidos no combate.

4.5.2 Confecção de alimentação 

 As unidades deviam fornecer, obrigatoriamente, pelo menos uma ração quente por dia, mesmo na ofensiva. Em geral, as próprias Companhias de Fuzileiros preparavam estas rações, facilitando as condições de vida de seus homens.

   Houve uma grande resistência por parte do soldado brasileiro à ração americana, tanto qualitativa quanto quantitativamente, o que fez com que o Comando do da FEB adotasse uma composição mista das rações, introduzindo alguns gêneros recebidos do Brasil.

4.5.3 Suprimento de Reembolsáveis

    O Serviço de Intendência fornecia estes itens, a partir do recebido do V Exército. O suprimento de cigarros, objetos de uso individual, agasalhos, etc., foram constantes, de modo que nada faltou à tropa durante as operações.

 4.5.4 Sepultamento 

      O sepultamento, a cargo do Serviço de intendência, tarefa inteiramente nova, encontrou sérios entraves no início das operações, tanto por falta de meios quanto de experiência por seus encarregados.  Quando o 1º Escalão da FEB se deslocou de Nápoles para o vale do Serchio, os mortos foram sepultados, sucessivamente, nos cemitérios de Tarquínia, Follônica e Vada, o primeiro civil, os dois outros de campanha norte-americanos. Ao transferir-se para o vale do Reno, foi, então, aberto o de Pistóia. Uma vez tombados, os corpos dos soldados mortos eram conduzidos pelas próprias unidades até o Posto de Coleta mais próximo, sendo, daí, transportados pelo Pelotão de Sepultamento para o cemitério correspondente. Durante a defensiva, este Posto foi desdobrado na saída norte de Porreta Terme. (Fonte: ESAO, 2011)               

 4.5.5 Banho e Lavanderia 

       A Companhia de intendência não possuía unidades de banho e lavanderia, daí o V Exército ter colocado à disposição do Serviço de intendência algumas delas, onde era possível encontrar, além de água quente, uniformes limpos para troca. Não obstante estas facilidades, os homens preferiam os banhos improvisados ou nas Termas de Porreta Terme, famosa estação de veraneio. Para lavar seus uniformes, os soldados preferiam contratar lavadeiras locais.         

 4.5.6 Moral e Assistência ao Pessoal 

      A FEB foi dotada de um Serviço Especial, responsável pelas atividades de recreação, o bem-estar e o moral da tropa. Este serviço empregava meios próprios ou cedidos pela Divisão, pelo escalão superior ou pelo próprio meio civil. A falta de recursos e de experiência do pessoal envolvido fez com que seu desempenho fosse pouco expressivo. No entanto, algumas iniciativas foram bastante eficazes, como o uso de hotéis  em Florença, Roma e Nápoles, onde se hospedavam militares em gozo de dispensa; a organização de apresentações de Banda de Música e “shows” para a tropa; e a circulação de um jornal, o “Zé Carioca”.

 4.5.7 Serviço Postal 

     Foi organizado nos moldes do serviço existente no Exército norte-americano, respeitado o sistema postal em uso no Brasil. Integravam-no uma Chefia, com sede em Livorno; dois Correios Coletores (Rio de Janeiro e Natal); dois Correios Reguladores (Natal e Livorno) e uma Estação Postal junto ao QG da Divisão. Cabia aos Correios Coletores receber toda a correspondência, censurá-la e enviá-la ao Correio Regulador (Natal - Livorno), de onde era transportada via marítima para  o outro extremo. Na Itália, a correspondência era enviada à Estação Postal, onde os malotes eram abertos, separando-se as cartas por unidades. A Estação Postal desdobrou uma série de sub-estações à frente, onde as unidades vinham apanhar a correspondência. Houve alguns problemas de operação deste serviço, vindo a ocorrer extravios de correspondência e encomendas, além de irregularidades diversas.

5.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

        O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos e o sistema logístico apesar de não ter sido isento de falhas, nomeadamente no que se referem a anomalias na obtenção e fornecimento de alguns materiais as dificuldades de transporte, do clima, e terreno, soube adaptar-se e foi suficientemente flexível para acompanhar de perto o evoluir da manobra operacional, integrando-se na manobra apoiando estrategicamente todo processo sendo muito a além da sua finalidade e sendo essencial para a vitória, para minimizar os efeitos da guerra aos militares e servindo de apoio às tropas.

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VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA LOGÍSTICA DA FEB - Djalma Alves Cabral Filho, Acessado em: 07 de Setembro, 2013

 

 

*MBA Supply Chain e Logística Integrada (UNICSUL); Especialista em Docência Logística (UNYLEYA); Especialista em Engenharia de Suprimentos com Ênfase em Gestão (UCAM); Graduado em Logística pela Escola de Negócios da Universidade Católica de Brasília (UCB) e Bacharel em Engenharia com Habilitação em Engenharia de Produção.                                                               

 

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