O GÊNERO TEXTUAL “NOTÍCIA”...

Por Ana Aparecida da Rocha | 18/06/2017 | Educação

O GÊNERO TEXTUAL “NOTÍCIA” COMO FERRAMENTA DIDÁTICA PARA A PRODUÇÃO ESCRITA.

 

                                                                                                        Autora: SOUSA, Antonia Patrícia do Santos.[1]

 

RESUMO: Visando a contribuir para uma possível compreensão a respeito dos gêneros textuais no ensino, o presente estudo busca apresentar um levantamento acerca do gênero notícia bem como uma ferramenta para o ensino da Língua Portuguesa assim como sua construção no meio didático. Sendo a mesma estabelecida no universo da informação, torna-se uma aliada importante, a fim de incentivar os profissionais da educação básica a uma interação de professor- aluno-texto nas práticas de leitura e escrita em sala de aula. Para tanto, apresentaremos algumas características dos gêneros textuais e possíveis maneiras de desenvolvimento dos mesmos, que podem auxiliar a definir a notícia como ferramenta para o ensino da língua, e para isso tomamos como base as pesquisas de Bakhtin (1997), Marcuschi (2002/2008), Schneuwly e Dolz (2004), entre outros teóricos, para englobar tais considerações sobre os gêneros textuais.

 

PALAVRAS-CHAVE: Gênero. Notícia. Ensino. Aprendizado. Sequência Didática.

 

1INTRODUÇÃO

Os gêneros textuais vêm sendo objeto de estudos ao longo dos anos, com o intuito de aprofundar o ensino/aprendizado no âmbito escolar bem como suas contribuições para a assimilação da produção e compreensão de textos, visto que ler e escrever é de extrema importância tanto na vida particular quanto na profissional, sendo que todo esse processo é regido pelo uso da linguagem.

Desta maneira, optamos por escolher o embasamento teórico de Marcuschi (2002/ 2008) e Bakhtin (1997) sobre os gêneros textuais, e consequentemente como o estudo dos mesmos se faz nas práticas escolares, na cultura em que se desenvolvem, visto que os autores defendem o gênero textual como práticas sócio- discursivas encontradas no dia a dia. Adotamos também as considerações da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que insistem no trabalho com gêneros dentro da sala de aula, frisandando a participação ativa dos alunos em situações espontâneas de comunicação, adquirindo conhecimentos e ampliando suas competências linguísticas.

 Especificamente abordaremos o gênero notícia como ferramenta didática para o ensino, visto que o mesmo trabalhado de modo eficaz tende a fazer com que o aluno possa desenvolver seu senso crítico diante das situações estabelecidas na sociedade. Uma vez que a notícia é um texto informativo e está presente no cotidiano das pessoas, sendo que muitas vezes, o aluno não conhece como se estrutura uma notícia e o quão é importante o estudo desse gênero para seu desempenho como pessoa crítica.

Portanto, elaboramos uma sequência didática de acordo com os teóricos Schneuwly e Dolz (2004), voltada para o ensino do gênero notícia em sala de aula, como uma possibilidade de prática pedagógica para os educadores ampliar seus métodos de ensino e buscar melhorias de se trabalhar com os gêneros textuais, não apenas como parte do currículo escolar, mas como uma ponte de incentivo de se trabalhar a linguagem. O educador precisa instruir o aluno a uma construção de sentido, a perceber o objetivo de um texto, identificar os recursos linguísticos e principalmente fazer com que o aluno possa refletir e questionar sobre o texto, contribuindo para que seus alunos tornem- se leitores fluentes e bons escritores. Pois sabemos que é no âmbito escolar que as habilidades linguísticas dos alunos são direcionadas para a valorização da escrita e da oralidade.

 

1CONCEITOS DE GÊNEROS TEXTUAIS

A noção de gêneros textuais é bastante complexa, uma vez que estudos comprovam que sua definição varia de acordo com suas funcionalidades. Nesse contexto pode-se afirmar de acordo com Marcuschi (2002, p.20), que “os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem”. E ainda, “são de difícil definição formal, devendo ser contemplados em seus usos e condicionamentos sociopragmáticos caracterizados como formas práticas sociodiscursivas”.

Assim, é quase impossível da uma definição única para os gêneros textuais, pois do mesmo modo que surgem novos gêneros devido à necessidade de comunicação, à alta tecnologia e suas formas de inovações, sabemos que outros vão desaparecendo ou se adaptando e isso se dá graças ao desenvolvimento que exercem mediante a organização social e a cultura de cada indivíduo.

Baseando- se nessa questão de velhos e novos gêneros, Marcuschi aponta o uso da linguagem como a ferramenta principal para distinguir a relação entre a escrita e a oralidade dos novos gêneros emergentes e os já existentes. Para tanto, o autor ainda ressalta:

Esses gêneros que emergiram no último século no contexto das mais diversas mídias criam formas comunicativas próprias com certo hibridismo que desafia as relações entre oralidade e escrita e inviabiliza de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino da língua. (MARCUSCHI, 2002, p.20).

 

O autor sustenta que com o avanço da internet, novas formas de expressões vão surgindo dando origem ao que ele chama de “fala por escrito”, ou seja, uma junção de imagens e sons que proporciona uma linguagem diferente advinda da internet o que ele denomina de hibridismo mais acentuado. (MARCUSCHI, 2008, P.21).

Referindo-se a essa noção de hibridismo, o autor nos apresenta a ideia de intertextualidade intergêneros, que é uma mistura de gêneros em que um atribui funções de outro gênero, como por exemplo, um artigo editorial tendo o formato de uma poesia ou uma canção, mas isso não impede a interpretação do gênero, pois o que predomina segundo o autor é a função na determinação do gênero, o que deixa claro a flexibilidade e a movimentação dos gêneros.

Bakhtin (1997) coloca em evidência a transmutação de gêneros, se referindo a essa questão de transformação de um gênero por outro, classificando assim os gêneros em primários e secundários. Ressalva que é importante distinguir essas categorias para obtenção de uma compreensão maior sobre as características de cada um.

Com base nisto, o autor nos diz que:

Os gêneros secundários do discurso – o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico, etc.- aparecem em circunstância de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica. Durante o processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstância de uma comunicação verbal espontânea. (BAKHTIN, 1997, P.281)

Koch (2011, p.59) ressalva que existem dois tipos de gêneros a se trabalhar nas escolas, mediante aos estudos de Schneuwly e desenvolvimento de Rojo (1998), em que há gêneros escolares que funcionam na escola para ensinar como instrumento de comunicação (gêneros primários) e gêneros escolarizados, que são objeto de ensino/aprendizagem (gêneros secundários) e que são exclusivos da escrita trabalhada nas escolas.

Diante de tal afirmativa, podemos estabelecer a transmutação como um fenômeno que consiste na transformação ou aprimoramento de gêneros simples em gêneros complexos, que ao se transmutarem adquirem um estilo semelhante ao que foi absorvido.

            Em conformidade com a relação que os gêneros estabelecem, Koch (2009, p.166) expõe que um gênero é colocado na esfera ou no centro de outro com a finalidade de produzir objetivos comunicativos. Assim entendemos que um gênero pode assumir o lugar de outra como técnica discursiva com propósito de se criar ou persuadir diferentes textos.

Para assimilar e compreender melhor o conceito de gêneros textuais, Marcuschi ressalta que todos os textos que nos deparamos durante o cotidiano são formas de gêneros, pois assumem funções e finalidades com características discursivas. Ressalta ainda em conformidade com Bakhtin que só podemos nos comunicar verbalmente por algum gênero ou por algum texto: “Em outros termos, partimos da ideia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual.” (MARCUSCHI, 2008, P.22).

Dessa maneira, o autor faz uma distinção referente a gêneros textuais, tipos textuais e domínio discursivo, para se obter uma compreensão mais exata de cada termo e a diferença entre eles, pois embora distintos, se relacionam como meio de se fazer comunicação. Assim pontua que tipo textual serve para designar uma estrutura definida pela natureza linguística de sua constituição, abrangendo cerca de meia dúzia de classes estabelecidas como narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Já o gênero textual, define como textos concretizados que encontramos cotidianamente e que contém características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composicionalidade.  Com relação ao domínio discursivo o autor define como uma prática de grandes esferas discursivas ou de atividade humana, na qual não abrange um gênero específico, mas propicia o surgimento de vários deles, onde os textos circulam. (MARCUSCHI, 2008, P.23-24).

Bakhtin ressalva essa questão da comunicação verbal na vida cotidiana e nos fala que:

Esses gêneros do discurso nos são dados quase como nos é dada a língua materna, que dominamos com facilidade antes mesmo que lhe estudemos a gramática. A língua materna — a composição de seu léxico e sua estrutura gramatical —, não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com os indivíduos que nos rodeiam. Assimilamos as formas da língua somente nas formas assumidas pelo enunciado e juntamente com essas formas. As formas da língua e as formas típicas de enunciados, isto é, os gêneros do discurso, introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente e sem que sua estreita correlação seja rompida. (BAKHTIN, [1992] P.301-302).

Nesse contexto, o autor nos diz que a comunicação verbal se faz através da língua e dos enunciados referentes aos gêneros e que seu aprendizado se faz mediante a comunicação com outras pessoas e muitas vezes não percebemos o tanto que utilizamos desses gêneros, pois utilizamos um gênero no dia a dia automaticamente.

Os PCN (1998, p.22) reforçam a ideia de comunicação e corrobora que “produzir linguagem significa produzir discursos. Significa dizer alguma coisa para alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico. Isso significa que as escolhas feitas ao dizer, ao produzir um discurso não são aleatórias- ainda que possam ser inconscientes-, mas decorrentes das condições em que esse discurso é realizado”.

Podemos estabelecer de acordo com essa afirmação que quando nos comunicamos verbalmente com alguém, o discurso é realizado mediante ao conhecimento que a outra pessoa possui, perfazendo dessa maneira a comunicação por meio do gênero na qual o discurso foi realizado.

2ABORDAGEM DOS PCN QUANTO AO GÊNERO TEXTUAL.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa (1998) visam à aplicação dos gêneros textuais como instrumento de ensino para a prática de leitura, produção e compreensão de textos, dos mais diferentes tipos, seja oral ou escrito. Confirmando dessa maneira, que os gêneros são fortes aliados no processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa.

Em consonância com Bakhtin, os PCN (1998, p.23) afirmam que os gêneros são formas determinadas historicamente, caracterizando-se por três elementos principais: conteúdo temático (representa a expressividade dos enunciados e determina a escolha do gênero mais adequado), estilo (forma de posição enunciativa do autor em relação à organização e de autonomia própria caracterizando suas especificidades) e construção composicional (refere-se às maneiras de como um gênero mobiliza um texto).

Ressaltam ainda que os gêneros sejam tidos como “famílias” de textos associados em particularidades comuns, embora diversos, abrangem ações que estruturam os textos. Essa questão é voltada para os usos sociais em que os gêneros são estabelecidos de acordo com as condições de produção dos discursos que resultarão nas formas dos textos.

É importante frisar que para construir um texto de qualidade é necessário que o escritor (no caso, o aluno) esteja apto das práticas de escrita e produção de textos, bem como suas finalidades. Porém, sabemos que as dificuldades perante uma sala de aula é grande. Para tanto, os PCN destacam que:

Formar escritores competentes supõe, portanto, uma prática continuada de produção de textos na sala de aula, situações de produção de uma grande variedade de textos de fato e uma aproximação das condições de produção às circunstâncias nas quais se produzem esses textos. Diferentes objetivos exigem diferentes gêneros e estes, por sua vez, têm suas formas caraterísticas que precisam ser aprendidas. (PCN, 1998, p.50)

O modo mais eficiente de se trabalhar gênero textual na escola, seria proporcionar aos alunos uma interação com as situações advindas do cotidiano com relação à linguagem. Portanto cabem as instituições de ensino de acordo com os PCN:

Ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais: planejamento e realização de entrevistas, debates, seminários, diálogos com autoridades, dramatizações, etc. Trata-se de propor situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato. [...] viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade. (PCN, 1988, p.26-27).

 

Sendo assim, cabe às escolas aprofundar os gêneros textuais em sala de aula, contribuindo assim para a elaboração de textos que promovam a participação do aluno em situações espontâneas do cotidiano, pois é no âmbito escolar que a aprendizagem dos gêneros é realizada sabendo as modalidades a serem trabalhadas para obtenção de um bom texto. Portanto é através dos gêneros que os discentes poderão executar ações linguisticamente vinculadas a realidade, adquirindo conhecimentos e ampliando as capacidades de cada aluno através das competências relacionadas à fala e a escrita.

Entretanto, sabemos que o estudo dos gêneros textuais é bastante amplo e até mesmo pouco trabalhado, uma vez que a redução dos gêneros para serem trabalhados em sala, tanto para a produção como para a compreensão textual são muito limitados, ou seja, parece que há gêneros específicos para o estudo no âmbito escolar, onde o que predomina é a grande valorização pelas características que facilitam a prática de identificar e interpretar, deixando de lado, o estudo geral do gênero enquanto ferramenta de ensino. Além do fato que outros gêneros passam a despercebidos diante da sociedade. Para da ênfase a essa argumentação, Marcuschi (2008) nos informa que “os próprios PCN tem grande dificuldade quando estão diante da multiplicidade dos gêneros existentes e diante da escolha dos gêneros para o tratamento em sala de aula.” Ainda salienta que “Em muitos outros aspectos os PCN são inovadores e muito claros, mas no que se refere aos gêneros, há uma proposta pouco clara do seu tratamento”.

Portanto é propicio uma análise dos gêneros textuais que contenham maior grau de dificuldade tanto na escrita como na oralidade para serem trabalhados a fim de melhorar o ensino da língua.

Para isso, é necessário aprender a escrever de forma proficiente, ou seja, ser um conhecedor e ter um domínio do funcionamento da linguagem e também da leitura, pois muitas vezes o domínio da escrita se adquire mais pela leitura do que pela própria escrita. E é isso o que os PCN (1998) asseguram “compreender a natureza do sistema de escrita da língua — os aspectos notacionais — e o funcionamento da linguagem que se usa para escrever — os aspectos discursivos; que é possível saber produzir textos sem saber grafá-los e é possível grafar sem saber produzir; que o domínio da linguagem escrita se adquire muito mais pela leitura do que pela própria escrita; que não se aprende a ortografia antes de se compreender o sistema alfabético de escrita; e a escrita não é o espelho da fala. O conhecimento a respeito de questões dessa natureza tem implicações radicais na didática da alfabetização”.

Com base nesses aspectos, Koch (2005) conclui que os PCN ainda direcionam caminhos para a prática linguística a fim de ampliar o desenvolvimento dos alunos com relação à linguagem, possibilitando assim uma valorização da linguagem oral e escrita e ressalta que “somente quando nosso aluno possuir o domínio dos gêneros mais correntes na vida cotidiana, ele será capaz de perceber o jogo que frequentemente se faz por meio de manobras discursivas que pressupõe esse domínio”.

Diante de tais afirmações, não podemos deixar de dizer que, existem muitas escolas que trabalham com gêneros em sala de aula, apenas porque eles fazem parte dos currículos escolares, mas não são estudados devidamente e nem possuem ferramentas adequadas para o ensino. Portanto, se faz necessário que as instituições de ensino criem situações em que os alunos possam fazer uso da linguagem em prol dos mais diversos estudos ao longo de sua escolaridade, estimulando a capacidade de compreender textos orais e escritos, nas mais diversas condições contextuais e estruturais, em participação social, focalizando o aprendizado dos gêneros tanto na produção textual como na produção de compreensão dos textos.

 

3A NOTÍCIA COMO PRODUÇÃO DE ESCRITA.

Os gêneros do discurso da esfera jornalística ou gêneros da mídia apresentam se organizados em função de seus leitores, que determinam as formas de mediação nos meios de comunicação. Entretanto sabemos que só é possível sua circulação através do suporte (meio de circulação dos gêneros) que por sua vez é atribuído ao gênero tendo sua função e finalidade diferenciada.

Partindo da concepção de que a notícia é um gênero do jornalismo, entende-se a mesma como produção de sentido de caráter expositivo, e de compreensão dos modos de comunicação. Caracterizando se por relatar fatos do cotidiano relacionados ao interesse da sociedade, sendo acontecimentos reais e atuais, abordado como um texto informativo e impessoal encontrado principalmente nos meios de comunicação como jornais, revistas, televisão, rádio e internet.

Com base nisso Maingueneau postula:

Os meios de comunicação, graças ao avanço da tecnologia, ocupam lugar de destaque nas sociedades contemporâneas, cumprindo o papel de formadores. Configuram-se através dos discursos a serem constituídos a partir das manifestações dos vários campos semiológicos, sobretudo o verbal. A linguagem verbal, que inclui entre as suas características a condição de ‘costurar’ esses vários campos, manifesta-se como base fundamental do discurso veiculado por esses meios. O discurso da comunicação, como outros discursos, tem um indivíduo/sujeito, o sujeito comunicador, que assume a palavra, Seu objetivo primeiro é instituir um relato. (MAINGUENEAU, 2001, p.52)

 

Situado como discurso narrativo, apresentando sequências narrativas ou descritivas, com estruturas básicas que circundam suas características, bem como título ou manchete (tem por finalidade chamar a atenção do público para a informação da notícia) lead (corresponde ao inicio da notícia, onde serão respondidas as perguntas centrais, bem como Quem? O quê? Onde? Quando?) e corpo (desenvolvimento da notícia, onde será explicado o porquê de tal notícia e como sucedeu).

Assim podemos tomar por base as concepções de que a notícia pode ser definida como uma serie de fatos marcados pela impessoalidade, clareza, objetividade e relevância dos fatos apresentados. Contudo seu público é diversificado e consequentemente desconhecido, ou seja, uma notícia pode atingir diferentes leitores de diferentes maneiras, tendo como principal objetivo informar o leitor sobre os acontecimentos do cotidiano contendo informações específicas ou de caráter geral atribuído a um local ou uma região do mundo.

Visto que o gênero notícia propicia informações a diferentes pessoas, na sala de aula se torna um aliado importante na prática do aprendizado, pois atribui funções de linguagem trabalhadas nas práticas sociais e na sociedade em geral, proporcionando um estudo da Língua Portuguesa, voltado para questões reais relacionados com o uso da língua. Estabelecendo com que o aluno possa fazer questionamentos e possíveis indagações sobre um texto noticiário.

 Voltado para o gênero como objeto de ensino, Koch (2011) nos fala que “a situação escolar apresenta uma particularidade onde o gênero deixa de ser apenas uma ferramenta de comunicação, passando a ser, ao mesmo tempo, objeto de ensino/aprendizado”. Portanto, podemos atribuir que o gênero notícia é um dos gêneros que agem no meio social no qual as pessoas conhecem o mundo que as cerca, e é interessante o estudo e o reconhecimento desse gênero tão importante no contexto escolar.

Por se tratar de um gênero pautado em hipóteses, e que tem como objetivo atingir determinado público, o leitor deve ter em mente que os conceitos ou ideais serão definidos pela visão de mundo que cada indivíduo tem, com relação a fatos sociais e políticos. Por isso é interessante criar situações de leitura com contextos reais que permitam a produção textual e a reflexão que favoreçam o entendimento e a finalidade do texto.

Para tanto, é imprescindível que se construa um modelo didático visando com clareza o objeto, no caso, o gênero a ser trabalhado na sala de aula e também os suportes na qual o mesmo circula. Porém sabemos que estudar todos os gêneros textuais e suas características, se torna algo extremamente complicado e seria impossível, uma vez que a quantidade de gêneros existentes é imensa. Cabe, portanto aos educadores propiciar, como já foi dito antes, situações de acordo com o contexto de produção e recepção do gênero trabalhado, fazendo um estudo do funcionamento do mesmo na sociedade e nas relações que exercem diante de uma cultura.

Contudo, o ensino dos gêneros textuais em salas de aula precisa de melhorias, uma vez que as ferramentas disponibilizadas pela escola não são satisfatórias para o acompanhamento do gênero, fazendo com que o aprendizado se realize de acordo com o estipulado pelo currículo escolar, que tem finalidade apenas de trabalhar a compreensão e produção das características principais dos gêneros, deixando de abordar o gênero como ferramenta de ensino.

Seria interessante e produtivo que a escola juntamente com os professores se propusessem a trazer melhorias ao ensino, proporcionando uma prática diária de atividades dinâmicas com a linguagem, para atribuí sentido e possibilitar experiência de vida social para os alunos, através do estudo do gênero como mediador de conhecimentos.

 

4ATIVIDADE DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA UTILIZANDO O GÊNERO “NOTÍCIA”

A partir do momento que você se propõe a ensinar um gênero textual, a sequência didática é uma importante ferramenta que poderá facilitar o entendimento do gênero em sala de aula. E é isso o que nos diz Koch:

“Quando mais precisa a definição das dimensões ensináveis de um gênero, mais a sequência didática facilitará sua apropriação como (mega) instrumento e possibilitará o desenvolvimento de capacidades de linguagem diversas a ele relacionados”. KOCH (2003. Pág., 59)

Para tanto, primeiramente é preciso conhecer melhor o que seria uma sequência didática e como ela se caracteriza.  Para Schneuwly e Dolz (2004), sequência didática é “um conjunto de atividades organizadas produzidas no âmbito escolar de maneira sistemática, voltada para o estudo de um gênero textual sendo ele escrito ou oral”. (Dolz, e Schneuwly, 2004, p. 97).

A sequência didática se compõe de acordo com os autores acima como:

 

Para termos a noção mais detalhada sobre o gênero “notícia”, elaboramos uma sequência didática de acordo com o quadro acima, que nos mostra uma possível prática em sala de aula.

  1. Apresentação de um tema, em que o professor vai expor o gênero que irá trabalhar, no caso, a notícia, e vai explicar o tipo de linguagem utilizada, comentar sobre a composição dos jornais que é um dos veículos de circulação de uma notícia (se no caso, a notícia for impressa), explicar a função social tanto do suporte como do gênero, enfim o aluno deve conhecer as funções e características e a importância do gênero para a produção de conhecimento. É interessante que o educador leve para a sala de aula, jornais para serem lidos e analisados pelos alunos, com o intuito de conhecer melhor o gênero tratado.
  2. 2º O professor deve fazer uma produção inicial, em que o aluno irá produzir um texto com base no que foi ele sabe sobre o gênero notícia, assim o educador deve verificar o grau de conhecimento que o aluno apresenta com relação ao gênero. Nesse momento o papel do professor é moldar uma estratégia de como intervir para uma produção de análise de uma notícia e mostrar o objetivo de tal estudo. Assim deverá observar o que os alunos sabem do gênero notícia e o que poderá ser ensinado, de como ela se estrutura e quais são suas características principais.
  3. 3º Produzir módulos distribuídos em oficinas, em que serão trabalhados problemas de níveis diferentes. Cabe nesse aspecto que o educador divida as oficinas em etapas possibilitando uma abordagem mais detalhada com relação às partes principais da notícia assim como o suporte no qual está sendo veiculada. Que o aluno faça questionamentos a respeito do gênero notícia. Outro aspecto relevante é que o aluno possa conhecer técnicas para a elaboração da notícia. É importante também que o educador faça as atividades de observação e de análise de textos de modo variado. E por fim sintetizar o conhecimento adquirido, ou seja, revisar junto com os alunos as ideias, características do gênero notícia.
  4. 4º Na produção final os alunos colocarão em prática o que eles construíram nas oficinas. Espera- se que eles produzam um texto final de acordo com o que foi estudado, analisando assim o seu progresso. É interessante que o educador oriente os alunos a coletar dados, observar, entrevistar pessoas e principalmente ler sobre o assunto ao qual desejar fazer a notícia. Como um incentivo maior, seria interessante que o professor promovesse uma via de circulação dos textos trabalhados em sala para serem expostos para outras pessoas, como por exemplo, num jornal mural ou revista eletrônica.

É importante esclarecer que essa sequência didática é apenas uma proposta de se trabalhar o gênero notícia em sala de aula. Não obstante, que o professor possa utilizá-la, mas seria recomendável um estudo mais aprofundado e estruturado com relação a uma sequência didática para um resultado eficaz e promissor diante de uma cultura, onde a educação é tão precária e pouco valorizada.

6CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desse artigo foi demonstrar diante da proposta pedagógica, como os gêneros textuais são trabalhados em sala de aula, em especial o gênero notícia, com o intuito de uma valorização por meio do estudo não só do gênero como atividade sociocomunicativa, mas como ferramenta de aprendizagem. Tendo em vista a assimilação e compreensão de textos por parte dos educandos, e também por parte dos educadores, que muitas vezes, não possibilitam a construção do saber e sim do fazer.

É preciso que o educador não fique preocupado em passar para seus alunos apenas informações que façam com que eles aprendam a reproduzir um gênero tal qual ele se apresenta ou a reconhecer estruturas dos textos para produzir um gênero. Entretanto é preciso que os alunos aprendam as finalidades de um determinado texto, assim como os recursos utilizados e o sentido que visam provocar. É preciso que os estudantes aprendam a identificar quem está falando no texto, para quem, em qual situação e com qual objetivo. Assim poderá com mais facilidade aprender determinado gênero, sem pressão ou cobrança. Pois não necessariamente, precisamos conhecer todos os gêneros textuais, uma vez que há gêneros específicos para ler, escrever, falar e ouvir.

Diante de tais considerações, fica evidente que o estudo dos gêneros textuais é de suma importância para o desenvolvimento crítico do aluno, uma vez que seu direcionamento é realizado através da linguagem no contexto social.

 

ABSTRACT:

 

Aiming to contribute to a possible understanding of textual genres in teaching, the present study aims to present a survey about the news genre as well as a tool for teaching the Portuguese Language as well as its construction in the didactic medium. Being established in the universe of information becomes an important ally In order to encourage the professionals of basic education to a teacher-student-text interaction in the practices of reading and writing in the classroom. In order to do so, we will present some characteristics of the textual genres and possible ways of developing them that may help to define the news as a tool for teaching the language, and for this we take based on the researches of Bakthin (1997), Marcuschi (2002/2008), Schneuwly e Dolz (2004) among other theorists, to include such considerations about textual genres.

 

KEY-WORDS: News genre, Teaching, Learning. Didactic sequence

 

         

REFERÊNCIAS

 

ARAES, Celia Regina. A noção de gênero discursivo no ensino de Língua Portuguesa. 2007. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-11122007-092357/en.php. Acessado em 20/04/2017.

 

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Martins Fontes, 2003. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira, 1992.

 

CARVALHO, Guilherme. Diretrizes para a análise de discurso em jornalismo. Revista UNINTER de Comunicação, v. 1, n. 1, p. 5-27, 2013. Disponível em: www.uninter.com/revistacomunicacao/index.php/revistacomunicacao/article/.../291Acessado em 05/05/2017.

                                

COSCARELLI, Carla Viana. 5) Gêneros textuais na escola. Revista Veredas, v. 11, n. 2, 2016. Disponível em: www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo051.pdf. Acessado em 10/05/17.

DIONISIO, Ângela Paiva. MACHADO, Anna Rachel. BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros textuais e ensino. 1ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

 

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça, 1993- Desvendando os segredos do texto- 7. ed. São Paulo. Cortez, 2011.

 

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna R.; BEZERRA, Maria A. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p.19-36.

 

                        . Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, p. 13-67, 2004.

                                                                                      

                        . Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2008.

                                                                  

NACIONAIS, INTRODUÇÃO AOS PARÂMETROS CURRICULARES. Terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC-Secretaria de Educação Fundamental, 1998.

 

SEGATE, Aline. Gêneros Textuais no Ensino de Língua Portuguesa. Linha D'Água, n. 23, p. 13-24, 2010.

 

 

Artigo completo: