O galo e a serpente
Por NERI P. CARNEIRO | 11/02/2019 | CrônicasO galo e a serpente
Naquela fazenda tinha um terreiro.
Naquele terreiro tinha um galo, junto com outros galos, as galinhas, os frangos e franguinhas e todos os pintinhos. E todos viviam em paz, ciscado e comendo bichinhos e comendo milho e limpando o terreiro e ajudando os pintinhos a crescer, na medida em que todos os ensinavam a ciscar e a catar bichinhos para se alimentar. É claro que onde tem galo, galinha, frango, franguinha se pintinho, também tem uns montinhos de merda, aqui e ali. Mas, todos sabem, merda de galinha é um excelente adubo. E a merda daquele terreiro o mantinha adubado: um terreno fértil para muita produção.
Mas, acredite em mim: todo ambiente em que se vive em paz, cedo ou tarde, encontra o atrito. E o tânatos se impõe sobre o ágape.
E foi assim que aconteceu naquela fazenda onde tinha um terreiro, onde tinha um galo, junto com outros galos, e todas aquelas galinhas e todos aqueles frangos e franguinhas e todos aqueles pintinhos. Lá também aconteceu.
“Numa tarde tão linda de sol, ela apareceu!”
Ser rasteiro, rastejando, ela chegou: de mansinho, silenciosamente... como sempre agem as víboras.
Todos sabem que os galos e as galinhas alimentam-se de vários bichinhos. Inclusive comem cobra. Bicam sua cabeça para evitar a língua afiada. E vão bicando até que a serpente é engolida.
Mas antes disso, tão logo os galos e as galinhas vêm a cobra, fazem o alarido. Uns avisando aos outros: aqui tem perigo! O fato é que os galos e as galinhas sabem como agir diante das serpentes. Eles sabem evitar seu veneno.
Aconteceu, entretanto, que aquela serpente, além de chegar de mansinho, veio disfarçada. Apresentou-se em trajas de galinha. E os que estavam no terreiro, acreditaram em suas boas intenções. E a víbora passou a conviver com os galos e galinhas. Ela, entretanto, estava se preparando para dar o bote.
Aquele galo, no entanto, que já conhecia aquela serpente, convivera com ela em outro terreiro, sabia de seus truques. E alertou os galos, galinhas, frangos, franguinhas se pintinhos. Mas já era tarde. A serpente já estava aninhada no terreiro. Disfarçada de galinha, do seu ninho atacava os habitantes do terreiro, disseminando seu veneno.
Algumas galinhas e pintinhos e e frangos e galos pediram para aquele galo entrar no ninho da víbora. Se ele ou outro galo desalojasse a serpente, a paz poderia voltar ao terreiro.
Mas antes que as providências fossem tomadas contra a cobra, disfarçada de galinha, ela deu o bote e afastou aqueles que poderiam lhe bicar a cabeça.
Os galos e as galinhas e os frangos e os pintinhos perguntaram pro galo: o que foi que aconteceu?
- Meus irmãos e irmãs, galos e galinhas: Não temam a serpente, pois ela está sempre à vista. O perigoso é o seu veneno que ela traz escondido. A serpente não é perigosa por ser serpente, mas porque inocula veneno de forma traiçoeira. Se querem evitar o veneno, biquem sua cabeça.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO