O fundamento da Realidade

Por Andrés Ayala | 24/06/2009 | Filosofia

É simplesmente impossível olhar o sol de forma direta. A luz pura do astro pode cegar o melhor olho. Mas, se deixarmos que os raios dele alumiem os objetos que conformam o nosso ambiente, tudo se torna brilhante e visível. A escuridão não pode olhar em direção à luz, porém não existem trevas que não possam ser vencidas pela menor faísca luminosa.

De igual maneira poderíamos argumentar que resulta impossível descobrir a unidade substancial de todas as coisas quando o nosso ponto de vista parte da variedade dos objetos que formam a nossa realidade. Se, pelo contrário, permitimos que a luz do Uno ilumine cada coisa, será possível perceber a unidade na diversidade.

Na etimologia da palavra realidade já vem implícita a idéia da impossibilidade de um conhecimento pleno a partir dela. No latim a palavra “res” significa coisa. Por sua parte, ela deriva do grego “rei” que significa mudança ou aquilo que passa. Ou seja, se a realidade é aquilo que muda e não permanece, é impossível obtermos um conhecimento totalizador com base nela. Quando fazemos à realidade equivalente da verdade, essa verdade está condenada a mudar sem pausa.

O ser humano anela conhecer, ter certeza. Pode estar perdido nas trevas dos dados fragmentados que a realidade oferece, mas deseja, com todas as suas forças, ter acesso à luz da verdade. No íntimo do coração humano existe a intuição que há uma verdade absoluta, eterna e imutável. Uma verdade que pode ser alcançada, mesmo quando não saibamos como.

Podemos continuar pelo trilhado caminho de tentar chegar ao conhecimento da verdade pela síntese dos dados obtidos mediante a análise da realidade. A tarefa hercúlea de montar o quebra-cabeça até agora não deu resultados satisfatórios, e nunca dará. O triste não é quando aparece o ceticismo, quando se declara que o caminho de somar partes é um beco sem saída. A verdadeira tragédia do pensamento humano é o pragmatismo, é cair vítima da acomodação.

O ópio dos resultados tecnológicos fez com que a procura pela verdade unificada fosse deixada de lado e estimada como fantasiosa ou até inútil. O ser humano está num ponto próximo ao suicídio como espécie. A alienação, o consumismo, a devastação do planeta, são produtos da percepção de uma verdade totalizadora e unificadora.

O tempo é propício para propor um ponto de vista diametralmente oposto. Um ponto de vista que parta da luz inacessível do Uno. Precisamos, para isso, abandonar o pensamento fragmentário. Devemos partir da unidade como categoria fundamental. E dela derivar a multiplicidade dos seres.

Conseguiríamos, assim, perceber a responsabilidade de todos por tudo. A unicidade de todas as coisas, com fundamento no Uno, impediria a atomização irresponsável que exalta o indivíduo, o fragmento, por sobre a totalidade. Poderíamos iniciar o processo que, talvez, abriria a possibilidade de restaurar a integridade do ser humano e a natureza.