O fruto do vosso ventre
Por Henrique Araújo | 13/06/2009 | Literaturao fruto do vosso ventre
duma bolinha redonda nasci
que alegria, a vida me iniciava
eu começava a ser gente.
Lentamente fui crescendo, eu me vi
era uma flor que então desabrochava
eu germinava em semente.
Eu começava a crescer, que alegria!
Eu iria ser gente brevemente
Ah! Quanta felicidade!
Qualquer hora iria ver o dia
a isto eu aspirava ardentemente
seria toda bondade.
Os meus pobres braços logo cresceram
engrossaram-se, bem grandes ficaram
oba! Que imenso prazer!
Os meus pais com carinho me zelaram
eu queria ser bonita, deixaram
sozinha então eu crescer.
Eu criei pernas, ó quanta beleza!
Pela treva do espírito lancei-me
eu ainda estava só
era tão grande minha sutileza
e sorrindo muito, uma vez sentei-me
da mamãe eu tinha dó.
Debalde que exauriu-me o desalento
eu cantava em oração - nosso Senhor
nascia o coração.
Vivia ao corpo da mamãe adentro,
mas lá no fundo eu já sentia o amor
eu fui uma solução.
A minha pele altiva e serena
eu sentia nascê-la lentamente
eu era só um objeto
com espírito já soava agora
a vida já seria eternamente
eu já era um ser concreto.
De sangue materno então eu vivia
tinha sede de um sol, a luz eu ver
eu tinha já uma vida
então sozinha eu muito sorria
era toda uma ilusão do meu ser
eu estava enternecida.
E nos fulgores os meus pés cresceram
pernas criaram, coração também
muito alegre eu rezava
os meus órgãos todos apareceram
aos bons anjinhos eu dizia amém,
pois eu tanto os amava.
De mamãe, eu já queria sair
era nova, nasceria ao tempo
eu teria que nascer
como a flor eu teria que florir
e mostrar minhas pétalas ao vento
então iria crescer.
Queria ver o sol e o firmamento
e pular com as crianças pelo mundo
uma então eu seria
eu sonhava tão ainda em fragmento
já sentia uma vida em profundo
que bom! Logo nasceria.
Nasceria dum corpo e um espírito
eu vivia num mundo idolatrado
eu vivia na ilusão.
Eu teria uma sombra, o perispírito
de alma pura, porém bem trabalhada
mas u’a vida de ação.
Minha pele era doce e aveludada
era um ninho de amor e de carinho,
pois eu tinha já amor
tinha já minhas mãos tão delicadas
do mundo já me via no caminho
eu não temia a dor.
A mente começava a trabalhar
e fisicamente eu já era um ser
mas ninguém me conhecia
ansiosa pois, que nome iam dar
para mim que na vida iria ser
uma amor de criancinha?
Meu corpo bonito cresceu tão grande,
porém eu vivia em um grande escuro
muito embora já vivia
do tempo passado, tinha saudade
atrapalhava-me a frente, o muro
que para nada servia.
Ah Eu vivia na mamãe, pulando
ela, talvez, nem mesmo pressentia,
mas eu agora lá estava.
Muitas vezes via a mamãe cantando,
mas quando mamãe chorava eu sofria
e assim eu me magoava.
Queria comer só coisa gostosa
fazia em mamãe um grande desejo
e ela então muito comia
e eu ficava então toda prazeirosa,
mas eu então tinha um grande desejo
e da mamãe eu sorria.
Às vezes via algo tocar em mim
tinha medo, pois eu era tão pura
e eu tudo me envergonhava,
mas via minha mãe sorrir assim
eu estava mesmo era tão insegura
ah! Só então eu chorava.
O meu alegre corpinho só crescia
sentia uma grande felicidade,
pois eu tinha já uma vida
queria olhar o infinito, sorria
ó eu queria ser só bondade,
mas eu não era querida.
Pois assim, quando eu menos esperava
quando bem eu sorria alegremente
assim quando eu já amava
recebi tudo que não desejava
assim e muito triste e pesadamente
o meu ser já declinava.
No útero, e no seio materno
dose de veneno então recebi
toda a minha bela sorte
fechada em um cubículo interno
agonizei-me tanto, eu sofri
a mamãe deu-me a morte.