O fantástico show da vida

Por Thiago Correa Silva | 29/10/2012 | Sociedade

O Brasil inteiro está acompanhado semana após semana a saga do ex-jogador Ronaldo – Fenômeno – para emagrecer e do jogador Adriano – O imperador – que ainda tenta se recuperar de uma lesão no tendão de Aquiles. As histórias apesar de parecerem opostas caminham de mãos dadas. Ronaldo sempre foi um obstinado, além de ser um jogador talentoso, parece que foi talhado para vencer os grandes desafios. Sua redenção foi a Copa do Japão e Coréia em 2002, onde se tornou o maior artilheiro em Copas do Mundo. Conseguiu recuperar a imagem e a credibilidade, após a derrota na final da Copa de 98 onde sofreu um ataque epilético antes do jogo, e das graves lesões nos joelhos. Com o fim da vitoriosa carreira de jogador, Ronaldo abriu uma empresa de marketing esportivo que agencia e cuida da carreira de atletas de ponta, tem em sua carteira de clientes nomes de peso como o jogador Neymar e o lutador Anderson Silva. Seu prestígio e sua fama lhe concederam o cargo de presidente do COL (Comitê Organizador Local para a Copa do Mundo de 2014).

Na outra ponta da história temos Adriano, o jogador foi revelado pelo Flamengo logo em seguida se transferiu para o futebol italiano e por lá fez fama e fortuna. Assim que passou a atuar pela Inter de Milão ganhou da imprensa italiana o apelido de "O imperador". Adriano é um jogador forte com um impressionante faro para fazer gol, acabou convocado para disputar a copa de 2006 na Alemanha. Suas apresentações antológicas contra a Argentina na Copa América e na Copa das Confederações transformaram o jogador em um dos maiores carrascos, do maior adversário da Seleção Brasileira.

Nas últimas semanas o jogador e o ex-jogador tem tido bastante destaque na mídia. Ronaldo faz parte de uma espécie de Reality Show, semanalmente o público acompanha a sua luta contra o excesso de peso em pleno horário nobre. Mesmo expondo o tempo todo a sua vida, o ex-jogador reclama da falta de privacidade. Assim que começou a carreira no Cruzeiro, o craque ainda jovem teve um encontro com Tostão, o maior ídolo do clube mineiro, e foi aconselhado a tentar preservar sua intimidade, mas o então jogador nunca teve habilidade suficiente para separar a vida pública da privada. Já Adriano vira e mexe está constantemente envolvido em algum imbróglio, está sempre denunciando que as coisas não caminham tão bem quanto parece, já admitiu inúmeras vezes os problemas que tem com álcool, costuma levar uma vida um tanto quanto desregrada, para um atleta em atividade, e que ainda por cima se recupera de uma grave lesão, após duas cirurgias no mesmo local. Todas as vezes que foi cobrado pela sua falta de compromisso, o “Imperador” se diz pressionado não sabe se irá voltar a jogar futebol, diz que vai procurar ajuda profissional, mas sempre recua na hora de definir.

Grande parte da mídia está acostumada a trabalhar com os estereótipos. Adriano e Ronaldo estão no mesmo patamar a relação entre eles e a mídia é retroalimentar. Esse é o jogo de uma mídia que abre mão da informação de qualidade por uma informação sem aprofundamento, o que é característico da indústria cultural. Ronaldo segue transformando em cifras a sua exacerbada exposição, o Fenômeno resolveu se mostrar mais uma vez um Olimpiano, na tentativa de superar todas as agruras para conseguir entrar em forma e assim representar o Brasil na Copa de 2014, enquanto isso, Adriano segue nas páginas dos jornais desacreditado, servindo de piada para sociedade. O que ambos parecem não perceber é o massacre ao qual se submetem, constata-se que existe uma real dificuldade de aceitar o fim de suas prósperas carreiras, por isso a busca para se manterem em evidência é frenética.

A relação de troca entre o real e a ficção é minuciosamente calculada pela mídia, ao excluir a dimensão de referência, acaba–se por excluir elementos que são inerentes à condição humana, é como se não existisse o sofrimento ou a frustração. Em um mundo encantado como esse, a fascinação é o resultado da aniquilação e da implosão do sentido. A pretensão não é mais informar, mas de fazer da informação algo puro e vazio. Adriano e Ronaldo, Pelé e Garrincha os personagens podem mudar de nome, mas na verdade atendem ao mesmo propósito, enquanto isso se permanece seguindo sem discutir as questões que são relevantes ao esporte.