O fantasma do telefone.
Por Carlos José Esteves Gondim | 21/11/2013 | CrônicasO Fantasma do telefone
-- Triiim – Êpa!
-- Triiim – triiim. – Pulo da cadeira...
-- Triiim, triiim, triiim, triiim – Tomo o telefone sem fio descansado, colocando-o ao pé do ouvido. Aguardo. Uma voz do outro lado avisa: “No momento, não posso atender. Após o sinal, deixe o seu nome, telefone e recado.” Espero. Ninguém reponde à voz gravada. Aguardo mais um pouco. Nada. Sinal de ocupado. Descanso o telefone ao meu lado. Corro pra cozinha onde está o outro telefone – um velho Ericsson do Brasil, de disco.
-- Triiim, triiim, triiim, triiim, triiim, triiim, triiim. Êpa! De novo!? Desta vez deixei dar os sete apitos da campainha do aparelho da cozinha. Rapidamente, retorno ao sem fio ao ouvido. A mensagem se repete... Dou um grito! Chamo um palavrão daqueles! Ofendo a mãe do provável ouvinte da outra ponta do fio... Nada. Ninguém responde. O sem fio descansa de novo. Vou dormir.
-- Triiim, triiim, triiim. Com um movimento rápido como se fosse um mocinho do faroeste americano, saco o revólver, ou melhor, o telefone sem fio que dormia ao meu lado.
--“Pliiim! Seis horas, trinta minutos e quarenta e cinco segundos”. Confiro no relógio de pulso. Aguardo. Ninguém fala. Dá o sinal de ocupado. Retorno o sem fio e me levanto. Acabo de ser despertado pela hora certa que não disquei, nem programei.
No meio da manhã resolvo consultar a operadora telefônica.
-- Você acredita em fantasma? – Pergunto à telefonista chamada Glória. Ela não responde. Continuo: -- Pois bem, ontem à noite aconteceu!
-- Aconteceu o quê, senhor?
-- Apareceu um fantasma em minha linha! – Respondi com a cara parecendo um verdadeiro idiota.
Contei o caso e arrematando disse: -- A coisa se repetiu e em nenhuma delas eu estava usando o meu telefone! Nem tentando discar telepaticamente, brinquei.
-- Seu nome, número e endereço – falou ela, teclando as minhas informações.
-- Não se preocupe. Dentro de vinte e quatro horas o seu problema será investigado. Desliguei.
Nesta noite o fenômeno se repetiu. Tentei decodificar os triiins: Algarismo 1 – trim. Algarismo 2 – triiim, triiim. Algarismo 3 – triiim, triiim, triiim. E assim por diante. O zero era o mais longo deles... A campainha do velho Ericsson repetia os movimentos da mão do fantasma.
-- Aconteceu de novo ontem à noite – falei pra telefonista, agora chamada Tânia.
-- Meu senhor faça o seguinte: Ligue pra este número 3233-**** (as estrelinhas são minhas, pelo motivo óbvio que a ficção não explica).
-- Brigado. – Desliguei.
-- Alô. É do 3233-****?
-- É.
-- O que se trata?
-- Tu acreditas em fantasma?
-- Rarará!
-- É o seguinte: Blá, blá, blá, blá, blá...
-- Aguarde.
-- ...
-- Não deu nada...
-- ?
-- Meu senhor. Ligue pra nós quando estiver acontecendo o fato.
-- Este telefone atende à noite?
-- Não senhor. Só no horário comercial.
-- Mas como...
Vamos mandar um funcionário rastrear desde a caixa do seu prédio até a central.
-- Humm.
-- Té logo.
-- Té – Desliguei.
Às vinte e uma horas e cinquenta e três minutos dessa noite o fantasma voltou a atacar.
-- Rastreamos toda a linha. Trocamos um transistor. Nada. Não detectamos absolutamente nada.
-- E ai? Ontem o número que o fantasma discou era de aparelho celular. Quem vai pagar? Serei eu?
-- Não se preocupe. Isto não acontecerá.
-- E qual é a solução?
-- É por causa do telefone sem fio! É ele o fantasma!
-- Mas como? A tecla “talk” têm que ser acionada. E em todas as vezes que o fenômeno “paratele” acontece, eu não estava usando o aparelho!
-- É...
-- ??? – Desliguei.
O fantasma continua a frequentar o meu aparelho. E pior, apareceu em minha conta telefônica mensal...