O exermplo da borracha
Por Romano Dazzi | 05/06/2009 | Crônicas
O EXEMPLO DA BORRACHA
De Romano Dazzi
Pode parecer prosaico e arcaico, mas alguns anos atrás, ganhávamos (eu e os meus patrões) um bom dinheirinho, trabalhando com borracha.
Borracha natural, rígida como sola, de uma cor amarelada indefinível, esticada em lençóis irregulares e mal-acabados, extraída das seringueiras no fundo das selvas encharcadas da Tailândia.
Por tortuosos caminhos, elas chegavam até nós, e era um sacrifício, um problema, uma luta demorada, para se conseguir todos os carimbos, para atravessar as fronteiras pelo Sul.
Interpretando leis ambíguas, instruções contraditórias e portarias obscuras, conseguíamos finalmente os desejados fardos de borracha, que vendíamos a peso de ouro.
A luta era difícil, mas o ganho compensava.
Um dia, finalmente, li no jornal uma notícia maravilhosa: o Governo tinha decidido eliminar toda a tralha de leis que atrapalhavam o nosso comércio, liberando a importação do produto.
Corri feliz, para contar isso ao chefe; e recebi a maior ducha fria.
- “Você está louco? Esta é a pior notícia da nossa vida!
- Tanto tempo, tanto esforço para montar e fazer funcionar este negócio, e agora esses palhaços vêm e arrebentam com tudo!”
No momento não entendi; mas depois, atinei com a desgraça.
Nosso negócio tinha ido para as favas!
Qualquer um poderia fazer uma importação, de maneira simplificada, ninguém teria que dançar nas brasas, correr atrás de carimbos e vistos e selos, pagar despesas “extra”, pedir, chorara, implorar, tentar por todos os meios possíveis e impossíveis, convencer uns funcionários desinteressados, que não davam a mínima para nenhum tipo de argumentação.
Imaginei o mercado inundado de borracha, os preços despencando, nossa pequena companhia arruinada, em menos de dois meses.
E foi o que aconteceu.
Bom, a conclusão é simples: se não tiver nada para atrapalhar, o comércio morre.
Ele precisa de leis confusas, fiscais armados de bíblias, complicações de todos os tipos.
É isto que faz prosperar o negócio.
Agora pense bem: sua vida também é assim; o melhor de você aparece quando você tem problemas insolúveis, preocupações imensas, paredões altíssimos para escalar, sem corda, sem ganchos, sem mosquetões e carregando nas costas uma tralha pesada.
Pode crer: este é o seu melhor momento!