O exemplo

Por Marcello Rocha de Figueiredo | 16/03/2016 | Crônicas

Dom Helder, juntamente com outros bispos fez uma opção pelos pobres, no chamado Pacto das Catacumbas, não pela pobreza miserável mas pela necessidade de termos o estritamente imprescindível para uma vida plena e produtiva.

Optou o mesmo por viver na sacristia de sua paróquia, onde, sem nenhum tipo de privilégio atendia a todos, ao telefone e a porta quando chamado, de maneira simples, verdadeiramente humilde e voltado para o problema da comunidade local. Sabia ele que não se chega ao todo sem a completa união das partes.

Na linha de Dom Helder, o Papa atual desafiou a instituição poderosa que a séculos acumulava má gestão e relações indesejáveis com uma elite perigosa a abrir mão de suas muitas pompas e ritos sem sentido e enfrentar de frente os problemas reais, sair dos gabinetes e palácios e ir ter com o povo, o mais necessitado e unir, mesmo nas diferenças, dado que comunhão é de fato o que importa.

O exemplo deve ser adotado pela classe política. Reduzir protocolos, formalidades e benefícios pessoais em prol de uma vida voltada a comunidade que o elege para defender o bem comum.

Em tempo de ostentação, consumismo e corrupção na sociedade brasileira, a opção pelo povo não parece o caminho do governo central, ocupam mais o tempo com acordos e propinas para manterem a situação como está, julgando que o povo não tem capacidade para entender os seus conchavos e negociatas e que não percebe que é o meio justificando os fins ou no caso o fim.

No ano de 2016 podemos de fato mudar alguma coisa, eleições municipais, oportunidade de fazer algo de fato importante para onde tudo começa: nossa casa.

Sigamos mais o exemplo do Dom Helder, abrindo mão do que temos e aplicando tempo e capital humano no que somos, a exemplo do nosso vizinho o Mujica, que não mudou nada em sua vida ao ser presidente de um país minúsculo e muito problemático e que, com simplicidade e leitura da vontade do povo diminui a pobreza e transformou em lei a realidade vivida na nação dos pampas, a receita dele de tão simples parece sonho: aumentar o consumo consciente fazendo com que os trabalhadores ganhem mais e alimente a indústria com o salária que a própria indústria passou pagar de forma justa, fazendo a verdadeira redistribuição da renda sem protecionismo, sem paternalismo e sem hipocrisia. Salve Mujica, Dom Helder e Francisco que apliquemos a simplicidade como forma de vencer todas as crises, em especial as da alma.