O ESTRESSE CRÔNICO E O ESTUDANTE

Por Rafael Pereira de Albuquerque | 17/04/2010 | Arte

SINOPSE

A paciente, 40 anos, professora universitária, natural de Sousa/PB, casada e tem duas filhas adolescentes. Há 03 anos, mora em Recife/PE, onde faz doutorado e está com data marcada para defesa da tese. Procurou um médico em hospital particular em Recife, queixando-se de palpitações, insônia, ansiedade, intolerância ao calor e acentuada perda de peso (3 quilos em 02 meses). Acrescentou ainda que, há 02 meses, os ciclos menstruais têm sido irregulares. Afirma não ter histórico de tabagismo, etilismo, uso de medicamentos e casos de doença de natureza cardiovascular/endócrina.

O exame físico apresentou os seguintes parâmetros:

Estado geral regular

Aparelho pulmonar normal

Abdome sem alterações

Aparelho Cardiovascular com freqüência cárdica acelerada, 160 batimentos por minuto, hipertensa com pressão arterial de 190 mmhg de sístoles e 90 mmhg de diástoles.

Quanto ao estado emocional, a paciente mostrou-se visivelmente ansiosa.

A paciente afirma sentir sobrecarga de estresse, em razão da aproximação da data em que terá de defender a tese de doutorado e, igualmente, devido à distância da família.

Formuladas as hipóteses sobre o diagnóstico, foram solicitados os exames de rotina, procedeu-se à medicação com anti-hipertensivo. Ato contínuo, a paciente foi orientada a fazer uma dieta com baixo consumo de sal e o retorno da consulta.

HIPÓTESE DO DIAGNÓSTICO

          A partir de uma ligeira análise do caso, é possível conduzir as hipóteses diagnósticas para fatores psicossomáticos associados ao estresse. É que os sintomas declarados pela paciente originaram-se em circunstâncias que determinam uma considerável reação das funções psíquicas, as quais se prolongam porquanto perdurem as causas geradoras do evento. Com efeito, a paciente menciona história de meios de vida salutares, isentos, portanto, de determinadas condutas degradantes à saúde. Do mesmo modo, os exames físicos, quanto ao estado geral, aparelho pulmonar e abdome, constataram que a paciente não ostenta desníveis anatômicos/ estruturais, confirmando-se, destarte, a versão de que se trata de uma pessoa cautelosa com a manutenção da saúde. No entanto, o critério que merece ênfase é o quadro de hipertensão e ansiedade que a paciente apresentou, por ocasião do exame físico.

Com os padrões impostos pela vida moderna, em uma atmosfera de tensão prolongada, os casos de hipertensão arterial ocupam o ápice das manifestações patológicas mais freqüentes da atualidade, acometendo 01 em cada 05 pessoas. Esta robusta estatística valoriza a importância do estresse como um dos fatores a serem considerados na linha diagnóstica, retirando-o do empirismo, ao projetar a sobrecarga de estresse como determinante de várias patologias. Experiências recentes comprovaram o modus operandis do estresse nas diversas funções biológicas. Nas linhas seguintes, passamos a descrever, resumidamente, a função fisiológica do estresse nos distúrbios cardiovasculares:

Em situações de tensão, o corpo se prepara para entrar em estado de alerta, assumindo posição de luta ou fuga. Os estímulos sensoriais, conscientes ou resgatados de memórias, determinadores da reação fuga ou luta, repercutem no sistema nervoso central – SNC, atuando na hipófise, que coordenará a síntese dos hormônios responsáveis em potencializar o metabolismo e as respostas fisiológicas em geral. Esse dispositivo visa habilitar o organismo para assumir posições enérgicas, tanto para enfrentar uma situação que exige atitudes dinâmicas e ágeis, ou, em contrapartida, para fugir de situações que estejam acima do alcance das habilidades individuais, quando não seria conveniente encarar essas situações, diante do provável insucesso. Uma vez estimulada para produzir os hormônios do estresse, a hipófise secreta hormônios na corrente sanguínea, os quais serão processados por receptores específicos nas células das glândulas adrenais, na parte superior dos rins, resultando na síntese dos hormônios CORTISOL e ADRENALINA. As glândulas adrenais, sob estimulo da hipófise, secretam cortisol e adrenalina no sistema circulatório, causando uma aceleração do metabolismo e demais funções orgânicas. O organismo passa a funcionar em um ritmo mais acelerado. Daí, o maior consumo de energia pelas células, provocando uma brusca perda de peso.

O cortisol é conhecido como o hormônio do estresse, pelos efeitos estimulantes sobre o organismo. Já a adrenalina provoca uma brusca aceleração dos batimentos cardíacos. Não há duvida de que a secreção destes hormônios é uma causa de aumento da pressão arterial, tanto em função dos batimentos cardíacos mais exacerbados, como também em virtude de um maior fluxo da corrente de sangue sistemática, exercendo-se maior pressão sobre as paredes das artérias.

Apesar de que a síntese dos hormônios do estresse seja benéfica, para possibilitar a agilidade imprescindível para a subsistência das espécies, em face de situações em que o individuo tenha necessidade de esboçar reações instantâneas, o certo é que esses hormônios, quando secretados em longo prazo, produzem o que se denomina de ESTRESSE CRÔNICO.

O ESTRESSE CRÔNICO representa uma verdadeira ameaça ao estado geral de saúde, sendo um critério fundamental a ser considerado na elaboração de um diagnóstico consistente.

Os efeitos adjacentes variam nas pessoas, sendo muito freqüentes queixa de palpitações, insônia, instabilidade emocional, agitação, tremores, sudorese, perda de peso, baixa resposta imunológica e, sobretudo, alterações no sistema cardiovascular. Neste tópico, observa-se que o histórico da paciente condiz com esses sintomas, mormente no que se refere à pressão arterial e ao estado de ansiedade.

Como o fator crucial que deflagrou o estado de estresse contínuo da paciente resumem-se na tensão emocional psicossomática, por motivos profissionais e familiares, é de bom alvitre recomendar, além das medicações alopáticas (anti-ansiolíticos, diazepínicos), as benesses das terapias assistenciais, a exemplo de: terapias ocupacionais, acompanhamento psicológico, prática de hábitos saudáveis, alimentação balanceada, visando, assim, erradicar as causas geradoras do quadro clínico. Afinal de contas, a saúde física e mental é a base primordial de irredutível bem estar e qualidade de vida.

Do exposto, Salvo Melhor Entendimento, posicionamo-nos em considerar, em tese, o
diagnóstico de ESTRESSE CRÔNICO

João Pessoa, Paraíba.

Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, abril de 2010

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*Rafael Pereira de Albuquerque: é estudante de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, Paraibano, nascido em Cajazeiras, morou em Campina Grande e atualmente reside com a família em João Pessoa. Este trabalho foi realizado sob a orientação do Professor da Tutoria de Sistema Endócrino, Dr. Geraldo.