O Esporte Moderno nas Aulas de Educação Física: Realidades e Possibilidades de uma Pedagogia Crítica

Por IVO NETO | 03/04/2010 | Sociedade

Ivo Nascimento Neto

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RESUMO

O esporte é um dos conteúdos mais utilizado na Educação Física escolar, sendo que a maioria dos professores concentra as suas ações no ensino de habilidades motoras e gestos técnicos. Entretanto, para o aluno adquirir um conhecimento amplo deste conteúdo Entendemos que se deva ir além da aprendizagem de movimentos esportivos específicos. O objetivo deste estudo foi mapear e analisar as realidades e possibilidades do esporte moderno nas aulas de Educação Física contexto escolar bem como salientar outra perspectiva a parti do referencial teórico utilizado. Utilizando a técnica da pesquisa bibliográfica, buscamos propostas para o ensino do esporte escola tendo como referência uma pedagogia criticar.

Palavras-chava: Educação Física, escolar, Pedagogia crítica e esporte.

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INTRODUÇÃO

Pela nova lei de diretrizes e bases da educação nacional lei 93.94-96 a obrigatoriedade do ensino da Educação Física "refere-se à educação básica sendo facultativo no ensino noturno" (Bracht,2007.p.59). Entretanto nesse primeiro ano de lei a Educação Física teve dificuldade de manter-se na grade curricular da escola (BRACHT, 2007), acreditamos que existe uma falta de interpretação e orientação normativa da inserção da Educação Física na rede de ensino fundamental e médio. Problema de interpretação legislativa tem dado margem na legitimidade da Educação Física. Embora a legislação Brasileira obrigue a presença da Educação Física na escola, ainda existe uma redução em da sua permanência no currículo da escola, principalmente no ensino fundamental (BRACHT, 2007).

Iremos considerar aqui os argumentos que durante sua história serviu de suporte para justificar a Educação Física no currículo escolar. Hegemonicamente compreendido, o esporte se vincula hoje no imaginário da Educação Física de uma forma reduzida, limitada ao rendimento, ou seja, o esporte se refere apenas como conteúdo competitivo, atlético e de alto rendimento. Historicamente cristalizou-se uma representação (imaginário) que a Educação Física era basicamente vinculada ao fenômeno esportivo.

O esporte configura-se como conteúdo curricular na disciplina de Educação Física. Apesar da ocupação em evidência, dentro da Educação Física escolar, o mesmo, têm-se reduzido, sua gama de conhecimento nas últimas décadas, podendo isto ser facilmente observado através dos currículos apresentados pela maioria das escolas brasileira, as quais, por um longo período vêm desenvolvendo programas esportivos (jogos estudantes), baseados em modelos centrados nas habilidades técnicas e táticas, puramente conteúdista (BRACHT, 2007).

O esporte é um dos elementos da cultura mais importantes da Educação Física escolar, em presença, temos que reconhecer que o esporte é atualmente, um conteúdo protagonista do contexto escolar, o qual tornou-se um elemento contestável do ponto de vista educativo, haja visto que o esporte é a manifestação mais sinalizada e valorizada pelos alunos, coordenadores e diretores de escolas. Por um lado o ensino do esporte na escola tem reduzido seu conhecimento, dando prioridade ao desenvolvimento técnico e tático, deixando de explorar outros e novos conhecimentos no contexto da educação[1].

Ter ciências sobre o esporte não significa mais apenas executá-los, mas saber suas regras, sua história e sobre tudo sua inserção político-social. É visto que o esporte está inserido em quase todos os espaços escolares, presente no Brasil e em todo mundo de uma forma espetacular.

Sabendo disso algumas preocupações e indagações são levantadas: qual o papel do esporte nas aulas de Educação Física escolar? A construção do ponto de vista real de outro esporte escolar é possível? No entanto, percebe-se uma tentativa pertinente de discutir questões referentes, ao esporte nas aulas de Educação Física, aspecto positivo e negativo do esporte, ressaltando as polêmicas que são impostas e transmitidas pela mídia, possante veicula de informação colocando sempre o esporte enquanto espetáculo, acelerando seu processo de transformação mercadológica (KUNZ, 2003). Diante disso o presente texto tem o objetivo de: mapear e analisar as realidades e possibilidades do esporte moderno nas aulas de Educação Física escolar, bem como salientar outra perspectiva a parti do referencial teórico utilizado.

O esporte moderno

O esporte moderno refere-se a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo surgida no âmbito da cultura européia por volta do século XVIII, e que, expandiu-se para o resto do mundo (BRACHT, 1997).  O esporte moderno, oriundo de uma perspectiva competitiva, ao longo do tempo, foi criando características próprias onde a especialização, a seleção e a busca de rendimento, dentre outros aspectos, aparecem como indicadores efetivos do processo oriunda do esporte. A estruturação do esporte moderno, a partir de elementos que permeia a sociedade capitalista, favoreceu algumas críticas e discussões por parte daqueles que analisam a sua prática, enquanto professor, dentro do espaço escolar. O esporte de rendimento promove a imposição das regras, normas, da competitividade, da disciplina e da hierarquia biológica. O esporte enquanto performance, proporciona condições de uma sociedade hierárquica e de estrutura disciplinadora e autoritária. "O ensino do esporte na escola, destaca o respeito incondicional e instintivo às regras, e dá a estas um caráter estático e inquestionável, o que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim ao acomodamento" (Bracht, 1992, p. 59).

É importante ressaltar que muitos dos elementos característicos de uma sociedade contemporânea, no caso capitalista sócio industrial, vão ser incorporados e/ou estão presentes no esporte: "orientação para o rendimento e a competição, a cientifização do treinamento, a organização burocrática, a especialização de papeis, a seleção e a desigualdade". (Bracht 1997 p, 97).

Por sua vez, (Kunz apud Sávio 2001 p, 18) descreve os seguintes princípios e tendências que tem determinado as praticas esportiva:

Principio da sobrepujança: idéia de que qualquer um, qualquer equipe, tem possibilidade de vencer em confronto esportivo. Busca-se a vitória – o sobrepujar o adversário.Principio das comparações objetivas: chances iguais para todos nas disputas esportivas. Padronização dos espaços, dos locais de disputa e o desenvolvimento de normas e regras universais para os esportes, etc. condicionar-se a prática esportiva nesses locais, condicionando-se também as atividades do movimento, a uma automatismo a repetições mecânicas.Tendência do selecionamento: selecionam-se os alunos pelas suas habilidades / inabilidades esportivas, utilizando-se também critérios de idades, sexo e biótipo físico.Tendência da especialização: para se obter uma boa técnica esportiva e um alto grau de rendimento, reduz-se ao máximo o repertorio de ofertas em relação as modalidades esportivas.Tendência da instrumentalização: diz respeito aos acréscimos da performance, as regras e aos métodos que levam ao sucesso esportivo, ou melhor rendimento.

Percebemos que durante muito tempo o esporte e a Educação Física se entrelaçaram ao longo da história, entretanto é relevante salientar que para a Educação Física a utilização do esporte sem uma intencionalidade pedagógica, sua prática se torna reprodutivista e restrita (Saviani, 2009. p. 60) "agir de forma intencional significa agir em função de objetivos previamente definidos". Sinalizamos que a utilização do esporte nas aulas de Educação Física, devem propiciar uma reflexão crítica e transformadora, por isso, a reflexão sobre os problemas educacionais leva-nos à questão e valores na educação (SAVIANI, 2009).

Uma aula de Educação Física conservadora tradicional, contrapõem uma "educação libertadora[2]" (Freire, apud Kunz, 2001, p,150) uma educação tradicional pressupõem uma pedagogia ant-democrática, ant-dialógica e domesticadora. Temos clareza que a efetivação de uma proposta metodológica tradicional esportiva reforça valores inquestionável, a de convir que é, apenas para dar continuidade ao processo social capitalista.

A tematização do esporte nas aulas de Educação Física, deve proporcionar ao educando uma compreensão reflexiva da realidade sócio cultural e histórica. Para o autor:

"O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida através da reflexão crítica". (Kunz,1994, p.31).

Para esclarecer essas questões que foram sinalizadas anteriormente, do ponto de vista pedagógico, iremos tomar como referência uma teoria critica progressiva. O esporte utilizado enquanto conteúdo nas aulas de Educação Física, analisando sob a perspectiva pedagógica para um ensino crítico, questionador e transformador, como pretendo, deve fornecer uma compreensão enquanto fenômeno sócio histórico cultural. É importante salientar que o esporte não se torna uma proposta educativa relevante, como sugere Tubino (1991) quando conceitua: esporte de rendimento, esporte participação e esporte educação, abordando-se este ultimo como ferramenta educativa, no entanto o autor não se aprofunda na explicação sobre a concepção pedagógica presente no esporte. Entendemos que a Educação Física é uma prática pedagógica que deve proporcionar uma intencionalidade educativa.

Indicamos uma metodologia que problematize o contexto pedagógico da Educação Física e do esporte, como: evidenciar e esclarecer o problema sócio-político do esporte, destacar a sua importância, seu significado e aceitar diferentes situações que estão no entorno desta manifestação cultural. Por fim, acreditamos que uma concepção crítica do esporte para o ensino da Educação Física, deve ser melhor sistematizada, estruturada e aprofundada, e as perspectivas práticas da problematização do esporte, devem ser materializadas nas aulas pelo professor de Educação Física. O ensino do esporte deve ultrapassar o saber-fazer, deve saber pensar e saber sentir para fazer (KUNZ. 2003).

Considerações Finais

O esporte é um conteúdo da cultura corporal e um elemento pedagógico fascinante, não devemos reforçar valores como: conformismo, respeito incondicional a regra, atitudes e normas. Para (Shinnick apud Bracht,1992,p,63) "lembra bem que os valores universais camuflam as contradições sociais, e os valores universais no esporte também encobrem a dominação e a exploração de classe". O esporte educa mais contribui para o individuo internalizar valores e normas de comportamento, que possibilitarão adaptação a sociedade capitalista (Bracht 1992). Devemos, repensar nossas praticas pedagógicas, e visualizarmos com reflexão que individuo queremos formar, e que sociedade queremos seguir, "trata-se de não mudar o sistema capitalista, mas de fazer mudança dentro do sistema" (Bracht,1992,p,61). Precisamos ter clareza dessas discussões, e não nos tornar acomodados, em apenas reproduzir o esporte de rendimento para o contexto escolar, pois é o espelho e a mercadoria extraordinária do sistema capitalista. Necessitamos ter conhecimento e argumento para discutir e pesquisar, em função da vida esportiva e social. Podemos sugerir, o esporte a partir da pedagogia progressiva crítica, e não reforça o senso comum, é posto que, a possibilidade de sermos diferentes está inscrita, na esfera de nossas ações e nas praticas pedagógicas, posto que, o privilegio da participação, o respeito à corporeidade, o coletivo, lúdico e o questionamento social, provocaram outros e novos desafios para a compreensão de mundo, relação homem - natureza. Acreditamos que, o esporte sob a ótica da cultura corporal possibilitará a produção de outros e novos conhecimento no que tange o esporte.

REFERÊNCIAS

ASSIS DE OLIVERA. Sávio A reinvenção do esporte: possibilidade da pratica pedagógica/ Sávio Assis de Oliveira – Campinas. São Paulo: Autores Associados, chanceler editora CBCE, (2001). – (Coleção educação física e esporte).

BRACHT, Valter, (1997) Sociologia crítica do esporte: uma introdução – Vitória: UFES, Centro de Educação Física e desporto, (1997).

_____________: Educação Física e aprendizagem social/ Valter Bracht. Porto Alegre: Magister, 1992/ 122,p.

_____________Pesquisa em ação: educação física na escola Valter Bracht...[ et al] -3. Ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.- 144p. (coleção educação física).

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, (1992).

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Ijuí: Unijuí, (1994).

____________. (1989) O esporte enquanto fator determinante da educação física. Revista Contexto & Educação, Ijui, ano IV n. 15, pp. 63-73, jul./ set.

___________. Educação Física: ensino & mudança /2.ed. Ijui: Unijui Ed, 2001---208 p.—(coleção educação física).

_____________Transformação didático- pedagógico do esporte Elenor Kunz. 5. Ed.Ijui: Ed. Unijui ,2003—(coleção educação física).

SAVIANI, Dermeval, 1944- Educação: do senso comum à consciência filosófica- Demerval Saviani-18. Ed. Revista – Campinas, SP: AutoresAssociados, 2009. – (Coleção educação contemporânea)



[1] "A educação é vista, desta forma, como uma interação com todos os aspectos conscientes e socialmente regulamentados, na qual o jovem no percurso de desenvolvimento deverá ser qualificado, tanto para assimilar, como para dar continuidade ao desenvolvimento da produção cultural de uma sociedade e neste processo de qualificação,ainda, se torna uma pessoa independente e responsável'' (BRODTMANN, e outros, apud, KUNZ(2001,p,136)

[2] "Sou da opinião que não existe motivo para o professor que se engaja na Educação Libertadora, se envergonha de sua função pedagógica. Ele deveria, antes disso, procurar estabelecer a qualquer preço e constantemente, a relação entre a Vida e o Ensino, Teoria e prática, Objeto de Ensino e Realidade. Para nós, o critério para avaliar um professor é a sua prática – não a sua fala. Participa da prática libertadora no ensino de forma verbal é uma coisa, sua prática concretaé outra. Através de palavra, bem pode se esconder uma prática autoritária e elitizante"(FREIRE, apud, KUNZ, 2001,p, 150)