O ensino no Marrocos a reforma da fachada

Por Lahcen EL MOUTAQI | 20/09/2018 | Educação

O problema do ensino no Marrocos não reside somente no desajuste dos currículos ao ambiente sociocultural dos alunos, menos ainda na infra-estrutura (dilapidada) dos estabelecimentos escolares, onde a integração de novas tecnologias da informação e comunicação (NTIC), acaba se tornando muitas vezes uma quimera, mas também e, especialmente, na gestão de recursos humanos, os gestores no campo (professores, diretores de escola, supervisores, etc), que são, naturalmente, os pilares de qualquer sistema educacional

Além disso a atração do ganho acaba de  ter  superado a credibilidade da qual desfruta ainda, cujo espírito do cidadão, o ensino privado. Os pais dos alunos acabaram de fazer a dolorosa experiência, nesta entrada escolar 2018. Perdidos entre mensalidades que atingiram níveis astronômicos da ordem de 2.000 a 5.000 dirhams por mês e gastos com material escolar, em um caos que beneficia os especuladores, as famílias marroquinas não podem mais.

Esta situação não deixou indiferentes as associações de defesa do consumidor que reagiram por protestos junto às autoridades públicas, como relata o jornal Al Ahdath Al Maghribia em sua edição de terça-feira, 11 de setembro. O mesmo vale para o jornal Assabah, que destaca a afirmação inflamada do Centro Marroquino de Direitos Humanos (CMDH), expondo as práticas duvidosas dos chefes de grupos de escolas particulares que exigem que os alunos comprem seus materiais escolares e livros em estabelecimentos improvisados, sem licença ou registro comercial. O comunicado pede o envio urgente de comissões de inspeção para acabar com a anarquia que prevalece neste setor, às custas do cidadão e do Tesouro.

Também informa-se que os itens vendidos não foram controlados pelas autoridades de saúde, o que aumenta o risco de alergias sobre as crianças. A qualidade dos produtos, o conforto e segurança dos transportes também são apontados pelos pais de alunos que, segundo o Centro, alertaram todos os escritórios da CMDH do país.

Tal comunicado não deixou de recordar a responsabilidade do governo nessa situação que nada tem a ver com promissores slogans eleitorais. De fato, indicou o CMDH, depois do abandono da escola pública por razões de qualidade de ensino, 20% dos alunos envolvidos, que são contados nacionalmente por dezenas de milhares, ficam à mercê dos lobbies vorazes que não hesitam diante de nenhuns subterfúgios para sangrar os pais, como, por exemplo, provocar rupturas de estoque para especular vergonhosamente sobre os preços.
Lahcen ELMOUTAQI

Professor - Pesquisador, Rabat