O ensino de Gramática

Por Neilde Rosa dos Santos Cardoso | 28/03/2011 | Educação

O ENSINO DE GRAMÁTICA NA 8ª (OITAVA) SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL II DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DOM AVELAR BRANDÃO VILELA E SANTO ANTONIO DO ARGOIM NA CIDADE DE RAFAEL JAMBEIRO
Neilde Rosa dos Santos Cardoso¹
RESUMO
O presente artigo aborda o ensino de gramática nas escolas, na cidade de Rafael Jambeiro, as dificuldades apresentadas pelos professores, alunos e coordenadores para desempenharem esse ensino com eficácia, e as possíveis soluções apontadas por gramáticos, linguistas e especialistas na área, para amenizar os problemas apontados sugerindo a renovação do ensino por meio de metodologias contextualizadas, em especial com a realidade em que se vive, onde haja a valorização do aprendizado da gramática e da língua, cabendo à escola desempenhar seu papel de ensinar o educando a ser um usuário competente da linguagem no exercício da cidadania.
Palavras ? chave: ensino, gramática, língua, dificuldade, professor, aluno.

ABSTRACT
This article discusses the teaching of grammar schools in the town of Rafael Jambeiro, the difficulties presented by teachers, students and engineers to carry out this teaching effectively, and possible solutions suggested by grammarians, linguists and experts in the area to soften the problems pointed out by suggesting a renewal of education through contextualized methodologies, particularly with the reality in which we live, where there is the enhancement of learning grammar and language, while the school play their role to teach the student to be a competent user language in the exercise of citizenship.

Key words: education, grammar, language, difficulty, teacher, student.
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¹ Pós ? graduanda em Produção Textual, Gramática e Literatura(FAC), graduada em Licenciatura em Letras Português/ Inglês (FTC). e ? mail: idescj@hotmail.com
O ENSINO DE GRAMÁTICA NA 8ª (OITAVA) SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL II DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DOM AVELAR BRANDÃO VILELA E SANTO ANTONIO DO ARGOIM NA CIDADE DE RAFAEL JAMBEIRO


1. INTRODUÇÃO


O ensino de gramática é algo que vem sendo discutido nos últimos tempos, por linguistas e gramáticos que percebem que esse assunto gera uma confusão nas idéias de estudantes, professores e todos os usuários da Língua Portuguesa, porém a discussão maior é na sala de aula, pois é nesse ambiente que surgem as dúvidas e às vezes a não aceitação da prática desse ensino por parte dos educandos.
Percebe-se que o ensino de gramática sempre gerou desconforto aos falantes, e nesse caso se refere a todas as línguas, pois cada uma tem sua gramática específica. E ensinar Língua Portuguesa para falantes fluentes, dar a entender que estes não possuem domínio sobre a língua e também não conhecem sua gramática. Para isso, surge a escola, cujo papel é aperfeiçoar os conhecimentos sobre o ensino de Língua Portuguesa e sua gramática fazendo com que seus usuários apresentem domínio nas modalidades orais e escritas. Contudo, muitas pessoas dizem que as aulas são enfadonhas, talvez essa indignação, seja porque se ensina o que já se sabe ou conhece. É nesse contexto que surge o dilema: Ensinar gramática na escola ou não? Eis a questão?
É pensando exatamente nesses questionamentos e idéias acerca desse ensino que surge o interesse em aprofundar mais os conhecimentos e buscar nas escolas, junto aos professores, alunos e coordenadores, principais autores e personagens nessa história, colher informações sobre a eficácia desse ensino e perceber se há uma valorização e aceitação por parte dos seus sujeitos.
Este artigo será apresentado como TCC - Trabalho de Conclusão do Curso de Produção Textual, Gramática e Literatura da Faculdade Regional de Ciências e Letras de Candeias, chancelada à Cidade Empreendimentos Educacionais da cidade de Salvador/BA.Neste trabalho será enfocado um pouco da História e Concepções de Gramática e a Análise Comparativa do ensino de gramática na 8ª série do Ensino Fundamental II das Escolas Municipais Dom Avelar Brandão Vilela e Santo Antonio do Argoim, na cidade de Rafael Jambeiro, onde foram feitas entrevistas com alunos, professores e coordenadores acerca da temática citada acima, para que a partir dessa investigação se perceba o problema (se houver) e junto aos envolvidos e órgãos competentes buscar soluções para amenizá-los e assim, este trabalho pretende contribuir para uma boa atuação de falantes da Língua Portuguesa em quaisquer circunstâncias e sensibilizar para o gosto, curiosidades e valorização do seu ensino na sala de aula e uso eficaz da língua.



2. CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA



Muitas dúvidas são apresentadas, pelos próprios estudantes, acerca do termo gramática. Questões como o que é gramática? Quando surgiu e por quê? Entre outras, são as mais frequentes. A seguir veremos um pouco dessas concepções.
Segundo o minidicionário LUFT, "gramática é o estudo sistemático dos elementos constitutivos de uma língua: sons, formas, palavras, construções e recursos expressivos." (LUFT, 200. P. 357).
Já ECKERSLEY & MACAULAY, (1955) em sua gramática, diz:

Gramática vem do grego grammatiké, feminino substantivado de grammatikós, é o conjunto de regras individuais usadas para um determinado uso de uma língua, não necessariamente o que se entende por seu uso "correto". É o ramo da Linguística que tem por objetivo estudar a forma, a composição e a interrelação das palavras dentro da oração ou da frase, bem assim o seu apropriado ou correto uso". (ECKERSLEY & MACAULAY, (1955)



De acordo com esses conceitos percebe-se que a gramática é o conjunto de regras que estabelece uma função social e tem como objetivo ensinar corretamente o uso da língua, assim a gramática segue um padrão onde os sujeitos devem escrever e falar "certo" senão é considerado "erro" e este, pode gerar um preconceito entre seus falantes, que ora está ligado justamente a essa confusão que foi criada entre língua e gramática (BAGNO, p. 9, 1990) e segundo Possenti em seu livro Por que (não) ensinar gramática na escola explica muito bem essa diferença, ele diz que "ensinar língua e ensinar gramática são duas coisas diferentes."
Seguindo o raciocínio sobre gramática vamos mergulhar, de forma sucinta, na sua história. Segundo relatos de pesquisadores, a gramática é um termo grego que surgiu no século I a.C com Varrão, escrevendo sobre a língua latina, onde a mesma servia como auxiliar das ciências que se ocupavam em estudar as linguagens filosóficas, críticas e retóricas para organizar certos princípios de leitura. No séc. II a.C. Dionísio da Trácia produziu a mais antiga das gramáticas gregas, nela descreveu duas unidades básicas: a sentença (logos) e o vocábulo (lexis), depois, no séc. VI d. C. as gramáticas eram escritas com finas pedagógicos e descreviam o latim clássico. Todos esses estudos se apresentam na Grécia Antiga. Daí os estudos perpassaram por muitos gramáticos em muitos anos chegando ao século XIX, com início aos estudos linguísticos, surgindo então uma revolução e ao mesmo tempo avanços na sua organização e finalidade.
No séc. XX surge as Escolas e Movimentos Modernos começando com o Estruturalismo inspirado no Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure, cujo objeto de estudo é a língua por ela mesma, não considera o falante como elemento importante na produção lingüística, sua intenção era descrever os diversos sistemas linguísticos independente de qualquer situação.
O outro movimento é o Gerativismo baseado nos estudos de Noam Chomsky onde se propõe a explicar os fatos lingüísticos e usa as intuições para julgar a sentença. Dentro do Gerativismo, Chomsky estabeleceu dois tipos de gramática: a (GU) Gramática Universal e a (GP) Gramática Popular.
O Funcionalismo surge após a II Guerra Mundial através dos membros da Escola de Praga, destacando Roman Jakobson e Nikolay Trubetzkoy, caracteriza-se pela crença de que a estrutura fonológica gramatical e semântica das Línguas é determinada pelas funções que têm que exercer nas sociedades em que operam, eles entendem que a função principal da língua é a comunicação.
Hoje existe a Gramática Descritiva (POSSENTI, 2000) é aquela que se preocupa em descrever ou explicar as línguas como são faladas. A Gramática Internalizada, segundo o mesmo autor, refere-se às habilidades, conhecimentos que cada falante tem ou produz a fala. A Gramática Normativa é aquela formada por um conjunto de regras e normas.
Dentre muitos gramáticos, BECHARA (2001), divide a gramática em:
a) os sons da fala: Fonética e Fonêmica
b) as formas: Morfologia
c) as construções: Sintaxe
d) os sentidos e suas alterações: Semântica
Percebe-se, então, a abrangência que a gramática tem, e para se ter um domínio é preciso muita prática de leitura, pois somos usuários da língua, logo, devemos utilizá-la de forma concisa e mostrar ao aluno que essas regras, essas informações estão presentes no dia a dia, e para a própria vida eles precisarão conhecê-la e praticá-la.



3. ANÁLISE COMPARATIVA


Ao realizar a entrevista nas Escolas Municipais Dom Avelar Brandão Vilela e Santo Antonio do Argoim, faze-se necessário uma análise comparativa entre o ensino de gramática através das opiniões dos alunos, professores e coordenadores.
Ouvindo a professora A, ela afirma que o ensino de gramática é importante, porém deve ser relacionado, primeiramente, à variedade da linguagem da região, para depois adequá-la as demais variações. Em suas aulas é abordada a leitura de gêneros textuais, dinâmicas, pesquisas, jogos que reforcem o uso da língua. Ela não sente dificuldade em dominar conteúdos e metodologias aplicados, mas ao aprendizado dos alunos que na sua maioria não apresenta domínios e habilidades e essas dificuldades são oriundas dos primeiros anos de estudo (ensino primário). Por esse motivo, não há uma percepção no uso da língua padrão nas modalidades, oral e escrita, dos próprios alunos, tendo que "mesclar" as gramáticas com o objetivo de valorizá-las, contudo tende a ensinar a gramática normativa, pois esta será cobrada aos estudantes.
Escutando a professora B, ela observa que hoje, as aulas de Língua Portuguesa estão focadas no desenvolvimento de competências básicas e necessárias ao cidadão, a gramática está incluída não mais como prioridade, então ela busca favorecer a aprendizagem de forma diversificada através de jogos, pesquisas, exercícios reflexivos que auxiliam no aprimoramento dos conteúdos, deixando de ministrar aulas maçantes, mas prima-se pela compreensão e não pela memorização de regras, porque é notável nos alunos as dificuldades em aprender um conteúdo gramatical e para ela o maior empecilho é fazer com que os educandos aprendam sem a decodificação das normas e nomenclaturas, vasta e "volúvel". Entretanto, percebe que mesmo com deslizes os discentes utilizam a língua padrão nas expressões orais e escritas e estes, atribui-se ao convício social e não à falta de conhecimento. Em suas aulas é aplicada a gramática normativa, mesmo com suas dificuldades embutidas nas regras e nomenclaturas, a exemplo disso, todos empregam substantivos, artigos, verbos, e conseguem flexioná-los sem necessariamente classificá-los.
Diante dos posicionamentos das docentes A e B, encontram-se algumas semelhanças e diferenças expostas nas opiniões e práticas, dentre elas podemos citar o uso da gramática normativa, a utilização de jogos, pesquisas e dinâmicas para auxiliar no desempenho, já que é explicito por elas as barreiras no aprendizado de gramática, por parte estudantes.
Observa-se que a professora A, apresenta em sua prática a variedade da língua, há uma flexibilidade e respeito ao seu uso, uma vez que não está lidando com sujeitos únicos, mas diversificados, onde cada um tem sua gramática internalizada que precisa ser acatada, e claro, adequá-la à realidade em que ele está inserido sem provocar constrangimento, pois não se trata mais de uma pessoa que é moradora de uma determinada comunidade (zona rural), mas de estudantes de 8ª série. Assim,


O reconhecimento da existência de muitas normas lingüísticas diferentes é fundamental para que o ensino em nossas escolas seja consequente com o fato comprovado de que a norma linguística ensinada em sala de aula é, em muitas situações, uma verdadeira "língua estrangeira" para o aluno que chega à escola proveniente de ambientes sociais onde a norma linguística empregada no cotidiano é uma variedade de português não padrão. (BAGNO, p. 18, 2004)



O que é citado acima revela a realidade enfrentada, creio, em todo o Brasil, pois este é formado por povos diversos, daí a explicação para as dificuldades apresentadas pelos educandos. De certa forma, as educadoras procedem como orienta os PCN ? Parâmetros Curriculares Nacionais, ao que diz respeito à diversidade lingüística como também aos métodos aplicados, textos, pesquisas, dentre outros, pois,

Toda educação comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência discursiva. Um dos aspectos da competência discursiva é o sujeito ser capaz de utilizar a língua de modo variado, para produzir diferentes efeitos de sentido e adequar o texto a diferentes situações de interlocução oral e escrita. (PCNs, p. 23, 1998)



Dessa maneira, o ensino de gramática alcançará êxito e todos vão perceber que falar "certo" ou "errado" é uma variante padrão e não - padrão da língua portuguesa, ambas devem ser ponderadas.
Depois de observar as posturas e concepções das docentes, não podemos deixar de lado a opinião daquele que é protagonista na educação ? o aluno.
Foram entrevistadas duas alunas de cada escola, que com opiniões semelhantes expuseram seus pareceres acerca do assunto.
As alunas X e Y disseram que as aulas de gramática são interessantes, porem acabam se tornando repetitivas por causa dos assuntos e por ser uma disciplina que contém muitas regras, seu ensino é difícil, principalmente, em frases períodos e suas classificações. Por isso, utilizam mais a linguagem popular, assim, sugerem que as aulas sejam mais dinâmicas, mas também admitem que para o professor é um desafio porque os alunos não gostam de escrever.
As alunas Y vêem que as aulas de gramáticas são interessantes, mas depende da espontaneidade do professor, o ensino é importante para se comunicar, escrever e aprender novos termos, com isso, sentem dificuldades, principalmente, com as regras ortográficas, então não usam muito a linguagem padrão, mas sim a coloquial (gírias), compreendem que é uma disciplina que exige muita atenção e esforço, para elas as aulas estão boas, pois a professora é espontânea.
Nota-se que há idéias em comuns nos depoimentos das educandas X e Y, interessante é que elas compreendem o que é cobrado (norma padrão) e o que é descumprido (linguagem coloquial) de acordo às exigências da escola. Diante das dificuldades apresentadas destacam-se duas que realmente são enfáticas no ensino de gramática: a sintaxe e a fonologia.


Sintaxe é o estudo dos padrões estruturais de uma língua determinados pelas relações recíprocas na oração e das orações no discurso. Pode ainda ocupar-se do empenho dos vocábulos. (BECHARA, p. 225, 2001).


Temos em nossa mente a liberdade de criar ideias, contudo precisa observar a estrutura em que elas se combinam para que a comunicação seja realizada de forma coerente, obedecendo a estrutura formal, que muitas vezes não coincidem com a linguagem popular, por isso, para o aluno é mais fácil falar: me empresta um lápis do que empreste-me um lápis. Talvez eles compreendam que frase é um enunciado que transmite uma comunicação e oração é uma frase que contém verbos e seus termos essenciais: sujeito e predicado. O que talvez, eles podem não entender é que em início de frases não se usa pronome oblíquo, já que houve uma comunicação e uso de verbos, por isso não a utilizam, ou, porque também podem não estar inseridos nessa realidade.


Fonologia é o ramo da lingüística que estuda o sistema sonoro de um idioma. Ao estudar a maneira como os fones (sons) se organizam dentro de uma língua, classifica-se em unidades capazes de distinguir significados, chamados fonemas. (BECHARA, p. 14, 2001)


Ainda assim, o autor chama a atenção para a diferença entre fonema e letra, aquele é o som (fala) e este é o sinal (escrita), daí então a dificuldade em fazer uso desse recurso, pois nem sempre a maneira como se fala é a mesma que reproduz na escrita, levando a impossibilidade de uma ortografia "correta", ideal. Nesse contexto, ocorre uma confusão na cabeça do aluno e, principalmente com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, já que ele mal domina o antigo qual será o novo? A exemplo disso, onde era auto ? escola, é autoescola ou tem (singular) e têm (plural) apenas um acento para diferenciar a flexão verbal e grafia idêntica. Para eles talvez seja desnecessário, por isso, há incompreensão. Entretanto, elas próprias já responderam o porquê do obstáculo: "os alunos não gostam de escrever" (aluna X), consequentemente, não gostam de ler, e "depende da espontaneidade da professora"(aluna Y), o professor deve ser exemplo.
Seguindo os estudos, não se pode deixar de fora o coordenador, já que este tem o papel de auxiliar ou coordenar as atividades na escola juntamente com os docentes.
A coordenadora 1, afirmou que ainda prevalece o ensino de gramática normativa dissociado da realidade do aluno então, o desafio é grande tanto para os alunos quanto para os professores, empregar significativamente, sem rigidez os domínios exigidos, e esse ensino auxilia , em parte, no desenvolvimento oral e escrito dos alunos. Ela orienta aos professores o trabalho integrado à leitura e interpretação.
Por outro lado, a coordenadora 2, vê um compromisso pedagógico por parte de alguns professores para que esse ensino ? aprendizagem seja significativo numa perspectiva de letramento e muitos são os desafios, então ela procura sugerir aos professores que as aulas de gramática sejam contextualizadas com os conteúdos e que possam contribuir para que os alunos se apropriem de conceitos relevantes para o desenvolvimento das habilidades lecto ?escrita, pois os discentes, em sua maioria, se expressam sem a utilização correta da língua, sentem dificuldades na produção textual, contudo são estimulados pelos docentes a serem autores de textos diversificados e em um processo gradativo percebe avanços na aprendizagem, mas alega a falta de recursos na escola para a operacionalização de oficinas, projetos, aulas de reforço no contra turno e o laboratório ensino ? aprendizagem, se isso estivesse, os êxitos seriam evidenciados rapidamente. Por conseguinte, os programas didático-pedagógicos propostos pelo sistema educacional costumam ser incoerentes e praticados com insistência por alguns profissionais, além do mais, esse sistema não fornece ferramentas para que os discentes aprendam adequar seus discursos e escritas a vários leitores e ouvintes.
Encontra-se algo parecido nesses depoimentos, o trabalho com textos, pois as críticas que se faziam ao ensino tradicional segundo os PCNs eram:


A descontextualização da realidade e dos interesses dos alunos; a excessiva escolarização das atividades de leitura e de produção de textos; o uso de textos como expediente para ensinar valores morais e como pretexto para o tratamento de aspectos gramaticais; a excessiva valorização da gramática normativa e a instância nas regras de exceção, com o consequente preconceito contra as formas de oralidade e as variedades não ? padrão; o ensino descontextualizado da metalinguagem, normalmente associado a exercícios mecânicos de identificação de fragmentos lingüísticos com frases soltas; a apresentação de uma teoria gramatical inconsistente. Uma espécie de gramática tradicional mitigada e facilitada. (PCN, p. 18, 1998).




É nesse sentido que as escolas ganham espaço na autonomia de fazer a diferença, contudo, as falhas decorrentes desse ensino recaem nas práticas atuais, onde professores e coordenadores tentam se apegar a essas críticas para mudar um pouco o sistema de ensino propondo tipologias textuais, leituras, interpretação, pesquisas, jogos entre outros, entretanto não conseguem se desfazer totalmente, pois a gramática é normativa e querendo ou não tendem a repetir ações que, porventura, são incoerentes à realidade do aluno.
Ao propor atividades de oralidade e letramento, sendo práticas essenciais e interativas nos contextos sociais e culturais, auxiliam no desenvolvimento das capacidades e habilidades dos sujeitos.


A oralidade e o letramento são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas pra caracterizar dois sistemas linguísticos nem uma dicotomia. Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante. (PAIM et al, p. 33. 2007).



Entretanto, é uma ação que precisa compreender e esclarecer sua natureza para que sua atuação não seja confundida com a leitura de textos, simplesmente, pois envolve o uso da língua (falada e escrita) de um modo geral.


Oralidade é uma prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela vai desde uma realização mais informal a mais formal nos mais variados contextos de uso. Uma sociedade pode ser totalmente oral ou de oralidade secundária ao caracterizar a distinção entre povos com e sem escrita. Considerando-se essa posição, nós brasileiros, por exemplo, seriamos hoje um povo de oralidade secundária, tendo em vista o intenso uso da escrita neste país. (PAIM, p. 34. 2007)

Por essa razão:

Letramento envolve as mais diversas práticas da escrita (nas suas variadas formas) na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro, identifica o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir as mercadorias pelas marcas, etc., mas não escreve nem lê jornal regularmente, até uma apropriação profunda, como no caso do individuo que desenvolve tratados de Filosofia e Matemática ou escreve romances. (PAIM, p. 34. 2007).



Por isso a preocupação em desenrolar sua natureza, pois essas duas modalidades são complexas e vão além de uma elaboração de texto ou uma leitura, precisam ser letramentos sociais, ou seja, contribuir para o desenvolvimento de sujeitos críticos e reflexivos nas diferentes situações sociais, assim os objetivos serão alcançados.
Observa- se também, que a escola segue uma linha de pensamento pedagógico construtivista, segundo os preceitos de Vygotsky, defendendo a postura de que o desenvolvimento cognitivo não ocorre independente do contexto sócio-histórico-político-cultural no qual o individuo está inserido, não há desenvolvimento sem uma aprendizagem real.



4. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Diante das discussões acerca dessa temática, chega o momento em que aquele dilema de ensinar ou não gramática na escola é desenrolado. Embora haja tantos desafios enfrentados por professores, alunos, coordenadores que chega ao ponto em que parece não ter solução, é o sistema que impõe sem analisar as consequências, é o aluno que não gosta de ler, nem escrever, é o professor que não demonstra espontaneidade ou compromisso para que o ensino ? aprendizagem seja significativo, é o coordenador que não encontra recursos suficientes na escola para fazer com que a prática pedagógica seja eficaz, é o convívio social e cultural que não acompanham as mudanças, enfim, é uma rede que precisa ser ajustada, para que de fato, o ensino de gramática seja valorizado e assumido com qualidade pelos seus envolvidos.
Deve sim ensinar gramática na escola, pois há uma compreensão do que é e como se faz, parafraseando Fernando Pessoa: transformar é preciso, sofrer não é preciso, pois é preciso transformar essa prática educativa e os passos as escolas já estão dando, paulatinamente, é preciso capacitação para os professores para que eles vençam o desafio de despertar no educando o interesse pelos conhecimentos de sua própria língua, convivendo e contextualizando com a realidade sem perder de vista seus conceitos e preceitos; é preciso investimento em recursos nas escolas, por parte do governo, para que acompanhem os avanços provocados pela tecnologia de informação e comunicação e pela ciência, para que o coordenador possa pedagogicamente desenvolver seus projetos e programas para que haja avanço na aprendizagem e o ensino se torne prazeroso, aí o aluno vai sentir vontade de aprender, porque ele vai perceber que o que ele aprende na escola é para a vida e não simplesmente para preparar para uma série seguinte ou um vestibular e esses próprios sujeitos vão se destacar na sociedade e despertar seguidores, sendo bons leitores e escritores de textos diversificados, tendo o conhecimento e respeito pela variedade linguística e poder dizer o que Paulo Freire disse:

A criança terá uma escola na qual a sua linguagem será respeitada (...) Uma escola em que o aluno aprenda a sintaxe dominante, mas sem desprezo da sua (...) Esses milhões de meninos vem da periferia no Brasil (...) Precisamos respeitar a (sua) sintaxe mostrando que sua linguagem é bonita e gostosa, às vezes é mais bonita que a minha. E, mostrando tudo isso, dizer a ela: "mas para tua própria vida tu precisas dizer ?a gente chegou? em vez de ?a gente chegamos?. Isso é diferente, ?a abordagem? é diferente. È assim que queremos trabalhar, com abertura, mas dizendo a verdade. (FREIRE, 1988 apud ALVES at al. 2007 p. 67.)




Assim, acaba-se com os sofrimentos, pode ser que isso seja apenas ideologia, mas é preciso repensar as práticas pedagógicas e reconhecer que a língua é um instrumento vivo e encontra-se em constante processo de mudança e para desmistificar o ensino de gramática na escola fica claro com as práticas de leitura, escuta e produção, ou "uma discussão sobre valores sociais pode ser uma aula de português mais valiosa e frutífera do que uma aula de exercícios para eliminar gírias, regionalismos e selecismos" POSSENTI, p. 37, 2000), dentro do próprio texto pode enfocar o uso da gramática sem que o educando seja obrigado a memorizar regras e procurando ensinar aquilo que ele não sabe.










5. REFERÊNCIAS


ALVES, Ana Carolina et al. Introdução aos Estudos Linguísticos. 1ª Ed. SOMESB. Salvador. 2005.


BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico o que é, como se faz. 49ª Ed. Loyola. São Paulo. 1999.


BECHARA, Ivanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª Ed. Companhia Editora Nacional. Rio de Janeiro. 2001.


ECKERSLEY, C. E.(M.A.) & MACAULAY, Margaret (M. A.). Brighter Grammar. London: Longsman, Green & Co. Ltd. 1955. Disponível em http://www.google.com/pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%A1tica. Acesso em 15 de julho de 2010.


LUFT, Celso Pedro. Minidicionário LUFT. 20ª Ed. 7ª impressão. Editora Ática. São Paulo. 2000.


PAIM, Marcela et al. Oficina de Leituras e Produção de Textos. 1ª Ed. SOMESB. Salvador. 2007.


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa: 5ª a 8ª séries. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.


POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999.