O ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL E SUA CORRELAÇÃO COM O LIVRO DIDÁTICO

Por Ana Carolina Portela Parente | 22/11/2017 | Geografia

Resumo
Compreender a forma pela qual o ensino de geografia foi adotado no território brasileiro, nos mostra ser preciso indagar a respeito de como este ensino se desenvolveu no país. Este sempre ancorado em ideologias políticas e descrições espaciais dispostas nos livros didáticos através do método tradicional, que em nada oferecia em reflexão crítica a respeitos dos problemas sociais. Uma educação voltada para a alienação/dominação do pensamento da população, cujo objetivo estava em impedi que os cidadãos tomassem consciência dos descasos feitos pelo governo na sociedade e com isso reivindicasse por transformações. Devido a isto, a população foi imposta um ensino autoritário e opressor, que nada tem a contribuir com uma formação de qualidade tanto defendida pelos detentores do poder. Porém, essa forma de ensino imposta pelo Estado começou a ser repensada após a Segunda Guerra Mundial, quando se percebeu que os métodos de ensino adotados na época não serviam mais de explicação para a realidade dos fatos.
Palavras chaves: Ensino de Geografia, Livros Didáticos e Método Tradicional

1. INTRODUÇÃO
O presente estudo se propõe a fazer um resgate histórico sobre o desenvolvimento do ensino da disciplina de geografia no Brasil. Quando se percebeu que a ciência geográfica teve seu nascimento no país com a criação do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB) no ano de 1838 e da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro (SGRJ) em 1883.
Porém a implantação de cursos superiores ocorreu somente na década de 1930, contribuindo no avanço de pesquisa na área e para a unificação da ciência através do Departamento de Geografia pela Faculdade de Filosofia. O fortalecimento do curso dentro do país ofereceu abertura para realização de palestras, ministradas por professores nortes americanos e europeus.
Inicialmente os estudos na área da geografia receberam forte influência do método positivista, com argumento tradicionalista, de caráter descritivo e objetivo, método defendido pela escola francesa de Paul Vidal de La Blach. Esse método foi adotado no Brasil, devido o argumento neutralizador contido neste, logo que a intenção do estado era neutralizar todas as informações contrárias aos seus interesses.
Esse ensino tradicionalista imposto pelo poder ditatorial pode-se considerar como autoritário e opressor, em virtude de privilegiar apenas a descrição do espaço, sem sequer fazer menção a respeitos dos conflitos vivenciados em sociedade.
No entanto, embora seja interesse do governo manter seus antigos mecanismos de ensino, a partir do pós-guerra de 1945, esse sistema educacional começou a declinar. Pois o método descritivo não mais servia para explicar a realidade dos fatos ocorridos, logo que o momento mostrava a necessidade de reflexão crítica, para melhor compreensão sobre a realidade vivenciada.
Neste período também as disciplinas de geografia e história quase foram substituídas pela nova corrente de estudos sociais trazidos dos Estados Unidos por Anízio Teixeira. Porém, a falta de estudos bibliográficos na área, fez com que continuássemos com os estudos das disciplinas de geografia e história.
As transformações pelas quais vem passando a ciência geográfica fizeram com que ocorresse uma divisão de ideais, assim falando, tendo em vista as duas frentes de estudiosos que surgiram. De um lado, aqueles que preferiram permanecer com as antigas metodologias e do outro, os estudiosos que se posicionaram a favor dos novos paradigmas, que começaram a se difundir entre as décadas de 1950/1960.
Mas, as discussões sobre o ensino de geografia tiveram maior destaque no ano de 1978, quando os meios educacionais começaram a receber abertura política. Contribuindo para adoção de uma nova frente metodológica de ensino, comumente conhecido como Geografia Crítica, fortemente representada pelo método quantitativo, baseado no Materialismo Histórico e dialético, que tem como propósito levar o aluno a desenvolver sua criticidade.
Essa discussão sobre a abordagem metodológica dos conteúdos de geografia no livro didático, muito embora já tenha alcançado certo respaldo, ainda é tema de bastante repercussão, pois que ainda se faz necessário uma maior de abordagem de certos temas pelo livro didático.
Após discutir sobre o desenvolvimento do ensino de geografia dentro do país, será discutido em seguida a respeito do livro didático e sua importância no processo de ensino aprendizagem. Uma discussão importante para podermos entender o fundamental papel deste no ensino/aprendizagem.
O livro didático originado no século XVIII, com maior ascensão no século XIX e institucionalizado no Brasil em 1937, foi e continua sendo utilizado como ferramenta para impor a população os ideais políticos, ofertando um ensino alienante e opressor tornando os cidadãos serem desinformado sobre os desmandos governamentais.
Desta maneira, podemos dizer que a educação dos tempos passados esteve ancorada nas bases jesuíticas, com uma educação da dominação, onde o aluno somente deveria ouvir; memorizar; sem contestar. Um sistema educacional dominante que de certa forma continua a ser utilizado no meio educacional dos dias atuais. Uma vez que em nossos livros didáticos pouco se
apresenta em discussões reflexiva construtivas sobre os reais problemas sociais e muito se aborda sobre a descrição espacial.
Uma educação intimamente relacionada com o método mnemônico, onde ao aluno cabe estudar a descrição do espaço e a memorização do conteúdo ensinado para conseguir ser aprovado nos exames classificatórios. Estando de acordo com os interesses do governo, que desde o rompimento de sua relação com a igreja anos atrás, vem fiscalizando os conteúdos abordados no livro didático, na garantia que aos discentes somente será ensinado o conhecimento que mais se adequara a seus interesses políticos.
Desta maneira alienante, é instaurada a educação do Estado, com base na nacionalidade, na segurança e na ordem de interesses. Passando o Estado a enviar aos autores e editores de livros didáticos mensagens de cunho-ideológico, com o propósito de manipular a mente da população.
A ciência geográfica vem a, bastante tempo, tentando acabar com esse controle estatal sobre a educação, esta, totalmente distante do conhecimento empírico. Conhecimento adquirido pelos alunos através de sua vivência em sociedade e bastante defendido pela Geografia Crítica, esta, a qual os estudiosos da educação defendem que seja adotada no sistema educacional.
Para que assim, seja ofertado aos discentes um ensino mais condizente com suas realidades, levando a elaboração de livros didáticos com abordagem mais ampla sobre os conflitos sociais. A respeito dos quais os docentes, terão maior liberdade para discuti-los em sala de aula, contribuindo para que os discentes tenham uma melhor compreensão sobre os problemas sociais.

Artigo completo: