O ensino das artes no ensino fundamental: aspectos da prática pedagógica na formação das crianças dos anos iniciais

Por Thayane Araújo | 11/11/2011 | Educação

1 A HISTÓRIA DA ARTE NO BRASIL DENTRO DO CONTEXTO EDUCACIONAL

 

É relevante pontuar alguns acontecimentos no Brasil, sobre o tema abordado para que possamos ter maior clareza de como o ensino da arte aconteceu em nosso país. O ensino da Arte no Brasil foi inspirado a partir das idéias do filósofo, Inglês Herbert Read (1948), com apoio de vários educadores, filósofos e artistas interessados no ensino, entretanto o mesmo pensava o ensino da Arte não como uma meta e sim como contribuição no processo educativo, essa construção na visão do mesmo perpassava em utilizar a arte como possibilidade de construção de conhecimentos.

Desta forma no século XX, o ensino da Arte iniciou sua caminhada no contexto educacional o mesmo a partir daí era realizado pelas escolas tradicionais, onde se priorizava os trabalhos manuais, a música, o canto entre outras atividades relacionadas à arte, destacando que todas as metodologias que eram utilizadas em aula eram selecionadas pelos professores.

Conforme relata o seguinte trecho descrito no Brasil,

 

“[...] nas aulas de Arte das escolas brasileiras, predominava uma teoria estética mimética, isto é, mais ligadas às copias do “natural” e com apresentação de “modelos” para os alunos imitarem (PCN de arte, 2001, p. 27)”.

 

 

 Podemos perceber através das metodologias aplicadas pelos professores tradicionais, que não permitiam aos alunos o livre arbítrio em criar e tolia a capacidade criadora e inovadora de seus alunos, desta forma ao invés de se tornarem autores, transformavam-se em reprodutores de modelos prontos, dando relevância à construção de modelos perfeitos, desvalorizando seu envolvimento afetivo e criativo de suas ações, as idéias de cunho artístico eram impostas aos alunos, não se respeitava o ponto de vista do aluno, mas a visão do professor com relação à arte.

No decorrer dos anos, o ensino de Arte veio passando por várias transformações pedagógicas; e no ano de 1971 foi incluído na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5691/71, pois tinha como foco o processo expressivo e criativo dos alunos, porém foi considerada “atividade educativa” e não como disciplina.

A inclusão verdadeira da Arte como disciplina obrigatória vigorou no ano de 1996 pela (LDB) Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional nº 9394 conforme expressa Brasil,

 

 

Convictos da importância [...] à área de Arte revogam-se as disposições anteriores e Arte é considerada obrigatória na educação básica: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (art. 26, § 2º) (PCN de Arte, 1997, p. 25).

 

 

Sendo assim, a obrigatoriedade do ensino de arte veio para contribuir no desenvolvimento da capacidade de criação e inovação, tanto para os professores como ferramenta de ensino quanto para os alunos auxiliando-os no desenvolvimento das habilidades motoras; de forma a contribuir no processo de ensino e aprendizagem dos mesmos.

Confrontando com a realidade vivenciada no campo de estágio, observou-se que diferente das demais escolar a arte é trabalhada em sua plenitude, cumprindo o que a lei determina.

 

2 A ARTE E SUA IMPORTÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NO CAMPO DE ESTÁGIO

 

Sabemos que trabalhar a arte no processo educacional é de suma importância, pois contribui no desenvolvimento motor da criança desde o primeiro contato dela com a escola. E quando se fala em arte, não se resume apenas em desenho, pintura, mas pode ser utilizada como ferramenta na criação de instrumentos que contribuam no aprendizado de forma lúdica visando contribuir no progresso dos alunos.

Conforme o que diz Brasil,

 

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana [...]. Esta área também favorece ao aluno relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo. Por exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas num período histórico [...] sua imaginação estará mais habilitada a construir um texto, a desenvolver estratégias para resolver problemas matemáticos (PCN de Arte, 2000, p. 19).

 

 

Portanto a arte possibilita uma aprendizagem estimuladora, onde cada aluno fica responsável pelas suas próprias criações e dá suporte para superar as dificuldades e utilizando a arte juntamente com outras disciplinas o resultado pode ser satisfatório, pois o contato da criança com as atividades práticas geram um interesse maior em conhecer e explorar novos conhecimentos.

Durante o nosso período de estágio ficou bastante evidente essa prática e como ela é satisfatória no processo de ensino e aprendizado dos alunos, e esta disciplina pode ser utilizada como instrumento no processo avaliativo, através de atividades práticas e individuais, para que possa verificar o desempenho intelectual do aluno, baseado que Barbosa diz que,

 

 

A arte, ou expressão artística, é um dos maiores instrumentos de avaliação que o educador pode contar. Através dela, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento mental das crianças, suas predisposições, seus sentimentos, além de estrutura a capacidade criadora, desenvolver o raciocínio, imaginação, percepção e domínio motor. (BARBOSA, 1991, p. 64)   

 

 

Foi o que vimos no campo de estágio, os alunos eram avaliados mediante as apresentações orais e escritos, destacando que as atividades avaliativas estavam sempre entrelaçadas com a arte, utilizando- se de metodologias audiovisuais que a professora julga ser mais satisfatória. Durante a nossa intervenção pedagógica utilizamos a arte como ferramenta para os alunos expressarem o que aprenderam, e percebemos o quanto os alunos já estão acostumados a realizar atividades juntamente com a arte como apoio.    

Percebemos assim com essa experiência que quando o processo educacional se torna prazeroso, é possível que a aprendizagem seja imediata, pois a metodologia utilizada pela professora possibilitava aos alunos uma maior compreensão dos conteúdos propostos, e percebíamos que havia interesse dos alunos nas aulas, e que o que era apreendido, relacionado a outros assuntos em momento distintos não era mais esquecido.

O ensino da arte no ensino fundamental I é muito importante, por se tratar de uma fase de amadurecimento dos alunos. É nesse momento que se devem incentivar atividades práticas para desenvolver as habilidades de falar em público, representar, dançar e outras formas de se expressar tudo de forma espontânea, pois, a arte acompanha e colabora no desenvolvimento geral dos alunos.

Dessa forma, cabe aos professores direcionarem os objetivos de suas atividades, com base no que afirma Haetinger que é função do professor,

 

 

[...] organizar o meio, os recursos e os instrumentos didáticos para a criação; é criar um ambiente favorável em que a criança sinta-se segura e acolhida para atuar; é estimular a expressão da subjetividade dos alunos, sem indicar-lhes possíveis erros ou o melhor modo de fazer as coisas. Eles descobrirão por si próprios, explorando objetos e vivendo diferentes situações (HAETINGER, 2005, p. 138).

 

 

E destacar a importância da colaboração dos pais nesse processo como apoio e incentivar as atividades em grupo buscando realizar a socialização.

A arte na educação é um recurso pedagógico que favorece aos professores novas metodologias a serem trabalhadas com os alunos, oportunizando atividades que possam desenvolver as potencialidades motoras, afetivas e cognitivas dos mesmos, e com base no que afirma Fusari que:

 

 

“[...] o professor é um dos responsáveis pelo sucesso desse processo transformador, ao ajudar os alunos a melhorarem suas sensibilidades e saberes práticos e teóricos [...]” (FUSARI, 2001, p. 53).

 

 

Sendo assim, o papel do professor é investigar como trabalhar a arte com seus alunos de forma que satisfaçam as duas partes, e que os resultados sejam eficazes na vida intelectual do aluno.

 

 

3 O PAPEL DO PROFESSOR MEDIADOR NO ENSINO DAS ARTES

 

Sabe-se que o universo infantil do ensino fundamental I, precisa ser estimulado e expandido, entretanto, o profissional da educação, em especial o professor desta faixa etária, torna-se de fundamental importância neste momento, uma vez que, o ensino das artes contribui de maneira significativa no processo de aprendizagem da criança.

Nesse sentido a falta de aperfeiçoamento muitas vezes é o principal fator de interferência no não desenvolvimento psicomotor, intelectual e social da criança. A necessidade da formação continuada se torna necessário na busca do professor por ampliar seus conhecimentos interdisciplinares. Fusari afirma que,

 

 

“O professor de arte constrói e transforma seu trabalho na suas praxes cotidianas, na síntese entre a ação e a reflexão. E é neste sentido que precisa saber arte e saber ser professor de arte; saber os conteúdos e os procedimentos para que o aluno deles se aproprie” (FERRAZ e FUSARI, 1992, p. 41).

 

 

Com isso a segurança em relação ao conteúdo aplicado é a razão para despertar interesse e discussões produtivas por parte dos alunos. O domínio pelos assuntos abordados em sala de aula, desperta a curiosidade da criança principalmente quando se trata dos conteúdos artísticos.

Para obterem-se resultados satisfatórios mediante ao ensino das Artes, deve-se também valorizar o que ela já trás consigo relacionado com o seu cotidiano. Pois, produzir algo elaborado por si próprio proporciona a forma mais significativa para construção do conhecimento da criança.

 No entanto, o professor ao sugerir ou expor em sala de aula qualquer objeto, imagem, ação ou assunto, precisa explorar a interpretação pessoal de cada criança, uma vez que, a relação dos objetos observados por ela depende do seu ponto de vista, facilitando cada vez mais o entendimento aos assuntos abordados pelo professor, ou seja, a importância que se dá nas aulas produtivas através das Artes é fundamental para a interpretação da criança. Ferreira explica que:

 

 

[...] o professor necessita encorajar a iniciativa, a criação de trabalhos por meio de seu próprio esforço, levar a criança a descobertas por si mesma, a inventar e criar suas idéias, não dar respostas prontas para todas as indagações, não permitindo assim, que a criança dependa do pensamento alheio. Procure ajudá-la a esclarecer o que pensa levando-a a falar espontaneamente sobre a sua obra. Não acrescente ou mude nada no que ela construiu artisticamente, uma vez que a criança deve ser a única autora do seu trabalho. (FERREIRA, 2005, p. 22)

 

 

Dessa forma, podemos refletir que o professor é a “peça chave” para fazer acontecer às mudanças necessárias para com seus alunos, passando a alimentar os procedimentos de artes, colaborando nos trabalhos a serem realizados pelos mesmos, preservando e orientando-os conforme o poder criativo de cada um, gerando com isso o fortalecimento de novas perspectivas para construção do conhecimento do aluno, uma vez que, o fazer artísticos faz parte desse processo, a criança se torna mais exigente, e até mesmo um ser crítico ao desenvolver seus próprios trabalhos.

Sendo assim, podemos dizer que, o momento em que a criança esta produzindo seu trabalho de artes nada impede que seus pais a ajudem a desenvolver seus trabalhos, seja na criação de artes visuais, dança, música ou outros.

Conforme Buoro menciona,

 

 

[...] os pais colocam o trabalho de Artes [...] em segundo plano, os pais sentem-se ansiosos com a alfabetização dos filhos e não sabem muito bem a finalidade das aulas de Artes. Por esse motivo, o aluno em processo de alfabetização mostra menor interesse e capacidade de expressão espontânea por meio da Arte. (BUORO, 2003, p. 36)

 

  

Com relação ao que diz a citação supracitada, faz-se necessário que os pais colaborem de maneira participativa no processo de ensino-aprendizagem de seus filhos no que diz respeito às artes de forma ampla, pois este processo é importante para contribuir na construção do conhecimento dos mesmos e embora muitas vezes alguns pais não estejam interessados a auxiliar na formação de seus filhos, podemos situar que em algum momento todos estarão dispostos a perceber a importância de se trabalhar artes nas salas de aula e na escola como um todo, ou seja, a participação dos pais é extremante acolhedor e sadia para a criança, isto felizmente pudemos observar na escola a qual tivemos o privilégio de estagiar, a participação mediana dos pais em eventos promovidos pela mesma, tais como datas comemorativas, horas cívicas e outros.

No campo de estágio o que muito nos impressionou foi à participação efetiva dos pais, o empenho com que se disponibilizavam para contribuir nas atividades proposta pela escola, algo que não é comum em se ver; ressaltando que é um resultado de uma gestão democrática onde o corpo docente da escola relaciona-se com a comunidade de forma harmoniosa, visando sempre proporcionar uma educação de qualidade. Segundo Duarte:

 

[...] em primeiro lugar, a atividade artística da criança apresenta o sentido de organização de suas experiências. Desenhando, pintando, esculpindo jogando papéis gramáticos, etc., a criança seleciona os aspectos de suas experiências que ela vê como importantes, articulando-os e integrando-os num todo significativo. “Para ela, a arte é mais do que um passatempo; é uma comunicação significativa consigo mesma, é a seleção daqueles aspectos do seu meio com que ela se identifica, e a organização desses aspectos em um novo e significativo todo. A arte é importante para criança. É importante para seus processos de pensamentos, para seu desenvolvimento percentual e emocional, para sua crescente conscientização social e para seu desenvolvimento criador”. (DUARTE, 1988, p. 112)

 

 

Dessa forma o podemos refletir que o ato desafiador de aprofundar o conhecimento da criança tende a se expandir cada vez mais, se em todos os momentos ela for apoiada por todos os atores sociais da escola que permeiam este espaço de construção de conhecimento, bem como pela família, esse acompanhamento possibilita a criança a desenvolver-se de forma integral. Acima de tudo o que é mais importante é que ela se torne capaz de aprender novas atividades criativas, que possam despertar o interesse pela arte, possibilitando assim na mesma o espírito criador. Uma criança que é estimulada a trabalhar com a arte na escola e na família, se torna uma criança feliz, refletindo as formas da natureza e sua desenvoltura sobre os trabalhos artísticos, sua sensibilidade e seu ponto de vista busca interagir significativamente para a sua aprendizagem.

Precisamos levá-la de forma circunscrita aos alunos do Ensino Fundamental I, não adianta, por exemplo, querermos combater o preconceito somente quando o aluno estiver no ensino médio, não vai adiantar muita coisa, essas atitudes que desviam caráter se combatem durante a formação da criança, logo, quanto mais cedo se começar melhor, e a arte na escola é um veículo de informação interessante para o aluno, através de brincadeiras, artes plásticas, danças e teatro eles poderão se tornar pessoas melhores. Sendo assim, entende-se que se trabalharmos arte na sala de aula de forma prazerosa e inovadora, iremos contribuir ativamente e grandiosamente na aprendizagem da criança.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A arte deve valorizar a organização do mundo da criança e de sua auto- compreensão assim como a integração com o outro e com o meio em que vive.

Para finalizar, um programa para a educação básica do Ensino Fundamental I não deveria fazer da arte, apenas um programa educacional, ou seja, um elemento decorativo, ou usado apenas para motivos festeiros.

Dessa forma, detectamos em nosso estágio diversas formas de se fazer arte, mas uma arte que possibilita a criança novas perspectivas de criatividade e possibilidades de galgar caminhos que possibilitem mudança inovadoras de mundo, possibilitando assim a contextualização de ambiente de pesquisa no fazer pedagógico do aluno no contexto da sala de aula.  

Tudo que pensamos para elaborar esse artigo teve no seu processo o intuito de em cada etapa apresentar resultados que possam servir de modelo para elaboração continuada de outros artigos.

Como a arte é um grande universo, e diz respeito ao ser humano e envolve todo o fazer e o pensar do aluno dentro e fora da sala de aula, nesse contexto, a arte e a educação devem como bem já relatamos em trechos supracitados, ser desenvolvidos pela escola configurando concepções onde a arte e a educação, sejam praticas relacionadas e que o professor entenda que o aluno do Ensino Fundamental, tenha em seu bojo o entrelaçamento do crítico, do belo, do físico e do intelectual.

A finalização desse estudo não deve ter como fim, sua realização, e sim o meio como desenvolvimento da pesquisa focando seu principal interesse nas ações do educando obedecendo a suas respectivas linguagens artística como finalização em espetáculos teatrais, coreográficos, musicais, exposições, performances e principalmente se utilizando da arte para fazer a interdisciplinaridade com as matérias da grade curricular regular, dando asas para sua autonomia e sua capacidade inventiva.