O ENSINO DA MATEMÁTICA NA EJA (ROSIANE FERREIRA DOS SANTOS)

Por Rosiane Ferreira dos Santos | 02/12/2016 | Resumos

Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido tomando por base as experiências vivenciadas em meus estágios supervisionados I e II e no decorrer de dois anos de participação no projeto PIBID. Inicialmente temos um breve histórico sobre a Educação de Jovens e Adultos no Brasil; num segundo momento, o foco será as experiências de estágio em turmas de educação de jovens e adultos, abordando a importância do estágio na formação docente, para tanto, utiliza-se os Relatórios de Estágio e o Diário de Campo, como fonte documental primária.

1 Introdução

A escolha do tema desse artigo justifica-se pela minha trajetória ao longo do curso, sendo que fiz os Estágios Supervisionados I e II em turmas de Educação de Jovens e Adultos e participei do projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) de 2014 até o primeiro semestre desse ano, onde aplicamos projetos e atividades em três turmas de EJA em uma escola pública de Águas Formosas. Durante todo esse período pude perceber uma grande dificuldade no desenvolvimento das aulas de matemática. Os alunos chegam com uma defasagem muito alta e se deparam com professores desmotivados e/ou despreparados para lidar com esse público. O objetivo desse trabalho é relatar a minha experiência vivida durante esses dois anos de PIBID e dois estágios supervisionados em turmas de Educação de Jovens e Adultos. 1 Aluno(a) do Curso de Matemática – UFVJM Polo de Apoio Presencial – E-mail: rosi.anesantos@hotmail.com 2 Orientador(a) da Pesquisa – Professora da UFVJM E-mail: leiapierucci@gmail.com 2 Nesse artigo apresento o que pesquisei e observei no decorrer da minha prática pedagógica e através das experiências obtidas ao longo desta caminhada acadêmica. No 2º capítulo, que segue a essa introdução, encontramos um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Dando prosseguimento, apresento os motivos e justifico a escolha do tema sobre o qual desenvolvi o meu trabalho de conclusão de curso, bem como um relato de minhas experiências ao longo curso. Apresento também uma análise sobre minha vivência nesse período. As considerações finais apresentam a conclusão desse trabalho desenvolvido durante os períodos finais desse curso de Licenciatura em Matemática.

2 Histórico da EJA no Brasil

2.1 Legislação e caracterização

Uma das leis que regulamenta a Educação de Jovens e Adultos é a LDB (Lei nº 9.394/96). Seu artigo 37 a define como a modalidade de ensino que “será destinada àqueles que não tiveram acesso ou à continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Seu principal objetivo é assegurar o artigo 208 da Constituição Federal de 1988. De acordo com este artigo: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria;” A Resolução CNE/CEB Nº1, de 5 de julho de 2000, institui as diretrizes curriculares nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, determinando que a EJA: “considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar: I - quanto à equidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação; II- quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores; III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus 3 estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica.” (BRASIL, Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de julho de 2000). Segundo este Parecer a EJA tem três funções:  Função reparadora: visa restaurar um direito negado ao longo dos anos - o direito à escola de qualidade de forma igualitária,  Função equalizadora: garante a uniformidade e igualdade das condições de acesso e permanência na escola e  Função qualificadora: assegura o direito à educação de forma permanente, de modo a atualizar os conhecimentos por toda a vida (educação continuada).

2.2 EJA no Brasil:

Mesmo acontecendo de forma assistemática e sem participação do governo, a preocupação com a educação voltada para jovens e adultos vem desde o período colonial, onde os jesuítas tentaram primeiramente alfabetizar os indígenas adultos e depois os negros escravizados. O ensino dos jesuítas não tinha como objetivo apenas a escolarização desses indivíduos, mas também a propagação da fé cristã através da catequese. “Os métodos jesuíticos permaneceram até o período pombalino com a expulsão dos jesuítas, neste período, Pombal organizava as escolas de acordo com os interesses do Estado, com a chegada da família Real ao Brasil a educação perdeu o seu foco que já não era amplo.” (MARTINS, AGLIARDI; 2013). “Após a proclamação da Independência do Brasil foi outorgada a primeira Constituição Brasileira e no artigo 179 constava que a instrução primária era gratuita para todos os cidadãos. Mesmo a instrução sendo gratuita não favorecia as classes pobres, pois estes não tinham acesso à escola, ou seja, a escola era para todos, porém, inacessível a quase todos, no decorrer dos séculos houve várias reformas.” (MARTINS, AGLIARDI; 2013). A Constituição de 1937 favoreceu o Estado, pois o colocou como responsável secundário pelo ensino, ou seja, abdicou o Estado a manter e ampliar o ensino público. Na época do Regime Militar surgiu o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) um projeto que visava acabar com o analfabetismo entre jovens e adultos integrando-os à comunidade através de cálculos simples, leitura e escrita, mas que não se preocupava com a formação crítica destes alunos. Sobre o Mobral, Bello (1993) cita que: 4 “O projeto MOBRAL permite compreender bem esta fase ditatorial por que passou o país. A proposta de educação era toda baseada aos interesses políticos vigentes na época. Por ter de repassar o sentimento de bom comportamento para o povo e justificar os atos da ditadura, esta instituição estendeu seus braços a uma boa parte das populações carentes, através de seus diversos Programas.” (BELLO, 1993, p.38). O processo de industrialização do país (começo do século XX) gerou uma necessidade de mão de obra especializada. Com isso foram criadas escolas para capacitar jovens e adultos, pois houve uma grande migração da zona rural para a zona urbana. Outro fator que incentivou o investimento nesse tipo de educação foi a política: a necessidade de aumentar a base eleitoral favoreceu o aumento das escolas de EJA, pois naquela época o voto era apenas para homens alfabetizados. Já na década de 40, o Brasil já havia lançado a primeira campanha de educação de adolescentes e adultos. Esta campanha propunha a alfabetização em apenas três meses, além do término do curso primário em menos tempo do que o convencional. Mas houve muitas críticas a essa campanha tanto por parte de políticos como por parte de educadores e da sociedade civil em geral, sendo então extinta em 1963. Com o fim dessa campanha Paulo Freire, o mais célebre educador brasileiro, passou a ser o responsável por organizar e desenvolver um programa nacional de alfabetização de adultos. Contudo esse trabalho de Freire passou a ser visto como uma ameaça já que ele “propunha uma nova pedagogia que levava em consideração a vivência e realidade dos alunos, que deveria ser um sujeito ativo no processo de educação” (CRUZ, 2012). Com o golpe militar de 1964 Paulo Freire foi exilado e assim o governo passa a controlar e centralizar a alfabetização através do MOBRAL. O MOBRAL acabou em 1985 dando lugar às ações da Fundação Educar que apoiava as iniciativas de alfabetização já existentes. Esta fundação não executava diretamente o programa, mas firmava parcerias com ONGs, empresas, etc.; sendo extinta em 1990. A promulgação da constituição de 1988 amplia o dever do Estado com a EJA. De acordo com seu artigo 288: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria;” A partir da década de 90 a importância da EJA passou a ser reconhecida em vários países através das conferências realizadas pela UNESCO. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 define a EJA em dois de seus artigos: 5 “Lei 9.394/1996 Seção V Da Educação de Jovens e Adultos Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º

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